quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Ermance Dufaux - Livro Escutando Sentimentos: A atitude amar-nos como merecemos - Wanderley S. de Oliveira - Cap. 4 - Infortúnio oculto nos grupos doutrinários



Ermance Dufaux - Livro Escutando sentimentos: A atitude amar-nos como merecemos - Wanderley S. de Oliveira - Cap. 4


Infortúnio oculto nos grupos doutrinários


" Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência." (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 13 - Item 4)


Com muita frequência, constatam-se medidas e alertas de vigilância contra o orgulho nos abençoados ambientes doutrinários. Verdadeira campanha espontânea tomou conta da seara em torno dos cuidados que se deve ter acerca dos efeitos nocivos do personalismo. Ninguém há de contestar o valor de tais iniciativas. Entretanto, enquanto empenhamo-nos contra esse costume, perceptível pela ostentação com a qual se manifesta, extensa gama de discípulos padece com outro traço moral enfermiço, nem sempre tão evidente na conduta humana: a baixa autoestima. Um infortúnio oculto que solicita nossa atenção.

A sensibilidade humana tem sido insuficiente para detectar o caos interior em que vivem inúmeras criaturas, escondendo-se por trás das máscaras sociais, temendo tornarem conhecidos seus dramas inenarráveis que configuram um autêntico quadro de "loucura controlada".

A mesma raiz que vitaliza a vaidade é responsável pela carência de estima pessoal. O orgulho que procura brilhar no palco do prestígio, assim como a atitude de desamor a si mesmo, são manifestações do sentimento de menos valia ou complexo de inferioridade, que toma conta de multidões sem conta no orbe terreno.

Podemos facilmente confundir atitudes de baixa autoestima com comportamentos personalistas. Criaturas com escassez de autoamor lutam para preservar suas reais intenções demonstrando, para tal, pouca ou nenhuma habilidade através de atitudes desconectadas de seus verdadeiros sentimentos; adotam condutas defensivas que podem ser interpretadas como individualismo e ingratidão. No fundo se debatem com a incapacidade de estabelecerem limites de proteção ao mundo dos seus sentidos pessoais. Estão em conflito e reagem de modo nem sempre adequado ante aquilo que lhes constitui ameaça, deixando clara a complexidade da alma humana que, para ser entendida em suas ações e reações, solicita-nos ampliada complacência e largo discernimento.

Quem analisa um orador, um médium, um dirigente, um tarefeiro iluminado com as luzes da cultura espírita, enquanto em suas movimentações doutrinárias, não imagina a dor íntima que atinge muitos deles na esfera de suas provas silenciosas no reino do coração. Solidão, abandono, conflitos, medo, frustrações, impotência e outros tantos sentimentos estruturam um dilacerante estado de instabilidade e vulnerabilidade, que retratam velhas feridas evolutivas da alma.

Neste momento de tormentas atrozes e de frustrações sem fim, conclamemos o valoroso movimento em torno das idéias espíritas ao serviço inadiável de incentivar o fortalecimento da estima e do valor pessoal. A casa espírita, como avançado núcleo de enfermagem moral, necessita ser o local da educação para que o homem se livre de suas ilusões e promova-se, definitivamente, a legatário de sua Herança Cósmica. Imperioso que os dirigentes tenham lucidez, porque essa missão somente será cumprida com acolhimento fraternal, estímulo à autonomia, tolerância com os limites alheios e tempo.

Decerto, a idolatria e a purpurina da lisonja são dispensáveis. O privilégio e a exaltação são incoerentes com o espírito da espontaneidade. O Espiritismo, convenhamos, combate a atitude egoísta proposital, exclusivista, mas não propõe a morte dos valores individuais que podem e devem fazer parte da comunidade como fator gerador de bênçãos, alegrias e exemplo estimulador. O receio do estrelato e das manifestações individualistas tem culminado em autênticas "fobias éticas", que não educam nossas tendências. A luz foi feita para iluminar, brilhar.

E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz (1).

Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; (2).

Que os tarefeiros da causa estejam atentos à fala inspirada do codificador: Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Olhemos uns pelos outros com olhos de ver. Muita vez onde supomos existir um doente pertinaz em busca de realce, encontra-se um coração ferido e cansado, confuso e amedrontado mendigando amizade autêntica e compreensão. Possivelmente quando sentir a força do amor que lhes votamos será tocado. Sentindo-se amado, pouco a pouco, terá motivos para abandonar as expressões de inferioridade que lhe torturam. Por fim, descobrirá o quanto somos amados, incondicionalmente, pelo Criador que, em Sua Generosidade Excelsa, nos aguarda no espírito glorioso de Filhos de Sua Obra.

Oremos juntos por esse instante de luz:

Senhor,

Tem piedade das nossas necessidades!

Auxilia-nos a sustentar o perdão com as imperfeições que ainda carregamos na intimidade.

Ensina-nos a nos amar, Senhor! A aceitar-nos como somos e a buscar a melhora gradativa. Fortalece nossa capacidade de amar a fim de estendermos a luz da compaixão em relação às falhas que cometemos.

Estende-nos Tuas mãos compassivas! Unge-nos com misericórdia as dores da angústia de viver trazendo por dentro as sombras do passado!

Ampara-nos, Divino Pastor, para jamais esquecermos as vitórias já alcançadas. Que elas nos sirvam de estímulo!

Ante as lutas e conflitos da alma, abençoe-nos sempre, Senhor, para que nunca desistamos de combater-nos.

Obrigada, Jesus, por nos incluir em Teu amor infinito, sem o qual não teríamos forças para nos suportar.

Obrigada, Senhor! Hoje e sempre, obrigada!


Ermance Dufaux




(1) Lucas 8:16
(2) Mateus 5:14











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