segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Ermance Dufaux - Livro Mereça Ser Feliz - Wanderley de Oliveira - Cap. 10 - Opiniões e Autoestima




Ermance Dufaux - Livro Mereça Ser Feliz - Wanderley de Oliveira - Cap. 10


Opiniões e Autoestima


"Por isso é que em falta de luzes próprias, deve ele modestamente recorrer à dos outros, de acordo com estes dois adágios: quatro olhos vêem mais do que dois e - ninguém é bom juiz em causa própria. Desse ponto de vista é que são de grande utilidade para o médium as reuniões, desde que se mostre bastante sensato para ouvir as opiniões que se lhe deem, porque ali se encontrarão pessoas mais esclarecidas do que ele e que apanharão os matizes, muitas vezes delicados, por onde trai o Espirito a sua inferioridade." O Livro dos Médiuns - Cap. 29 - item 329


O medo da rejeição leva muitos corações a alimentarem complexa obsessão em relação à opinião alheia sobre seus feitos, exigindo devotada reeducação dos sentimentos na busca da autoestima que estabelecerá, paulatinamente, a segurança e a autoconfiança. Noutros casos, de forma oposta a esse medo, a indiferença à emissão de conceitos em torno de nossa personalidade é o resultado da invigilância e da vaidade - lenha apropriada para crepitar as labaredas da autossuficiência.

Nem uma nem outra posição auxiliam-nos a aproveitar devidamente as expressões de amparo e os sinais de alerta em nosso favor na escola da convivência, quando se trata dos pareceres que surgem em nossos caminhos e dos quais jamais estaremos livres.

Saber julgar os apontamentos sobre nós conferindo-lhes valor exato é exercício de humildade e bom senso no aprendizado da vida interpessoal.

As pessoas maduras, que se amam verdadeiramente, são autoconfiantes, sem autossuficiência, sabem o valor real da participação alheia e permitem-na somente até o ponto em que são úteis ao progresso pessoal, quando externadas com respeito e lealdade. Para tais pessoas, a maledicência é atestado de incapacidade moral e imaturidade emocional.

Porque não aprendemos ainda o autoamor, costumamos esperar as compensações e favores do amor alheio, permitindo um nível de insegurança e dependência dos outros face ao excessivo valor que depositamos no que eles pensam sobre nós.

O medo de ser rejeitado ou não aceito é um resquício fortemente gravado no psiquismo pelas experiências infantis ou por complexos adquiridos em outras existências. Crenças de desvalor a si próprio, consolidadas na mente da criança e do adolescente, refletem agora na adultidade como sequelas dolorosas e inibidoras, provocando sentimentos de inutilidade e culpa, gerando a autocensura, a autopiedade e uma terrível "síndrome de ser culpado" pelo mundo estar como está, ainda que muitas situações nada tenham a ver com suas movimentações existenciais.

A autoestima é fator determinante das atitudes humanas. Quando ela escasseia, a criatura estará sempre escrava de complexos de inferioridade atormentantes, por mais pródigas que sejam as vantagens de sua vida, cultivando hábitos que visam camuflar seus supostos "males" para que outros não os percebam. No entanto, não logrando sempre ludibriar através dessa "maquiagem", quando se percebe avaliada ou reconhecida em sua realidade, torna-se revoltada, indefesa, deprimida e ofendida. Essa situação tem um limite suportável até o ponto em que as decisões e ações começam a ser comprometidas por estranhas formas de agir, que podem estabelecer episódios neuróticos de gravidade, com estreitos limites com as psicoses. Assinalemos ainda que, nos bastidores de variados casos, surgem as interferências espirituais dilatando o sofrimento desses corações, acentuando-lhes o sentimento de desmerecimento, de rejeição e desânimo, "inspirando" idéias nefandas e escolhas enfermiças.

As opiniões sobre nós são valorosas e merecem ouvidos atentos, quando se tornam críticas construtivas. E uma crítica para ser construtiva requer sinceridade fraterna, "olhos nos olhos", sentimento de solidariedade e, sobretudo, quem critica para ajudar apresenta alternativas de melhoria ou solução; afora isso podem não passar de palavras a esmo, mordacidade sistemática, maledicência ou inveja, ou então o que explica com rara sabedoria o nosso codificador no trecho a seguir:

"Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam -se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a História da Humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.(1)

Nas relações espíritas convém-nos muita atenção a esse processo delicado do conviver, porque as expectativas que nutrimos, enquanto companheiros de lides, são muito elevadas uns para com os outros, vindo a constituir pesado ônus nos relacionamentos doutrinários. Em nossos ambientes, porque cultivamos o hábito da fraternidade e da indulgência, não devemos fugir do dever de orientar e corrigir os que partilham conosco das bênçãos do aprendizado.

O personalismo - marca moral pertinente à maioria esmagadora dos discípulos espíritas - é uma lente de aumento que procura dilatar nossos valores e uma nuvem que busca ofuscar nossas imperfeições, tornando-se entrave à opinião sincera em razão de insuflar o melindre e a mágoa. Afogados em queixumes e desapontamentos, alguns amigos nessa experiência dizem que não esperavam serem avaliados em seus defeitos no centro espírita, e perguntam: "não basta o lar e os ambientes de profissão nos quais, familiares e colegas, estão sempre ressaltando minhas mazelas?" Todavia, é preciso distinguir o que seja uma correção para denegrir e outra para crescer. Cremos que essa última deva ser a tônica das nossas posturas junto às agremiações espíritas, mas sem deixar de lado a sinceridade e a sensatez.

A recomendação traçada por Allan Kardec em nosso item de estudo citado na introdução desse texto é preciosa diretriz aos médiuns, não sendo de menor importância a todos os que militamos nas fileiras de trabalho espírita. As opiniões alheias são extenso e valoroso recurso de crescimento e não devemos menosprezá-las nunca, ainda mesmo quando constituam excessos, porque assim nos auxiliam a conhecer melhor quem as emitiu, servindo para estipular nossa própria opinião sobre o outro com juízo fraternal, distante da influência nociva da inferioridade que ainda carreamos nos caminhos da evolução.

Lembremos, portanto, que o cultivo do afeto entre nós, trabalhadores da causa de Jesus e Kardec, não dispensa as opiniões lavradas nas fontes da sinceridade e que, tendo por objetivo a melhoria e o esclarecimento, devem ser emitidas de forma a elevar a autoestima, transformando o medo de rejeição em um novo e agradável sentimento de segurança e amizade cristã.

Ainda acerca das opiniões alheias, acostumemo-nos a elas lembrando que o próprio Jesus não as dispensou quando perguntou em exemplar atitude íntima aos discípulos: "Quem dizem os homens que eu sou?'(2)


Ermance Dufaux




(1) A Gênese - Capítulo 17 - Item 2
(2) Mc 8:27


Um comentário:

  1. https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/isolado-no-mundo.html
    Amigos
    Ninguém pode afastar você dos seus pensamentos.
    A sua memória é o seu banco de dados, nela estão depositados todo o seu conhecimento.
    A sua mente guia a sua vida respondendo as suas indagações pelo que você sabe, aprendeu e que é a sua verdade.
    “Assim como você se imagina: Assim é a sua vida”.
    “O PODER DA IMAGINAÇÃO” Ranking dos mais vendidos.
    https://www.amazon.com.br/PODER-IMAGINA%C3%87%C3%83O-ASSIM-IMAGINOU-Prov-23-ebook/dp/B01BSUA6HM/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1QTKRW8INN08O&dchild=1&keywords=emmanuel+francisco+junior&qid=1618834241&sprefix=Emmanuel+francisco+%2Caps%2C303&sr=8-5

    ResponderExcluir