quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Irmã Candóca - Livro Páginas do Coração - Chico Xavier - Cartas de Irmã Candóca à Ricardo - Cap. 1 - Uma vida nova desabrochou em meu espírito



Irmã Candóca - Livro Páginas do Coração - Chico Xavier - Cartas de Irmã Candóca à Ricardo - Cap. 1


Uma vida nova desabrochou em meu espírito


Meu companheiro querido, que Jesus nos abençoe em nossos novos propósitos de elevação e serviço.

Sinto-me extremamente satisfeita pela oportunidade de novo entendimento contigo, aqui, neste recinto da caridade cristã e espero em nosso Divino Mestre que as alegrias desta hora persistam em nossos corações, sustentando-nos a disposição de marchar para a vitória do bem.

Realmente, o nosso júbilo é semelhante a um ramo incompleto de flores, porque à distância de nossa fé se agitam os filhos de nosso amor, órfãos da crença viva que ilumina e santifica o Espírito; entretanto, nosso cântico de agradecimento ao Senhor não é menos harmonioso, porque confiamos no futuro que nos reunirá em outro lar no mundo da fraternidade e da luz, onde nossos sonhos de ventura se realizarão, sem lágrimas e sem morte.

Somos felizes, meu querido, porque uma compreensão diferente raiou dentro de nós. A visão espiritual libertou-se e navegamos agora em pleno mar da experiência na direção da família maior, constituída por todos aqueles que lutam ao nosso lado, entre as dificuldades e as dores, entre os desenganos e as sombras do caminho.

Agora, nossos filhos respiram em toda parte. Onde se faça ouvir um gemido de criança abandonada e onde se agite o coração de um velhinho desencantado e abatido, aí se encontram tutelados de nosso amor, em nome do Cristo amoroso e soberano. 

Nossa mais sublime felicidade, hoje o reconheço, não foi aquela dos dias de júbilo terrestre, quando nossas esperanças se concretizavam, depois de trabalhos ingentes, em comum, mas sim a de agora em que nossa alma se inclina para a verdade, à maneira de viajantes sequiosos da fonte cristalina.

Uma vida nova desabrochou em meu espírito e, graças a Deus, a centelha de claridade divina desceu também às profundidades do teu ser e, como sempre, estamos juntos na grande jornada.

Como é doce sentir a tua esperança nesses dias de renovação!

Meu amado companheiro, enriquece a bagagem do bem para que o porto de chegada te ofereça o repouso restaurador.

Maravilhosa é a colheita para o trabalhador que se utilizou do dia para semear com o Cristo de Deus.

A existência na Terra é uma lavoura d’Ele, nosso Mestre e Senhor. 

Os bens e as ilusões se confundem nas cinzas, quando não gastamos os recursos e os anseios do coração na obra salvadora do bem. 

Tenho visto aqui os que sobem descendo e compreendo com exatidão a glória daqueles que descem subindo. 

O mundo vulgar não pode entender o serviço cristão da caridade sem interesse.

É preciso haver lutado e sofrido muito para alcançar o domínio das alturas espirituais, em que descortinamos as verdadeiras lições da vida. 

Não te doa a observação daqueles que ferem por não saber a realidade em toda a sua amplitude. 

Na Terra, nem sempre o conforto abre as fontes da gratidão e do reconhecimento.

Muitos daqueles que mais amamos no mundo se esquecem da Lei Divina, quando a fartura lhes enche a estrada de aspirações satisfeitas. 

É imprescindível desculpar setenta vezes sete vezes, seguindo a recomendação do Mestre, cada ofensa da jornada, a fim de que a serenidade presida os nossos cometimentos redentores.

Sigamos, assim mesmo, entre obstáculos e lutas.

A caridade, para ser genuinamente grande, precisa partir com alguma coisa de nós mesmos, de nossa própria vida. 

E, em nossos corações com Jesus, perdoar sempre os que não nos compreendem para ajudar aqueles que esperam por nós, é serviço espiritual dos mais difíceis, contudo dos mais agradáveis, porque no roteiro do Evangelho é necessário tenhamos a coragem de negar a nós mesmos, tomar a cruz que nos cabe e seguir ao encontro do Salvador Crucificado.

Os espinhos se transformarão em flores e as trevas em luzes.

A experiência e a dor são as mestras da vida.

Desse modo, conto com a tua firmeza de ânimo no esforço da ascensão. 

Cá em baixo imperam o engano e a fantasia que obscurecem os olhos de quase todos, mas a realidade aguarda o momento de demonstrar-se plena à contemplação de cada um.

Estou muito contente com os nossos trabalhos espirituais e permaneço convencida de que prosseguiremos juntos edificando o bem com Jesus, em favor de todos os nossos companheiros de esforço evolutivo. No Centro e em nossa tarefa particular, muito confortadores são os resultados de nossa plantação e peço-te confiar sempre mais em meu carinho e dedicação.

Agradece, por mim, à nossa Maria quanto vem fazendo por nosso bem-estar. Ela representa para o meu coração uma flor de paciência e alegria a cujo devotamento ambos somos cativos pela ternura e pela compreensão com que nos assiste dentro da luta purificadora.

Suplico à Nossa Mãe Santíssima abençoe todos os nossos e abraçando-te com toda a minha alma reconhecida, sou a companheira de sempre que conserva o coração ao teu lado.


Irmã Candóca









Mensagem recebida em 26 de outubro de 1949.


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