sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Manoel Philomeno de Miranda - Livro Tormentos da Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 22 - Lições de sabedoria



Manoel Philomeno de Miranda - Livro Tormentos da Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 22


Lições de sabedoria


Eurípedes Barsanulfo silenciou por breves segundos, logo dando curso aos seus enunciados: 

- Felizmente nos confortam o testemunho de inúmeros heróis do trabalho, os permanentes exemplificadores de caridade, a constância no bem pelos vanguardeiros do serviço dignificante, os ativos operários da mediunidade enobrecida e dedicada ao socorro espiritual, os incansáveis divulgadores da verdade sem jaça e sem prepotência que continuam no ministério abraçado em perfeita sintonia com as Esferas Elevadas de onde procedem. 

Quem assume compromisso com Jesus através da Revelação Espírita, não se pode permitir o luxo de O abandonar na curva do caminho, e seguir a sós, soberbo quão dominador, porque a morte o aguarda no próximo trecho da viagem e o surpreenderá conforme se encontra, e não, como se dará conta do quanto deveria estar melhor mais tarde. 

A transitoriedade da indumentária física é convite à reflexão em torno dos objetivos essenciais da vida que, a cada momento, altera o rumo do viajante de acordo com o comportamento a que se entrega. Ninguém se iluda, nem tampouco iluda aos demais. A consciência, por mais se demore anestesiada, sempre desperta com rigor, convidando o ser ao ajustamento moral e à regularização dos equívocos deixados no trajeto percorrido. Todos quantos aqui nos encontramos reunidos, conhecemos a dificuldade do trânsito físico, porque já o vivenciamos diversas vezes, e ainda o temos vivo na memória e nos testemunhos a que fomos convocados. Ninguém esteve na Terra em regime de exceção. Apesar disso, bendizemos as dificuldades e as provas que nos estimularam ao avanço e à conquista da paz.

"Provavelmente estas informações, quando conhecidas por muitos espíritas, serão contraditadas e mesmo combatidas, porque nunca faltam pessoas que se entregam à zombaria e à aguerrida oposição. Seus estímulos, disse ele, funcionam melhor quando estão contra algo ou alguém. E complementou: “Não nos preocupamos com isso. Cumpre-nos, porém, o dever de informar com segurança, e o fazemos com o pensamento e a emoção direcionados para a Verdade. Como os reencarnados de hoje serão os desencarnados de amanhã, e certamente o inverso acontecerá, os companheiros terrestres constatarão e se cientificarão de visu. Jamais nos cansaremos de amar e de servir, tentando seguir as luminosas pegadas de Jesus, que nos assinalou com sabedoria: — Muitos serão chamados e poucos serão escolhidos. Sem a pretensão de sermos escolhidos, por enquanto apenas pretendemos atender-lhe ao sublime chamado para o Seu serviço entre as criaturas humanas de ambos os planos da vida”. 

Calando-se, visivelmente emocionado, ergueu-se e, nimbado por peculiar claridade que dele se irradiava, exorou a Deus com inesquecível tom de voz: 

“Amantíssimo Pai, incomparável Criador do Universo e de tudo quanto nele pulsa! 

Tende compaixão dos vossos filhos terrestres, mergulhados nas sombras densas da ignorância e do primarismo em que se demoram.

A vossa excelsa misericórdia tem-se consubstanciado em lições de vida e de beleza em toda parte, convidando-nos, estúrdios que somos, ao despertamento para a vossa grandeza e sabedoria infinita. Não obstante, continuamos distraídos, distantes do dever que nos cabe atender.

Apiedai-vos da nossa pequenez e deixai-nos sentir o vosso inefável amor, que nos rocia e quase não é percebido, a fim de alterarmos o comportamento que vimos mantendo até este momento.

Enviastes-nos Jesus, o inexcedível Amigo dos deserdados e dos infelizes, depois de inumeráveis Mensageiros da Luz, ouvimos-Lhe a voz, sensibilizamo-nos com o Seu sacrifício, no entanto, desviamo-nos do roteiro que Ele nos traçou e continua apontando. Tombando, porém, no abismo, por invigilância e leviandade, tentamos reerguer-nos várias vezes, e nos ajudastes por compaixão, sem que essa magnanimidade alterasse por definitivo nossa maneira de ser durante os séculos transatos.

Permitistes que Allan Kardec mergulhasse no corpo, a fim de demonstrar-nos a imortalidade da alma, quando campeava a descrença e a cegueira em torno da vossa Majestade, e também nos fascinamos com o mestre lionês. Logo depois, porém, eis-nos perdidos no cipoal dos conflitos a que nos afeiçoamos, experimentando sombra e dor, esquecidos das diretrizes apresentadas.

No limiar da Nova Era que se anuncia, permiti que vossa luz imarcescível nos clareie por dentro, libertando-nos de toda treva e assinalando-nos com o discernimento para vos amar e vos servir com devotamento e abnegação.

Excelso Genitor, tende piedade de nós, favorecendo-nos com o entendimento que nos ajude a eliminar o mal que ainda se demora em nós, desenvolvendo o bem que nos libertará para sempre da inferioridade que predomina em a nossa natureza espiritual. 

Sede, pois, louvado, por todo o sempre, Venerando Pai!”

Calou-se o orante.

A luz ambiente diminuiu de intensidade durante a oração, ao tempo em que peregrina claridade de luar invadiu o recinto bafejado por acordes harmônicos de harpa dedilhada ao longe com incomum maestria. Simultaneamente, pétalas de rosas coloridas caíam do teto e diluíam-se com delicadeza no contato com os que ali se encontravam. 

As lágrimas escorriam silenciosas e longas pela face de Miranda, confirmando seu compromisso emocional com o dever que jamais desapareceria do seu rumo espiritual. 

O ambiente permaneceu assim, em silêncio profundo por alguns minutos, ouvindo-se o pulsar da Natureza e recebendo-se o inefável amparo divino. 

Lentamente a claridade ambiente retornou e todos se olharam comovidos e felizes. 

Estava encerrado o incomum encontro. 

Despedimo-nos de todos os novos amigos, certo de que voltaria a encontrá-los oportunamente em algum outro lugar na grande marcha para Deus. 

Eurípedes, gentilmente, acompanhou-o à porta, abraçando-o com afeto e colocando a comunidade na qual se encontrava inteiramente à sua disposição, caso viesse a ter qualquer necessidade. 

Beijei as mãos da Entidade veneranda e, com dr. Ignácio e Alberto, retornei ao pavilhão, igualmente despedindo-me de ambos com profunda gratidão, por quanto, ao amanhecer, seguiria de retorno ao lar, jamais me olvidando de tantas graças recebidas e das afeições estabelecidas.

A noite de bênçãos daria lugar a futuros amanheceres de trabalho e de iluminação, que estamos percorrendo com os olhos postos em Jesus, o Amigo por excelência. 


Manoel Philomeno de Miranda

















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