sábado, 26 de outubro de 2024

Miramez - Livro Filosofia Espírita Vol. 10 - João Nunes Maia - Cap. 36 - Na rebeldia



Miramez - Livro Filosofia Espírita Vol. 10 - João Nunes Maia - Cap. 36


Na rebeldia


495. Poderá dar-se que o Espírito protetor abandone o seu protegido, por se lhe mostrar este rebelde aos conselhos?

“Afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame. “É uma doutrina, esta, dos anjos guardiães, que, pelo seu encanto e doçura, devera converter os mais incrédulos. Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem; mais sinceros e dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra? Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e, aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos.

“Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!” Oh! Interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e idéias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus.

“Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o vê no bom caminho; sofre, quando lhe ele despreza os conselhos. “Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância. Homens doutos, instruí os vossos semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. Não imaginais que obra fazeis desse modo: a do Cristo, a que Deus vos impõe. Para que vos outorgou Deus a inteligência e o saber, senão para o repartirdes com os vossos irmãos, senão para fazerdes que se adiantem pela senda que conduz à bem-aventurança, à felicidade eterna?” São Luís, Santo Agostinho.

Nada tem de surpreendente a doutrina dos anjos guardiães, a velarem pelos seus protegidos, mau grado à distância que medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na Terra o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus conselhos correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra, eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido universal, que entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o da transmissão do som? (O Livro dos Espíritos - Allan Kardec -  2ª Parte - Cap. 9 - Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal)

Quando o anjo-guardião percebe que o seu protegido está sendo rebelde aos seus conselhos, ele insiste de todas as formas, para que o renitente compreenda os objetivos da sua permanência ao seu lado, e se esse fecha os olhos, tampa os ouvidos à ajuda espiritual, dá-se, por amor, o afastamento. O que se fez surdo deve sofrer as conseqüências da sua ignorância, no sentido de aprender a verdade pelos processos da dor.

O afastamento é referente à transmissão dos conselhos, e não desligamento das responsabilidades espirituais. Os Espíritos superiores já passaram por essa fase em que se encontra seu tutelado, e sabem, por experiência, que o despertamento dos valores espirituais vêm gradativamente. Toda violência faz estragos no comportamento, no campo da intimidade da criatura. Nunca podes te comparar com alguns grandes santos que modificaram de momento para outro a sua vida. A explicação é que esses Espíritos já tinham bagagem espiritual para suportar as mudanças, porque Deus não coloca fardos pesados em ombros frágeis. Todos os estudantes da verdade conhecem essa lei.

Quando o encarnado reconhece o erro e volta a pedir proteção ao seu anjo-guardião, este está disposto a ajudá-lo com todo o seu amor e carinho, e sente-se feliz quando o tutelado abre as portas do coração para ouvir os conselhos do bem. O benfeitor sempre usa a mansuetude como canal de educar, mas, quando necessário, a energia não falta. Usa igualmente o sono para instruir seu protegido. Este ouve sua voz e nem sempre vê seu protetor, mas sabe que alguém o acompanha e orienta, pelo que ouve do seu coração, indicando-lhe os caminhos a seguir. O discípulo rebelde, quando reconhece o erro e volta a chamar seu protetor, é comparado ao filho pródigo, voltando à casa paterna. Ele é recebido com festas, onde a alegria esplende em amor e o amor faz abrir os braços de todos os companheiros espirituais que o cercam, no contentamento que os faz ajudar mais, pois, encontrando as portas abertas, eles entram em nome do Mestre, para fazer com que ele sinta Deus na consciência e Cristo no coração.

A doutrina dos anjos-guardiães nos dá esperança, por sabermos que existem guias espirituais nos acompanhando e nos dirigindo por determinação de Deus. Quando somos conscientes dessa verdade, a nossa fé se modifica; da posição de fé cega, esta passa a ser raciocinada. Ela vê a realidade e a confiança aumenta em todas as dimensões, para nos dar mais esperança na vida que contínua em todas as direções do Universo.

As páginas que escrevemos, por misericórdia de Jesus, são um alerta aos encarnados, para que se liguem mais aos conselhos dos anjos-guardiães. Observa os pensamentos nobres que chegam aos teus como amálgama divino, sentindo felicidade no coração por serem eles procedentes da luz. As companhias espirituais são de acordo com os teus sentimentos. Aprimora-os, ou pelo menos esforça-te para tal, que o mundo espiritual não esquece de ajudar-te nas lutas internas de melhorar moralmente.

Não sejas rebelde aos conselhos espirituais que vêm ao teu encontro até por intermédio de amigos. Os protetores espirituais usam todos os meios para chegarem ao objetivo de educar e instruir os seus tutelados, sem esquecerem o amor, força divina.

Os Espíritos, quanto mais elevados, mais trabalham por amor e com amor. Os mínimos trabalhos, para eles, proporcionam a mesma alegria que os grandes. Que Deus nos abençoe, para melhor compreendermos os segredos do Criador, porque todos eles são em favor da paz de todas as coisas e para a felicidade dos Seus filhos. 


Miramez  












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