Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 49
Compulsão obsessiva
"A subjugação corporal vai às vezes mais longe; pode impelir aos atos mais ridículos. Conhecemos um homem que (...) sentia nas costas e nas pernas uma pressão enérgica que o forçava, malgrado a vontade que a isso opunha, a se ajoelhar e a beijar a terra nos lugares públicos e na presença da multidão. Esse homem passava por louco entre seus conhecidos; mas estamos convencidos de que não o estava de todo, porque tinha plena consciência do ridículo do que fazia (...)". (2a Parte - cap. XXIII, item 240.)
"Ao entardecer, trouxeram-lhe muitos endemoniados e Ele, com uma palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam enfermos..." (1 )
Muitos indivíduos desvalidos dos conhecimentos superiores e transcendentais das Leis da Vida afirmam que o Espiritismo é que gera loucuras e perturbações espirituais. No entanto, ao lermos o Novo Testamento, deparamos com inúmeros casos de assistência e amparo aos problemas obsessivos e, igualmente, no Espiritismo encontramos o mesmo devotamento altruísta na cura dos atormentados, porque os princípios codificados por Allan Kardec fazem reviver o Cristianismo primitivo.
Quando a compulsão é avassaladora, as criaturas criam hábitos ridículos, revelam distorção de comportamento e têm atitudes irracionais, como: "(...) se ajoelhar e a beijar a terra nos lugares públicos e na presença da multidão".
Encontramos, no texto em estudo, um caso grave de subjugação corporal, que gerou um distúrbio obsessivo compulsivo.
Na atualidade, as ciências psiquiátricas definem distúrbio obsessivo-compulsivo - DOC - como um desejo imperioso que cria pensamentos absurdos e embaraçosos, os quais se repetem na mente num ciclo insistente e obstinado.
Trata-se de doença aflitiva, associada à ansiedade e a uma ideia invasora e persistente, que constrange o indivíduo a manifestar impulsos estranhos ou rituais inexplicáveis que vão desde uma leve interferência até uma incapacitação extrema.
Os estudiosos da saúde mental dizem que esse distúrbio de personalidade difere das crendices ou superstições do cotidiano, como: não passar por baixo de escadas, evitar cruzar com gatos pretos, fechar guarda-chuvas dentro de casa ou bater na madeira para isolar o mal. Afirmam que essa obsessão e/ou compulsão é muito mais frequente do que pensamos, afetando de certa forma desde as pessoas mais talentosas e sensíveis até aquelas de vida comum. Asseguram ainda que a maioria dos que sofrem de DOC dissimulam seus rituais, escondem suas angústias e evitam falar sobre seu estranho comportamento.
O subjugado é impelido a realizar atos ritualísticos originários de pensamentos dominadores e sem sentido e passam horas e horas gastando seu tempo precioso com trejeitos - gestos, tiques e movimentos - intensos, absurdos e repulsivos, e vivendo experiências dramáticas e impressionantes. Quase todos afirmam a mesma coisa: "por mais que me esforce, não consigo evitá-los".
Entre os compulsivos mais frequentes, podemos mencionar: os "verificadores" - examinam portas, luzes, gás, fechaduras, quatro, dez, vinte ou mais vezes. Outros possuem uma obsessão de exatidão, em que gastam muito tempo produzindo "simetrias" incessantes e desnecessárias. Muitos são dominados pelo medo de contaminação e pela preocupação desmedida com "germes" ou "doenças", que os levam a viver fanaticamente. Lavam as mãos ou banham-se incontáveis vezes, demonstrando nojo superlativo das secreções corporais e apreensão extremada pela sujeira. Desgastam-se em rituais para comer, dificultando os mais simples atos de higiene e bem-estar.
"Fazer com perfeição" é a palavra-chave para alguns compulsivos. Colocam os sapatos no chão com proporcionalidade impecável ou fazem o laço deixando as duas pontas do cordão exatamente iguais. Suas atitudes e gestos ultrapassam os limites do bom senso. Vivem uma necessidade obcecada de evitar os espaços entre duas pedras ou as brechas de uma calçada. Acreditam alguns: "se pisar na fenda, minha mãe morre". Sustentam ainda uma alucinada necessidade de entrar e sair pela mesma porta ou subir e descer escadas várias vezes. Diversos raciocinam assim: "tenho que atravessar os batentes desta porta de maneira certa e especial, senão algo maléfico vai acontecer".
Em suma, são inúmeras as obsessões e/ou compulsões que figuram entre as mais constantes: necessidade de tocar coisas ou pessoas mais de uma vez; de engolir a saliva de quando em quando; de arrumar e desarrumar malas e gavetas impecavelmente; medo imaginário de ferir-se, "tiques" fora de propósito e incontroláveis, entre outros tantos.
Os indivíduos com personalidade compulsiva tendem a ser exageradamente moralistas ou extremistas e a não perdoar a si mesmos nem aos outros.
A seguir, registraremos os possíveis pontos vulneráveis que desencadeiam o DOC e alguns comportamentos internos que as entidades negativas exploram, dando origem às sensações do distúrbio obsessivo-compulsivo:
• capacidade restrita de expressar carinho ou sentimentos de afetividade;
• internalização dos impulsos agressivos - a criatura não sabe canalizar essa energia para outras atividades capazes de extravasá-la adequadamente;
• hábito do perfeccionismo - a pessoa passa a exigir cada vez mais de si própria, até a exaustão, extrapolando
seus limites naturais;
• incapacidade de renovação - tem consciência empedernida e estreita; qualquer inovação, qualquer ideia ou ação criativa que questione seus conceitos e atitudes, é para ela um desafio ameaçador;
• falta de generosidade com seu tempo, lazer e prazeres - exagera na dedicação ao trabalho;
• comportamento inflexível - julga que ceder signifique falta de convicção; por isso, não percebe que as pessoas e as coisas não são integralmente corretas ou erradas, nem inteiramente boas ou más;
• pré-ocupação - não encara o momento presente como o tempo de realizar e produzir, vivendo a ansiedade de um futuro imaginário.
Se investigássemos a origem e a causa das obsessões - doenças da alma -, as encontraríamos em nossos pontos fracos e em determinados comportamentos autodestrutivos que, consciente ou inconscientemente, adotamos.
Fomos criados numa cultura que nos ensinou que não somos os responsáveis por tudo que estamos passando. Não admitimos que as alegrias e tristezas que experimentamos são a soma de todas as nossas escolhas existenciais. Cada impressão emocional que sentimos foi precedida por uma atitude interior ou um pensamento. A energia antecede a ação.
A dificuldade que temos em admitir nossas falibilidades é fator que, por si só, impede a cura que buscamos. Se modificarmos nossos pensamentos e atitudes, isto é, se considerarmos nossas limitações e conflitos, começaremos o processo de sanidade mental.
Acreditamos que as coisas e as pessoas é que nos fazem infelizes, mas isso não é verdade - somos causa e efeito de nós mesmos. Não existe fatalismo em nossa vida, apenas atração e repulsão, conforme nossa sintonia vibracional.
Quando aprendemos a pensar e agir de maneira moderada e saudável, a obsessão termina, porque nos tornamos livres e equilibrados, não mais perpetuando os pensamentos desajustados.
"A subjugação é uma opressão que paralisa a vontade daquele que a sofre, e o faz agir a seu malgrado. Numa palavra, a pessoa está sob um verdadeiro jugo (...) o Espírito age sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários (...)". (2)
Os subjugados corporalmente, ou seja, os portadores de distúrbios obsessivo-compulsivos, devem buscar auxílio espírita e psicológico de forma simultânea e, dependendo da gravidade do caso, recorrer também ao tratamento psiquiátrico. As vezes, quando se busca somente um deles, o problema costuma retornar.
A convalescença espiritual é um processo gradual - mais uma jornada de autoconhecimento do que, simplesmente, uma almejada destinação. Devemos aprender a não ficar impacientes com as etapas da recuperação, mas entender que a dor, em muitas ocasiões, é o preço da sabedoria. Discernir nosso sofrimento é encontrar seu real valor para nossa existência.
Hammed
(1) Mateus, 8:16.
(2) O Livro dos Médiuns - 2ª Parte - cap. XXIII, item 240.
Fonte: A Imensidão dos Sentidos-pdf
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