Miramez - Livro Cristos - João Nunes Maia - Cap. 61
Cristo-Silêncio
Perguntou Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum. João, 18:38
Cristo-Silêncio é o Cristo surgindo dentro de nós a dominar os nossos sentimentos, fazendo-nos sentir outro modo de ser, falando mais em certas ocasiões e, em outras, mantendo o silêncio como nosso clima.
O Mestre, quando levado a Pilatos, achou mais convincente adotar o silêncio, pelo mesmo falar mais alto a alma do representante de Roma junto aos judeus. Em todas as perguntas a Ele endereçadas, ou ficou calado ou respondeu evasivamente, deixando notar-se o seu desinteresse por tais assuntos; e Pilatos, com a consciência abalada, não O condenou, mas O entregou aos sacerdotes dizendo sempre: “não vejo neste homem crime algum!”
É o que falta em nós outros: saber usar, na hora exata, esses dois tempos, falar e silenciar. Vejamos a natureza: divide-se em quatro estações anuais, para maior equilíbrio da vida. Quando estamos conversando com alguém, existem espaços entre a pronúncia, para que os outros possam compreender.
Cristo-Silêncio é força a brotar dentro dos nossos corações, ambientando-nos para melhor compreendermos o momento de falar e o espaço adequado da fala. Em muitos casos, o silêncio é uma mensagem onde lemos com mais profundidade o que a vida nos revela, na pauta educativa, do que palavrórios sem certa objetividade. Haja visto Pilatos diante do Mestre perguntando-Lhe o que era a verdade e Jesus, perpassando os olhos mansos e tranquilos no filho da Águia, abaixou a cabeça, sob o peso dos escárnios e, certamente, o abençoou. Neste silêncio, surgiu a meditação, e com ela a própria verdade, na grafia da consciência, que fez o filho político de César estarrecer e, não tendo outro caminho, lavou as mãos.
E nós, já aprendemos a magia do silêncio na hora certa? Já nos inteiramos do momento exato de falar? Falar e calar, eis o nosso desafio.
Não obstante, existem pormenores, em que nos cabe meditar e de que todos precisamos aprender: como falar, e como ficar em silêncio. Se silenciamos por fora, mas a expressão diz o contrário por dentro, ofendemos mais do que a própria palavra mal conduzida. Analisemos os sentimentos, e não deixemos que eles envenenem o magnetismo que trocamos com nosso companheiro, quando com ele conversamos, no instante da fala, tenhamos a mesma vigilância, pois os sons da palavra carreiam os fluidos do nosso mundo para o mundo dos outros que nos escutam, fazendo- nos responsável pelos distúrbios que surgirem.
Não sejamos como Pilatos, lavando as mãos, quando a coragem nos faltar, no momento em que ela poderia salvar vidas de muitos infortúnios. Se encontramos dificuldades em saber como usar a palavra ou o silêncio na hora certa, perguntemos a Jesus, além de usar um meio acessível, os meios a todas as criaturas: a oração. E se a prece não nos responder de forma conveniente, reforcemos com outro método: o trabalho no bem. E se com isso ainda a nossa percepção nada registrar de concreto, resta-nos outro recurso: a perseverança na prática dos preceitos de Jesus, que são infalíveis na arte de colocar os nossos ouvidos e o nosso coração na mesma dinâmica do Mestre dos mestres.
Se nos integrarmos no amor com o Cristo, nunca mais iremos perguntar a Jesus o que é a verdade, porque ela já estará vibrando em nós, em favor de todos.
Miramez
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