domingo, 25 de outubro de 2020

Marco Antônio Araújo - Livro Claramente Vivos - Familiares Diversos / Chico Xavier - Cap. 4 - “Creia, mamãe, ninguém está só”




Marco Antônio Araújo - Livro Claramente Vivos - Familiares Diversos / Chico Xavier - Cap. 4


“Creia, mamãe, ninguém está só”


Mãezinha Maura, É a sua prece de amor que espero em forma de bênção.

Pensamos que há muito tempo sem qualquer intercâmbio entre nós. Sei que você e meu pai guardam essa opinião. Entretanto, se é verdade que a saudade é uma força que a gente supõe capaz de paralisar ponteiros de relógio, o progresso nos dá uma impressão de tamanha velocidade nos dias da Terra, que sete anos se nos afiguram apenas alguns minutos.

Alegrias de infância, esperanças de juventude, preocupações de estudos, responsabilidades de rapaz que começa a imaginar os planos de trabalho na carreira escolhida, são hoje telas que ficaram dependuradas nas paredes de nossa memória, enquanto a marcha para a frente continua inexorável.

Não se admire, mãezinha, se lhe disser que estamos tão juntos, quase como ontem, no mesmo campo do dia a dia.

Sei tudo o que passou depois daquela viagem frustrada: uma sede enorme de refazimento no lar, a licença de três dias para restauração de forças, um carro alugado às pressas, de parceria com um amigo anônimo, e a queda espetacular do corpo físico, num acidente impossível de se evitar; tudo se dissociou como por encanto…

Nem meu pai teria o engenheiro filho, nem você teria o filho engenheiro. A lei do Senhor estava em caminho, à minha espera. Pormenorizar agora os fatos nas minudências do ocorrido, é desnecessário.

Encontrei um amigo em Dr. Alberto, n um novo pai em meu bisavô Joaquim, n um protetor em meu querido avô Araújo, e um enfermeiro dedicado no irmão Serapião Ribeiro.  

Falando com tanta naturalidade sobre o assunto, pode parecer a você que estou fazendo esnobação, mas não é isso. Sofri muito. Hoje, o tempo fez a função do vento sobre um montão de brasas…

Aquele fogo de dor cedeu lugar a uma grande paz, e é com essa paz que respondo a todos os seus escritos de amor materno, explicando que estamos hoje mais juntos, que seus ombros ficaram escalavrados de tantas cargas de aflição, e não tenho qualquer dúvida, mas a prece foi a nossa lâmpada acesa, afugentando as sombras.

Mãezinha, agradeço tudo o que você me dedica em suas páginas de saudade e carinho. Sei que o papai é o nosso amigo de sempre, no entanto, ouço a sua voz me chamando ao diálogo.

Creia, mamãe, ninguém está só. Não é determinação de Deus que a criatura viva inteiramente isolada, sem manifestar os próprios pensamentos.

É por isso que depois do casamento de nossa Rose fiquei muito feliz ao vê-la no Centro Espírita-Cristão, buscando auxiliar ao seu filho na pessoa dos outros. Ah! querida mamãe, esse é o melhor rumo para a verdadeira consolação.

Não julgue que eu tenha vindo para cá fora do tempo, porque o tempo é um contabilista que nunca se engana. Sigamos para frente.

O verdadeiro parentesco nasce no coração de cada um. Aqui, na vida espiritual, as diferenças são tantas, que não é fácil ganhar a família da Terra. As criaturas se apegam umas às outras, segundo as afinidades com que se apresentam.

Por isso, mãezinha, venho aprendendo que o trabalho é a outra face do estudo. Não adiantaria conhecer sem fazer.

E esse seu exemplo, passando a me procurar nos necessitados, me comove muitíssimo.

Sei que você adoeceu depois de minha vinda, e que as lutas de serviço aumentaram para nós em todos os setores. Mas peço-lhe pensar, não nos obstáculos já vencidos, e sim que podemos abrigar ideais novos e belos em nossas próprias almas.

Não quero dizer com isso que estaremos agindo sem o concurso do meu querido papai João, porque, de um modo ou de outro, ele estará sempre incorporado aos nossos projetos para o futuro.

Peço-lhe não interrogar tanto a Deus por que eu estaria chegando em casa fora das férias. Estaria usufruindo pedaços de tempo que obtivera junto a colegas de serviço, e queria descansar ao seu lado, e junto da Rose e do papai.

Levava comigo vários assuntos para nossos entendimentos. Enfileirara notas, fizera apontamentos… Entretanto, a ordem não era para mim de repouso compulsório, e sim de mudança definitiva.

Ninguém pode conhecer o minuto próximo. Por isso, rogo-lhe calma e consolação.

Não se permita chorar tanto. Fitemos o azul do céu, de almas lavadas pelo sofrimento, que nos formou por mestre de vida.

Encontrar-nos-emos mais tarde, em presença e voz. Por agora, permaneça firme em suas concentrações e em suas preces.

Estarei em seu trabalho, durante o dia, e, à noite, quando seu Espírito se desprende do corpo, embora ligeiramente, está você em minhas tarefas, como não podia ser de outro modo.

Alegre-se. Cultive o otimismo e a esperança. Tristeza é uma sombra que apenas prejudica quem a conserva por teimosia dentro da própria alma. Continuemos contentes, animados e felizes pelas bênçãos de Deus que temos recebido.

Tenho estado em suas tarefas, e procuro exercitar essa yoga de alegria e de esperança, auxiliando aos nossos companheiros, tanto quanto possível, a desfazer nuvens de apreensões e sombras de sofrimento.

Ajude como sempre ao papai na solução dos problemas de nossos tempos, e aconselhe nossa Rose. Ela quer ser psicóloga com palma e vitória, mas não se esqueça de que ser mãe é mais importante. Não desejo expressar qualquer desaprovação à escolha dela. Ela pode realizar as melhores aquisições em psicologia, mas não deve querer começar corrigindo essa ciência de hoje.

Se a psicologia de hoje não aceita a ideia religiosa, ela é livre para servir aos ideais que a enobrecem, oferecendo aos outros o melhor que ela consiga.

Não é interessante que o aluno se manifeste contra o professor quando a colisão das ideias apareça. Haverá tempo bastante para que nossa Rose se prepare com mais segurança. Após o título obtido, ela pode indiscutivelmente fazer muito em favor dos outros.

Agora, lutar pelos pontos de vista, pessoalmente, tão nossos, seria o mesmo que alterar o curso de um rio em cujas águas precisamos navegar a favor, pelo menos até o término da viagem. Há ocasião de analisar e ocasião de trabalhar. Rose poderá fazer muito, e estaremos com ela.

Mamãe, diga a meu pai do amor que nos reúne uns aos outros. Ele estará sempre em meu coração, tanto quanto o seu coração maternal está comigo.

Agradeço as flores renovadas à frente de minhas lembranças, e agradeço tudo o que faz em meu favor.

Em Araguari, as nossas tarefas não se modificaram de essência. Sustentamo-nos reciprocamente. E sou eu quem agradece todo esse imenso amor que recebo.

Mãezinha, nosso irmão Ascelino ainda não pode comunicar-se através do lápis, mas me pediu dizer à nossa irmãzinha, tia Doralice, que ele vai bem, até que as forças se lhe refaçam…

Se soubessem na Terra quanto nos valem na vida espiritual as preces de coragem e de paz, decerto que os nossos entes amados saberiam nos socorrer sem tantas recordações amargas.

Estamos em marcha, marcha para a frente, e isso é aquilo de que necessitamos. Seguir sempre adiante, esquecendo o inútil na retaguarda. Desse modo, mãezinha, a paz nos felicitará mais depressa.

Agradeço-lhe quanto faz por minha renovação para o bem, e prometo-lhe fazer o possível por você, quando estiver em condições de receber o privilégio de trabalhar mais para merecer mais trabalho, até que o servir se nos faça a alegria perfeita.

Mãezinha, continue avançando otimista e feliz. Não se desgaste. Atenda às próprias forças.

Começamos a trabalhar juntos nas tarefas mediúnicas, e isso quer dizer que não me alterarei por aqui, até que você volte.

O que desejo possa ser muito para adiante, a fim de que você na Terra viva feliz, no máximo de tempo, em favor de nós todos.

Peço-lhe não registre qualquer falta de notícias minhas, porque coração a coração, vivemos na mesma faixa de sentimentos e ideias, à maneira de duas árvores que se apoiam uma na outra.

Abrace a meu pai com esse respeito no amor que ele cultivou no coração do filho agradecido.

Ao Cláudio, Rose e familinha, o meu afeto constante. E a você, mãe querida, o pensamento e o amor, o carinho e a saudade-esperança do filho sempre em suas horas, por vida de sua vida e coração de seu coração,


Marco Antônio Araújo 





PRECE DE AMOR EM FORMA DE BENÇÃO

Tendo solicitado aos confrades Urbano T. Vieira e D. Ondina a gentileza de entrevistarem os pais de Marco Antônio, em Araguari, recebemos a seguinte carta do primeiro, que transcrevemos, na íntegra:

“Prezado Dr. Elias:

A pedido de nossa comum amiga Dona Maura, fornecemos os seguintes dados, a propósito da Mensagem de Marco Antônio:


BIOGRAFIA:

1) — Marco Antônio Araújo:

— Nascimento: 19 de agosto de 1943.

— Desencarnação: 6 de junho de 1971.

— Cursava o último ano de Engenharia Civil, na Universidade Federal de Belo Horizonte (MG).

— Pais: Sr. João Pereira de Araújo e D. Maura Silva de Araújo, residentes na Rua Dr. Afrânio, 221, em Araguari (MG).

2) — Maura Silva de Araújo: progenitora.

3) — Efetivamente, os pais aguardavam há muito tempo a manifestação do filho.

4) — Aproveitando recesso escolar, em fim de semana, demandava Marco Antônio o lar em Araguari, para descanso, tendo realizado normalmente a viagem de ônibus de Belo Horizonte a Uberlândia, onde tomou táxi para Araguari, na madrugada de 6 de junho de 1971, sendo vitimado em acidente fatal (juntamente com outro — Sr. Heleno —, também de Araguari), assim que o carro transpôs o Rio Araguari, em perigosa curva.

5) — Cursava o último ano de Engenharia.

6) — Dr. Alberto Moreira: antigo médico, muito humanitário de Araguari, desencarnado em 1956, homenageando a cujos méritos a Municipalidade de Araguari colocou seu nome em uma das principais ruas da cidade (Rua Dr. Alberto Moreira).

7) — Bisavô paterno: Sr. Joaquim Gonçalves de Araújo.

8) — Avô paterno: Sr. Sidney Pereira de Araújo.

9) — Serapião Ribeiro: Espírito Protetor de inúmeros Centros Espíritas da Região.

10) — “Aquele fogo de dor cedeu lugar a uma grande paz e é com essa paz que respondo a todos os seus escritos de amor materno…” — Diz D. Maura: “Sempre escrevi bilhetinhos e poesias, e colocava dentro da gaveta de sua mesa, o que faço ainda hoje.”

11) — Rose: Sra. Rosemarie Araújo Paes de Almeida, casada com o Engenheiro Dr. Cláudio Paes de Almeida.

12) — No Centro Espírita-Cristão: Centro Espírita Caminho da Luz, Araguari (MG) — Rua Jaime Gomes, 532.

13) — “Levava comigo vários assuntos para nossos entendimentos.” — Marco Antônio trazia consigo uma pasta com anotações (inúmeras páginas com pensamentos, decisões pessoais, orientações, etc.), que foi entregue aos pais, após o acidente.

14) — “Ajude como sempre ao papai na solução dos problemas de nossos tempos, e aconselhe nossa Rose.” — Sendo Marco nove anos mais velho que Rose e dada a profunda afinidade entre eles, sempre dispensou especial carinho e muito à irmã, tendo mesmo esta recebido a presente mensagem como oportuna e necessária orientação, já que vem fazendo com brilhantismo o Curso de Psicologia e, efetivamente, entrando muitas vezes em choque com professores em face de aspectos de estudos diante da Religião.

15) — “Nosso irmão Ascelino”: Engenheiro, desencarnado há quatro anos, na estrada de Uberlândia a Goiânia, cuja cunhada Doralice (tia paterna de Marco), estava presente à reunião da noite de 12 de agosto de 1978, no Grupo Espírita da Prece.

16) — “Ao Cláudio, Rose e familinha o meu afeto constante.” — O casal Rose / Dr. Cláudio tem dois filhinhos.


Aí estão os dados que Dona Maura e eu julgamos oportuno mandar para você. Ela, Dona Maura e seu marido, Sr. João Pereira Araújo, estão ao inteiro dispor para quaisquer outros dados: é só você pedir e mandaremos. Disponha.

Aquele abraço de sempre,

Urbano T. Vieira

Araguari (MG), 15/FEV./1979.”



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