segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 80 - Individualidade




Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 80


Individualidade 


"Como posso ser eu mesmo?", perguntam-se muitas pessoas, se elas próprias não sabem quem são! Assim é que nos sentimos - perdidos e confusos — quando nos encorajam a ser nós mesmos.

Como podemos admitir nossa individualidade, ou ser quem somos, se durante anos vivemos emaranhados e confundidos nas necessidades e nos conceitos de outros?

Todos temos nossa maneira peculiar de nos desenvolver física, emocional e espiritualmente. A cada dia, estamos descobrindo mais e mais sobre nós, aceitando-nos como almas imortais temporariamente sujeitas à condição humana, com todas as suas fragilidades, sensações e sentimentos.

Não adianta lutarmos contra a maré. É preciso respeitarmos os ciclos dentro e em torno de nós. Não vamos conseguir vencê-la: a maré, tanto quanto nós, é comandada pelas forças da Natureza. Quando aprendemos a respeitar as nossas etapas de crescimento, aceitando-as como parte da ordem natural, progredimos de forma segura e constante.

Desde que os homens começaram a navegar pelos oceanos, as ondas sempre os cativaram e espantaram. É provável que o fascínio do homem diante da movimentação do mar esteja vinculado a uma inconsciente constatação de que foi dele que fisicamente viemos.

As marés são causadas pela força gravitacional conjunta da lua e do sol, que movimenta as águas do mar.
Quando utilizamos as expressões "maré baixa" ou "maré alta", para referir-nos ao nosso estado íntimo, na verdade estamos nos identificando com a Natureza e, ao mesmo tempo, reconhecendo que os fenómenos naturais administram tanto o mundo exterior como o nosso mundo interior. Devemos harmonizar-nos com a Natureza, isto é, com todas as criações e criaturas do nosso mundo.

Ser quem somos significa aceitarmos nossa história de vida exatamente como ela é. Quer dizer, aceitarmos nossas condições - físicas, mentais e transcendentais — como são no momento presente. Isso nos facilita renovar, crescer e mudar para melhor.

Quanta dor, quanta doença vem da displicência de não querermos buscar o verdadeiro sentido da vida! Quem busca o âmago espiritual liberta-se da dominação da psicopatologia. Aprende a cuidar de si mesmo com mais amor, porque abriu dimensões interiores antes desconhecidas, tomando consciência plena, a partir daí, da sua unidade primordial - a alma.

O indivíduo é a junção dos fatores corpo-mente-alma. A separação da natureza humana em partes distintas remonta aos antigos pensadores gregos. Platão foi o primeiro a estabelecer essa linha divisória, seguido, posteriormente, por diversos teólogos e filósofos da Idade Média. Nossa vestimenta corporal pode ser uma sábia e dedicada professora sempre disposta a nos ensinar a crescer, ou, se, analisada de forma preconceituosa, pode se tornar uma pesada cruz que carregaremos vida afora a nos conduzir ao desequilíbrio.

Uma pessoa não é composta apenas de suas experiências espirituais, mas, igualmente, de suas experiências materiais. Cada uma de suas vivências é assinalada, primeiramente, em seu íntimo e, depois, no veículo físico. Assim como podemos determinar quantos anos tem um carvalho, analisando seus anéis de crescimento (círculos em torno de seu tronco), da mesma forma é possível ler a história de uma pessoa pelo de seu corpo físico-espiritual.

"(...) os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem. Libertado da matéria, o Espírito os conserva. Durante a encarnação, ele pode esquecê-los em parte momentaneamente, mas a intuição que deles guarda ajuda o seu adiantamento. Sem isso, deveria sempre recomeçar. Espírito parte, em cada nova existência, do ponto em que chegou na existência anterior."

Quem se individualiza é porque tomou consciência do "traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas suas existências anteriores"(1); somou-os aos da vida atual e, por isso, avalia e analisa suas ideias inatas.

A individualização do ser se dá a partir de um processo por meio do qual a criatura se torna consciente de seus aspectos singulares, ou mesmo quando se conscientizou de que essas características a diferenciam das outras pessoas. No entanto, ela sabe que não é melhor nem pior que ninguém; simplesmente se distingue das outras por suas particularidades.

A individualidade está associada a uma ampliação de consciência e a um amadurecimento pessoal.

O conceito espírita de ideias inatas - conjunto de ideias e ideais que trazemos de vidas passadas para a vida atual e que usamos de modo natural e espontâneo — vem cooperar com o processo de individualização, facilitando a nossa transformação interior e/ou autoiluminação.

Somos Espíritos distintos, não somente pelas vivências reencarnatórias desta e de outras vidas pretéritas, como também pela unicidade que o Criador imprimiu em cada um no momento da criação. "Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência." E, especificamente, "deu a cada um determinada missão (...)".(2)

Carl Gustav Jung definiu individuação como um processo por meio do qual uma pessoa se torna consciente de sua individualidade.

Individualidade pode ser definida como o conjunto de atributos que constituem a originalidade, a unicidade de uma criatura, e que a distinguem de outras tantas; é o somatório das características inerentes à alma humana. Toda criatura que se individualizou tornou-se um ser homogéneo, pois não mais procura comparar-se com os outros; admite sua singularidade.

O ser vivente, atravessando inúmeras etapas evolutivas através das mais diversas encarnações, traz consigo uma gama imensa de traços de personalidade acumulados nas vidas pretéritas, assemelhando-se a verdadeiras "fotocópias do passado". Por não termos uma percepção clara de nossa real identidade é que somos escravos da opinião alheia.

Em determinadas fases de nossa vida, pensamos ser aquilo que os outros pensam que somos. Somos dependentes. Em outras, deixamos a dependência e a submissão aos outros e nos tornamos unicamente vinculados àquilo que pensamos de nós mesmos. Somos independentes.

Entretanto, quando tudo sugere tranquilidade e certeza, surge um vazio existencial; parece faltar algo de fundamental em nossas vidas e entendemos que estamos ainda na superfície de nossa intimidade. Aí se inicia a busca mais profunda em nosso interior - o processo de individuação.

A máscara de autonomia que usávamos cai e descobrimos que representava apenas um compromisso entre nós e a sociedade quanto àquilo que alguém aparenta ser: nome, sexo, nacionalidade, título, profissão ou ocupação. Na realidade, todos esses dados são verdadeiros; mas, quando se trata de nossa individualidade profunda, eles pouco representam, pois estão ligados às realizações externas e aos objetivos do ego.

O passo essencial no processo de individuação é a retirada de nossa máscara ou persona - personalidade que nós apresentamos aos outros como real, mas que, em muitas ocasiões, difere consideravelmente da verdadeira. Embora a máscara tenha funções psicológicas importantes para nossa proteção em certos períodos da vida, ela também turva e oculta nosso "Eu" real, ou seja, a alma.

Para nos tornarmos um indivíduo, são necessários o exercício do autoconhecimento e uma constante auto-observação, para que possamos distinguir com nitidez o que somos agora e o que fomos ontem, sem querer acomodar todos os pontos de vista das pessoas com as quais convivemos.

Individualizar-se é reconhecer a própria maneira de desenvolver-se física, emocional e espiritualmente.

Os Benfeitores Espirituais enfatizam que as leis divinas "devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam".(3)

As leis naturais que dirigem a vida são sábias e justas e agem em cada indivíduo de forma relativa e não generalizada.

A Omnipotência Divina leva em conta a imensa diversidade dos níveis de amadurecimento dos seres humanos; portanto, o juízo é sempre proporcional ao estágio evolutivo de cada criatura. Ao nos identificarmos com nosso "Eu" mais profundo, reconhecemos que somos Espíritos imortais e, por consequência, 'emerge de nossa intimidade uma consciência liberta do mundo mesquinho, diminuto e pessoal do ego. Aberta a uma postura ética de participação nos interesses coletivos, a consciência identifica-se com uma cosmovisão, onde todas as coisas estão ligadas por subtil e complexa malha de fios invisíveis.


Hammed




(1) Questão 218
O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas suas existências anteriores?
"Resta-lhe uma vaga lembrança que lhe dá o que se chama de ideias inatas."

A teoria das ideias inatas não é, pois, uma quimera?
"Não, os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem. Libertado da matéria, o Espírito os conserva. Durante a encarnação, ele pode esquecê-los em parte momentaneamente, mas a intuição que deles guarda ajuda o seu adiantamento. Sem isso, deveria sempre recomeçar. O Espírito parte, em cada nova existência, do ponto em que chegou na existência anterior.

(2) Questão 115
Entre os Espíritos, alguns foram criados bons e outros maus?
"Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência. Deu a cada um determinada missão com o fim de esclarecê-los e fazê-los alcançar, progressivamente, a perfeição para o conhecimento da verdade e para aproximá-los dele. A felicidade eterna e pura é para aqueles que alcançam essa perfeição. Os Espíritos adquirem esses conhecimentos, passando pelas provas que Deus lhes impõe. Alguns aceitam essas provas com submissão e alcançam mais prontamente o fim de sua destinação. Outros não as suportam senão murmurando e, por suas faltas, permanecem distanciados da perfeição e da felicidade prometida.

Segundo isto, os Espíritos seriam em sua origem, como são as crianças, ignorantes e sem experiência, adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam em percorrendo as diferentes fases da vida?
"Sim, a comparação é justa; a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita; segundo sua docilidade, ela aproveita mais ou menos. Todavia, a vida do homem tem um termo e a dos Espíritos se estende ao infinito."

(3) Questão 618 As leis divinas são as mesmas para todos os mundos?
"A razão diz que elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam."

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