Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 7 - Ciúme - Pág. 83
Psicogênese do ciúme
O espírito imaturo, vitimado por desvios de comportamentos em existências transatas, renasce assinalando o sistema emocional com as marcas infelizes disso resultantes.
Inquieto e insatisfeito, não consegue desenvolver em profundidade a autoestima, permanecendo em deplorável situação de infância psicológica. Mesmo quando atinge a idade adulta possui reações de insegurança e capricho, caracterizando suas dificuldades para um ajustamento equilibrado no contexto social.
Aspira ao amor e teme entregar-se-lhe, porquanto o sentido de posse que lhe daria autoconfiança está adstrito à dominação de coisas, de pessoas e de interesses imediatistas, ambicionando transferi-lo para quem não se permitirá dominar pela sua morbidez. Quando se trata de um relacionamento com outra personalidade igualmente infantil, esta deixa-se, temporariamente, manipular-se por acomodação ou sentimento subalterno, reagindo a posteriori de maneira imprevisível.
Em outras oportunidades permite-se conduzir, desinteressando-se das próprias aspirações, enquanto submete-se aos caprichos do dominador, resultando numa afetividade doentia, destituída de significados nobres e de vivências enriquecedoras.
Porque a culpa se lhe encontra no íntimo, esse indivíduo não consegue decodifica-la, a fim de libertar-se, ocultando-a na desconfiança que permanece no seu inconsciente, assim experimentando tormentos e desajustes.
Incapaz de oferecer-se em clima de tranquilidade ao afeto, desconfia das demais pessoas, supondo que também são incapazes de dedicar-se com integração desinteressada, sem ocultar sentimentos infelizes.
Porque não consegue manter um bom nível de autoestima, acredita não merecer o carinho nem o devotamento de outrem, afligindo-se, em razão do medo de perder-lhe aa companhia. Esse tormento faz-se tão cruel, que se encarrega, inconscientemente, de afastar a outra pessoa, tornando-lhe a convivência insuportável, em face da geração de contínuos conflitos que o inseguro se permite.
A imaturidade psicológica daqueles que assim agem, torna-se tão grave, que procura justificar o ciúme como o sal do amor, como se a afetividade tivesse qualquer tipo de necessidade de conflito, de desconfiança.
O amor nutre-se de amor e consolida-se mediante a confiança irrestrita que gera, reafirmando-o com belas vibrações de ternura e da amizade bem estruturada.
Incapaz de enfrentar a realidade e as situações que se apresentam como necessárias ao crescimento contínuo da capacidade de discernimento e de luta, faculta-se a permanência na fantasia, no cultivo utópico da ilusão, imaginando um mundo irreal que gostaria de habitar, evitando a convivência com o destemor e o trabalho sério, de forma que se conduz asfixiado pelo que imagina em relação ao que defronta na vida real.
Torna-se capaz de manter uma vida interior conflitiva, que mascara com sorrisos e outros disfarces, padecendo o medo e a incerteza de ser feliz.
Sempre teme ser descoberto e conduzido à vivência dos fatos conforme são e não consoante desejaria.
Evita diálogos profundos, receando falsear e ser identificado.
Procedentes de uma infância, na qual teve de escamotear a verdade e disfarçar as próprias necessidades por medo de punição ou de incompreensão dos demais, atinge a idade adulta sem a libertação das inseguranças juvenis.
Sentindo-se sempre desconsiderado, porque não consegue submeter aqueles a quem gostaria de amar-dominando, entrega-se aos ciúmes injustificáveis, nos quais a imaginação atormentada exerce uma função patológica.
Transfere as fantasias do seu mundo íntimo para subjugar o ser a quem diz amar.
Atormentado pela autocompaixão, refugia-se na infelicidade, de modo a inspirar piedade, quando deveria esforçar-se para conquistar afeição; subestima-se ou sobrevaloriza-se assumindo posturas inadequadas à idade fisiológica que deveria estar acompanhada do desempenho saudável de ser psicológico maduro.
Compara aflições alheias com as próprias, defendendo a ideia de que ninguém é fiel, pessoa alguma consegue dedicar-se a outrem sem que não mantenha sentimentos servis.
Incapaz de afeiçoar-se pelo prazer de querer bem, portador de insatisfações em relação a si mesmo, mesquinho no que se refere à autodoação... Enxerga o amor como mecanismo de manipulação ou instrumento para conquista de valores amoedados ou de projeção política ou social sem entender que exista outra maneira de amar.
O ciúme tem raízes no egoísmo exagerado, superável mediante trabalho de autodisciplina e entrega pessoal.
Quanto mais o indivíduo valorizar o ego, sem administrar-lhe as heranças da inferioridade, mais se atormenta, em face da necessidade do relacionamento interpessoal que, sem a presença da afetividade, sempre torna-se frio, distante, sem sentido nem continuidade.
Trabalhar a emoção, reflexionar em torno dos sentimentos próprios e do próximo constituem uma saudável psicoterapia para a aquisição da confiança em si mesmo e nos outros.
Joanna de Angelis
Fonte: Conflitos Existenciais-pdf
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