sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 1 - Fugas psicológicas - Pág. 15 - Causa da fugas



Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 1 - Fugas psicológicas - Pág. 15


Causa da fugas


Normalmente, o sistema nervoso central consegue suportar altas cargas emocionais, diluindo-as ou transferindo-as de localização.

Em face dos estímulos que proporciona ao sistema endocrínico, o formidando laboratório glandular responde mediante os hormônios específicos que são produzidos e distribuídos em rede segura por todo o organismo.

Embora seja o Self o desencadeador das emoções, a maquinaria orgânica tem a finalidade de expressá-las.

Ocorre, no entanto, que as sucessivas descargas emocionais perturbadoras de tal forma sobrecarregam os nervos que, invariavelmente, transferem aquelas mais difíceis de contornadas e aceitas para os arquivos do inconsciente, dando lugar às fugas psicológicas em que se comprazem muitos pacientes.

Em vez dos enfrentamentos dos problemas com naturalidade, determinadas predisposições emocionais impedem a aceitação das ocorrências mais exaustivas, produzindo um mecanismo automático escapista, mediante o qual parece livrar-se da dificuldade, quando apenas a posterga.

Tão natural e repetitivo se faz esse fenômeno, que o paciente deixa-se mascarar por fatores opressivos que terminam por vencê-lo.

Departamentos seletivos da mente bloqueiam automaticamente muitas ações desagradáveis, que são arquivadas em setores especiais, mesmo antes de analisadas devidamente, conforme seria de esperar-se.

Em face dessa conduta escamoteadora, surgem os mecanismos de transferência de responsabilidade, de ausência de discernimento, de fugas variadas na área psicológica.

Na vida infantil, porque não compreende a gravidade dos atos, a criança escapa da responsabilidade apelando para a mentira, fruto natural da sua imaginação criadora, que bem-orientada encontrará o correto caminho para dar largas ao seu campo de inspiração e de ação, sem esquecimento da verdade.

No entanto, em razão da falta de orientação no lar, que procura castigar o mentiroso, em si mesmo vítima de insegurança e inquietação emocional, elucidando-o quanto à maneira como deve conduzir-se, o ser cresce fisicamente, mantendo-se, porém, no estágio de infância psicológica, o que é muito lamentável.

Não poucas vezes, diante dos grandes desafios para os quais o indivíduo não se sente equipado, por lhe faltarem os recursos hábeis para os arrostar, foge para atitudes Conflitos Existenciais levianas e irresponsáveis, como se estivesse agindo de forma correta.

Mais grave torna-se o fenômeno quando a necessidade da evasão faz-se mais premente, levando-o a um estágio de esquecimento dos compromissos difíceis, dando a impressão de conduta incompatível com a dignidade e o bom-tom.

É comum ver-se agressão verbal contra outrem, motivada pela inveja, que é a sua causa real, porém disfarçada de defesa deste ou daquele ideal, de uma ou de outra forma de comportamento.

Nessa atitude está embutida uma fuga psicológica ocultando a causa real do desapontamento, transformado em rebeldia e mágoa.

Alguns estados pré-depressivos igualmente decorrem da incapacidade de serem resolvidos os desafios existenciais, facultando ao indivíduo esconder-se no medo que o leva ao mutismo, ao afastamento do convívio social e familial, em uma forma de poupar-se a qualquer tipo de sofrimento.

Muito curioso tal mecanismo de fuga, tendo-se em vista que o enfermo vai defrontar-se com aquilo que gostaria de evitar, desde que se torna infeliz, inseguro, no refúgio perigoso em que se homizia.

Evidentemente, com o transcorrer do tempo aumenta a insatisfação com a existência e desce ao abismo da depressão psicológica, ensejando ao organismo, pelo impacto contínuo da mente receosa, perturbação nas neurotransmissões, em decorrência da ausência de serotonina e noradrenalina.

O ser humano encontra-se equipado de recursos preciosos que devem ser aplicados no quotidiano, de forma que se ampliem as possibilidades nele latentes, expressando a potencialidade divina de que se encontra constituído.

Toda vez que se tenta evitar esforço e luta, opera-se em sentido contrário às leis da vida, que impõem movimento e ação como recursos de crescimento psicológico, moral, intelectual, espiritual.

Ninguém cresce ou se desenvolve em estado de paralisia.

De igual modo, o ser pensante, quanto mais estímulos produz ao impacto dos ideais, das aspirações, dos programas iluminativos, mais inapreciáveis possibilidades se lhe desdobram convidativas.

Constata-se que os lidadores, em qualquer área existencial, mais se aprimoram quanto mais produzem e mais se afadigam.

Resistências morais desconhecidas são acionadas e recursos ignorados aparecem, tornando cada vez mais fáceis os empreendimentos programados.

Sob outro aspecto, as heranças espirituais de experiências transatas permanecem comandando o inconsciente profundo e gerando automatismos de bloqueio para todas as experiências que se apresentam na condição de ameaças à paz.

Quando se tornam mais vigorosas e ressumam com maior facilidade dos depósitos onde se encontram arquivadas, induzem ao suicídio, em mecanismo de transferência de responsabilidade para aquele a quem atribui as razões do que impropriamente considera como fracasso.

Muitas vezes são paixões incontroláveis, caprichos derivados de condutas equivocadas que se deseja impor a outrem, que tem o direito de recusá-las, não lhe aceitando a postura independente, que sempre deve prevalecer no indivíduo.

Todas as empresas experimentam períodos de progresso e de queda em face das razões sociais, econômicas, políticas, humanas.

O mesmo ocorre com a existência física, por tratar-se de um empreendimento de alta magnitude e sujeito às mais diversas circunstâncias, especialmente as emocionais, que, de alguma forma, constituem fatores de segurança e de equilíbrio.

A indiferença, que muitas vezes aflige aqueles que lhe padecem a postura, é um recurso de fuga psicológica de quem se sente incapaz de competir ou de aceitar o insucesso da pretensão anelada.

Não se considerando em condições de compensar a perda, diminui a intensidade do sentimento afetivo e revida ao que considera como ofensa, em forma de morte da emoção.

É normal que ocorram algumas fugas psicológicas no dia a dia da existência humana, em forma de recurso neutralizador do excessivo volume de informações que bombardeiam o indivíduo, através dos diversos veículos de comunicação de massa, das conversações raramente edificantes, das convivências enfermiças.

Ante a impossibilidade de proceder-se a uma catarse que liberaria da carga adicional afugente, a consciência apaga momentaneamente as informações e foge para comportamentos que lhe parecem mais saudáveis e compatíveis com as suas aspirações.

Saúde mental e emocional, por extensão, física também, será sempre o resultado desse equilíbrio psicofísico que deve viger nos indivíduos que se trabalham interiormente, cultivando o otimismo e a confiança irrestrita em Deus e na vida.


Joanna de Ângelis















Nenhum comentário:

Postar um comentário