sábado, 13 de março de 2021

Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap. 10 - Aceitação da nossa falibilidade




Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap.  10


Aceitação da nossa falibilidade


"O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações." Lacordaire (Havre, 1863). 0 Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5, item 18.


Quando não aceitamos nossas imperfeições, o sofrimento aumenta, pois a cobrança e a rigidez desenvolvem um campo mental fértil para a mágoa diante da frustração das expectativas, para a insegurança por não conseguirmos controle sobre a vida, para o medo do que pode acontecer por não ter esse controle, para a culpa por não ter conseguido controlar, para a vergonha por não ter alcançado o que gostaria, e para a revolta por tanta luta interior.

Aprisionados nesse redemoinho de emoções, instala-se em nós a baixa autoestima, uma dolorosa sensação de desvalor pessoal. Vivemos um conflito desgastante entre o que somos e aquilo que gostaríamos de ser.

A aceitação de nossa realidade é fundamental para gerir um processo de reforma íntima produtiva e esperançosa, já que o aprimoramento pessoal só flui com naturalidade quando criamos uma relação amigável e pacífica com nossas limitações e deficiências.

Devido à inaceitação da verdade pessoal, podemos afirmar, com pequenas variações de pessoa para pessoa, que em 75% do nosso tempo vivemos mentalmente presos ao passado, 20% focamos no futuro e apenas 5% conseguimos sincronizar-nos com o presente.

Quando vivemos no passado, nos aprisionamos na mágoa. Quando no futuro, escravizamo-nos à ansiedade, e só quando vivemos no presente experimentamos a realidade.

Mágoa é raiva do que aconteceu e ansiedade é medo do que virá. Só no presente podemos experimentar o intercâmbio de forças com a vida que nos alimenta e enriquece.

A raiva do passado é direcionada a alguém ou contra si mesmo. O medo do futuro cria a exaustão de energia na tentativa de controlar os acontecimentos e as pessoas para evitar as imaginárias tragédias ou decepções.

Viver no presente é ser alguém adaptado à realidade e consciente de seu papel pessoal em tudo que lhe acontece, aceitando tudo aquilo que não lhe é possível fazer ou transformar.

A aceitação é uma terapia curativa porque nos mantém emocional e mentalmente alinhados com a nossa realidade, consistindo em uma fonte essencial de saúde e passo seguro para aprender a tratar-se com bondade. Seu maior ensinamento é: farei somente o meu melhor, farei somente o possível.

Só o poder curativo do amor pode criar uma condição interior de melhoria e crescimento espiritual, pois tudo o que você aceita em si próprio fica naturalmente mais fácil de ser transformado em algo melhor.

Tudo aquilo que você resiste ou condena acaba fortalecendo a sensação de impotência e culpa. Sendo assim, a autoaceitação é o primeiro passo para a criação de uma amizade duradoura e rica em favor de nossa paz.

Aceitação não significa que tenhamos de ser sempre do mesmo jeito ou que vamos nos acomodar com aquilo que aceitamos sobre nós. Significa apenas que vamos parar de brigar com nós mesmos, parar de resistir às nossas imperfeições e parar de colocar uma força para controlar a realidade não controlável. Aceitar nossas imperfeições é criar um acolhimento amoroso com nossa sombra pessoal.

Realizar uma transformação interior na condição de inimigos de nós mesmos é um ato de agressividade, um movimento emocional de abrir nossas defesas energéticas. 0 conflito interior fragiliza-nos, reduzindo a imunidade da aura.

Não aceitando, criamos mecanismos mentais de defesa que nos distanciam da realidade e fazem com que desenvolvamos atitudes de negação emocional.

Um excelente exercício para a prática da aceitação é entrar em contato com a fragilidade, com a nossa vulnerabilidade, nossa condição falível.

Aceitai nossa falibilidade pode ser o melhor caminho para viver uma vida com leveza, construindo atos de amor e paz interior. Aceitá-la significa desenvolver honestidade emocional para admitir que fizemos más escolhas e que fomos frágeis em momentos de decisão e ter coragem de olhar para o que sentimos diante dessa realidade. Somente assim podemos responder pelo que somos, pelos nossos comportamentos e sentimentos.

De acordo com as leis do universo, não existem fracassos, mas resultados. Fracasso é uma palavra que inventamos para dizer que as coisas não saíram como gostaríamos. Em contrapartida, resultados são os efeitos possíveis diante de nossos esforços, escolhas e desejos.

Fracasso, falência, derrota e erro são expressões próprias das imperfeições humanas, que, sob uma ótica imortalista, significam a necessidade de recomeço, reexame e melhoria.

Só erra quem tenta, e é melhor que não queiramos somente acertar na vida, até porque o que em muitas situações consideramos correto não passa de uma mera ilusão de nosso orgulho ou de uma distorção de nossas crenças.

Quando nos amamos, enxergamos com mais clareza Deus em nós mesmos, aceitando-nos incondicionalmente e, consequentemente, tratando-nos cada vez mais com carinho e solidariedade.

Ser responsável em assuntos da reforma íntima não significa dar conta de tudo, pois somente cada um de nós pode definir o quanto e o que fazer perante os desafios que nos aguardam na caminhada de superação.

Amar a si é também oferecer ao nosso próximo conhecimento de nossas reais capacidades e estabelecer condições para nos integrarmos por inteiro àquilo que fazemos e ao quanto conseguimos realizar.

Como destaca Lacordaire:

"0 fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações."

Já é muito bom saber que, apesar de nossa fragilidade, as leis protetoras de Deus não colocam fardo mais pesado do que as forças. É também um alento pensar que, mesmo com tantas limitações, resignação e coragem podem alterar todo o roteiro de nossas provas de crescimento.

Ante as sombras da vida mental que insinuam climas pessimistas em nossos esforços, usemos alguns minutos do tempo, pensemos em nossos protetores do bem, cruzemos as mãos sobre o peito num gesto de autoamor e oremos de olhos fechados com resignação e coragem:

Pai, assumo minha fragilidade.

Supra-me para que eu encontre as forças de que necessito.

Abençoa-me para que eu não tombe no desespero ou na amargura, na tristeza ou na irritação.

Permita-me ter hoje um dia melhor que o de ontem, com mais disposição e confiança, com mais serenidade e trabalho.

Dai-me Tua mão generosa, e muito obrigado, Senhor!


Ermance Dufaux







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