Ermance Dufaux - Livro Diferenças não são defeitos: A riqueza da diversidade nas relações humanas - Wanderley de Oliveira - Cap. 1
Diferenças não são defeitos
"Sois chamados a estar em contato com Espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes." Um Espirito Protetor, Bordéus, 1863, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 17, item 10.
A unidade Alma de Deus na sua obra - É o sistema regulador da ordem e da evolução, determinando a submissão da criação à Vontade Infalível, Soberana e Justa do Criador.
Unidade, porém, não deve ser confundida com igualdade de condições ou funções, mas de direitos. Ainda assim, os direitos que cada criatura herda do Pai estão submetidos aos Sábios Desígnios da Justiça, que disciplina o progresso evolutivo do ser.
O tronco divino das Leis Naturais cria a ordem e ramifica-se na diversidade por meio do direito humano de escolher seus caminhos. Alguns imperativos, porém, expressam com clareza indiscutível os estatutos a que todos renderão obediência. É assim que todos morrem, se reproduzem, melhoram, pensam, sentem, buscam Deus, retornam ao corpo físico...
Nessa colmeia galáctica, o amor é o fio condutor das diferenças humanas, sob a luz do qual todas as diferenças podem ser superadas, conquanto continuem a existir.
Somente a rebeldia dos homens destoa dos princípios divinos estabelecidos para a perfeição e a elevação. Optando pelos descaminhos do egoísmo, os filhos inconformados escravizaram-se ao reflexo da posse e do poder, pelos quais se instalou em seus campos mentais o doentio regime de competição oculta ou declarada. O propósito básico é a eliminação do outro, seja pela simples indiferença ou mesmo por mecanismos de crueldade. Eliminar as diferenças, quiçá os diferentes.
Domínio e acúmulo passaram a ser perseguidos como metas de felicidade. Diferenças e diferentes que criam obstáculos à consumação dos ideais materialistas são tomados a conta de oponentes, configurando nos milênios uma legítima realidade psíquica embasada em preconceitos e barreiras nos roteiros da vida relacional.
Indiferença significa negar a diferença, não dar importância aos diferentes. O momento, no entanto, chama-nos a ampliar conceitos e a aprofundar a meditação. A melhoria de nossas condições individuais apela para o melhor entrosamento com a diversidade. Buscar a essência de tudo e de todos na formação de uma mais ampla compreensão da vida que nos cerca. Cada criatura, cada acontecimento, cada singularidade, por mais que não desperte interesse ou atração em nossas almas, é um percurso Divino por onde transita o princípio de Soberania da Vontade de Deus.
O problema não são as diferenças, mas as barreiras imaginárias que geramos no campo dos sentimentos em relação ao que acreditamos ser conflituoso ou inconciliável. Fantasias que levam ao desamor - um resquício dos instintos primários.
Deus fez o homem à Sua imagem e semelhança, e não à Sua igualdade.
Como encontrar Deus sem aprendermos a legítima identificação com Sua Obra?
E na obra divina, o próximo é o excelso apelo do Pai concitando-nos a novos rumos em direção ao crescimento e maturidade.
Não existirá Mundo de Regeneração sem convivência pacífica e conhecimento profundo de si mesmo. Avançar no estudo das diferenças, com isenção de conceitos prévios, tentar identificar a mensagem do Pai nas diferenças e, quem sabe, algo aprender com os diferentes, eis o caminho de quem adentra os domínios da sabedoria em busca da alma da vida, na vitória sobre o egoísmo rumo ao porvir regenerativo.
A questão da superação das diferenças está em vencer a si mesmo, e não ao outro. Vencer nossas construções milenares de separatividade erguidas como muros de ignorância e atraso.
Saiamos da condição de querer reduzir o outro ao "mesmo", à igualdade que, em nossos arquivos mentais, não passa de uma caixinha de padrões transitórios e frágeis, aos quais nos apegamos como expressão da verdade pessoal.
A beleza da vida está no ato de todos serem diferentes e terem algo de novo a nos ensinar. Compete-nos nos abrir para esse mundo novo de vivências altruístas e ricas de diversidade.
É o desafio de conviver bem com a particularidade alheia, sem querer, arrogantemente, adaptá-la à nossa visão pessoal.
O mundo, sem dúvida, será um lugar melhor quando prezarmos a diferença alheia como sendo o seu direito inalienável de ser.
E mesmo que não concordemos com a singularidade do outro, cabe-nos, por Dever Universal, proceder no amor com inalterável respeito pelas diferenças, em qualquer tempo e lugar.
Consolidando um exemplo de fraternidade em louvor à lei do bem.
"Sois chamados a estar em contato com Espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes."
Diferenças não são defeitos!
Ermance Dufaux
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