Joanna de Ângelis - Livro Após a Tempestade - Divaldo P. Franco - Cap. 16
Adversários
Ninguém, na Terra, que esteja indene à vigilante presença deles.
Transitam pelo caminho de todos, inspecionando as imperfeições alheias e fazendo exigências, acoimados por sentimentos torpes, em faina de desforço contínuo de que não se saciam nunca.
Sorriem, alguns, dissimulando reações contraditórias de animosidade, que os atormenta. Parceiros de folguedos ou de atividades, constituem premente aflição que estruge a cada passo em bem urdido programa ou precipitados revides de idiossincrasia que não conseguem superar.
A grande maioria ignora a razão por que se fazem adversários, como se razão alguma houvesse ou justificasse o culto da inimizade.
Simplesmente se deixam afetar pelos sentimentos inferiores e intoxicam-se pelos vapores que procedem das fixações mentais enfermiças com que se acreditam realizados emocionalmente.
Porque alguém logre determinadas metas que eles não conseguiram, derrapam nas vias da insensatez, que faculta a vigência da inveja e do despeito, investindo, em desalinho, na condição de sicários impiedosos.
Sob a injunção de problemas íntimos que dão origem a complexos negativos e recalques pessimistas, supõem-se traídos, subestimados, enveredando pelos difíceis caminhos da ira, que fomenta a rebeldia, traduzindo-se como rudes opositores.
Não desejando oferecer as necessárias quão preciosas quotas de sacrifício e abnegação que outros se concedem para as lutas do cotidiano, deslizam pelo ciúme até o bordo da antipatia, revelando-se verazes censores e perseguidores sistemáticos.
A mágoa que se permitem conservar algumas pessoas, anestesiadas nos centros do discernimento pela presunção convertem-nas em problemas para o próximo, vitalizando as paixões subalternas que as transformam em singulares desafetos...
...Sempre se pode encontrar motivos para opor-se a outrem; falsos argumentos de que se utiliza a fraqueza moral, para dar vazão às próprias imperfeições que transfere para o próximo, face à falta de coragem para enfrentar-se e corrigir-se, adquirindo valores para a própria ascensão, de cujo elevado posto as perspectivas mudam de configuração, assumindo os seus aspectos reais.
A visão das baixadas é limitada pelos horizontes estreitos, tanto quanto os exames e considerações em torno das atitudes alheias, se apresentam com as cores das lentes com que são observadas...
Os idealistas de todos os portes sofreram o pesado guante que lhes foi atirado na face.
Os heróis de todo cometimento experimentaram a agudeza das lanças e das múltiplas farpas.
Os santos e os apóstolos de todos os matizes foram afligidos pelo zurzir do látego e dos doestos.
Os missionários da ciência e os sacerdotes do saber estiveram sob a alça-de-mira das armas e não poucos expiaram nos suplícios infames que lhes foram impostos.
Se te alças à glória da redenção pelo amor ou se desces à sombra para o auxílio, não te concederão trégua, porquanto preferem o parasitismo e a inutilidade em que se detém.
A ação do bem incomoda-os. Isto porque ainda predominam no homem as heranças inferiores das faixas primevas de onde procede...
Pensam esses acratas que é mais fácil perseguir e inquietar do que apaziguar e erguer.
Não sabem o que fazem, ou preferem, por enquanto, não sabe-lo.
Pululam entre os encarnados e estão presentes além da forma física, prosseguindo na nefanda irrisão e fantasia inditosa a que se renderam, infantis.
Todos lhes sofrem as investidas. São, no entanto, benfeitores indiretos, se conseguires aproveita-los.
Sem o saberem auxiliar-te-ão no descobrimento das falhas morais que deves corrigir, chamar-te-ão a atenção para gravames que afeiam a tua conduta, apontar-te-ão debilidades do caráter e senões do comportamento de que ainda não te deste conta, dir-te-ão com acrimônia as incidências cometidas neste ou naquele erro e que te passaram despercebidas, impor-te-ão exercícios de paciência e renúncia, exprobrando-te equívocos irrelevantes e enganos de pequena monta, exigir-te-ão austeridade no exemplo e otimismo no proceder, concitando-te à humildade...
Exagerarão nos informes infelizes e não te darão repouso nem trégua... Com isto te libertarás deles.
O importante é não ser adversário de ninguém, perseguidor de pessoa alguma, mergulhando no imo a fim de extirpar os reais inimigos da paz, que residem no cerne de cada criatura, onde proliferam, e enfrentar as refregas, resistindo a não poucos embates, até a vitória...
Quando alguém reage, revidando contra o agressor, passa a sintonizar com ele, mantendo ambos estreita e perniciosa interdependência psíquica, em desditoso comércio mental de ódio dissolvente, que termina por subjuga-los sem reversão.
O esforço exigido, sem dúvida, será contínuo, porquanto esses antagonistas íntimos nascem e renascem, multiplicando-se facilmente nos porões da alma.
Por tal razão, recomendou o Senhor a oração e a vigilância a fim de que o homem supere as tentações.
Nessa luta sem quartel muitas dores se somarão, advindo, posteriormente, a saúde total e a total alegria da paz.
Para esse tentame, esforça-te por disciplinar o caráter, fixando hábitos salutares e realizações abençoadas.
Transformarás os inimigos que te criam dificuldades, a pouco e pouco, pelo exemplo de fé, amor e caridade, em auxiliares do teu progresso, e, quiçá, em verdadeiros irmãos do trabalho, se te dispuseres a não revidar o mal com o mal seja em atos ou em pensamentos, amando-os e considerando-os amigos enfermos aos quais deves ajudar para a tua e a felicidade deles.
Joanna de Ângelis
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