Manoel Philomeno de Miranda - Livro Loucura e Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 7, pág. 83/84
Um caso de autismo e os benefícios da fluidoterapia
Os ritmos da dança e da música, das palmas e das vozes pareciam penetrar, a pouco e pouco, no íntimo do autista, como se arrancasse de esconso(1) abismo interior algum débil lampejo de consciência, graças a ligeiro brilho que lhe assomou aos olhos e à mudança de respiração, agora noutra cadência, como se buscasse mais oxigênio do ar, associados a movimentos desordenados de braços e tronco.
“Isto mesmo!”, exclamou a Mentora vigilante, que o estimulava. “Retorne, tome conta da consciência. Saia desse mundo sombrio e mentiroso. Volte à nossa realidade. Não fuja mais. Você já foi reencontrado. Não tema, pois que ninguém lhe fará qualquer mal; nós não o deixaremos. Desperte!” Os apelos prosseguiram, mas o doente voltou a mergulhar no estado anterior.
Não vendo Espírito algum junto ao enfermo, Miranda não entendia o que se passava. Estaria a alma do doente aprisionada em algum reduto, embora estivesse encarnada?
Dr. Bezerra acudiu: “Vamos por etapa”. “O nosso amigo é o típico autista(2), conforme a clássica denominação psiquiátrica. Apesar de serem comuns as cobranças obsessivas, paralelamente às enfermidades mentais, este paciente sofre-as menos, porque vem recebendo a ajuda desta Casa, há mais de seis meses. Aparentemente, não se registrou qualquer mudança no seu quadro geral. Todavia, sob nossa observação, descobrimos que excelentes resultados já foram logrados, antecipando futuros benefícios espirituais para ele próprio. Os inimigos que lhe adicionavam sofrimento, e ainda não o liberaram da cobrança que se permitem, encontram, graças à assistência espiritual que lhe tem sido dispensada, dificuldade de sintonia, embora permaneçam as irradiações das ondas mentais inferiores pelas quais se manifesta a sincronização Espírito a Espírito. É que a cobertura fluídica e magnética que o envolve dificulta a vibração doentia que ele emite, não se imantando às emissões morbíficas que lhe são dirigidas.”
Dr. Bezerra informou que a princípio suas defesas eram breves e foram logo destruídas pela consciência culpada e a insistência dos perseguidores. “Com o tempo tem havido assimilação vibratória dessas energias benéficas, por mimetismo(3) natural, e os interregnos, sem a intoxicação telepática dos adversários desencarnados, vêm proporcionando-lhe a revitalização mental, destruindo as paredes do mundo íntimo para onde, apavorado, fugiu, desde quando a reencarnação o trouxe à infância carnal.”
Tecnicamente via-se ali um caso de auto-obsessão, por abandono consciente da vida e dos interesses objetivos. Quando o indivíduo mantém intensa vida mental em ações criminosas, que oculta, mascarando-se para o cotidiano, a duplicidade de comportamento constitui-lhe cruel transtorno que ele carpe em silêncio. O delito fica ignorado dos outros, mas não do delinquente, que o vitaliza com permanentes construções psíquicas, nas quais mais o oculta, destruindo a polivalência das ideias, que terminam por sintetizar-se numa fixação mórbida.
Manoel Philomeno de Miranda
(1) Esconso - Oculto, escondido. Recanto, esconderijo. Ângulo, canto, desvão. Inclinado, oblíquo, enviesado, absconso.
(2) Autismo - Patologia caracterizada pelo desligamento da realidade exterior e criação mental de um mundo autônomo.
(3) Mimetismo - Fenômeno que consiste em tomarem diversos animais a cor e configuração dos objetos em cujo meio vivem, ou de outros animais de grupos diferentes. Ocorre no camaleão, em borboletas etc. Fig. Mudança consoante o meio; adaptação.
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