segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. XIII - As provas e a morte




Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. XIII


As provas e a morte


Estabelecido o alvo da existência, mais alto que a fortuna, mais elevado que a felicidade, uma Inteira revolução produz-se em nossos intuitos.

O Universo é uma arena em que a alma luta pelo seu engrandecimento, e este só é obtido por seus trabalhos, sacrifícios e sofrimentos. A dor, física ou moral, é um meio poderoso de desenvolvimento e de progresso. As provas auxiliam-nos a conhecer, a dominar as nossas paixões e a amarmos realmente os outros. No curso que fazemos, o que devemos procurar adquirir é a ciência e o amor alternadamente. Quanto mais soubermos, mais amaremos e mais nos elevaremos. A fim de podermos combater e vencer o sofrimento, cumpre estudarmos as causas que o produzem, e, com o conhecimento dos seus efeitos e a submissão às suas leis, despertar em nós uma simpatia profunda para com aqueles que o suportam. A dor é a purificação suprema, é a escola em que se aprendem a paciência, a resignação e todos os deveres austeros. É a fornalha onde se funde o egoísmo, em que se dissolve o orgulho. Algumas vezes, nas horas sombrias, a alma submetida à prova revolta-se, renega a Deus e sua justiça; depois, passada a tormenta, quando se examina a si mesma, vê que esse mal aparente era um bem; reconhece que a dor tornou-a melhor, mais acessível à piedade, mais caritativa para com os desgraçados.

Todos os males da vida concorrem para o nosso aperfeiçoamento. Pela dor, pela prova, pela humilhação, pelas enfermidades, pelos reveses o melhor desprende-se lentamente do pior. Eis por que neste mundo há mais sofrimento que alegria. A prova retempera os caracteres, apura os sentimentos, doma as almas fogosas ou altivas.

A dor física também tem sua utilidade; desata quimicamente os laços que prendem o Espírito à carne; liberta-o dos fluídos grosseiros que o retêm nas regiões inferiores e que o envolvem, mesmo depois da morte. Essa ação explica, em certos casos, as curtas existências das crianças mortas com pouca idade. Essas almas puderam adquirir na Terra o saber e a virtude necessários para subirem mais alto; como um resto de materialidade impedisse ainda o seu voo, elas vieram terminar, pelo sofrimento, a sua completa depuração.

Não imitemos esses que maldizem a dor e que, nas suas imprecações contra a vida, recusam admitir que o sofrimento seja um bem. Desejariam levar uma existência a gosto, toda de bem-estar e de repouso, sem compreenderem que o bem adquirido sem esforço não tem nenhum valor e que, para apreciar a felicidade, é necessário saber-se quanto ela custa. O sofrimento é o instrumento de toda elevação, é o único meio de nos arrancarmos à indiferença, à volúpia. É quem esculpe nossa alma, quem lhe dá mais pura forma, beleza mais perfeita.

A prova é um remédio infalível para a nossa inexperiência. A Providência procede para conosco como mãe precavida para com seu filho. Quando resistimos aos seus apelos, quando recusamos seguir-lhe os conselhos, ela deixa-nos sofrer decepções e reveses, sabendo que a adversidade é a melhor escola da prudência.

Tal o destino do maior número neste mundo. Debaixo de um céu algumas vezes sulcado de raios, é preciso seguir o caminho árduo, com os pés dilacerados pelas pedras e pelos espinhos. Um Espírito de vestes lutuosas guia os nossos passos; é a dor santa que devemos abençoar, porque só ela sacode e desprende-nos o ser das futilidades com que este gosta de paramentar-se, torna-o apto a sentir o que é verdadeiramente nobre e belo.

Sob o efeito desses ensinos, a que se reduz a ideia da morte? Perde todo o caráter assustador. A morte mais não é que uma transformação necessária e uma renovação, pois nada perece realmente. A morte é só aparente; somente muda a forma exterior; o princípio da vida, a alma, fica em sua unidade permanente, indestrutível. Esta se acha, além do túmulo, na plenitude de suas faculdades, com todas as aquisições com que se enriqueceu durante as suas existências terrestres: luzes, aspirações, virtudes e potências. Eis ai os bens imperecíveis a que se refere o Evangelho, quando diz: “Os vermes e a ferrugem não os consumirão nem os ladrões os furtarão.” São as únicas riquezas que poderemos levar conosco e utilizar na vida futura.

A morte e a reencarnação que se lhe segue, em um tempo dado, são duas condições essenciais do progresso. Rompendo os hábitos acanhados que havíamos contraído, elas colocam-nos em meios diferentes; obrigam a adaptarmo-nos às mil faces da ordem social, e universal.

Quando chega o declínio da vida, quando nossa existência, semelhante à página de um livro, vai voltar-se para dar lugar a uma página branca e nova, aquele que for sensato consulta o seu passado e revê os seus atos. Feliz quem nessa hora puder dizer: meus dias foram bem preenchidos! Feliz aquele que aceitou as suas provas com resignação e suportou-as com coragem! Esses, macerando a alma, deixaram expelir tudo o que nela havia de amargor e fel.

Rememorando na consciência as suas tribulações, bendirão os sofrimentos que suportaram, e, com a paz íntima, verão sem receio aproximar-se o momento da morte.

Digamos adeus às teorias que fazem da morte a porta do nada, ou o prelúdio de castigos intermináveis. Adeus sombrios fantasmas da Teologia, dogmas medonhos, sentenças inexoráveis, suplícios infernais! Chegou a vez da esperança e da vida eterna! Não mais há negrejantes trevas, porém, sim, luz deslumbrante que surge dos túmulos.

Já vistes a borboleta de asas multicores despir a informe crisálida, esse invólucro repugnante, no qual, como lagarta, se arrastava pelo solo? Já a vistes solta, livre, voejar ao calor do Sol, no meio do perfume das flores? Não há imagem mais fiel para o fenômeno da morte. O homem também está numa crisálida que a morte decompõe. O corpo humano, vestimenta de carne, volta ao grande monturo; o nosso despojo miserável entra no laboratório da Natureza; mas, o Espírito, depois de completar a sua obra, lança-se a uma vida mais elevada, para essa vida espiritual que sucede à vida corpórea, como o dia sucede à noite. Assim se distingue cada uma das nossas encarnações.

Firmes nestes princípios, não mais temeremos a morte. Como os gauleses, ousaremos encará-la sem terror. Não mais haverá motivo para receio, para lágrimas, cerimônias sinistras e cantos lúgubres. Os nossos funerais tornar-se-ão uma festa pela qual celebraremos a libertação da alma, sua volta à verdadeira pátria.

A morte é uma grande reveladora. Nas horas de provação, quando as sombras nos rodeiam, perguntamos algumas vezes: Por que nasci eu? Por que não fiquei mergulhado lá na profunda noite, onde não se sente, onde não se sofre, onde só se dorme o eterno sono? E, nessas horas de dúvida e de angústia, uma voz vem até nós e diz-nos: Sofre para te engrandeceres, para te depurares! Fica sabendo que teu destino é grande. Esta terra fria não é teu sepulcro. Os mundos que brilham no âmbito dos céus são tuas moradas futuras, a herança que Deus te reserva. Tu és para sempre cidadão do Universo; pertences aos séculos passados como aos futuros, e, na hora atual, preparas a tua elevação. Suporta, pois, com calma, os males por ti mesmo escolhidos. Semeia na dor e nas lágrimas o grão que reverdecerá em tuas próximas vidas. Semeia também para os outros assim como semearam para ti! Ser imortal, caminha com passo firme sobre a vereda escarpada até às alturas de onde o futuro te aparecerá sem véu! A ascensão é rude, e o suor inundará muitas vezes o teu rosto, mas, no cimo, verás brilhar a grande luz, verás despontar no horizonte o Sol da Verdade e da Justiça!

A voz que assim nos fala é a voz dos mortos, é a voz das almas queridas que nos precederam no país da verdadeira vida. Bem longe de dormirem nos túmulos, elas velam por nós. Do pórtico do invisível veem-nos e sorriem para nós. Adorável e divino mistério! Comunicam-se conosco e dizem: Basta de dúvidas estéreis; trabalhai e amai. Um dia, preenchida a vossa tarefa, a morte reunir-nos-á.


Léon Denis









Emmanuel - Livro Trilha de Luz - Chico Xavier - Cap. 2 - O problema da igualdade




Emmanuel - Livro Trilha de Luz - Chico Xavier - Cap. 2


O problema da igualdade


A igualdade, sem dúvida, é realidade nas raízes da existência.

Todos os seres possuem direitos idênticos de acesso à elevação, sob qualquer prisma, entretanto, é preciso considerar que os deveres graduam as vantagens, dentro da vida.

No caminho da evolução, desse modo, a teoria igualitária absoluta é invariável utopia que nenhum sistema político poderá materializar.

A experiência e o esforço pessoal são as duas alavancas da diferenciação à cuja influência decisiva não conseguiremos fugir.

Mas, se é verdade que não podemos improvisar a ancianidade do Espírito, que só o tempo confere a cada criatura, na jornada para a maturação, o trabalho é sempre a riqueza real, suscetível de ser ampliada em nosso destino, ao preço de nossa boa vontade.

Assim sendo, não te esqueças das oportunidades que a Divina Providência te oferece cada dia, em favor do teu crescimento.

Os degraus da subida de nossa alma no rumo da perfeição destacam-se, hora a hora, através das situações e das pessoas que nos rodeiam. Não residem nas facilidades que nos acomodam o coração com as linhas inferiores do mundo. Salientam-se nos obstáculos com que somos defrontados.

Cada problema e cada aflição, cada prova mais rude e cada luta mais árdua representam pontos vivos de ascensão que podemos aproveitar, em favor do próprio aprimoramento.

Aprendamos a respeitar o próximo e auxiliá-lo, na convicção de que amparando os nossos irmãos de caminho, auxiliaremos a nós mesmos, de vez que adquiriremos o tesouro da experiência, que nos enriquecerá de visão para os cimos que nos cabe alcançar.

Cada fonte vive em seu nível.

Cada projeção de luz caracteriza-se por determinado potencial de radiação.

Cada flor guarda o perfume que lhe é próprio.

Cada árvore produz segundo a espécie a que se subordina.

Cada Espírito respira na esfera que elege para clima ideal da própria existência…

Compete-nos buscar a posição de superioridade que Jesus nos oferece, aceitando o sacrifício pelo bem que a vida nos impõe, afim de que nos façamos hoje desiguais da personalidade que ostentávamos ontem, perdendo os envoltórios pesados que ainda nos imantam à zonas escuras da Terra e tentando a sintonia com os benfeitores que nos esperam na Glória Espiritual.


Emmanuel






Hammed - Livro La Fontaine e o Comportamento Humano - Francisco do Espírito Santo Neto - A Raposa e as Uvas - Tornar aceitável o inaceitável




Hammed - Livro La Fontaine e o Comportamento Humano - Francisco do Espírito Santo Neto


A Raposa e as Uvas - Tornar aceitável o inaceitável


A racionalização é um dispositivo da mente que transforma vontades ou anseios em fatos fictícios supostamente reais. É quando usamos a inteligência para negar a verdade; é um procedimento íntimo que nos torna desonestos com nós próprios." - Hammed

"A RAPOSA E AS UVAS"


Contam que certa raposa astuta, quase morta de fome, sem eira nem beira, andando à caça de manhã, passou por uma parreira carregada de cachos de uva bem maduros, todos pendentes na grade que oferecia suporte à videira.

Mas eles estavam altos demais e a raposa não podia alcançá-los. De bom grado ela os trituraria, mas sem lhes poder tocar disse:

- Estão verdes ... já vi que são azedas e duras. Só os cães podem pegá-las.

E foi embora a raposa, deixando para trás os cachos de uva, madurinhos e doces, prontos para quem por ali passasse e pudesse alcançá-los.

"TORNAR ACEITÁVEL O INACEITÁVEL"


Uma raposa com muita fome sai à caça de alimentos. Por sorte, vê uma parreira carregada de belos cachos de uva maduros. Apressa-se e chega à videira para alcançar as frutas. Todo o impulso interior da raposa está direcionado instintivamente para o ataque repentino.

Inicia-se, então, a movimentação e, depois de várias tentativas, ela não consegue apanhar nem sequer um dos cachos. Reúne-se à fome instintiva uma estranha e nova sensação: a decepção, o desapontamento de não poder atender à sua necessidade básica. As sucessivas investidas são em vão, e uma certa atmosfera de incapacidade começa infundir-se no seu mundo mental.

Nesse determinado momento, a raposa, frustrada, pensa, reflete sobre o seu fracasso. Ela não quer ser considerada um animal falido ou derrotado. A propósito, uma crise existencial provoca mais danos internos do que uma necessidade biológica não atendida.

A princípio, a busca de saciar a fome estava totalmente circunscrita ao "estado físico"; depois, a ocorrência leva a raposa a entrar em contato com um conteúdo agravante e dificultoso que atingirá sua essencialidade. Antes uma façanha extraordinária; agora uma sensação de desestima e rejeição de si mesma. Que futuro a esperava daí em diante?

Ela não podia colocar a razão contradizendo os fatos reais. De agora em diante, estava em jogo a incoerência, a falta de nexo ou de lógica em sua casa íntima.

Mas, quando tudo parecia estar perdido, eis que a raposa põe as cartas na mesa, dá um "xeque-mate" e diz para si mesma: "Estão verdes ... já vi que são azedas e duras. Só os cães podem pegá-las." Seu sistema mental precisava adaptar-se diante da frustrante e dura realidade, e daí tirou uma vantagem: fez uma afirmação contrária ao fato real, contou uma mentira para SI mesma.

Admirável mentira (racionalização), uma conclusão que não condiz com a realidade, mas salva a estrutura íntima da raposa.

Racionalizar é inventar para nós mesmos uma história falsa. É um procedimento psicológico que permite a negação dos reais motivos, cobrindo as sensações desagradáveis que vivenciamos com justificativas equivalentes ou histórias similares.

Do mesmo modo que a raposa inventou desculpas e álibis convincentes para manter o auto-respeito, nós também, os homens, buscamos "boas razões", ainda que falsas, para nossas atitudes e fracassos; e criamos "explicações" altamente descaracterizadas para justificar nossa frustração.

Muitos racionalizam dizendo que falam mal da vida dos outros porque metade do mundo maldiz a outra metade. Na realidade, o que está subentendido nessa atitude é que gostamos de difamar ou desvalorizar as pessoas, porque quando fazemos isso nós nos sentimos pretensamente melhores, mais eficientes, mais capazes ou superiores perante os outros. Aí está a intencionalidade inconsciente ou não dos maledicentes.

A racionalização é um dispositivo da mente que transforma vontades ou anseios em fatos fictícios supostamente reais. É quando usamos a inteligência para negar a verdade; é um procedimento íntimo que nos torna desonestos com nós próprios. E, se não podemos ser honestos com nós mesmos, com certeza também não podemos ser honestos com nenhum outro indivíduo. Consequentemente, há uma ruptura ou violação no caráter da criatura. É uma forma de não expandir a consciência, e sim de desestruturar a individualidade do ser humano.

CONCEITOS-CHAVE

A - FRUSTRAÇÃO

É a sensação de quem estabelece altos padrões e metas existenciais superlativas, mas não está preparado para aceitá-los com serenidade quando os resultados não atingem de imediato o alvo desejado.

B - RACIONALIZAÇÃO

É um mecanismo de defesa por meio do qual se utilizam motivos sensatos e racionais para pensamentos e ações inaceitáveis. Esse mesmo processo é o que faz uma pessoa apresentar uma explicação logicamente consistente ou eticamente aceitável para uma atitude, ação ou sentimento que lhe causa sofrimento moral. Disfarça os verdadeiros motivos tornando o inaceitável mais aceitável.

C - EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA

A consciência não exclui nenhuma conquista anterior, pois ela se amplia quando se integram todos os conhecimentos adquiridos para além dos limites conhecidos. Provoca experiências transformadoras, intensas e radicais na criatura, quanto à sua visão de mundo e à sua forma de viver. Ela ocorre em conseqüência de uma decisão do indivíduo e o leva ao crescimento espiritual e ao despertar dos potenciais inconscientes, tais como sabedoria, aptidões, capacidades inatas.

MORAL DA HISTÓRIA

Um julgamento inadequado pode ser uma forma de objetivar e de compensar nossos fracassos. Objetivar é um processo pelo qual o ser humano experimenta uma alienação de real natureza subjetiva, projetando para fora e construindo uma suposta realidade externa. Uma objetivação pode ser salvadora, como a raposa da fábula dizendo para si mesma "estão verdes", quando uvas maduras e apetitosas estavam fora de seu alcance. As objetivações são, portanto, formas que permitem ressignificar um fato mediante uma certa afirmação ou conduta que compensa uma frustração. É comum encontrar entre os homens aqueles que, tais qual a raposa, quando não conseguem realizar seus negócios, acusam as circunstâncias, ou mesmo, por não atingirem um intento, tendem a denegri-lo, diminuindo dessa forma a gravidade de seu insucesso.

REFLEXÕES SOBRE ESTA FÁBULA E O EVANGELHO:

"Não basta que dos lábios gotejem leite e mel; se o coração nada tem com isso, há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, nunca se contradiz; é o mesmo diante do mundo e na intimidade; ele sabe, aliás, que, se pode enganar os homens pelas aparências, não pode enganar a Deus." (ESE, cap. IX, item 6, Boa Nova Editora)

"Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. Cada um examine o seu procedimento. Então poderá gloriar-se do que lhe pertence e não do que pertence a outro. Pois cada um deve carregar o seu próprio fardo." (Gálatas, 6:3 a 5.)

"O interesse fala toda espécie de língua e faz toda espécie de papel, mesmo o do desinteressado" - La Rochefoucauld


Hammed








VÍDEO: 

Fábulas de La Fontaine - Ep. 6 - A Raposa e as Uvas - Tornar aceitável o inaceitável
Inspiração Espírita


Apresentação: Larissa Chaves






Fábulas de La Fontaine - com Larissa Chaves.
Com base na fábula "A raposa e as uvas". Narração: Júlia Mattos.

Estudo sob a ótica espírita com base na obra "La Fontaine um estudo do comportamento humano", de Hammed e psicografada por Francisco do Espírito Santo Neto. 

Edição: Ricardo Valois
Apoio: Marina Valois
Música: Título: Rosalie's Waltz
Compositor: José da Vēde

Imagens:
https://svgsilh.com/
https://pixabay.com/pt/

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São Luís - Revista Espírita - Allan Kardec, Ano I, Junho de 1858 - A preguiça




São Luís - Revista Espírita - Allan Kardec, Ano I, Junho de 1858


A preguiça 


Um homem saiu muito cedo e foi à praça para contratar trabalhadores. Ora, ali viu dois homens do povo que estavam sentados e de braços cruzados. Foi a um deles e o abordou, dizendo: “Que fazes aqui?” Ao que o mesmo respondeu: “Não tenho trabalho”; o que procurava trabalhadores disse, então: “Pega a enxada e vai ao meu campo, na vertente da colina onde sopra o vento sul; cortarás as urzes e revolverás o solo até que venha a noite; a tarefa é rude, mas terás um bom salário.” E o homem do povo colocou a enxada no ombro e agradeceu ao outro de coração.

Ouvindo isso, o outro trabalhador levantou de seu lugar e aproximou-se, dizendo: “Senhor, deixai também que eu vá, trabalhar em vosso campo”; e tendo dito a ambos que o seguissem marchou à frente para mostrar-lhes o caminho. Depois, quando chegaram à encosta da colina, dividiu o trabalho em dois e se foi.

Logo que partiu, o último dos trabalhadores contratados pôs fogo no mato da gleba que lhe coube na partilha e lavrou a terra com a enxada. O suor minava em sua fronte, sob o calor ardente do sol. Murmurando a princípio, o outro o imitou, mas logo abandonou a tarefa; fincando a enxada no chão, sentou-se ao lado, olhando o trabalho que seu companheiro fazia.

Ora, no início da noite o dono do campo veio examinar o trabalho que havia sido realizado; chamando o trabalhador diligente, cumprimentou-o, dizendo: “Trabalhaste bem; eis o teu salário”; e o despediu, após dar-lhe uma moeda de prata. O outro também se aproximou, reclamando o valor de seu salário; mas o dono lhe disse: “Mau trabalhador, meu pão não saciará tua fome, porque deixaste inculta a parte do campo que te foi confiada; não é justo que aquele que nada fez seja recompensado como o que trabalhou bem”. E o despediu, sem dar-lhe nada.

Eu vos digo que a força não foi dada ao homem, nem a inteligência ao seu espírito para consumir os dias na ociosidade, mas para ser útil aos semelhantes. Ora, aquele cujas mãos estiverem desocupadas e o espírito ocioso será punido e deverá recomeçar sua tarefa.

Em verdade vos digo que sua vida será posta de lado como uma coisa que a ninguém aproveita, quando seu tempo se cumprir; compreendei isso como uma comparação. Qual dentre vós, se tiverdes em vosso pomar uma árvore que não dê bons frutos, não dirá a seu servo: “Cortai essa árvore e lançai-a no fogo, porque seus ramos são estéreis?” Ora, assim como tal árvore será cortada por causa de sua esterilidade, a vida do preguiçoso será posta no refugo, por ter sido estéril em boas obras.


São Luís 



Dissertação moral ditada por São Luís à Srta. Ermance Dufaux. (5 de maio de 1858.)

Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Kardequiano

Lavater - Revista Espírita - Allan Kardec, Ano XI, Março de 1868 - Correspondência inédita de Lavater com a Imperatriz Maria da Rússia




Lavater - Revista Espírita - Allan Kardec, Ano XI, Março de 1868


Correspondência inédita de Lavater com a Imperatriz Maria da Rússia


SEXTA CARTA

Mui venerada Imperatriz,

Junto ainda uma carta chegada do mundo invisível! Possa ela, como as precedentes, ser apreciada por vós e sobre vós produzir um efeito salutar!

Aspiramos sem cessar uma comunicação mais íntima com o Amor, o mais puro que se haja manifestado no homem e se glorificou em Jesus, o Nazareno!

Mui venerada Imperatriz, nossa felicidade futura está em nosso poder, de vez que nos é concedida a graça de compreender que só o amor nos pode dar a felicidade suprema, e que só a fé no amor divino faz nascer em nossos corações o sentimento que nos torna eternamente felizes, a fé que desenvolve, depura e completa a nossa aptidão para amar.

Muitos temas ainda me restam para vos repassar. Procurarei acelerar a continuação do que comecei a vos expor, e me consideraria muito feliz se pudesse esperar ter podido ocupar agradavelmente e utilmente alguns mo­mentos de vossa preciosa vida.


JEAN GASPAR LAVATER

Zurique, 16 de dezembro de 1798.

CARTA DE UM DEFUNTO A SEU AMIGO


Sobre as relações existentes entre os Espíritos e aqueles que eles amaram na Terra

Meu bem amado, antes de tudo devo advertir-te que das mil coisas que, estimulado por uma nobre curiosidade, desejas aprender de mim, e que eu teria tanto desejo de poder dizer-te, ouso apenas comunicar-te uma só, pois de mim não dependo, absolutamente. Minha vontade depende, conforme já te disse, da vontade daquele que é a suprema sabedoria. Minhas relações contigo não são baseadas senão no teu amor. Esta sabedoria, este amor personificados, muitas vezes nos impelem, a mim e aos meus mil vezes mil convivas de uma felicidade que se torna continuamente mais elevada e embriagadora, para os homens ainda mortais, e nos fazem entrar com eles em relações certamente agradáveis para nós, embora muitas vezes obscurecidas e nem sempre bastante puras e santas. Recebe de mim algumas noções acerca destas relações. Não sei como conseguirei fazer-te compreender esta grande verdade que provavelmente te espantará muito, malgrado a sua realidade. É que nossa própria felicidade muitas vezes depende, relativamente, bem entendido, do estado moral daqueles que deixamos na Terra e com os quais entramos em relações diretas.

Seu sentimento religioso nos atrai; sua impiedade nos repele.

Nós nos regozijamos com suas puras e nobres alegrias, isto é, com suas alegrias espirituais desinteressadas. Seu amor contribui para a nossa felicidade; assim, sentimos, senão um sentimento semelhante ao sofrimento, ao menos uma diminuição de prazer, quando eles se deixam envolver-se em sombras por sua sensualidade, seu egoísmo, suas paixões animais ou pela impureza de seus desejos.

Meu amigo, peço-te que te detenhas ante estas palavras: envolver-se em sombras.

Todo pensamento divino produz um raio de luz, que jorra do homem amante, e que não é visto nem compreendido senão pelas naturezas amantes e radiantes. Toda espécie de amor tem seu raio de luz que lhe é particular. Esse raio, reunindo-se à auréola que cerca os santos, a torna ainda mais resplendente e mais agradável à visão. Do grau dessa claridade e dessa amenidade depende, muitas vezes, o grau de nossa própria felicidade, ou da felicidade que sentimos de nossa existência. Com o desaparecimento do amor, essa luz se extingue, e com ela o elemento de felicidade daqueles que nós amamos. Um homem que se torna estranho ao amor se envolve em sombra, no sentido mais literal e mais positivo do vocábulo; ele se torna mais material, e consequentemente mais elementar, mais terrestre, e as trevas da noite o cobrem com o seu véu. A vida, ou o que para nós é a mesma coisa: o amor do homem, produz o grau de sua luz, sua pureza luminosa, sua identidade com a luz, a magnificência de sua natureza.

Só estas últimas qualidades tornam possíveis e íntimas as nossas relações com ele. A luz atrai a luz. É-nos impossível agir sobre as almas sombrias. Todas as naturezas não amantes nos parecem sombrias. A vida de cada mortal, sua verdadeira vida, é como o seu amor; sua luz se assemelha ao seu amor; de sua luz decorre a nossa comunicação com ele e a sua conosco. Nosso elemento é a luz cujo segredo não é compreendido por nenhum mortal. Nós atraímos e somos atraídos por ela. Essa vestimenta, esse órgão, esse veículo, esse elemento, no qual reside a força primitiva que tudo produz, a luz, numa palavra, forma para nós o traço característico de todas as naturezas.

Nós clareamos na medida do nosso amor; reconhecem-nos por essa claridade, e somos atraídos por todas as naturezas amantes e radiantes como nós. Por efeito de um movimento imperceptível, dando uma certa direção aos nossos raios, nós podemos fazer nascer em naturezas que nos são simpáticas, ideias mais humanas, suscitar ações, sentimentos mais nobres e mais elevados; mas não temos o poder de forçar ou de dominar ninguém, nem de impor a nossa vontade aos homens cuja vontade é inteiramente independente da nossa. O livre-arbítrio do homem nos é sagrado. É-nos impossível transmitir um só raio de nossa pura luz a um homem a quem falta sensibilidade. Ele não possui nenhum sentido, nenhum órgão para poder receber de nós a menor coisa. Do grau de sensibilidade que possui um homem depende ─ Oh! Permite-me repeti-lo em cada uma de minhas cartas, ─ sua aptidão para receber a luz, sua simpatia com todas as naturezas luminosas e com o seu protótipo primordial. Da ausência da luz nasce a incapacidade de aproximar-se das fontes da luz, ao passo que milhares de naturezas luminosas podem ser atraídas por uma só natureza semelhante.

O Homem-Jesus, resplendente de luz e de amor, foi o ponto luminoso que incessantemente atraía para si legiões de anjos. Naturezas sombrias, egoístas, atraem para si Espíritos sombrios, grosseiros, privados de luz, malévolos, e são mais envenenadas por eles, ao passo que as almas amantes ainda se tornam mais puras e mais amantes, por seu contato com os Espíritos bons e amantes.

Jacob adormecido, cheio de sentimentos piedosos, vê os anjos do Senhor chegarem até ele em multidão, e a sombria alma de Judas Iscariotes dá ao chefe dos Espíritos sombrios o direito, direi mesmo o poder, de penetrar na sombria atmosfera de sua natureza odienta. Os Espíritos radiosos são abundantes onde se encontra um Elíseo; legiões de Espíritos sombrios pululam entre as almas sombrias.

Meu bem amado, medita bem no que acabo de dizer-te. Encontrarás numerosas aplicações para isto nos livros bíblicos, que encerram verdades ainda intactas, assim como instruções da mais alta importância, concernentes às relações que existem entre os mortais e os imortais, entre o mundo material e o mundo dos Espíritos.

Não depende senão de ti encontrar-te sob a influência benéfica dos Espíritos amantes ou de afastá-los de ti; podes mantê-los junto a ti ou forçá-los a te deixar. Depende de ti tornar-me mais ou menos feliz.

Agora deves compreender que todo ser amante torna-se mais feliz quando encontra um ser tão amante quanto ele; que o mais feliz e o mais puro dos seres torna-se menos feliz quando encontra uma diminuição de amor naquele que ama; que o amor abre o coração ao amor, e que a ausência desse sentimento torna mais difícil, por vezes mesmo impossível, o acesso de toda comunicação íntima.

Se desejas tornar-me, a mim que já desfruto da felicidade suprema, ainda mais feliz, torna-te ainda melhor. Por isto, tu me tornarás mais radioso e poderás simpatizar com todas as naturezas radiosas e imortais. Elas se apressarão a vir para junto de ti; sua luz reunir-se-á à tua e a tua à deles; sua presença tornar-te-á mais puro, mais radiante, mais vivaz e, o que te parecerá difícil acreditar, mas não o é por isto menos positivo, por efeito de tua luz, aquela que radiará de ti, elas mesmas tomar-se-ão mais luminosas, mais vivazes, mais felizes de sua existência, e, por efeito de teu amor, ainda mais amantes.

Meu bem-amado, existem relações imperecíveis entre o que chamais de mundos visível e invisível; uma comunhão incessante entre os habitantes da Terra e os do Céu, que sabem amar; uma ação benéfica recíproca de cada um desses mundos sobre o outro.

Meditando e analisando esta ideia com cuidado, reconhecerás cada vez mais a sua verdade, a sua urgência e a sua santidade.

Não te esqueças, irmão da Terra: tu vives visivelmente num mundo que ainda é invisível para ti!

Não o esqueças! No mundo dos Espíritos amantes, alegrar-se-ão por teu crescimento em amor puro e desinteressado!

Achamo-nos junto a ti, quando nos julgas bem longe. Jamais um ser amante se acha só e isolado.

A luz do amor atravessa as trevas do mundo material, para entrar num mundo menos material.

Os Espírito amantes e luminosos acham-se sempre na vizinhança do amor e da luz.

Estas palavras do Cristo são literalmente verdadeiras: “Onde estiverem reunidos dois ou três em meu nome, aí estarei com eles.”

Também é indubitavelmente certo que podemos afligir o Espírito de Deus por nosso egoísmo, e alegrá-lo por nosso verdadeiro amor, conforme o profundo sentido destas palavras: O que ligardes na Terra será ligado no Céu; o que desligardes na Terra será também desligado no Céu. Desligais pelo egoísmo, ligais pela caridade, isto é, pelo amor. Vós vos aproximais e vos afastais de nós. Nada é mais claramente compreendido no Céu do que o amor dos que amam na Terra.

Nada é mais atraente para os Espíritos bem-aventurados pertencentes a todos os graus de perfeição, do que o amor dos filhos da Terra.

Vós, que ainda sois chamados mortais, pelo amor podeis fazer descer o Céu sobre a Terra.

Poderíeis entrar conosco, bem-aventurados, numa comunicação infinitamente mais íntima do que podeis supor, se vossas almas se abrissem à nossa influência pelos impulsos do coração.

Muitas vezes estou junto a ti, meu bem-amado! Gosto de me encontrar na tua esfera de luz.

Permite-me dirigir-te ainda algumas palavras de confiança.

Quando te aborreces, a luz que irradia de ti, no momento em que pensas nos que tu amas ou nos que sofrem, se obscurece e, então, sou forçado a afastar-me de ti, pois nenhum Espírito amante pode suportar as trevas da cólera. Ainda recentemente tive que deixar-te. Eu, por assim dizer, te perdi de vista e me dirigi para outro amigo, ou antes, a luz de seu amor me atraiu para si. Ele orava, derramando lágrimas por uma família benfeitora, momentaneamente caída na maior miséria e que ele não estava em condições de socorrer. Oh! Como seu corpo terrestre já me parecia luminoso; foi como se uma claridade deslumbrante o inundasse. Nosso Senhor aproximou-se dele e um raio de seu espírito caiu nessa luz. Que felicidade para mim poder mergulhar nessa auréola e, retemperado por essa luz, estar em estado de inspirar à sua alma a esperança de um socorro próximo! Pareceu-me ouvir uma voz do fundo de sua alma, dizer-lhe: “Nada temas! Crê! Desfrutarás a alegria de poder aliviar aqueles por quem acabas de pedir a Deus.” Ele se ergueu inundado de alegria depois da prece. No mesmo instante fui atraído para outro ser radioso, também em prece... Era a nobre alma de uma virgem que orava e dizia: “Senhor! Ensina-me a fazer o bem segundo a tua vontade.” Pude e ousei inspirar-lhe a seguinte ideia: “Não farei bem mandando a esse homem caridoso, que conheço, um pouco de dinheiro, para que o empregue, ainda hoje, em proveito de alguma família pobre?”

Ela apegou-se a esta ideia com uma alegria infantil; recebeu-a como se tivesse recebido um anjo descido do Céu. Essa alma piedosa e caritativa reuniu uma soma considerável; depois escreveu uma cartinha muito afetuosa, dirigida àquele por quem acabava de orar, e que a recebeu, assim como o dinheiro, apenas uma hora depois de sua prece, derramando lágrimas de alegria e cheio de um profundo reconhecimento a Deus!

Eu o segui desfrutando eu mesmo uma suprema felicidade e alegrando-me em sua luz. Ele chegou à porta da pobre família. “Deus terá tido piedade de nós?” perguntava a piedosa esposa a seu piedoso marido. ─ “Sim, ele terá piedade de nós, como nós tivemos tido piedade dos outros.” ─ Ouvindo essa resposta do marido, aquele que tinha orado encheu-se de alegria; abriu a porta e, sufocado por sua ternura, apenas pôde pronunciar estas palavras: “Sim ele terá piedade de vós, como vós mesmos tivestes piedade dos pobres; eis uma dádiva da misericórdia de Deus. O Senhor vê os justos e ouve as suas súplicas.”

Com que viva luz brilharam todos os assistentes, quando, depois de ter lido a cartinha, levantaram os olhos e os braços para o céu! Massas de Espíritos se apressaram a vir de todos os lados. Como nos alegramos! Como nos abraçamos! Como todos louvamos a Deus e o bendizemos! Como todos nos tornamos mais perfeitos, mais amantes!

Tu brilhaste outra vez; eu pude e ousei chegar junto a ti; tu tinhas feito três coisas que me conferiam o direito de aproximar-me de ti e de te alegrar. Tinhas derramado lágrimas de vergonha por tua cólera; tinhas refletido, ficando seriamente enternecido pelos meios de poder dominar-te; sinceramente tinhas pedido perdão àquele a quem o teu comportamento havia ofendido e buscavas de que maneira poderias compensá-lo, proporcionando-lhe alguma satisfação. Essa preocupação restituiu a calma ao teu coração, a alegria aos teus olhos, a luz ao teu corpo.

Por este exemplo podes julgar se estamos sempre bem instruídos do que fazem os amigos que deixamos na Terra, e quanto nos interessamos por seu estado moral. Agora também deves compreender a solidariedade que existe entre o mundo visível e o mundo invisível, e que de vós depende proporcionar-nos alegrias ou aflições.

Oh! meu bem-amado, se pudesses compenetrar-te desta grande verdade, que um amor nobre e puro encontra em si mesmo sua mais bela recompensa; que os mais puros gozos, o gozo de Deus, não são senão o produto de um sentimento mais depurado, apressar-te-ias em te depurares de tudo o que é egoísmo.

De agora em diante, jamais poderei escrever-te sem voltar a este assunto. Nada tem preço sem o amor. Só ele possui o golpe de vista claro, justo, penetrante, para distinguir o que merece ser estudado, o que é eminentemente verdadeiro, divino, imperecível. Em cada ser mortal e imortal animado de um amor puro nós vemos, com um inexprimível sentimento de prazer, refletir-se o próprio Deus, como vedes o sol brilhar em cada gota de água pura. Todos os que amam, na Terra como no Céu, não fazem senão um pelo sentimento. É do grau do amor que depende o grau de nossa perfeição é de nossa felicidade interior e exterior. É teu amor que regula tuas relações com os Espíritos que deixaram a Terra, tua comunicação com eles, a influência que podem exercer sobre ti e sua ligação íntima com o teu Espírito.

Escrevendo-te isto, um sentimento de previsão que jamais me engana, ensina-me que tu te achas neste momento em excelente disposição moral, porquanto pensas numa obra de caridade. Cada uma de vossas ações, de vossos pensamentos, leva um cunho particular, instantaneamente compreendido e apreciado por todos os Espíritos desencarnados. Que Deus venha em teu auxílio.


Escrevi isto a 16 de dezembro de 1798.


Seria supérfluo ressaltar a importância destas cartas de Lavater, que por toda parte excitaram o mais vivo interesse. Elas atestam, de sua parte, não só o conhecimento dos princípios fundamentais do Espiritismo, mas uma justa apreciação de suas consequências morais. Apenas sobre alguns pontos ele parece ter tido ideias um pouco diferentes do que hoje sabemos, mas a causa dessas divergências, que aliás talvez se devam mais à forma do que ao fundo, está explicada na comunicação seguinte, por ele dada na Sociedade de Paris. Nós não as levantaremos, porque cada um as terá compreendido; o essencial era constatar que, muito antes do aparecimento oficial do Espiritismo, homens cuja alta inteligência não poderia ser posta em dúvida, dele tiveram a intuição. Se não empregaram a palavra, é que ela não existia.

Contudo, chamaremos a atenção sobre um ponto que poderia parecer estranho. É a teoria segundo a qual a felicidade dos Espíritos estaria subordinada à pureza dos sentimentos dos encarnados e achar-se-ia alterada pela mais leve imperfeição destes. Se assim fosse, considerando o que são os homens, não haveria Espíritos realmente felizes, e a felicidade verdadeira não existiria no outro mundo, como não existe na Terra. Os Espíritos devem sofrer tanto menos os malefícios dos homens pelo fato de sabê-los perfectíveis. Os homens imperfeitos são para eles como crianças cuja educação não está concluída e na qual eles têm a missão de trabalhar, eles que igualmente passaram pela fieira da imperfeição. Mas se deixarmos de lado o que o princípio desenvolvido nesta carta pode ter de muito absoluto, não poderemos deixar de reconhecer um senso muito profundo, uma admirável penetração das leis que regem as relações do mundo visível e do mundo invisível, e das nuanças que caracterizam o grau de adiantamento dos Espíritos encarnados ou desencar­nados.


OPINIÃO ATUAL DE LAVATER SOBRE O ESPIRITISMO

COMUNICAÇÃO VERBAL PELO SR. MORIN, EM SONAMBULISMO ESPONTÂNEO

(Sociedade de Paris, 13 de março de 1868)


A partir do momento que a misericórdia divina permitiu que eu, humilde criatura, recebesse a revelação dos mensageiros da imensidade, até este dia, um a um os anos caíram no abismo dos tempos, e à medida que se escoavam, aumentavam também os conhecimentos dos homens e se alargava o seu horizonte intelectual.

Desde quando me foram dadas algumas das páginas que vos foram lidas, muitas outras foram dadas no mundo inteiro, sobre o mesmo assunto e pelo mesmo meio. Não creiais que eu tenha a pretensão, eu, humilde entre todos, de ter tido a honra insigne de ser o primeiro a receber tal favor. Não. Outros, antes de mim, também tinham recebido a revelação. Mas, como eu, ah! eles compreenderam incompletamente algumas de suas partes. É que é necessário, senhores, levar em conta o tempo, o grau de instrução moral, e sobretudo o grau de emancipação filosófica dos povos.

Os Espíritos, dos quais hoje me sinto feliz em fazer parte, formam, também eles, povos e mundos, mas eles não têm raças; eles estudam, eles veem, e seus estudos podem ser incontestavelmente maiores, mais vastos que os estudos dos homens; mas, não obstante, eles partem sempre dos conhecimentos adquiridos e do ponto culminante do progresso moral e intelectual do tempo e do meio em que vivem. Se os Espíritos, esses mensageiros divinos, vêm diariamente vos dar instruções de uma ordem mais elevada, é que a generalidade dos seres que as recebem está em condições de compreendê-las. Por força de preparações que sofreram, há instantes em que os homens não necessitam deixar passar sobre si a eternidade de um século para compreender. Desde que se vê elevar-se rapidamente o nível moral, uma espécie de atração os leva para uma certa corrente de ideias que eles devem assimilar, e para o objetivo a que devem aspirar. Mas esses instantes são curtos, e cabe aos homens aproveitá-los.

Eu disse que era preciso levar em conta os tempos e sobretudo o grau de emancipação filosófica que a época comportava. Reconhecido à Divindade, que me tinha permitido adquirir, por um favor especial, mais depressa do que outros homens que partiram do mesmo ponto, certos conhecimentos, recebi comunicações dos Espíritos. Mas a primeira educação, os ensinamentos estreitos, a tradição e o costume pesaram sobre mim; malgrado as minhas aspirações a adquirir uma liberdade, uma independência de espírito que eu desejava, amante atraído pelos Espíritos que vinham comunicar-se comigo, não conhecendo a ciência que vos foi revelada depois, eu não podia atrair senão os seres de ideias similares às minhas, às minhas aspirações, e que, com um horizonte mais largo, contudo tinham a mesma visão limitada. Daí, eu confesso, alguns erros que pudestes notar no que vos veio de mim; mas o fundo, o corpo principal não está, senhores, de acordo com tudo o que posteriormente vos foi revelado por esses mensageiros dos quais eu falava há pouco?

Espírito encarnado, por instinto levado ao bem, natureza fervorosa apoderando-se de um pensamento que me levava ao verdadeiro, tão rápido, ah! como aquelas que me levavam ao erro, talvez aí esteja o motivo que provocou as inexatidões de minhas comunicações, sem ter, para retificá-las, o controle dos pontos de comparação. Porque, para que uma revelação seja perfeita, é preciso que se dirija a um homem perfeito, e este não existe; não é, pois, senão do conjunto que se podem extrair os elementos da verdade. Foi o que pudestes fazer; mas, em meu tempo, podia-se formar um conjunto de algumas parcelas do verdadeiro; de algumas comunicações excepcionais? Não. Sou feliz por ter sido um dos privilegiados do século passado; obtive algumas dessas comunicações por minha intermediação direta, e a maior parte por meio de um médium, meu amigo, completamente estranho à linguagem da alma, e é preciso dizer tudo, mesmo à do bem.

Feliz por partilhar essas ideias com inteligências que eu julgava acima da minha, uma porta me foi aberta; eu a aproveitei com entusiasmo, e todas as revelações da vida de além-túmulo foram por mim levadas ao conhecimento de uma Imperatriz que, por sua vez, as levou ao conhecimento do seu círculo, e assim por diante.

Acreditai que o Espiritismo não foi revelado espontaneamente; como todas as coisas saídas das mãos de Deus, ele desenvolveu-se progressivamente, lentamente, seguramente. Ele esteve em germe no primeiro germe das coisas, e cresceu com esse germe até que estivesse bastante forte para se subdividir ao infinito e espalhar por toda parte sua semente fecunda e regeneradora. É por ele que sereis felizes, que será assegurada a felicidade dos povos; que digo eu? a felicidade de todos os mundos, porque o Espiritismo, palavra que eu ignorava, é chamado a fazer revoluções muito grandes! Mas, tende a certeza, essas revoluções não ensanguentarão jamais a sua bandeira; são revoluções morais, intelectuais; revoluções gigantescas, mais irresistíveis que as provocadas pelas armas, pelas quais tudo é de tal modo chamado a se transformar, que tudo quanto conheceis não passa de fraco esboço do que elas produzirão. O Espiritismo é uma palavra tão vasta, tão grande, por tudo o que ela contém, que me parece que um homem que lhe pudesse conhecer toda a profundeza não poderia pronunciá-la sem respeito.

Senhores, eu, Espírito muito pequeno, a despeito da grande inteligência com que me gratificais, e em face daqueles muito superiores que me é dado contemplar, venho dizer-vos: Credes, então, que seja por efeito do acaso que esta noite pudestes ouvir o que Lavater tinha obtido e escrito? Não; não é por acaso que a minha mão perispiritual as dirigiu seguramente até vós. Mas se esses poucos pensamentos vieram ao vosso conhecimento por meu intermédio, não creiais que nisto eu tenha buscado uma vã satisfação do amor-próprio. Não, longe disto. O objetivo era maior, e nem mesmo me tinha vindo o pensamento de levá-las ao conhecimento universal da Terra. Esse conhecimento tinha a sua utilidade; ele deve ter consequências graves, e é por isto que vos foi dado espalhá-lo. Nas menores coisas encontra-se o germe das maiores renovações. Estou feliz, senhores, por ter sido deixado a mim o direito de vos pressagiar o alcance que terão essas poucas reflexões, essas comunicações, muito pobres ao lado das que obtendes atualmente; e se entrevejo o seu resultado, se me sinto feliz por isto, por que não vos sentiríeis?

Eu voltarei, senhores, e o que eu disse esta noite é tão pouco em comparação com o que tenho por missão vos ensinar, que ouso apenas dizer-vos: é Lavater.

Pergunta. ─ Agradecemos as explicações que tivestes a bondade de nos dar, e ficaremos muito contentes por contar convosco, de agora em diante, no número de nossos Espíritos instrutores. Receberemos vossas instruções com o mais vivo reconhecimento. Enquanto esperamos, permiti uma simples pergunta sobre a vossa comunicação de hoje:

1º ─ Dissestes que a Imperatriz levou essas ideias ao conhecimento de seu círculo, e assim por diante. Seria por esta iniciativa, partida do ponto culminante da Sociedade, que a Doutrina Espírita deve encontrar tão numerosas simpatias entre as sumidades sociais na Rússia?

2º ─ Um ponto que me admiro não ver mencionado em vossas cartas, é o grande princípio da reencarnação, uma das leis naturais que mais testemunham a justiça e a bondade de Deus.

Resposta. ─ É evidente que a influência da Imperatriz e de alguns outros grandes personagens foi predominante para determinar, na Rússia, o desenvolvimento do movimento filosófico no sentido espiritualista, mas se o pensamento dos príncipes da Terra por vezes determina o pensamento dos grandes que se acham em sua dependência, já o mesmo não se dá com os pequenos. Os que têm chance de desenvolver no povo as ideias progressistas são os filhos do povo; são eles que farão triunfar, por toda parte, os princípios da solidariedade e da caridade, que são a base do Espiritismo.

Assim, em sua sabedoria, Deus escalonou os elementos do progresso: Eles estão no alto, embaixo, sob todas as formas, e preparados para combater todas as resistências. Eles sofrem, assim, um movimento de vai e vem constante, que não pode deixar de estabelecer a harmonia dos sentimentos entre as altas e as baixas classes, e fazer triunfar solidariamente os princípios de autoridade e de liberdade.

Como sabeis, os povos são formados de Espíritos que têm entre si uma afinidade de ideias, que os predispõem, mais ou menos, para assimilar as ideias desta ou daquela ordem, porque essas mesmas ideias neles estão em estado latente e não esperam senão uma ocasião para se desenvolverem. O povo russo e vários outros estão neste caso em relação ao Espiritismo. Por pouco que o movimento fosse secundado, em vez de ser entravado, não se passariam dez anos antes que todos os indivíduos, sem exceção, fossem espíritas. Mas esses mesmos entraves são úteis para temperar o movimento que, embora um pouco desacelerado, não deixa de ser mais refletido. A Onipotência, por cuja vontade tudo se realiza, saberá muito bem como remover os obstáculos quando for tempo. Um dia o Espiritismo será a fé universal, e admirar-se-ão de que não tenha sido sempre assim.

Quanto ao princípio da reencarnação terrestre, confesso-vos que a minha iniciação não tinha chegado até lá, e sem dúvida de propósito, porque eu não teria deixado de fazer, como das outras revelações, o assunto de minhas instruções à Imperatriz, e talvez isto tivesse sido prematuro. Os que presidem o movimento ascensional sabem muito bem o que fazem. Os princípios nascem um a um, conforme os tempos, os lugares e os indivíduos, e estava reservado à vossa época vê-los reunidos em um feixe sólido, lógico e inatacável.


Lavater





Neio Lúcio - Livro Jesus no Lar - Chico Xavier - Cap. 45 - O imperativo da ação




Neio Lúcio - Livro Jesus no Lar - Chico Xavier - Cap. 45


O imperativo da ação


Explanavam os aprendizes, acaloradamente, sobre as necessidades de preparação para o Reino Divino.

Filipe, circunspecto, salientava o impositivo da meditação. Tiago, o mais velho, opinava pelo retiro espiritual; os discípulos do movimento renovador, a seu ver, deviam isolar-se em zona inacessível ao pecado. 

João optava pela adoração constante, chegando ao extremo de sugerir o abandono das atividades profissionais, por parte de cada um, a fim de poderem entoar hosanas contínuos ao Pai Amantíssimo. 

Bartolomeu destacava a necessidade do jejum incessante, com abstenção de todo contato com as pessoas impuras.

Chamado à manifestação direta pela palavra indagadora de Simão, Jesus perguntou, nominalmente:

— Pedro, qual é a água que desprende miasmas pestilenciais?

— Sem dúvida — respondeu o apóstolo, intrigado —, é a água estagnada, sem proveito. Sorridente, dirigiu-se ao filho de Alfeu, indagando:

— Tiago, qual é o peixe que flutua inerte na onda?

— É o peixe morto, Senhor — redarguiu o discípulo, desapontado.

— Bartolomeu, qual é a terra que se enche de matagais daninhos à plantação útil?

O interpelado pensou, pensou e esclareceu:

— Indiscutivelmente, é a terra boa desprezada, porque o solo empedrado e áspero é quase sempre estéril.

O Mestre, evidenciando sincera satisfação, concentrou a atenção em Tadeu e inquiriu:

— Tadeu, qual é a túnica que se converte em ninho da traça destruidora?

— É a túnica não usada.

Endereçando expressivo gesto a Judas, interrogou:

— Que acontece ao talento sepultado?

— Perde-se por inútil, Senhor.

Logo após, assinalou com o olhar um dos filhos de Zebedeu e falou, mais incisivo:

— Tiago, onde se acoitam as serpentes e os lobos?

— Nos lugares em ruína ou votados ao abandono.

André — disse o Cristo, fixando o irmão de Pedro —, qual é, em verdade, a função do fermento?

— Mestre, a missão do fermento é dar vida ao pão.

Em seguida, pousando nos companheiros o olhar penetrante e doce, acrescentou, bem humorado:

— O Templo está repleto de adoradores e a miséria rodeia Jerusalém. Se a luz não serve para expulsar as trevas, se o pão deve fugir ao faminto e se o remédio precisa distanciar-se do enfermo, onde encontraremos proveito no trabalho a que nos propomos? 

O Reino Divino guarda o imperativo da ação por ordem fundamental. Sigamos para diante e propaguemos a verdade salvadora, através dos pensamentos, das palavras das obras e de nossas próprias vidas. 

O Todo-Sábio criou a semente para produzir com o infinito. Desce do alto a claridade do Sol cada dia para extinguir as sombras da Terra. 

Não é outro o ministério da Boa-Nova. Amar, servindo, é venerar o Pai, acima de todas as coisas; e servir, amando, é amparar o próximo como a nós mesmos. Pautar-se por estas normas, em nosso movimento de redenção, é praticar toda a Lei.


Neio Lúcio





Chico Xavier - Livro Orações de Chico Xavier - Pág. 10 - Misericórdia




Chico Xavier - Livro Orações de Chico Xavier - Pág. 10


Misericórdia


"Senhor Jesus, que Tua Luz afaste do meu caminho as trevas que se projetam de mim mesmo; que Tua Inspiração me guie nas decisões que devo tomar a cada dia; que eu não seja instrumento do mal para ninguém; que Tua Bondade me ensine a ser melhor e que Teu Perdão me incline à misericórdia para com os meus semelhantes..."

"Mestre Amado, tem misericórdia de mim; não me deixes entregue aos próprios impulsos; que não me falte alegria e ânimo na tarefa que me confiaste; não me permitas a queda no comprometimento do serviço mediúnico; que a cada dia, eu me torne mais digno da confiança dos espíritos amigos."

"Jesus, Divino Amigo, somos todos espíritos doentes, revelando as chagas que trazemos na alma... Cura-nos, Senhor, com Teu Amor, como curaste outrora os cegos e os paralíticos, os leprosos e os desequilibrados mentais! Cicatriza-nos as feridas de nossos muitos erros... não nos deixeis sem remédio da Tua Proteção, para que não venhamos a nos tornar mais doentes ainda..."

"Através de nossas mãos, Senhor, ampara nossos irmãos em humanidade- os tristes e desconsolados , os que estejam pensando em morrer e aqueles que, a todo instante, temem sucumbir ao peso da cruz... Que tenhamos a palavra certa para encorajá-los e o sorriso amigo que incentive na luta que todos travamos contra nossas próprias deficiência. Que, em Teu Nome, doemos o pão e o agasalho, o remédio e a esperança... Que onde estivermos sejamos um humilde traço da Tua Presença junto a quantos se desesperam!"

"Liberta-nos, Senhor do julgo de tentação; não nos consinta cair sob o assédio constante dos pensamentos infelizes... Que os espíritos que nos atormentam se compadeçam de nós e nos perdoem o mal que lhes tenhamos feito outrora."

"Que assim seja, graças ao bom Deus".


Chico Xavier