terça-feira, 13 de outubro de 2020

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Capítulo XII - Da perfeição moral - O egoísmo - Questão 917 (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Capítulo XII - Da perfeição moral


O egoísmo 


917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?

“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se, porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se, e para cuja manutenção tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro real, e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

O choque que o homem experimenta do egoísmo dos outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade, e o homem pensará menos na sua pessoa ao ver que os outros com ele se preocupam; ele experimentará a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face desse extravasamento do egoísmo, faz-se necessária uma verdadeira virtude para que alguém faça abnegação da sua personalidade em proveito dos outros que, com freqüência, absolutamente lhe não agradecem. Principalmente para os que possuam essa virtude é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado todo aquele que em si somente houver pensado; sofrerá, então, o próprio abandono.” (785) FÉNELON.

Louváveis esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a Humanidade progrida. Os bons sentimentos são encorajados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se pois em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação; não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito, baste possuir conhecimentos. Quem acompanhar, assim o filho do rico, como o do pobre, desde o instante do nascimento, e observar todas as influências perniciosas que sobre eles atuam, em conseqüência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que os dirigem, observando igualmente com quanta frequência falham os meios empregados para moralizá-los, não poderá espantar-se de encontrar pelo mundo tantas coisas erradas. Faça-se com o moral o que se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclamam cultivo adequado, para produzir bons frutos. (872)

O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o ferem, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio interesse a isso o induzirá. (784)

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.


Allan Kardec



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 917 comentada


O egoísmo é o centro energético da ignorância, por estar muito ligado à origem material do homem. Isto, de certa forma, tem grande influência na personalidade humana. Como libertar-se das irradiações da matéria, vivendo nela e dentro dela? O homem pode e deve esforçar-se, que é um grande passo, mas, enquanto estiver nesta estância de vida, por lei, respira no seu clima. No entanto, os homens devem transformá-la em paraíso e nele viver em busca da felicidade.

O egoísmo se enfraquecerá no passar dos milênios e tenderá a desaparecer por lei universal, porque, se nascemos pelo amor e para o amor, haveremos de viver bem somente na sua influência divina. O egoísmo assenta-se na personalidade por analogia material, mas não continua por força da lei natural da evolução espiritual. Compete à razão mostrar como proceder diante dos seus efeitos constrangedores.

O choque que as almas sentem com o egoísmo das suas irmãs é que a fazem pensar nas modificações urgentes, e o bem-estar da caridade e do amor nos mostram que é o clima de Deus a crescer no coração humano. Vejamos quando reunimos mais pessoas para trabalhar ou mesmo se divertir: temos de ceder em alguma coisa em favor daquele que se reúne conosco. Por aí notamos que já começamos a combater o egoísmo, ainda que algo inconscientemente.

Jesus ensinou e Mateus anotou, no capítulo dezoito, versículo vinte:

Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.

Ativando a luz nesse despontar da verdade, a palavra do Mestre se faz ouvir em todas as dimensões da vida, para que as almas entendam e passem a trabalhar no surgimento da luz na sua intimidade. Na verdade, o egoísmo existe, mas ele já vem sendo combatido em todas as frentes. Ele está morrendo, desde quando surgiu Jesus na face da Terra. é demorada a sua extirpação, porém não pára de ser combatido por todos os meios.

Falamos aos espíritas, principalmente, que não esmoreçam nas lutas; que façam a sua parte, mostrando que podem viver sem essa influência. Quando o Mestre disse que conhecendo a verdade poderíamos nos tornar livres, Ele sabia o que estava falando. Todos os dias não vemos o sol saindo no horizonte? Reparemos o sol que está saindo no horizonte da nossa alma e deixemos que ele ilumine toda a nossa vida, e assim viveremos a felicidade de Deus dentro do nosso mundo interno.

O egoísmo é sombra que não suporta a luz. Quando o ser renuncia a qualquer coisa de seu, da sua conquista, em favor dos outros, ele é que está sendo beneficiado. Atrás dessa renúncia, se encontra Jesus, confortando seu coração e alimentando sua vida. As coisas invisíveis são as mais reais. Quem descrer, nos dois aspectos da existência, sofre o medo da perda. O Mestre já dizia que aquele que não vê e crê é mais agraciado pela paz.

O verdadeiro meio de destruir o egoísmo é a renúncia. O desprendimento nos coloca na libertação, onde nasce o amor. Ele é Deus a nos dizer: "Vem, meu filho, passa por Jesus e abraça meu coração em tudo o que tocares".

 
Miramez



Filosofia Espírita – Volume XVIII. - João Nunes Maia
Cap. 50 - Destruição do egoísmo




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