quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - uma reflexão sobre os potenciais humanos - Francisco do Espírito Santo Neto - Paciência




Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - uma reflexão sobre os potenciais humanos - Francisco do Espírito Santo Neto


Paciência  


Nossa impaciência desequilibra os processos internos e externos da natureza em nós. Atos e atitudes pacienciosas podem mudar nosso modo de ver e enfrentar conflitos. Lembremo-nos de que todo problema contém em si mesmo a "semente da solução.

Tão logo nos permitimos pensar na Natureza como algo vivo e atuante em nós, começamos a perceber que nunca perdemos nosso "sentido de ligação" com o mundo natural. É como se emergisse de nosso interior uma "parte adormecida" que sempre soube disso; por conseguinte, começamos a religar a vida íntima com as forças criativas manifestadas em toda a evolução.

Nossa ligação com os processos vivos da Terra tem sido esquecida. A suposição da ciência moderna é de que nosso planeta tenha por volta de cinco bilhões de anos. Não existe, porém, nenhum vestígio que permita determinar, com alguma aproximação, a época em que foram lançadas as "sementes da vida", isto é, o aparecimento dos primeiros organismos vivos sobre o orbe terreno.

O que se sabe, de modo geral, é que o planeta passou por lentas e diversas transformações e que, provavelmente, a vida surgiu nas águas dos mares, que exerceram a função de "berço fecundo" para manter as primeiras formas vivas. 

Esses minúsculos seres unicelulares se estruturaram nas condições reinantes na Terra primitiva, a partir de substâncias orgânicas preexistentes na atmosfera e na crosta terrestre. O acúmulo dessas substâncias ou moléculas durante milhões de anos converteu os ambientes marinhos numa verdadeira "sopa nutritiva". A partir daí e pela ação laboriosa dos Operários Celestes, teve início a vida na Terra. 

No seio daquelas paisagens rudimentares, no interior das águas mornas dos oceanos primitivos, o princípio inteligente pôde iniciar suas primeiras manifestações sob o domínio e o controle da Onipotência Celeste. 

A formação desse complexo "teatro da vida" se deu através de um longo e contínuo processo evolutivo, que nos permite hoje conhecer as mais diversas formas de seres vivos. E preciso, portanto, que adotemos o ritmo da Natureza, cujo segredo mais precioso é a paciência. 

O ser humano é a própria Natureza adquirindo consciência de si mesma. Por possuir a capacidade de entender racionalmente esse grandioso "espetáculo da evolução", deveria ser o primeiro a perceber que sua perfeita estrutura orgânica resulta da paciente realização da Natureza. 

A capacidade de persistir numa atividade com constância e perseverança é um dos atributos da Natureza. Precisamos aprender com ela a habilidade de equilibrar e realizar tarefas numa silenciosa quietude, pois a impetuosidade e a afobação que muitas vezes demonstramos podem destruir em minutos o que levamos anos para construir. 

Suportemos com calma, tudo que acontece em nossa existência. Procuremos decifrar, aprender e refletir as mensagens enigmáticas que nos chegam através da linguagem da evolução natural. A Natureza não dá saltos - a borboleta não chegou ao que é sem antes ter sido lagarta. 

No entanto, a paciência não é passividade, estagnação, ociosidade ou paralisação. É antes um potencial a ser desenvolvido com serenidade, persistência e constância. Ela permite que possamos descobrir o momento certo de perseverar ou de abdicar de relações, situações, vínculos e atividades que envolvem o nosso dia-a-dia. Os Espíritos Superiores possuem a necessária paciência de revelar certos ensinamentos na ocasião oportuna. Sabem que o processo de amadurecimento e crescimento humano é constante, mas gradual. Eles reconhecem que a cada coisa se deve dar o devido tempo, e que tudo que se diz de forma precipitada pode ser mal interpretado ou não entendido. Por isso, utilizam-se da "natureza evolutiva", levando em conta a condição de tempo, lugar ou modo que cerca e acompanha as pessoas, fatos ou acontecimentos. 

Os Mentores da Codificação disseram a Allan Kardec que os Espíritos "(...) ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desnaturaram, mas que podem compreender atualmente(...)" E justificaram: "(...) Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos, e não dais para um recém-nascido um alimento que ele não possa digerir; cada coisa em seu tempo"(1)  

Nossa impaciência desequilibra os processos internos e externos da Natureza em nós. Atos e atitudes pacienciosas podem mudar nosso modo de ver e enfrentar conflitos. Lembremo-nos de que todo problema contém em si mesmo a "semente da solução". 
 
Quem atingiu a essência do sagrado entendeu que a autêntica religião é, acima de tudo, uma realidade interna, porque expressa as nossas mais íntimas relações com Deus.

O despertar da religiosidade proporciona a paz de espírito. Paciência é um estado de alma em que a criatura não é atingida pelas inquietações ou irritabilidades, visto que se libertou do desassossego e da agitação do ego.

Jung desenvolveu uma teoria fascinante, uma análise notável que contribui efetivamente para aperfeiçoar o comportamento e pensamento humanos.

Desde a infância, ele foi influenciado de forma marcante por questões religiosas e espirituais porquanto seu pai e vários parentes eram pastores luteranos. Estudou e investigou profundamente a natureza humana, dedicando-se também à análise das filosofias orientais e da mitologia.

Jung é considerado um sábio instrutor; estudou medicina, mas jamais abandonou o compromisso de manter o interesse pelos fenômenos psíquicos e pelas ciências naturais e humanas. Foi um psiquiatra por excelência, um missionário que pesquisou os distúrbios da personalidade, contribuindo para o entendimento dos diversos aspectos do comportamento humano e colaborando para o crescimento e enriquecimento das criaturas em sua trajetória de iluminação individual.

Jung, como todo indivíduo que utiliza a lógica, a coerência e a razão, sentiu-se distanciado da devoção religiosa alicerçada no pietismo – afirmação da superioridade da fé sobre a razão. Afastou-se das experiências teológicas e das prescrições litúrgicas de seu pai e de outros parentes, que preconizavam a permanência incondicional pela letra da convenção(1) e foi em busca do espírito de Deus como uma realidade viva.(2)

A religião vai muito além dos limites do intelecto, no entanto não o refuta nem o contesta. A genuína religiosidade não se vincula a nenhuma organização externa; ela nos remete ao despertar íntimo, ao relacionamento com a própria alma.

Da mesma forma, Allan Kardec, como homem de ciência que era, educado em Yverdon, na Escola de Johann Heinrich Pestalozzi – célebre pedagogo suíço e discípulo de Jean-Jacques Rousseau -, asseverou: “não há fé inquebrantável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”. “para crês, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque quer se impor e exige a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio”.(3)

Por isso, o espiritismo não tem a pretensão de ter a última palavra sobre todas as coisas, mesmo sobre aquelas que são da sua competência.(4)

Os Guias da Humanidade disseram a Kardec que “não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades graças à chave que nos dá o espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável”.(5)   

Para Jung, toda criatura traz uma aptidão para a autotransformação, o que ele chamou de individuação, e definiu-a como um processo de desenvolvimento pessoal em que a criatura se torna uma personalidade unificada, ou seja, um indivíduo, um ser humano indiviso e integrado.

A individuação está inteiramente voltada para o equilíbrio entre o ego e o self e para o aprimoramento e interação constante e criativa entre eles.

As criaturas ligadas excessivamente ao sistema ilusório do ego são afeitas a um zelo religioso obsessivo que pode levá-las aos extremos da intolerância. Possuem uma fé cega, o hábito de polemizar com exaltação, visto serem impacientes e inquietas. Exageradamente ajustadas a uma vida impecável, denominam-se pessoas de hábito. Estão presas a este padrão de pensamento: só eu sei como as coisas são ou devem ser feitas.

O fanatismo é filho dileto do ego; é uma adesão cega a uma ideia, sistema ou doutrina. Os fanáticos se irritam facilmente com tudo aquilo que possa ser contrário ao que eles consideram tradicional, imutável e verdadeiro, defendendo um status quo rigoroso quanto à política, à sociedade e à religião.

Religiosos intransigentes, são considerados pessoas dogmáticas. Exigem de si mesmos e dos outros uma vida puritana e de retidão extremada como forma de compensar suas dúvidas indecorosas e seus desejos reprimidos, que eles cultivam, de forma inconsciente ou não, no próprio mundo interior. Baseiam sua maneira de agir em teorias estudos arcaicos e seguem modelos e padrões obsoletos. São observadores literais de leis consideradas como certas e indiscutíveis, e esperam que as pessoas as aceitem sem qualquer questionamento.

Os indivíduos que estão conectados com o self vivem as necessidades do presente e respondem a elas através de uma análise criteriosa das pessoas, dos fatos e dos acontecimentos. Utilizam-se do exame paciencioso e da reflexão sapiencial da consciência para elaborar cogitações sobre a vida e sobre si mesmos.

Por estarem mais sintonizados com o self, conquistaram a fé raciocinada e alicerçada na paz de espírito, na razão e na coerência.

Têm como forma de procedimento respeito aos direitos humanos – de liberdade de expressão, de individualidade, de ir e vir, de intelectualidade, de consciência; enfim, os direitos considerados inerentes ao homem como ser social, independentemente de raça, país, sexo, idade e religião.

São pensadores, versáteis e originais; têm propósitos definidos – buscam alcançar pacienciosamente em seus estudos e reflexões uma síntese racional e lógica a respeito do físico e do espiritual, do real e do imaginário, do indivíduo e da sociedade.



Hammed 








(1) Questão 801 
 
Por que os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o que ensinam hoje?

Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos, e não dais para um recém-nascido um alimento que ele não possa digerir; cada coisa em seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desnaturaram, mas que podem compreender atualmente. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que vai frutificar hoje." 

II Coríntios, 3:6
(2) João, 4:2,4
(3) "O Evangelho Segundo o Espiritismo", capitulo XIX, item 7
(4) "A Gênese", capítulo XIII, item 8
(5) Questão 628
Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo?

"É preciso que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso nos habituar a ela, pouco a pouco, de outra forma ela nos deslumbra. Jamais ocorreu que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que lhe é dado receber hoje. Havia, como sabeis, na Antiguidade, alguns indivíduos possuidores do que consideravam uma ciência sacra, e da qual faziam mistério aos profanos, segundo eles. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles não recebiam senão algumas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e a maior parte do tempo simbólico. Entretanto, não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias umas com as outras, esparsas que estão no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças à chave que nos dá o Espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos  é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudos nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução. 



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