quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Garimpo de Amor - Divaldo P. Franco - Pág. 71 - Amor e espairecimento




Joanna de Ângelis - Livro Garimpo de Amor - Divaldo P. Franco - Pág. 71


Amor e espairecimento


O amor é manifestação espontânea da Vida, que se apresenta como fonte geradora de alegria e de desenvolvimento intelecto-moral.

Ínsito no ser humano, emerge das profundezas do eu superior onde permanece adormecido, para desempenhar o incomparável papel que lhe está reservado. Não é uma compulsão ou um propósito que se deve impor, antes torna-se um desabrochar natural que se nutre da própria seiva, à medida que amplia a sua área de manifestação.

Quando se vê coagido pela necessidade ou imposto por circunstância imediata, expressa-se na forma perturbadora de dissimulação e hipocrisia que o descaracteriza.

A sua usual manifestação é sempre de fácil administração, não se submetendo a vínculos de exigência alguma ou a caprichos angustiantes.

Muitas vezes, o indivíduo sente-o em começo, não sabendo como auxiliá-lo a atingir o grau mais elevado, que é de natureza plena ou espiritual.

Ansiosamente imerge na sua busca e entrega-se com afã pelo conseguir, o que mais o atrasa, diminuindo-lhe a possibilidade porque constrangedora.

Somente quando se é capaz de desembaraçar-se das constrições do ego – e o amor é o recurso primoroso para esse desiderato – é que se lhe percebe a pujança de força que inunda os sentimentos e fortalece a mente, mantendo o equilíbrio orgânico. Por isso mesmo não se pode acomodar aos velhos padrões estabelecidos, mediante os quais a necessidade de trocas, o imperativo de retribuição, apresentam-se como indispensáveis.

Eis por que aquele que ama deve-se equipar de alegria e espontaneidade, a fim de que o amor flua como um regato cantante e tranquilo, beneficiando a área por onde desliza.

Assim, surge a necessidade da interiorização dos objetivos existenciais, para logo buscar-se a autorrealização emocional, brindando-se com júbilos contínuos que defluem do espairecimento e das conquistas em volta dos passos.

Uma caminhada sem preocupação, um momento de convivência em contato com a Natureza em festa, uma reflexão diante de uma velha árvore ou uma pequenina flor que desabrocha, uma borboleta voejando no ar ou um colibri parado diante de uma fonte de pólen e açúcar, a melodia da brisa que  perpassa, um monte a distância, uma nuvem ligeira, deslocam a mente das preocupações afugentes, levando-a à renovação interna, tornando-se elementos essenciais para a harmonização interior, para depois o regozijo invadir o ser, preparando-o para o encantamento do amor.

Somente pode oferecer amor quem se encontra dele possuidor e por ele está possuído em grau de alta magnitude.

O amor alimenta, oferecendo renovação incessante e paz de consciência ante os acontecimentos considerados dissabores.

É claro que não impede que o sofrimento alcance o indivíduo, muda-lhe porém a estrutura do comportamento diante do mesmo, auxiliando-o a manter uma emoção diferenciada do habitual.

Comumente as pessoas alteram a conduta conforme as ocorrências. Quando tudo está bem e apresenta-se risonho, creem na felicidade possível. No entanto, face a qualquer situação aflitiva ou constrangedora, modificam-se totalmente, anulando a dádiva do bem-estar e da plenitude.

O amor não impede a tristeza, não inibe a contrariedade, não interrompe o surgimento do mal-estar, não sendo, portanto, uma poção mágica, portadora de recursos sobrenaturais que concedem somente alegria e encantamento.

Esses fenômenos emocionais compreensíveis manifestam-se em todos os indivíduos como necessidades do desenvolvimento espiritual.

Toda marcha oferece desafios e realiza-se somando sucessos e erros, que constituem o patrimônio do conhecimento.

Sob a tutela do amor, o lado existencial sombrio, isto é, aquele assinalado pelos dissabores, pelas lutas do cotidiano, pelas manifestações desagradáveis, sempre estará irisado de luz, em convite para novos investimentos que alterarão o seu transcurso. O ânimo jamais diminui ante a borrasca e o envolvimento da alegria de viver não desaparece, nunca oferecendo campo à instalação da morbidez, da revolta, do desencanto...

A criatura humana é um complexo nervoso de altíssima delicadeza regido pela consciência que deflui do Espírito que é. Essa consciência manifesta as suas experiências vividas e catalogadas como precioso recurso de sabedoria.

Fosse o amor um talismã que impedisse os fenômenos humanos que enrijecem o caráter e constroem a sabedoria, seria perigoso e perturbador, por impedir o desabrochar de outros valores que procedem da Divindade e que devem ser conquistados através da reencarnação.

Compreender um acontecimento malfazejo não significa anuir com ele, mas antes dar-lhe direito de existir, sem entrar em choque, gerando mais prejuízo que qualquer outro resultado construtivo.

Há outros elementos edificantes para o processo de crescimento do ser espiritual, que também se apresentam como espairecimentos enriquecedores.

Uma boa leitura, que enseja crescimento interior, ampliação da óptica em torno dos objetivos existenciais; o recurso da viagem interior pela meditação, que seria ideal pudesse ser vivenciada diariamente, mesmo que por breve período de tempo; a oração, ungida de confiança em Deus, constituem tônicos que revigoram as energias, ampliando-lhes a de preservar os equipamentos que constituem o corpo, as engrenagens nervosas, as glândulas endócrinas, o sistema imunológico...

Esses elementos podem ser comparados com o ar puro que se aspira na montanha, a fim de produzir benefícios ao aparelho respiratório, por extensão, a todo o organismo, e àquele que é absorvido nas regiões pantanosas ou saturadas das vibrações pestíferas das criaturas em desalinho mental e moral, gerando infelicidade...

O amor, em si mesmo, pode tornar-se um espairecimento para o Espírito, porquanto não são poucas as pessoas que se alegram intoxicando-se com o ressentimento, envenenando-se com os vapores do ódio, embriagando-se com as emanações da pornografia e da sensualidade desarvorada, com os vapores do ciúme doentio, da inveja desagregadora, da calúnia infeliz...

Os estímulos da atual cultura do desamor e do desinteresse pelo próximo e pelos seus problemas faculta o surgimento do campeonato da insensatez, que fomenta o crescimento da criminalidade, da agressão e da violência, ao lado do despudor, da anarquia, da vulgaridade...

O amor é antídoto a todos esses morbosos descendentes da vilania moral que teima em permanecer nas criaturas que lhe dão guarida.

Quando o amor visitá-las, oferecendo-lhes o esporte do bem querer, os divertimentos grosseiros e asselvajados cederão lugar a novas propostas de recuperação de forças e de energia, em forma de inestimáveis processos de espairecimento emocional.


Joanna de Ângelis






Nenhum comentário:

Postar um comentário