terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 5 - Ressentimento - Pág. 63 - Causas psicológicas do ressentimento




Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 5 - Ressentimento - Pág. 63


Causas psicológicas do ressentimento 


Subjacente nos refolhos do inconsciente coletivo e individual da criatura humana, a necessidade do poder impõe-se como fator primacial para a autorrealização, para o desenvolvimento da inteligência e da vontade, para a conquista pelo sentimento ou mediante a astúcia de tudo quanto o ego ambiciona.

Esta ânsia de poder, inerente ao ser humano, é geradora de inúmeros conflitos quando não resolvida de maneira equilibrada.

A luta pelo poder constitui o motivo essencial da existência humana, na busca de seu bem-estar, da sua felicidade.

Examinando-se o exclusivo sentido do poder, toda vez quando o indivíduo se sente defraudado na sua ambição desmedida, rebela-se, permitindo que o ego seja atingido e subestimado, gerando sentimentos controvertidos de ódio, de rancor, de ressentimento.

A frustração sexual mascara o seu conflito quando o indivíduo sente-se rejeitado, desenvolvendo-o com mais vigor, já que sua existência é uma herança dos seus instintos básicos, que dá lugar à exagerada exacerbação que se converte em ressentimento.

O sentimento de inferioridade, de abandono, abre espaço para o ressentimento que anela pela subjugação de quem o desprezou.

Alojando-se na mente e na emoção, a fracassada possibilidade de manipulação de outrem transforma-se em surda e covarde expressão de vingança disfarçada, que deseja o desforço mediante a infelicidade daquele a quem considera como seu opositor.

Transferindo-se da emoção para a memória, faz-se verdugo cruel que perde o discernimento, a faculdade de logicar, para fixar-se naquilo que considera ofensa, cada vez mais enredando-se nos fluidos deletérios da revolta que termina por acomete-lo de perturbações emocionais e fisiológicas que se desenvolvem e se estimulam pela vitalização contínua.

É compreensível o surgimento de uma certa frustração e mesmo de desagrado diante de confrontos e de agressões promovidos por outrem, dando lugar a mágoas, que são uma certa aflição de caráter transitório, não, porém, à instalação do ressentimento.

A emoção que é sofrimento deixa de sê-lo no momento em que dela formamos uma idéia clara e nítida.

Enquanto fixada em algum dos instintos básicos, a emoção é geradora de sofrimento, em face dos impositivos de que se reveste, como fenômeno sem controle, como capricho decorrente de imaturidade psicológica.

O sentido do existir proporciona uma visão profunda do amor, que a tudo e a todos compreende, agigantando-se ao largo das experiências vivenciadas no quotidiano, que proporcionam crescimento emocional e consequente controle das paixões.

O ser humano, em face da sua procedência espiritual, é portador do anjo e do demônio em latência, desenvolvendo as manifestações elevadas do espírito, ao mesmo tempo em que supera as heranças do primarismo.

Assim, a vida possui um sentido de existência, que se fundamenta no amor, superando o vazio e a falta de significado, frutos do estado de tédio e de insatisfação.

Em decorrência da inevitabilidade do sofrimento, o caminho único a ser percorrido é a sua superação, quando se passa a formar a seu respeito uma ideia clara e nítida, racionalizando-lhe as ocorrências.

O ressentimento permanece como um especial arquétipo, sombra densa dominando os sentimentos humanos, aumentando o comportamento conflitivo, quando seria ideal libera-lo da conduta, mesmo quando iniciando os passos do equilíbrio e da afirmação dos seus valores éticos, dos quais decorrem o bem-estar, a saúde em várias expressões, alcançando o numinoso.


Joanna de Ângelis








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