Miramez - Livro Médiuns - João Nunes Maia - Pág. 102
O médium e o povo
"Pois a massa de povo o seguia gritando: Mata-o!" (Atos - Cap. 21, v. 36)
Compete ao médium ver no povo o seu próprio eu dividindo-se ao infinito, sem que seu coração espere dos outros essa mesma compreensão. O médium, nos moldes que falamos, na dimensão em que a Doutrina Espírita o situa, na literatura espiritual, é o mesmo apóstolo de Jesus que, como semente, foi plantado há quase dois mil anos. E a vontade de Deus, pela força evolutiva, fê-lo crescer e prosperar, espraiando flores e frutos pelo mundo inteiro. A mediunidade que desconhece os caminhos de Cristo, não merece que nos ocupemos dela. Falamos, sim, da alma cuja sensibilidade interpenetra, com maior interesse, os preceitos do Divino Mestre. Falamos, sim, ao espírito cansado de sofrer nos caminhos tortuosos da Terra, e cuja própria luz, que o circunda, denuncia reformas íntimas, que nos dão a certeza de que ele jamais nos decepcionará, nos testemunhos perante o povo, e, certamente, frente à sua consciência.
E ainda mais: o médium deve estar ciente dos problemas que irá encontrar, das incompreensões, dos falsos julgamentos, do escárnio, do abandono, da intriga, dos convites impróprios a um cristão. E deve dominar seus impulsos, e corrigir suas arestas, dominar vontades irreverentes, e educar-se, em todos os matizes que a personalidade de Jesus deu o exemplo. Nada de se julgar inferior, achando que não pode começar a auto-educação. Tudo depende dos primeiros ensaios, e quando se trata do bem, afirmamos, com toda a certeza, a ajuda espiritual nunca faltará. O medianeiro deve dar, de vez em quando, um balanço nas suas reservas morais. E nisso competir com os grandes homens, para ser um deles, sem que o exagero e a vaidade desfigurem a intenção do progresso.
Se quereis ser médiuns de espíritos superiores, começai hoje mesmo a disciplina, a afinar as vossas antenas, do coração e da inteligência. Colocai em harmonia as cordas dos vossos sentimentos, pois que os grandes artistas dos sons não podem expressar o que verdadeiramente sabem, se encontram um instrumento sem condições. Eis que os dois precisam de completa sintonia. Ocorre o mesmo com o médium e o espírito comunicante. Se a sua natureza propender para as coisas inferiores, as entidades da mesma natureza se aproximarão com mais facilidade, e as grandes inteligências desencarnadas encontrarão desinteresse e dificuldades, qual o camponês diante de uma floresta, sem as devidas ferramentas que o possam auxiliar. E para que tenhamos esse ânimo todo, nesse imenso trabalho de ascensão espiritual pelo esforço próprio, que é o maior de todos no mundo, necessário se faz vibrar na plena convicção de que a vida continua depois do túmulo, que a reencarnação é fato incontestável. Que tudo, é certo, depende de Deus, mas que o próprio Deus nos colocou de maneira a dependermos de nós mesmos, pelo esforço próprio.
Existem muitos sensitivos que desconfiam dessas verdades, e as consequências quase sempre são o desinteresse pelo aprimoramento espiritual. Ouçamos o Evangelho, para fortalecer mais o nosso ânimo. Vejamos, em Coríntios, Capítulo 15, versículo 19: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens". A própria educação que desenvolvemos, de geração a geração, e o progresso que atingiu culminâncias neste século, nos mostram que, para Deus ser justo, haveremos de passar por outras dimensões de vida, de sorte a sermos beneficiados por Ele.
Vamos trabalhar em benefício do povo, que esse povo nos ajudará, mesmo na sua inconsciência, É uma lei. A mediunidade cristã é, por sua própria natureza, dádiva para a coletividade. Nela, os recursos divinos se fazem humanos, a serviço da caridade. Ela nunca para de lutar no campo imenso da beneficência, pois ela se constitui em amor, e esse passa a imperar. Devemos ter grande apreço para com o povo; no entanto, esperar reciprocidade é exigência que desnutre o dom. A facilidade que têm os nossos semelhantes de se movimentarem nos extremos é impressionante: num momento, aplaudem-nos, plenos de fanatismo; depois, sem o percebermos, saltam para o outro extremo, acusando-nos, senão pedindo duros sacrifícios. Nessas circunstâncias, o comportamento do cristão deverá se pautar em sentir e viver o que disse Jesus: "Não são maus. Eles não sabem o que fazem".
Médiuns! Se alguém vos calunia, por simples inveja da vossa posição, esquecei a ofensa moral e procurai fazer mais, em benefício de todos. Se alguns dos que vos seguem exigir que a vossa conduta ultrapasse as vossas forças, fazei o que estiver ao vosso alcance, e segui, sem condenar. Se os companheiros desfigurarem todos os vossos esforços, e disserem que esse é o vosso dever, que não veem nada de mais em vossa vida, fazei-vos o menor de todos, e procurai a maior expressão de humildade, sem a pretensão de serdes santo, e confiai em Jesus, porque Ele já confiou em vós. Vêde o que eles fizeram com Paulo: "Pois a massa de povo o seguia, gritando: Mata-o!"
Miramez
Fonte: Médiuns -pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário