Joanna de Ângelis - Livro Vida Plena - Divaldo P. Franco - Cap. 7
Insistir e perseverar
De vez em quando, o bom servidor é agredido por certos sentimentos de tédio ou de cansaço, ante a ação habitual do bem.
Insinua-se essa sensação de maneira sutil e persistente, diminuindo o encanto que deve permanecer presente em qualquer atividade que se deve repetir por tempo indeterminado.
À medida que se sucede, a sensação cansativa diminui o encantamento que no início vestia a emoção do trabalhador.
Obras respeitáveis e realizações relevantes experimentam esses fenômenos emocionais, que são normais em qualquer empreendimento.
Cada vez que observes em ti mesmo essa desagradável sensação, analisa-a tranquilamente, e surgirão duas alternativas, como explicações que te auxiliarão a eleger a conduta compatível com o acerto.
A primeira, decorrência do cansaço, é filha dileta da rotina, que sempre necessita de estímulos novos para que se produzam as emoções da alegria naquilo que se está a executar.
O dia a dia e as suas obrigações produzem o natural cansaço, que pode levar ao desinteresse e ao consequente abandono do compromisso. Mesmo na área da afetividade, dos relacionamentos sociais, o início é rico de entusiasmo, que diminui à medida que a identificação entre as pessoas se faz com melhor naturalidade. Equivale a dizer que o novo, o diferente, sempre causa um prazer igualmente inesperado e agradável, enquanto a repetição produz uma sensação do já conhecido, do já experimentado, do já vivido.
Há, porém, uma forma de vencer-se esse estado que tende ao agravamento, que é o desencanto com o próprio existir. Buscar-se inusual comportamento agradável, palavras não repetidas, temas não debatidos auxilia no ardor que mantém o interesse amigável.
Todo labor exige renovação de entusiasmo através da formulação de diferente metodologia para a sua execução.
A segunda é mais complexa. Pelo fato de estar-se em contato com as forças desagradáveis e malignas que vicejam no planeta, Espíritos ociosos, que se comprazem em afligir as criaturas humanas, passam a influenciar o idealista, tisnando-lhe o prazer da ação com a estafa que se produz em tudo e se agrava à medida que é cultivada.
Por inspiração ou mesmo desgaste das energias, interferem em favor de um falso repouso, transferência e até substituição do bom trabalho pelo ócio ou futilidade perversa.
Sempre se encontra uma justificativa para substituir algo de bom e nobre, porém, exaustivo, que se repete, por algo leve, insignificante, que preenche o tempo de vazio existencial até o momento do despertar pela perda de sentido de viver.
Seja, porém, qual for a causa emocional ou psíquica que registres, esforça-te para quebrar aquilo que se pode transformar em um novo hábito, substituindo o forçoso mister a que te dediques.
Reflexiona em torno do benefício de que resulta o teu esforço, e uma suave alegria te invadirá e com o tempo se apossará de ti, preenchendo a inutilidade existencial que te assalta.
Resiste a essa indução perturbadora dos teus compromissos e confia em Deus, que te propõe o programa espiritual mediante o concurso do que podes realizar e tem em mente que podes fazer muito mais do que realizas. E somente uma questão de resolução para produzir sempre, tornando a existência um evangelho de feitos.
Insiste no que fazes e considera que as tuas contribuições se somam às demais que constituem a dinâmica da vida.
Não permitas os devaneios mentais que te inspiram as possibilidades de postergação, deixando para realizar o que programas para outro momento, torpe fantasia do inconsciente leviano.
Renasceste para evoluir e mais crescer.
Todo espaço que deixes vazio como resultado de algo que fazias será preenchido por alguma coisa menor e irrelevante. Não aceites a inspiração de noutro momento será muito melhor.
Outro momento significa momento nenhum.
A mente desacostumada a compromissos relevantes sempre encontra saídas ilusórias para adiar deveres que têm os seus momentos próprios. Perdidos esses instantes preciosos, as circunstâncias não serão as mesmas e, embora se possa realizar atividade, há uma ausência de responsabilidade de tua parte.
O bom obreiro é aquele que não escolhe tarefa e a executa, desde a mais simples, com renovada alegria.
Quem se comprometeu com Jesus para trabalhar na Sua Vinha deve estar sempre ativo e otimista, porque Ele próprio, que veio em missão especial à Terra, iniciou a jornada na intimidade do lar na condição de auxiliar de carpintaria, culminar em duas asas de amor e sabedoria, voando na direção do Infinito.
Nunca desdenhou qualquer serviço, desde os domésticos, ajudando Sua mãe, a Guia da Humanidade, que a conduz desde os primórdios dos tempos, imortalidade afora.
Conviveu em banquetes de alegria com os excluídos da solidariedade e recebeu com igual júbilo fariseus, rabinos e cobradores de impostos detestados.
Falou em doce colóquio com uma mulher da Samaria e com mais de cinco mil pessoas na montanha, quando elaborou o Sermão das Bem-aventuranças, jamais igualado.
Tudo Lhe era de magna importância e jamais deixou de socorrer por cansaço ou rotina.
Revive Jesus na mente e no coração, n'Ele adquirindo força para insistir e persistir até o fim.
A bênção mais humana da existência terrestre é o trabalho.
O Espiritismo repete as lições do Senhor, adicionando a solidariedade, que é trabalho em favor do próximo, e tolerância, que é paz na convivência com aqueles que não nos compreendem.
Joanna de Ângelis
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