sábado, 31 de outubro de 2020

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. X - 9. Lei de liberdade - Liberdade natural - Questão 828 / 828-a (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. X - 9. Lei de liberdade


Liberdade natural 


828. Como se podem conciliar as opiniões liberais de certos homens com o despotismo que costumam exercer no seu lar e sobre os seus subordinados?

 “Eles têm a compreensão da lei natural, mas contrabalançada pelo orgulho e pelo egoísmo. Quando não representam calculadamente uma comédia, sustentando princípios liberais, compreendem como as coisas devem ser, mas não as fazem assim.”

828-a. Ser-lhes-ão, na outra vida, levados em conta os princípios que professaram neste mundo?

“Quanto mais inteligência tem o homem para compreender um princípio, tanto menos escusável é de o não aplicar a si mesmo. Em verdade vos digo que o homem simples, porém sincero, está mais adiantado no caminho de Deus, do que um que pretenda parecer o que não é.”


Allan Kardec



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 828 comentada


A palavra é força poderosa em todas as suas ressonâncias, no entanto, nem sempre o que se fala corresponde à vivência. É muito comum a criatura anunciar certas verdades, porém, se encontrar longe delas. Grandes homens comumente são liberais com os estranhos e carrascos com a própria família. Esforçam-se e, por vezes, sofrem para parecerem o que não são para os outros, por simples necessidade de manter a posição, mas os pensamentos que partem da sua realidade interna agitam em direção àqueles que vivem com eles, desfazendo dos esforços alheios que os ajudam no dia-a-dia. Esta é a verdade, entretanto, a vida não os despreza, procurando daqui e dali meios de os educar, pois este é o destino de todas as almas criadas por Deus.

A teoria quase sempre vem primeiro para os estudiosos da verdade, e os teóricos sabem das leis, mas não as vivem. É dessa falta que eles sofrem as conseqüências, que a mesma lei os castiga sem remissão. Os agentes de Deus têm tolerância para com essa faixa de almas, que representa quase toda a população da Terra, por saberem que não irão viver nessa postura eternamente. Algum dia, usarão as suas próprias forças para se corrigirem. As almas iluminadas, voltando ao passado, observamos que elas também passaram pelos mesmos processos de reajustamento espiritual. O "não julgueis para não serdes julgados" é ponto divino sobre como amar, ainda mais aos que não despertaram para o amor.

O Mestre dos mestres, que poderemos considerar como o canal da misericórdia para a humanidade, aliviava as faltas dos homens e, por vezes, lhes perdoava os pecados, não no sentido exato da palavra, porque misericórdia é alívio. Ele dizia quase sempre quando curava um enfermo: "Vai, e não tornes a pecar". E Lucas anotou no capítulo cinco, versículo vinte e três:

Qual é mais fácil, dizer:

Estão perdoados os teus pecados, ou levanta-te e anda?

Jesus aplicava todos os meios possíveis para aliviar e mesmo curar os enfermos dos seus males. Ò Senhor era liberal com todas as criaturas, por saber que todos são iguais, na igualdade com que Deus os criou. Os mais adiantados nos caminhos da espiritualidade são aqueles que usam teoria, sem esquecerem o esforço de viver o que falam e pregam aos outros. Podemos observar nesse tipo de Espírito a maturidade à vista.

Aquele que pretende parecer desperto em seus valores e não o é, engana-se a si mesmo, mas, como todo engano é breve, ele mesmo desconfia do seu comportamento, e a dor, os infortúnios e todos os tipos de problemas, fazem com que ele modifique o modo pelo qual vive, ganhando condições no trabalho de libertação, para se libertar definitivamente.

Deus sabe, e todos os benfeitores espirituais reconhecem, que não existe outra marcha em se estudando a ascensão dos Espíritos. Os recursos que têm para educar os homens, visam mostrar que devem se esforçar para melhorar, porém, sabemos que isso se processa passo a passo, na esteira do tempo.

Convém notar que todos passam por esses processos, e quem mais sabe disto é o Criador. Em todos os lances de Jesus, quando esteve na Terra junto aos homens, sentimos a irradiação da sua tolerância para com aqueles que descuidam da vivência das leis naturais, e isso ocorreu com os próprios discípulos do seu coração.

A liberalidade e a fraternidade devem ser exercitadas em todas as direções do viver, para que a vida se torne o verdadeiro amor.


Miramez



Filosofia Espírita – Volume XVII - João Nunes Maia
Cap. 12 - Liberdade




Humberto de Campos - Livro Cura - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 24 - Vida e amor




Humberto de Campos - Livro Cura - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 24


Vida e amor


A cena desenrolou-se há quase cinco anos.

O apelo vinha de longe. O cansaço da velha amiga se lhe desenhava no rosto. E o rosto dela se nos refletia no espelho da mente.

Era D. Maria Eugênia da Cunha, que eu conhecera menina e moça em meus últimos tempos no Rio. Lembrava-nos a afeição, rogava socorro espiritual. A jovem de outra época era agora uma viúva, pobre, residindo por favor com o filho único, recém-casado.

O chamamento lhe fluía do ser, em nossa direção: “Meu amigo, em nome de Jesus, se é possível, auxilie-me… Não aguento mais!”

Utilizando os recursos do desencarnado, quando pode ganhar distância e tempo, fomos vê-la e encontramo-la, arrasada de angústia, ante as invectivas da nora. Maria Cristina, a boneca que lhe desposara Júlio, o filho que ela preparara com tanto mimo para a vida, não considerava nem mesmo a tempestade, lá fora, e ordenava:

— E a senhora saia daqui hoje…

— Mas hoje? Com esta noite? — arrazoava a sogra, em pranto.

— Estou farta, se eu fosse velha moraria no asilo.

— Preciso ver meu filho…

— Isso é que não. Quem manda nesta casa sou eu…

— Sou mãe.

— Seja o que for, saia daqui. A senhora tem sua irmã no Leblon, tem sobrinhos em Madureira… Pode escolher.

— Maria Cristina!…

— Não dramatize.

— Afinal, você me expulsa deste modo?! Que fiz eu?

— Não vou com a sua cara.

— Minha filha, pelo amor de Deus, não me atire assim pela porta fora…

— Arranque-se daqui ou não respondo pelo que possa acontecer.

— Júlio!… Quero ver Júlio!…

— A senhora não mais envenenará meu marido com as suas conversas…

— Ah! meu Deus!…

— Não se escore em Deus para mudar de assunto. Saia agora!

— Preciso arranjar minhas coisas, minha roupa…

— Nada disso… Amanhã, a senhora telefone, que eu mando seus cacarecos…

— Não posso sair assim…

— Vamos ver quem pode mais… Colocando algum dinheiro nas mãos da sogra, sacudiu-a com violência e, em seguida, puxou-a até a porta e gritou:

— Vá de táxi, vá de ônibus, vá como quiser, mas desapareça!

Inútil qualquer tentame de socorro. A moça, transtornada, não assimilava qualquer apelo à misericórdia.

Num momento, D. Maria Eugênia se viu empurrada para a rua. A pobre cambaleou, arrastou-se, e, mais alguns minutos de chuva e lágrimas nos olhos, o desastre… Projetada ao longe por pesado veículo, veio a fratura mortal.

No dia seguinte, identificada pelo filho numa casa de pronto-socorro, largou-se do corpo, ao anoitecer.

Abateu-se o infortúnio sobre o casal.

Júlio e Maria Cristina passaram à condição de doentes da alma. Por mais que a mulher engenhasse a escapatória, asseverando que a sogra teimara em sair em visita à irmã, debaixo do aguaceiro, o esposo desconfiava. Desconfiava e sofria.

D. Maria Eugênia, porém, na Espiritualidade, compadeceu-se dos filhos e, conquanto enriquecida de proteção e carinho, não se sentia tranquila ao sabê-los em desentendimento e dificuldade. Repetia preces, mobilizou relações e, depois de quatro anos, venceu o problema; tornando, de novo, à Terra…

Hoje, fui ver a velha amiga renascida no Rio. Renasceu de Júlio e Maria Cristina, lembrando uma flor de luz no mesmo tronco familiar. Os pais felizes, agindo intuitivamente, deram-lhe o mesmo nome: Maria Eugênia. O jovem genitor beijava-a enternecido e a ex-nora, transfigurada em mãezinha abnegada, guardava-a sobre o próprio seio, com a ternura de quem carrega um tesouro.

Meditava nos prodígios da reencarnação, à frente do trio, quando o irmão Felisberto, que me acompanhava, falou, entre a alegria e a emoção:

— Veja, meu amigo! Não adianta brigar, condenar, ofender, perseguir… A lei de Deus é o amor e o amor vencerá sempre.


Humberto de Campos
(Irmão X)





Emmanuel - Livro Espera Servindo - Chico Xavier - Cap. 26 - Importante




Emmanuel - Livro Espera Servindo - Chico Xavier - Cap. 26


Importante


Não tens o que possuis,
Tens aquilo que dás.

Acima do que sabes,
Vale aquilo que és.

Sobre a própria palavra,
Olha as ações que crias.

Mais além do que podes,
Importa o que toleras.

De tudo quanto crês,
Vale mais o que fazes.

Em tudo quanto sofras,
Guarda a fé viva em Deus.


Emmanuel








Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Fénelon - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec - Cap. V - Bem-aventurados os aflitos - Os tormentos voluntários




Fénelon - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec - Cap. V - Bem-aventurados os aflitos


Os tormentos voluntários 


Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque a felicidade sem mescla não se encontra na Terra. 

Entretanto, mau grado as vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que estão nas suas mãos evitar.

Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. 

Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no Céu as compensações merecidas.

Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e não para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida?


Fénelon

Lyon, 1860.





Ferdinand - Revista espírita - Allan Kardec, Ano IV, Maio de 1861 - Ensinamentos e dissertações espíritas - Vinde a nós




Ferdinand - Revista espírita - Allan Kardec, Ano IV, Maio de 1861 - Ensinamentos e dissertações espíritas


Vinde a nós
 

O Espiritismo é a aplicação da moral evangélica pregada pelo Cristo em toda a sua pureza; e os homens que o condenam sem conhecê-lo são pouco prudentes. Com efeito, por que qualificar de superstição, de charlatanice, de sortilégio, de demonomania as coisas que o vulgar bom-senso faria aceitar se quisessem estudá-lo? A alma é imortal: é o espírito. A matéria inerte é o corpo perecível a despojar-se de suas formas para se transformar, quando abandonada pelo Espírito, num monte de podridão sem nome. E vós achais lógico, vós que não acreditais no Espiritismo, que esta vida, que para a maioria dentre vós é de amargura, de dores, de decepções, um verdadeiro purgatório, não tenha outro objetivo senão o túmulo! Desenganai-vos. Vinde a nós, pobres deserdados dos bens, das grandezas e dos prazeres terrenos. Vinde a nós e sereis consolados, vendo que vossas dores, vossas privações, vossos sofrimentos devem abrir-vos as portas de mundos felizes e que Deus, justo e bom para todas as criaturas, só nos provou para nosso bem, segundo estas palavras do Cristo: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. ─ Vinde, pois, incrédulos e materialistas. Colocai-vos sob a bandeira na qual, em letras de ouro, estão escritas estas palavras: Amor e caridade para os homens, que são todos irmãos; bondade e justiça, indulgência de um pai grande e generoso para os Espíritos que criou, e que eleva a si por caminhos seguros, embora vos sejam desconhecidos. A caridade, o progresso moral e o desenvolvimento intelectual vos conduzirão ao autor e senhor de todas as coisas.

Não vos instruímos senão para que, por vossa vez, trabalheis para espalhar essa instrução, mas sobretudo fazei-o sem azedume. Sede pacientes e esperai. Lançai a semente. A reflexão e a ajuda de Deus fá-la-ão frutificar, a princípio para um pequeno número que fará como vós, e aumentando pouco a pouco o número dos trabalhadores, vos fará esperar, após as semeaduras, uma boa e abundante colheita.


Ferdinand,



Filho do médium.
(Enviada pela Sra. Cazemajoux, Médium de Bordeaux)



Ramiro Gama - Livro Lindos Casos de Chico Xavier - Cap. 71 - Casos de Manuel Quintão




Ramiro Gama - Livro Lindos Casos de Chico Xavier - Cap. 71


Casos de Manuel Quintão
 

Numa sexta-feira do mês de maio de 1945, Manuel Quintão, na varanda de sua aprazível vivenda, no Méier, conversava animadamente com o confrade Meireles, quando sua cara companheira o chama para nivelar o piano, isto é, acertá-lo nos pisos.

Com o auxílio do irmão Meireles, pegou na alça do piano e, fazendo força para levantá-lo, sentiu uma torção nos rins, sobrevindo-lhe intensa dor que o obrigou a acamar-se.

O caso, que antes parecia sem importância, agravou-se, impossibilitando-o de ir à Casa de Ismael presidir à Sessão pública das 19:30. D. Alzira, sua esposa, alvitrou que telegrafasse ao Chico respondendo-lhe M. Quintão:

- Não convém, isto vai alarmar e nada produzirá, de vez que, se for permitido, mesmo de longe ou daqui de perto, receberei o remédio de que careço. Esperemos até domingo, se não melhorar, escreveremos ao Chico.

E, por intuição, foi medicando-se.

Domingo, pela manhã, o correio traz uma carta.

Abrem-na.

Era do Chico Xavier, com uma mensagem de Emmanuel, que logo de início, diz:

- Antes de tudo, desejo identificar-me, dizendo-lhe que, em verdade, o telegrama antes alarma e nada beneficia. Desde que sofreu o acidente, estamos medicando-o. E continue tomando os remédios que, por via intuitiva, já lhe receitamos.

Dias depois, o nosso caro irmão ficou restabelecido.

Procurou a Mensagem para nos dar, mas não a encontrou.

Que pena!

Seria mais um clichê documentativo para o nosso Livro!

Também, em começo de abril de 1947, o mesmo confrade sonha com a data de 18.

Constou esse sonho de seu magnífico livro Cinzas de Meu Cinzeiro.

Depois de várias considerações sobre sonhos, disse-nos:

— “Despertei alta noite, a tracejar uma folha de calendário do ano de 1947.

Era uma dessas folhinhas de parede, modelo comercial, que eu esboçava com requintes de meticulosidade, à tinta encarnada, assim:

1947, 18 de abril, sexta-feira.

E a impressão era tão viva que não resisti ao desejo de grafá-la imediatamente no meu calepino; nem sopitava a freima de transmiti-la aos confrades mais íntimos. E não faltou quem sorrisse de minha puerilidade.

“Ora para que havia de dar o Quintão no crepúsculo da vida!”

Um houve, que identificou a efeméride com a primeira edição do “Livro dos Espíritos”: em outros eu pressentia o palpite piedoso da minha desencarnação. 

Em matéria de sonhos o campo é livre e infinito, e como lá diz: — “O melhor da festa é esperar por ela”, a festa veio no dia 18 de abril passado; o nosso nunca assaz e lembrado Chico Xavier viajou a serviço, de Pedro Leopoldo para Juiz de Fora, e, porque não nos víamos havia três anos, aproveitou o ensejo para uma surpresa de arromba. De arromba, porque me chegou a penates às 22 horas, debaixo de chuva.

Era só para matar saudades, num fugaz e furtivo abraço. Não podia demorar, regressaria no primeiro trem da manhã, precisava parar ainda em Juiz de Fora e estar a tempo em Pedro Leopoldo, a fim de, na próxima terça-feira, seguir para a feira pecuária de Uberaba. Serviço é Lei, manda quem pode. Repousar? Dormir? Não. Poderia perder o trem... Candura do Chico!

— Vamos, então, “bater papo” toda a noite, enquanto chove grosso lá fora. Mesa posta, café, biscoitos e um mundo de idéias, comentários, recordações. O velho Kronos se eclipsa, envergonhado talvez, e Morfeu vai-lhe na pegada com as suas papoulas... As quatro da madrugada canta o galo. Minha mulher pede ao Chico uma indicação, um conselho mediúnico...

— Deixa-te disso, o Chico está fatigado, exausto mesmo; de resto, eu sempre fui infenso a comunicações preconcebidas.

O Médium, porém, não recalcitrou, toma lesto da lapiseira e sem pestanejar escreve de jato:
 
AVE, MARIA!

 No primeiro aniversário
 De minha libertação,
 Em teu lar, Quintão amigo,
 Procuro o altar da oração.

Ave, Maria! Mãe que por nós velas
Do teu trono de ternos resplendores,
Auxilia os teus filhos sofredores,
Que padecem a fúria das procelas.

Cheia de graça, estrela entre as mais belas,
Anjo excelso dos pobres pecadores,
Balsamiza, Senhora, as nossas dores,
Tu, que por nossas almas te desvelas.

O Senhor é contigo, Soberana,
Astro sublime sobre a noite humana,
Sol que infinitos dons de Deus encerra!

Bendita és para sempre, Mãe querida,
Por teus braços de amor, ternura e vida,
Por teu manto de luz que ampara a terra!

Braga Neto.

Isto, continua M. Quintão, com a lapiseira que guardo como lembrança do saudoso e inesperado visitante. 

Juro que não me lembrava, absolutamente, do seu transpasse nesta data. Nem o Médium, tê-lo-ia de memória, tão pouco.

E aqui fica mais um lindo caso de um sonho premonitório, para cuja realização o caro Chico foi o instrumento feliz. 


Ramiro Gama







Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 12 - Amai os vossos inimigos - Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra




Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 12 - Amai os vossos inimigos


Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra


Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; – e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhe entregueis o manto;–e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. – Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (S. MATEUS, 5:38 a 42.)

Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar “ponto de honra” produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei mosaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribuí o mal com o bem. E disse ainda: “Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.

Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio às agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.


Allan Kardec 





Joanna de Ângelis - Livro Florações Evangélicas - Divaldo P. Franco - Cap. 40 - Uma Paga de Amor




Joanna de Ângelis - Livro Florações Evangélicas - Divaldo P. Franco - Cap. 40


Uma Paga de Amor


"Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem". Lucas: capítulo 6º, versículo 31.

"Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, êle, a seu mau grado, cede. É um Imã a que não lhe é possível resistir". Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 11 - Item 9, parágrafo 5.


Quando a chispa do ódio lavrou o Incêndio da malquerença, deixaste-te carbonizar pelas chamas do desespero...

Quando o veneno da intriga te visitou a casa do coração, permitiste-te a revolta que se converteu em injustificada aflição...

Quando o chicote da calúnia estrugiu nas tuas intenções nobres, concedeste-te a insensatez do desânimo que se transformou em enfermidade difícil...

Quando a nuvem da discórdia sombreou o grupo feliz das tuas amizades, julgaste-te abandonado, destroçando os planos superiores da edificação da alegria, onde armazenavas sonhos para o futuro...

Quando o fel do ciúme tisnou o sol do amor que te iluminava, resvalaste na alucinação morbífica que te aniquilou as mais belas expressões de amparo pelo caminho redentor...

Quando o ácido da irritabilidade alheia te foi atirado à face, foste dominado pela fúria da reação desvairada, fazendo-te perder abençoada ocasião de ajudar...

Tudo porque esqueceste da justa e necessária dose de amor.

Uma baga apenas teria sido suficiente.

Se amasses, todavia, com legítima qualidade de amor, o ódio cederia lugar à expectativa do bem, a intriga se desagregaria, a calúnia seria dissipada, a discórdia se apaziguaria, o ciúme se teria anulado, a irritabilidade se dulcificaria e a vida, então, adquiriria a sua santificante finalidade.

Com a moeda do amor se adquirem todos os bens da Terra e os incomparáveis tesouros do Céu.

O amor persevera - insistindo nos propósitos superiores que o vitalizam. Convence - produzindo pela força da sua magnitude a excelência dos seus propósitos.

Transforma - pela natureza dulcificadora de que se constitui.

Dignifica - em razão do conteúdo de que se faz mensageiro.

Liberta - por ser o poder da vida de Deus transladada para tôda a Criação.

O amor - alma da vida e vida da alma -é a canção de felicidade que vibra do Céu na direção da Terra, sem encontrar, por enquanto, ouvidos atentos que lhe registrem a incomparável melodia, de modo a se transformar em harmonia envolvente que penetra até onde cheguem as suas ressonâncias...

Ele se misturou às massas sofridas, e era a Saúde por Excelência; se submeteu a arbitrário interrogatório, e era Juiz Supremo; se permitiu martírio infamante, e era o Embaixador Sublime de Deus; se deixou assassinar, e era a Vida Abundante - por amor. E pelo amor retornou aos que o não amaram para ensinar a supremacia da Verdade sobre a ignorância e do bem sobre o mal, oferecendo-se pelos séculos porvindouros, porque o amor é a manifestação de Deus penetrando tudo e tudo sublimando.


Joanna de Ângelis







Meimei - Livro Amizade - Chico Xavier - Cap. 3 - Toque de Fé


Meimei - Livro Amizade - Chico Xavier - Cap. 3


Toque de Fé


Ergue-te e caminha.

Enxuga as lágrimas e fita os Céus.

Deus que te sustentou até ontem, sustentará hoje e sempre.

A sombra vale para destacar a luz. Surge a dor para aumentar a alegria.

Se provações te feriram, esquece.

Se desenganos te amargaram a existência, não esmoreças.

Escuta a esperança, no silêncio da própria alma, a falar-te de futuro e de amor, de beleza e eternidade e transforma a bênção das horas em riqueza de trabalho.

Olvida toda sombra, à procura de mais luz e perceberás que Deus está contigo, em teu próprio coração, a estender-te os braços abertos.


Meimei






Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Emmanuel - Livro Religião dos Espíritos - Chico Xavier - Cap. 85 - No grande minuto




Emmanuel - Livro Religião dos Espíritos - Chico Xavier - Cap. 85


No grande minuto


Reunião pública de 30 de Novembro de 1959

Questão n.° 646 de “O Livro dos Espíritos”


No grande minuto da experiência, disseste, desapontado:

— Só vejo o mal pelo bem.

— Não posso mais.

— Fracassei.

— Agora é parar com tudo.

— Fiz o possível.

— Não me fales mais nisso.

— Estou farto.

— Muito difícil.

— Em tudo é desilusão.

— Sofri que chega.

— Continue quem quiser.

— Ninguém me ajuda.

— Deixa-me em paz.

— Estou vencido.

— Não quero complicações.

— É problema dos outros.

— Não sou santo.

— Desisti.

— Basta de lutas.

Entretanto, sombra vencida é porta de luz maior.

Se os amigos fugiram, continua fiel ao bem.

Se tudo é aflição em torno, não desanimes.

Se alguém te calunia, responde sempre fazendo o melhor que possas.

Se caíste, levanta-te renovado e corrige a ti mesmo.

Não existe merecimento naquilo que nada custa.

Todos nós aprendemos e trabalhamos, dias e dias, e, às vezes, por muitos anos, para vencer nesse ou naquele grande momento chamado “crise”.

É a vitória na crise que nos confere mais ampla capacidade.

Se pedes roteiro para mirar, recorda o Cristo, na derrota aparente.

Humilhado e batido, supliciado e crucificado, torna ao mundo, em Espírito, sem que ninguém lhe requeira a volta.

E, materializando-se, divino, entre os mesmos companheiros que o haviam abandonado, longe de referir-se aos remoques e tormentos da véspera, recomeça o trabalho, dizendo simplesmente:

— “A paz seja convosco.” 


Emmanuel








Emmanuel - Livro Seguindo Juntos - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 5 - Diante da fé




Emmanuel - Livro Seguindo Juntos - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 5


Diante da fé


Naturalmente que a fé em Deus presidir-nos-á todos os movimentos da vida, se nos propomos a avançar com o progresso, à feição da seiva permanente na árvore, a fim de que ela corresponda ao seu nobre destino.

Entretanto, a fé em Deus não pode excluir a fé em nós mesmos.

Não encorajamos aqui as falsas alegações daqueles irmãos menos responsáveis que superestimam os próprios valores, alardeando qualidades de que se mostram distantes, mas sim o equilíbrio das consciências valorosas que não desconhecem os deveres que o mundo lhes conferiu.

Cada alma carreia consigo recursos divinos que é preciso multiplicar, riquezas imperecíveis que é necessário estender.

Eis porque a fé será dinamismo criador do bem de todos ou não passará de enfeite inútil nos lábios.

Se Jesus estivesse circunscrito à fé no Poder Divino, cruzando os braços, em doce reserva nas Esferas Superiores, decerto não teria vindo ao encontro da Humanidade, exemplificando o amor universal que lhe flui de cada lição e lhe reponta de cada gesto.

E se não confiasse no homem, cujas energias interiores veio despertar para a fé em si mesmo, indubitavelmente, não se teria consagrado à obra da redenção terrestre até o sacrifício supremo.

É que não vale acreditar na bondade, sem que sejamos bons, nem exaltar os méritos da justiça sem sermos justos.

Não te detenhas, em nome de Cristo, na adoração expectante daqueles que simplesmente se confiam à inércia.

Vale-te das horas para marchar, com o tempo, no rumo da Luz Perfeita.

Mobiliza as possibilidades de que dispões, acorda e vive, sabendo que acordar é compreender e viver é lutar pela própria ascensão.

Estuda, trabalha, progride, renova-te e aperfeiçoa-te. Se aspiras a conquistar a intimidade do Cristo não te imobilizes na ilusão.

Lembra-te de que o Mestre colocava ênfase expressiva ante cada enfermo recuperado, exclamando convincente: — “A tua fé te curou”.  

Nenhum dos beneficiários de seu amor chegou a restaurar-se sem os talentos da fé positiva e justa, em cada um deles entesourada.

Não te esqueças, ainda, de que se o Senhor proclamou que “a fé transporta montanhas”, também nos advertiu: — “Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”.  

Reconheçamos: para que a nossa fé não se aprisione nas grades do fanatismo é indispensável que o discernimento nos auxilie a caminhar.


Emmanuel








Fonte:  Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Joanna de Ângelis - Livro Plenitude - Divaldo P. Franco - Cap. 3 - Origens do Sofrimento



Joanna de Ângelis - Livro Plenitude - Divaldo P. Franco - Cap. 3


Origens do Sofrimento


Ainda segundo o budismo, as origens do sofrimento se apresentam por meio de condições internas e externas, resultando daí outras duas ordens: as cármicas e as emoções perturbadoras.

Indubitavelmente, conforme acentua a Doutrina Espírita, o homem é a síntese das suas próprias experiências, autor do seu destino, que ele elabora mediantes os impositivos do determinismo e do livre-arbítrio.

Esse determinismo (inevitável apenas em alguns aspectos: nascimento, morte, reencarnação) estabelece as linhas matrizes da existência corporal, propelindo o ser na direção da sua fatalidade última: a perfeição relativa.

Os fatores que programam as condições do renascimento do corpo físico são o resultado dos atos e pensamentos das existências anteriores. Ser feliz quanto antes ou desventurado por largo tempo depende do livre-arbítrio pessoal. A opção por como e quando agir libera o Espírito do sofrimento ou agrilhoa-o nas suas tenazes.

A vida são os acontecimentos de cada instante a se encadearem incessantemente. Uma ação provoca uma correspondente reação, geradora de novas ações, e assim sucessivamente.

Desse modo, o indivíduo é o resultado das suas atividades anteriores. Nem sempre, porém, se lhe apresentam esses efeitos imediatamente, embora isso não o libere dos atos praticados.

É possível que uma experiência fracassada ou danosa, funesta ou prejudicial se manifeste a outras pessoas, como ao seu autor por meio dos resultados, após a próxima ou passadas algumas reencarnações. Esses resultados, no entanto, chegarão de imediato ou em mais tardio tempo. O certo é que virão em busca da reparação indispensável.

Da mesma forma, as construções do bem se refletirão no comportamento posterior do indivíduo, sem que, necessariamente, tenham caráter instantâneo. O fator tempo, na sua relatividade, é de somenos importância.

Portanto, os sofrimentos humanos de natureza cármica podem apresentar-se sob dois aspectos que se complementam: provação e expiação. Ambos objetivam educar e reeducar, predispondo as criaturas ao inevitável crescimento intimo, na busca da plenitude que as aguarda.

A provação é a experiência requerida ou proposta pelos Guias espirituais antes do renascimento corporal do candidato, examinadas as suas fichas de evolução, avaliadas as suas probabilidades de vitória e os recursos ao seu alcance para o cometimento.

Apresenta-se como tendências, aptidões, limites e possibilidades sob controle, dores suportáveis e alegrias sem exagero, que facultem a mais ampla colheita de resultados educativos.

Nada é imposto, podendo ser alterado o calendário das ocorrências, sem qualquer prejuízo para a programação iluminativa do aprendiz.

No mapa dos compromissos, não figuram as injunções mais aflitivas nem as conjunturas traumatizantes irreversíveis.

As opções de como agir multiplicam-se favoravelmente, de forma que, havendo arestas a aplainar, esse trabalho não impõe uma ação imediata pelo sofrimento.

A ação do amor brinda o ser com excelentes ensanchas de alterar para melhor o seu desempenho e as suas atividades, constituindo-lhe suportáveis provas o malogro de alguma aspiração, o desafio ante algumas metas que lhe parecem inalcançáveis, as dores dos processos de desgaste orgânico e mental, sem as quedas profundas nos calabouços das paralisias, das alienações, das doenças irrecuperáveis.

Se tal proceder, ainda poderemos catalogar como escolha pessoal, por acreditar o candidato ser esse o meio mais eficaz para a sua felicidade próxima, liberando-se da canga rude da inferioridade moral.

Poder-se-á identificar essa providencial escolha, na resignação e coragem demonstradas pelo educando e até mesmo na sua alegria diante das ocorrências dolorosas.

As provações se manifestam, dessa forma, de maneira suave, lenificadora no seu conteúdo e abençoada nas sua finalidades.

Sem o caráter punitivo, educam de forma consciente, incitando ao  aproveitamento da ocasião em forma eficiente e mais lucrativa, com o que equipam aqueles que as experimentam, para que se convertam em exemplos, apóstolos do amor, do sofrimento, missionários do bem, mártires dos ideais que esposam, mesmo que no anonimato dos testemunhos, sempre se tornando modelos dignos de ser imitados por outras pessoas.

As provações mudam de curso, suavizando-se ou agravando-se conforme o desempenho do Espírito. A eleição de certas injunções mais difíceis no processo evolutivo representa um ato de sabedoria, tendo-se em vista a rapidez da existência corporal e os benefícios auferidos que são de duração ilimitada.

Considerando-se a vida sob o ponto de vista causal, das suas origens eternas, as ocorrências na esfera física são de breve duração, não se alongando mais do que um curto período que, ultrapassado, deixa as marcas demoradas de como foram vivenciadas.

Valem, portanto, quaisquer empenhos, os sacrifícios, as provas e testes que recompõem os tecidos dilacerados da alma, advindos das anteriores atitudes insensatas.

Toda aprendizagem propõe esforço para ser assimilada e toda ascensão exige o contributo da persistência, da força e do valor moral.

Os compromissos negativos, pois, ressurgem no esquema da reencarnação como provações lenificadoras, que o amor suaviza e o trabalho edificante consola.

As expiações, todavia, são impostas, irrecusáveis, por constituírem a medicação eficaz, a cirurgia corretiva para o mal que se agravou.

Semelhante ao que sucede na área civil, o delinquente primário tem crédito que lhe suaviza a pena e, mesmo ante os gravames pesados, logra certa liberdade de movimento sem a ter totalmente cerceada.

O reincidente é convidado à multa e prisão domiciliar, conforme o caso, no entanto, aquele que não se corrige é conduzido ao regime carcerário e, diante de leis mais bárbaras, à morte infamante.

Guardadas as proporções, nos primeiros casos, o infrator espiritual é conduzido a provações, enquanto que, na última hipótese, à expiação rigorosa.

Porque o amor de Deus vige em todas as Sua leis, mais justas do que as dos homens, seja qual for o crime, elas objetivam reeducar e conquistar o revel, não o matando, isto é, não o extinguindo. Jamais intentam vingar-se do alucinado, antes buscam recuperá-lo, porque todos são passiveis de reabilitação.

O encarceramento nas paresias, limitações orgânicas e mentais, as paralisias, as patologias congênitas sem possibilidade de reequilíbrio, certos tipos de loucura, de cânceres, de enfermidades degenerativas se transformam em recurso expiatório para o infrator reincidente que, no educandário das provações, mais agravou a própria situação, derrapando para os abismos da rebeldia e da alucinação propositais.

Entre esses, suicidas premeditados, homicidas frios, adúlteros contumazes, exploradores de vidas, vendedores de prazeres viciosos, tais como as drogas alucinógenas, o sexo, o álcool, os jogos de azar, a chantagem e muitos artigos da crueldade humana catalogados nos Estatutos Divinos.

Cada ser vive com a consciência que estrutura. De acordo com os seus códigos, impressos em profundidade na consciência, recolhe as ressonâncias como experiências reparadoras ou propiciatórias de libertação.

Há, em nome do amor, casos de aparentes expiações: seres mutilados, surdos-mudos, cegos e paralisados, hansenianos e aidéticos, entre outros, que escolheram essas situações para lecionarem coragem e conforto moral aos enfraquecidos na luta e desolados na redenção.

Jesus, que nunca agiu incorretamente, é o exemplo máximo. Logo após, Francisco de Assis, que elegeu a pobreza e a dor para ascender mais, não expurgava débitos, antes demonstrava-lhes a grandiosidade dos benefícios.

Helen Keller, Steinmetz e muitos outros heróis de ontem como de hoje são lições vivas do amor em forma de abnegação, convidando à felicidade e ao bem. As expiações podem ser atenuadas, não, porém, sanadas.

Enquanto as provações constituem forma de sofrimento reparador que promove, as expiações apenas restauram o equilíbrio perdido, reconduzindo o delituoso à situação em que se encontrava antes da queda brutal.

Transitam, ainda, na Terra, portadores de expiações que não trazem aparência exterior. São os seres que estertoram em conflitos cruéis, instáveis e insatisfeitos, infelizes e arredios, carregando dramas íntimos que os estiolam, afligindo-os sem cessar.

Podem apresentar aparência agradável e conquistar simpatias, sem que se liberem dos estados interiores mortificantes.

A consciência não perdoa, no que concerne a deixar no olvido o crime perpetrado. O seu perdão se expressa mediante a reabilitação do infrator. As origens do sofrimento estão sempre, portanto, naquele que o padece, no recôndito do seu ser, nos painéis profundos da sua consciência.

Ao lado das origens cármicas do sofrimento, surgem as causas atuais, quando o homem busca mediante a irresponsabilidade, a precipitação, a prevalência do egoísmo que o incita à escolha do melhor para si em detrimento do seu próximo.

Essa atitude se revela em forma de emoções perturbadoras, que o aturdem na área das aspirações e se condensam em formas de aflição.

As emoções perturbadoras galvanizam o homem contemporâneo, mais do que o de ontem, em razão dos conflitos psicossociais, socioeconômicos, tecnológicos e outros.

Os impulsos e lutas que induzem o individuo à perda da individualidade, escravizando-o aos padrões de conveniência vigente, são relevantes como desencadeadores de sofrimento.

Também a perda do senso de humor torna a criatura carrancuda e artificial, gerando emoções perturbadoras.

A ausência da liberdade pelas constrições de toda ordem igualmente proporciona sofrimento. Esses fenômenos psicológicos, no campo do comportamento, propiciam emoções afligentes tais como: o desejo, o ofuscamento, o ódio, a frustração.

Porque não sabe distinguir entre o essencial e o supérfluo, o que convém e aquilo que não é licito conseguir, o homem extrapola nas aspirações e atormenta-se pelo desejo malconduzido, ambicionando além das possibilidades e transferindo-se de uma para outra forma de amargura.

O desejo é um corcel desenfreado que produz danos e termina por ferir-se, na sua correria insana. A primeira demonstração de lucidez e equilíbrio da criatura é a satisfação ante tudo quanto a vida lhe concede.

Não se trata de uma atitude conformista, sem a ambição racional de progredir, mas, sim, de uma aceitação consciente dos valores e recursos que lhe chegam, facultando-lhe harmonia interior e bem-estar na área dos relacionamentos, no grupo social no qual se situa.

Toda vez que o desejo exorbita, gera sofrimento, em razão de tornar-se uma emoção perturbadora forte, que desarticula as delicadas engrenagens do equilíbrio.

Narra-se que a infelizmente célebre Messalina, após uma larga noite de desejos e orgia, foi interrogada por Cláudio, ao amanhecer, igualmente aturdido – “Estás satisfeita?”. Ao que ela teria redarguido: “Não, cansada!”.

Febre voraz, o desejo faz arder as energias, aniquilando-as. Sempre se transfere de uma para outra área, por conduzir o combustível da insatisfação.

Males incontáveis se derivam da sua canalização equivocada, em face das suas nascentes no egoísmo, este câncer do Espírito, responsável por danos contínuos no processo da evolução do ser.

Mesmo na realização edificante, o desejo tem que ser conduzido com equilíbrio, a fim de não impor necessidades que não correspondem a realidade.

O ideal do bem, o esforço por consegui-lo expressam-se de forma saudável quão gratificante, tornando-se estimulo para o desenvolvimento constante dos germes que dormem na criatura, aguardando a eclosão dos fatores que lhes são propiciatórios.

Como o efeito do desejo, o ofuscamento, que decorre da presunção e do orgulho, é causa de sofrimentos, em razão do emaranhado de raízes na personalidade do homem ambicioso e deslumbrado, com Narciso ante a própria imagem refletida no lago.

As ilusões da prosperidade econômica e social, cultural e política induzem o insensato ao ofuscamento, por permitirem-lhe acreditar-se superior ao demais, inacessível ao próximo, colocando barreiras no relacionamento com as outras pessoas que lhe pareçam de menor status, qual se estas lhe ameaçassem a situação de destaque.

Ignoram os fenômenos biológicos inevitáveis da enfermidade, velhice e morte, ou anestesiam a consciência para não pensarem nas ocorrências do insucesso, da mudança de situação, das surpresas do cotidiano.

Todos esse fatores são motivos de sofrimento, quando se pretende manter a posição de relevo, quando se teme perdê-la e quando isso acontece.

O ofuscamento desgoverna inumeráveis existências que se permitem as fantasias do trânsito orgânico, sem a claridade que discerne entre as reais e as falaciosas metas da vida.

Na mesma trilha, ressalta o domínio do ódio nas paisagens dos sofrimentos humanos. As suas irradiações destrutivas comburem as energias de quem o sustenta, enquanto, muitas vezes, atingem aqueles contra quem se dirigem, caso permaneçam distraídos dos deveres relevantes ou em faixas mentais equivalentes.

Loucura do amor não atendido, o ódio revela a presença predominante dos instintos agressivos vigentes, suplantando os sentimentos que devem governar a vida.

Jamais havendo motivo que lhe justifique a existência, o ódio é responsável pelas mais torpes calamidades sociais e humanas de que se tem conhecimento.

Quando se instala com facilidade, expande as suas raízes como tenazes vigorosas, que estrangulam a razão, transformando-se em agressividade e violência, em constante manifestação.

Em determinados temperamentos, é qual uma chispa insignificante em um monte de feno, produzindo um incêndio devorador. Por motivo de somenos importância, explode e danifica em derredor.

O ódio é causador de muitos sofrimentos. Todo o empenho deve ser envidado para desarticulá-lo onde se apresente e instale; sem esse trabalho, ele se irradia e infelicita.

Pestilencial, ele contamina com facilidade, travestindo-se de irritação, ansiedade, revolta e outros danosos mecanismos psicológicos reagentes.

A frustração, por sua vez, responde por sofrimentos que seriam evitáveis, não fossem as exageradas esperanças do homem, as suas confusas idéias de automerecimento, que lhe infundem crenças falsas nas possibilidades que não lhe estão ao alcance.

Porque se supõe credor de títulos que não possui, a criatura se frustra, entregando-se a reações inesperadas de depressão ou cólera, fugindo da vida ou atirando-se, rebelde, contra ela e os seus valores.

Quando o homem adquire a medida do pouco ou quase nenhum merecimento pessoal, equipa-se de harmonia e fé, de coragem e paz para enfrentar as vicissitudes e superá-las, nunca se permitindo malograr nos empreendimentos.

Se esses não oferecem os resultados desejados, como é natural, insiste, persevera, até a constatação de que outro deve ser o campo de atividade a desenvolver ou até receber a resposta favorável do trabalho envidado.

O amor é o antídoto para todas as causas do sofrimento, por proceder do Divino Psiquismo, que gera e sustenta a vida em todas as suas expressões.

Luarizado pelo amor, o homem discerne, aspira, age e entrega em confiança, irradiando energia vitalizadora, graças à qual se renova sempre e altera para melhor a paisagem por onde se movimenta.

O amor é sempre o conselheiro sábio em qualquer circunstância, orientando com eficiência e produzindo resultados salutares, que propelem ao progresso e à felicidade.

Na raiz de qualquer tipo de sofrimento sempre será encontrado como seu autor o próprio Espírito, que se conduziu erroneamente, trocando o mecanismo do amor pela dor, no processo da sua evolução.

A fim de apressar a recuperação, eis que se inverte a ordem dos acontecimentos, sendo a dor o meio de levá-lo de volta ao amor, por cuja trilha se faz pleno.

“O homem tem de lutar com o problema do sofrimento. O oriental quer livrar-se do sofrimento, expulsando-o; o ocidental procura suprimi-lo com remédios. Mas o sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o. Aprendemos isso com Ele (o Cristo Crucificado). Carl Gustav Jung.”


Joanna de Ângelis