Manoel Philomeno de Miranda - Livro Mediunidade: Desafios e Bênçãos - Divaldo P. Franco - Cap. 15
Conflitos humanos
Na raiz das inquietações que varrem o Planeta sob o ponto de vista social e espiritual, a grande crise é de natureza moral.
Tem havido insuperável progresso exterior, sem que venha ocorrendo simultaneamente o de natureza interna.
Conquistam-se os espaços siderais, penetra-se na intimidade das micropartículas, realizam-se viagens monumentais, guerreia-se com armas inteligentes, formulam-se programas de apoio financeiro aos países em insolvência econômica, desenham-se planos para as cidades do futuro, sem a preocupação real com o ser humano, que merece todo o empenho e consideração.
No seu processo evolutivo, ele vem avançando a duras penas, do instinto à razão, sem haver conseguido a vivência da lógica e do bom-tom, não utilizando o raciocínio de maneira conveniente, porque ainda assinalado pelo egoísmo em primeiro lugar, olvidando o item essencial da solidariedade, que sustenta as vidas no grupo social, o que o afasta do seu próximo mais próximo, mesmo dentro do lar, dando lugar a torpes inquietações.
As comunicações virtuais - correspondências, jogos, estudos, informações, relacionamentos - impõem o individualismo, a solidão, e quando muito a comunhão estéril e fria através dos computadores e outros similares instrumentos, diminuindo o calor da proximidade, o significado da presença e da familiaridade, que assinalam estes como terríveis dias de multidões refertas de solitários...
As atrações para fora sempre resultam em danos para as reflexões internas, que perdem os espaços, substituídos pela futilidade e pelo gozo de efêmera duração, liberando os conflitos internos que se transferem de uma para outra existência corporal.
O Espírito é a soma das suas experiências, ao longo das reencarnações. O que não foi realizado conforme o programa evolutivo é transferido para outra oportunidade com a carga das consequências a que faz jus.
A violência, gerada pelo instinto de preservação da vida, que foi de grande utilidade no período primário da evolução, caso não seja substituída pela pacificação racional e disciplinada na mente, na emoção e na conduta, irrompe com frequência, ante qualquer contrariedade ou frustração, produzindo descompassos psicológicos inumeráveis. Se é escamoteada pelos processos da educação social, ressurgirá, mais tarde, como fenômeno alienante ou perturbador, em forma de depressão. Se liberada, torna-se desvario de consequências imprevistas.
O medo ancestral, que contribuiu no seu momento próprio para a manutenção da existência, mal conduzido transforma-se em fator de desconfiança e de animosidade em relação à vida, à sociedade, iniciando-se no lar como tormento inquietante.
A ansiedade resultante das expectativas ambiciosas, que normalmente tem um caráter psicológico saudável, transforma-se em desequilíbrio ante a volúpia das informações em massa e o desejo de participar de tudo e em tudo envolver-se, extrapolando a capacidade de seleção do realmente necessário, ante o secundário e o inútil.
Os hábitos enfermiços de ontem, não atendidos e não corrigidos em tempo, mediante os fatores educativos e morigerados, ressurgem, impondo-se e exigindo comportamentos altamente perigosos, que alucinam na drogadição, no tabagismo, no alcoolismo, nos desvarios eróticos do sexo em desalinho.
As condutas extravagantes e criminosas, carregadas de culpa, em razão de haverem atravessado os tempos silenciadas na consciência, induzem ao retorno às tribos, aos grupos esdrúxulos e mórbidos que agridem a sociedade.
Heranças atávicas do passado sempre se expressam no presente, como conflitos de inferioridade, de superioridade, de narcisismo, com a carga tóxica dos preconceitos que transformam os indivíduos em vândalos perversos e insensíveis...
Os dolorosos mecanismos de transferência psicológica são muitos e geradores de atribulações emocionais, porque os indivíduos não estão dispostos a enfrentar os seus limites e situações, avançando com coragem na conquista de si mesmos.
Todo e qualquer tipo de conflito emocional faz parte das realizações experienciadas pelo espírito no seu processo de crescimento para a vida.
Indispensável que o ser humano acorde para autoconhecer-se, a fim de modificar as estruturas íntimas, programando a existência saudável e vivendo-a dentro das possibilidades que lhe estejam ao alcance, sempre trabalhando por melhorar-se.
Para tanto, faz-se indispensável que se reserve tempo físico e mental para o mister iluminativo, a fim de sair da cova escura onde se encontra na caverna das heranças ancestrais.
Brilha, no seu mundo interior, a luz da saúde portadora da paz.
É inadiável a necessidade de buscá-la e deixar-se clarificar por dentro, desenvolvendo os sentimentos de autoamor, de compaixão, de solidariedade, de amizade, comungando com o seu próximo onde quer que se encontre.
A solidão proposital é má conselheira, pois que a mente despreparada logo se utiliza do espaço e do tempo para cultivar as ideias perturbadoras, dando campo aos conflitos dilaceradores e impondo crenças absurdas, de que as demais pessoas não lhe concedem estima, nem respeito e nem mesmo consideração... Suspeitas infundadas adquirem estrutura de falsa realidade, tornando o solitário um ser amargo e armado contra todos, quando deveria haver se esforçado para amar e ser amado por todos.
A vida é uma lição de participação, de cooperação em todos os sentidos e em todas as suas expressões, desde as mínimas organizações até os mais grandiosos conglomerados. Em todo lugar, a bênção da solidariedade em forma de submissão e de cooperação demonstra a necessidade da união fraternal entre as criaturas humanas que são o grande objetivo da Criação.
Ninguém, portanto, no mundo físico, que se não encontre assinalado pelos conflitos, sempre responsáveis pela insegurança emocional, pelas dúvidas afligentes, por algumas insatisfações... São perfeitamente saudáveis em determinados momentos a tristeza ou a melancolia, a ansiedade, o receio de ferir ou de ferir-se, a dificuldade de decisão em situações graves... O grande problema é quando esses fenômenos perturbadores tornam-se dominantes, substituindo a paz que deve viger no íntimo, a alegria de viver, os estímulos para o trabalho e para os enfrentamentos, a firmeza das decisões dignificadoras, o esforço contínuo para ser-se sempre melhor hoje do que ontem, em constante luta contra as más inclinações...
Ninguém se encontra na Terra em regime de exceção; todos, portanto, estão sujeitos às condições do mundo de provas e de expiações, em razão da sua própria situação de espírito em processo evolutivo ainda tenteando com o primarismo de que não se conseguiu libertar.
Em seu benefício encontram-se as formosas conquistas da ética e da saúde, as formulações psicológicas e psiquiátricas libertadoras dos transtornos neuróticos e psicóticos, a contribuição inestimável das lições do Evangelho de Jesus, sem dúvida, o mais perfeito tratado psicoterapêutico preventivo e curador para as mazelas do corpo, da emoção e do espírito, ao alcance de todos quantos, honestamente, desejem o bem-estar e a paz.
Por isso, a lei inexorável das reencarnações torna-se o caminho seguro para as conquistas da plenitude, ensejando o desenvolvimento do Cristo interno de cada criatura, que pode tornar-se feliz desde o momento em que descobre o objetivo essencial da existência, que é a sua entrega ao amor e a Deus.
Uma pessoa saudável é de alto valor para o grupo social, que se torna igualmente equilibrado, abrindo espaço para realizações nobilitantes, superando agastamentos, ciúmes, lutas internas, disputas insignificantes, conturbações doentias... O ser portador de saúde moral e espiritual transforma-se no foco, facultando a aquisição de valores desconhecidos ou desconsiderados, mas de fácil conquista quando se tem boa vontade e interesse em crescer e servir.
Desse modo, a permanência de qualquer tipo de conflito no indivíduo faz parte do cardápio existencial, não o desanimando nem perturbando, pois que se está esforçando por vencer-se e vencer os desafios, desde que, para tanto, encontra na Doutrina Espírita as diretrizes seguras para a autossuperação, para a construção do mundo melhor para todos, após haver-se conquistado a si mesmo.
Manoel Philomeno de Miranda
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