quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Manoel Philomeno de Miranda - Livro Atendimento Fraterno - Divaldo P. Franco - Cap. 1 - Entrevista com Divaldo Franco




Manoel Philomeno de Miranda - Livro Atendimento Fraterno - Divaldo P. Franco - Cap. 1


Entrevista com Divaldo Franco


José Ferraz: — Qual a utilidade doutrinária do serviço de Atendimento Fraterno na Casa Espírita?

Divaldo: — Receber as pessoas, orientando-as quanto às possibilidades de que a Casa dispõe em forma de recursos que são colocados às ordens daqueles que vêm até ao núcleo de iluminação espiritual, encaminhando os que têm problemas para receberem as respostas pertinentes às suas necessidades e, por fim, fazendo o trabalho educativo e fraternal de bem conduzir todos aqueles que batem às portas da Instituição Espírita. 

João Neves: — É benéfico para as pessoas que recorrem à terapia dos passes serem, antes, assistidas e orientadas pelo atendente fraterno?

Divaldo: O Atendimento Fraterno é uma psicoterapia que modifica a estrutura do problema no indivíduo que se acerca da Casa Espírita com idéias que não correspondem à realidade. 

Pode-se dizer que, desse contato pessoal que antecipa o passe, muitas vezes o cliente já se beneficia, sendo até mesmo desnecessária a aplicação da bioenergia. 

Vivemos numa sociedade que padece conflitos psicossociais, sócioeconômicos, comportamentais, cujos indivíduos têm necessidade de fazer catarse. Como o atendimento psicanalítico é muito caro e muito prolongado, no Atendimento Fraterno o indivíduo tem a oportunidade de abrir a alma ao bom ouvinte, que o pode orientar com segurança e demitizar o significado do passe. 

Como é natural, a desinformação atribui ao passe um caráter de natureza miraculosa, o que tem levado algumas pessoas menos esclarecidas a estabelecer o número deles para a solução de certos problemas, o que não deixa de ser um equívoco, porque se poderá aplicá-los em número infinito e, se o paciente não se transformar interiormente, de nada adiantará a terapêutica. Se ele não se abrir para assimilar as energias, faz-se semelhante a uma pedra granítica que, apesar de estar mergulhada em águas abissais por milhões de anos, ao ser arrebentada encontra-se seca interiormente.

José Ferraz: — Quais são os requisitos indispensáveis para que uma pessoa, na função de atendente fraterno, possa sintonizar com os Bons Espíritos?

Divaldo: — A condição essencial é a boa moral. Do ponto de vista espiritista o requisito moral do indivíduo é relevante, imprescindível. Utilizamo-nos de um brocardo popular: “Diz-me quem és e eu te direi com quem andas; diz-me com quem andas e eu te direi quem és”.

Ir a Deus através da prece é outra condição, pois se abrem os canais psíquicos para uma perfeita sintonia com o Mundo Espiritual que nos assiste no atendimento às criaturas da Terra.

Além desses caracteres essenciais, além dos valores morais, é imprescindível o conhecimento da Doutrina Espírita.

Não se pode propiciar um bom atendimento fraterno na Casa Espírita, sem que se conheça o Espiritismo, o que seria paradoxal, falando-se de uma coisa com a qual não se está identificado.

O conhecimento amplo da Doutrina Espírita é um requisito que tem caráter primacial, porque a pessoa irá falar a respeito daquilo que é a essência da Doutrina a fim de que o cliente recém-chegado se inteire do que pode conseguir.

Um bom tato psicológico é necessário. A capacidade de saber ouvir é valiosa, porque o cliente, normalmente, quer falar. Na maioria das vezes, não deseja ouvir respostas, quer “desabafar”, como muitos o afirmam, porque, na falta de uma resposta para o problema, ele necessita de alguém que o ouça. Então, o atendente deve possuir esse tato psicológico para dar oportunidade ao visitante de liberar-se do conflito. Evitar, quanto possível, que ele fale de questões íntimas, de que se arrependerá depois, quando passar o problema.

O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome diz, é um encontro, no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer tipo de carência.

Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão que seja inconveniente e interromper o cliente na hora própria, a fim de que não se alongue demasiadamente, gerando um “élan” de afinidades entre o terapeuta do atendimento e aquele que o busca, evitando produzir-se o que, às vezes, ocorre entre o psicoterapeuta convencional e o seu paciente.

O atendente fraterno deve manter-se em condição não preferencial por pessoas, numa neutralidade dinâmica, como diria Joanna de Ângelis, porque todos são iguais — diz a Justiça — perante a Lei. A todos, então, que tem problemas e nos buscam, deveremos atender com carinho, sem preferências, sem excepcionalidades e sem absorvermos o seu problema, para que ele não se torne um paciente nosso e não transfira todos os seus desafios para nossa residência. Não poucas vezes, o mesmo perguntará: — Quando eu tiver um problema posso telefonar-lhe? — Não — será a resposta — em casa eu tenho outros compromissos; você virá quando necessitar, aqui ao Atendimento.

João Neves: — Pessoas há, que embora interessadas nas orientações do Atendimento Fraterno, estão tão presas às idéias fixas, que dificultam a absorção da orientação. Como fazer, para ajudá-las a desviar essas fixações?

Divaldo: — Deixar, primeiro, que falem. O primeiro encontro é sempre muito difícil. A pessoa vem com muitas idéias que não correspondem à realidade; ou vem céptica, e fala com certa indiferença; ou vem fascinada pela hipótese de ter o problema resolvido no primeiro encontro. Então acha que pelo fato de estar numa Casa Espírita, os seus problemas já não mais irão afligi-la.

Essa pessoa, no momento em que começa a falar, deveremos deixá-la expor a sua dificuldade por alguns instantes e, logo depois, interrompê-la, informando-a: — Agora você vai me ouvir.

Se a pessoa insistir, afirmaremos: — Você não veio para me doutrinar, mas sim para pedir conselhos, que eu vou lhe dar. Agora vai depender de você aceitá-los ou não — evitando assim, que a pessoa transforme o Atendimento Fraterno num rosário de queixas. Poderemos dizer também: — Até aqui a sua vida foi dessa forma; neste momento abre-se-lhe uma etapa nova. É necessário que você me ouça, para poder ver as possibilidades que estão ao seu alcance. Agora pare, e ouça as sugestões que tenho e que são induções simples. Joanna de Ângelis, a nossa Mentora, diz o seguinte: — Tudo começa no pensamento. Toda vez que um pensamento for perturbador, substitua-o por outro que seja positivo.

Se a criatura disser: — Mas, eu não posso...

Responderemos: — Você não quer; mas é o quanto nós lhe podemos dar; além disso, não lhe prometemos nada. Não lhe oferecemos aquilo que não podemos doar, porquanto não estamos aqui para enganar as pessoas.

Evitar-se, ao máximo, essas expressões de natureza prodigiosa, que martirizam o paciente, dando-lhe informações que ele não tem capacidade para digerir.

Diante de uma pergunta: - Será que eu sou obsidiado? — responda-se com honestidade: — Não sei.

— Será que existem comigo obsessores?

— Eles só estão em contato conosco, porque estamos em sintonia com
eles...

Evite-se, tanto quanto possível, aumentar-lhe a carga de aflições com informações indevidas ou que podem não corresponder à realidade.

José Ferraz: — Os bons Espíritos ajudam as pessoas que buscam o Atendimento Fraterno? De que forma? Fale, particularmente, sobre a desobsessão na nossa Casa.

Divaldo: — Todo aquele que sobe a um planalto, mesmo que não se dê conta, aspira oxigênio puro; quem desce ao vale, onde existem pântanos e matéria em decomposição, mesmo que o não perceba impregna-se de miasmas. A Casa Espírita é o planalto no qual podemos comungar com Deus. É o oásis refrescante na severidade adusta da terra sáfara. É a ilha generosa no oceano tumultuado das paixões. Quando alguém se adentra pela Casa Espírita — e aqui fazemos uma generalização, estendendo a qualquer templo de fé religiosa — é amparado pelos Espíritos que têm ali a tarefa de preservar o nome de Deus, o Seu valor diante das almas e, no caso específico do Cristianismo, a presença de Jesus, que prometeu nunca nos deixar órfãos.

Quando chegamos à Casa Espírita, as Entidades benevolentes e caridosas dispõem de Espíritos outros que se encarregam de vigiar, de proteger o recinto humano e o espiritual. Fazem programas, utilizando-se de Entidades com capacidades magnéticas para impedir a entrada de outras, perturbadoras, obsessoras, assim também de pessoas que causam transtorno, tumulto e generalizam desequilíbrios, o que é patente em nossas Casas, como noutras congêneres.

A nossa Instituição tem as portas abertas a quem quer que seja, e todos somos testemunhas de que jamais aconteceu qualquer coisa desagradável, face à massa que a frequenta, e que pode trazer psicopatas, dependentes químicos de drogas, de álcool, desajustados, porque as defesas magnéticas estabelecidas, de alguma forma impedem-lhes a entrada, da mesma forma que as defesas espirituais impossibilitam a penetração de Espíritos perversos que, às vezes, estão acompanhando os seus hospedeiros. Eis porque, aí já começa a desobsessão...

A presença dos bons Espíritos e o atendimento que fazem logo modifica a estrutura psíquica dos pacientes, afastando as Entidades malévolas que os irão aguardar à saída, fora dessas defesas magnéticas.

Quando os visitantes saem tumultuados, ansiosos para voltar a casa e recuperar os pensamentos negativos com os quais vieram — e momentaneamente os deixaram, ouvindo a palestra ou recebendo a orientação — volvem às viciações psíquicas, e assim atraem, de retorno, os seus comparsas, prosseguindo o problema.

Essa é uma desobsessão coletiva.

Nas conferências, nas aulas, em quaisquer instruções dignificantes, enquanto o público se concentra na proposta elevada, os bons Espíritos aplicam energias corretivas, libertadoras, naqueles que estão vinculados à ideia superior, realizando, desse modo, igualmente, a terapêutica desobsessiva.

Em nossa Casa, em particular, e em outras, no sentido genérico, os Benfeitores, ao verem o paciente que veio para o Atendimento Fraterno, observando a sua carência real, a sua angústia, a sua honesta necessidade de mudar, anotam quais os perseguidores que os afligem, e trazem-nos, em particular e discretamente, às sessões mediúnicas para tratamento desobsessivo.

Eles me apresentam verdadeiros livros onde registram os endereços das pessoas que pedem visitas, e as atendem. Determinam Espíritos que acompanham aquelas que pediram socorro, e que permanecem por longo período ao lado delas. Mesmo que qualquer uma mude de ideia, o seu acompanhante continua dando-lhe assistência até o momento em que o quadro se modifique.

Aquele Espírito assistente torna-se o comunicador das Entidades que mourejam na Casa Espírita e que passam a ter conhecimento de como vai o processo de recuperação do cliente, que antes veio pedir socorro.

Isso começa, portanto, quando nos adentramos na Casa Espírita ou noutro templo de fé, mais particularmente quando nos encontramos em atendimento fraterno, porque os bons Espíritos estão acompanhando-nos e, percebendo a gravidade, maior ou menor, de nosso problema, removem aqueles Espíritos perturbadores e os trazem à doutrinação.

Ocorre, com muita frequência entre nós, essa doutrinação sem a presença do paciente, o que é perfeitamente compreensível. Estar ali participando não é necessário para a sua recuperação, impondo-lhe assistência à reunião mediúnica.

Desse modo, o Atendimento Fraterno também tem o caráter de desobsessão lúcida, porque o atendente funciona como doutrinador e o paciente como beneficiário.

João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?

Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec. O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros distúrbios em nossa área espiritual. É o egoísmo que responde pela nossa agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos proprietários uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e desprezível; a revolta e, consequentemente, a cólera fulminante, que abre espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.

Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais facilidade, porquanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas. Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas, malévolas, tendo início aí os processos de obsessão.

A Psiconeuroimunologia identificou que possuímos na saliva uma enzima que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina.

O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios.

Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o a mercê das doenças.

Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque, quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se útil; o individuo esquece seus próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios.

Quando começamos a amar, a vida irradia a paisagem, que se apresenta enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume de aflições que desgovernam o mundo.

Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos afirmaram que Ele sempre atendia o as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar, mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os recursos para diminuir os sofrimentos humanos.

José Ferraz: Esta pergunta foi elaborada por Suely Caldas Schubert: Como conduzir a orientação a uma pessoa que já tentou o suicídio algumas vezes e persiste na mesma ideia? Deve-se, de alguma forma, dizer-lhe quais as consequências funestas do seu ato infeliz ou ser-lhe compreensivo e consolador?

Divaldo: — A melhor maneira de consolar é advertir quanto aos riscos que advêm como consequências dos nossos atos impensados.

Consola-se, quando se esclarece.

A melhor forma de consolar alguém é arrancá-lo da ignorância, educá-lo.

Allan Kardec faz uma abordagem, em “O Livro dos Espíritos”, que é excelente, ao referir-se à tarefa da educação, elucidando que os males humanos decorrem da predominância dos instintos agressivos, que se sentem repelidos, como diria o psicanalista Alfredo Adier, e devem ser superados através dos métodos morais disciplinadores.

Allan Kardec se reporta à educação moral. É necessário dizer ao paciente que ele tem o direito de interromper a vida física, mas que esse ato lhe trará tais e quais consequências inevitáveis.

Ele está sofrendo hoje angústia, desesperação, sente soledade, incompreensões, como colheita dos atos imprevidentes de ontem. Se complicar a atual existência com uma atitude de revolta contra Deus, a sociedade e a si mesmo, as suas penas e aflições serão muito maiores. É, portanto, perfeitamente lícito e necessário dizer-se com doçura, para não parecer que lhe estamos prometendo um castigo — como fazem algumas doutrinas do Deus terror — que o agora é colheita de uma sementeira infeliz, e que ele está tendo a opção de superar o drama ao invés de entregar-se ao suicídio, uma opção cujas consequências serão muito mais funestas.

João Neves: — Diga-nos uma postura adequada a assumir diante das pessoas que se veem assinaladas por desvios da sexualidade, conflitadas com essa problemática.

Divaldo: — A postura da bondade, mas não da intimidade; compreensão, mas não conivência; espírito fraternal, mas sem estímulo ao prosseguimento do comportamento que não corresponde à ética estabelecida pela Doutrina Espírita.

O indivíduo tem direito à sua opção sexual ou a qualquer outra, pois este é seu livre-arbítrio, mas não tem o de nos obrigar a concordar com ele, de exigir que estejamos ao seu lado, a fim de que tenha uma escusa para continuar no vício.

A proposta do Espiritismo é erguer, jamais de contribuir para que se venha permanecer numa atitude cômoda, sem esforço, e de grandes prejuízos para o ser espiritual que somos, na jornada carnal em que estamos.

A continência e a fidelidade aos outros; o que não gostaríamos que nos fizessem, não lhes façamos.

Assim, a melhor atitude para acabar com o erro, é a conservação da virtude.

O melhor caminho para fazer cessar a agressividade social, é a paz de espírito, que luariza a violência e modifica a estrutura do agressor.

Seja qual for, portanto, o tipo de desvio do comportamento sexual, moral, ético, espiritual, que nos seja apresentado, a nossa atitude é terapêutica, sem conivência, repito, sem anuência, sem reproche, porque o indivíduo tem o direito de fazer da sua vida o que lhe aprouver; mas temos o dever de mostrar-lhe o caminho correto que deve seguir.

José Ferraz: — É recomendável sugerir tratamentos médico ou psicológico para o atendido? Em que circunstâncias?

Divaldo: — Quando o paciente traz um problema na área da saúde, a primeira pergunta deve ser: — Está recebendo assistência médica? — Porque o Espiritismo não é uma Doutrina que combate a Medicina, como muita gente pensa, e como durante um largo período os médicos supuseram, face ao comportamento irrelevante de alguns indivíduos que se diziam espíritas ou curadores e ficariam melhor colocados como curandeiros.

Allan Kardec escreveu que: “O Espiritismo marcha ao lado do progresso, aceita tudo quanto ele comprova, mas não se detém onde a Ciência para, porque a Ciência estuda os efeitos e o Espiritismo remonta às causas”.

A função do Espiritismo não é curar corpos, mas animar o homem, a fim de que se autocure espiritualmente, e a saúde seja-lhe uma conseqüência da própria transformação moral.

Daí, é perfeitamente válido, e mesmo compreensível, que o atendente pergunte: — Tem recebido assistência médica? — quando o mesmo se encontre enfermo — e dizer-lhe mais: — Não abandone o seu médico, porque o Espiritismo irá também ajudá-lo, através dele, a resolver o problema.

Nos casos de natureza psicológica, nos distúrbios comportamentais, nos transtornos neuróticos e psicóticos, é justo que se pergunte também: — Já consultou o especialista? — Porque pessoas há, que ficam muito magoadas quando falamos as palavras psiquiatra e psicólogo.

Se ele indagar: — De que especialidade?

Responder-se-á: — Do problema que o está afligindo: o psicólogo, o psicanalista, o psiquiatra, porque, hoje a Psiquiatria, a Psicologia e a Psicanálise não têm somente a exclusiva finalidade de tratar doentes, mas de evitar as doenças que lhes são pertinentes.

Sendo possível, todos deveremos, periodicamente, consultar um psicólogo, um psiquiatra. Da mesma forma como realizamos um “check-up” para o organismo físico, deveríamos fazê-lo também para o comportamental, o psicológico, o psíquico, evitando determinados distúrbios que começam sutilmente e que se podem agravar, até mesmo na área da senilidade, quando ultrapassamos determinada faixa de idade.

É válido que se sugira assistência médica, mesmo porque, em caso de agravamento do problema, ninguém pode culpar-nos de havermos negligenciado com os deveres da assistência especializada.

João Neves: No Atendimento Fraterno temos observado um medo acentuado nas criaturas humanas: medo de doença, medo da morte, medo de feitiço, medo de assumir compromissos mediúnicos em clima de respeitabilidade. Fale-nos um pouco sobre isso.

Divaldo: — A desinformação é inimiga do progresso. A desinformação é pior do que a ignorância total, porque a informação equivocada, a meia verdade são mais perigosas do que a mentira. Infelizmente, grassa em nossos arraiais a meia verdade. Existem aqueles que se comprazem em transformar a mediunidade em um instrumento divinatório, O fato de ser médium dar-lhe-ia o poder de saber tudo, de entender tudo e de resolver tudo. E uma meia verdade, O médium, como o nome diz, é instrumento, aquele que se encontra no meio.

Quando assimila a informação de que se faz objeto, torna-se instrumento lúcido; quando apenas transmite sem consciência, é instrumento automático que não lucra, que não se beneficia com a oportunidade de que desfruta.

Alguém, um dia, me disse: — Conversando com Chico Xavier, notei que ele é muito culto, que fala escorreitamente, que não comete erros gramaticais nem prosódicos, e que tem informações muito seguras; no entanto, dizem que ele tem apenas o curso primário.

Respondi-lhe: — É verdade. Ele fez o curso primário dentro da proposta convencional, mas consideremos que, desde criança, ele dialoga com os Mestres, os Espíritos nobres que vêm à Terra, e não apenas se expressando na língua brasileira, porque viveram aqui no país, mas também Espíritos de escol nas áreas da Ciência, da Filosofia, das Artes... É toda uma existência de constante aprendizagem. Quando psicografa, filtra a mensagem dos Espíritos, depois a lê, a datilografa, relê, envia-a em livro, que termina por receber, voltando a inteirar-se do seu conteúdo. É natural que aprenda.

Ele não pode ser tão rústico quanto nós. Se aprendemos o que os Espíritos escrevem por seu intermédio, lendo-lhe os livros, é óbvio que ele próprio os lendo muitas vezes, conhece-os mais do que nós. Ademais, ele interroga aos Autores, que lhe apresentam adenda, que lhe trazem esclarecimentos mais complexos, e que lhe dizem coisas que não estão escritas. Desse modo, Chico Xavier não é somente uma pessoa bem informada, é um sábio, porque oculta a sua sabedoria, evitando constranger a nossa ignorância.

É natural, portanto, que nesse trabalho do Atendimento Fraterno procuremos iluminar a própria consciência, quanto possível, oferecendo aos indivíduos uma visão qualitativa, principalmente do que a Doutrina Espírita é,
do que lhes está reservado, para que, naturalmente, esclarecidos, mudem de comportamento para melhor.

Essa conquista iluminativa podemos haurir no estudo da Doutrina, na convivência com os Bons Espíritos, nos diálogos que mantemos uns com os outros, e ademais, na sintonia permanente que deveremos preservar depois que o Atendimento Fraterno termina e vamos para casa.

José Ferraz: Como conduzir a orientação para uma senhora casada que adulterou e arrependeu-se; no entanto, o seu parceiro continua com a atitude persistente de dar continuidade à ligação irregular, inclusive, ameaçando-a de contar ao marido.

Divaldo: Todos desfrutamos do direito de errar, mas temos o dever de recuperarmo-nos. Se a pessoa não teve resistências e assumiu um compromisso extraconjugal, ao despertar do problema, que tome a atitude rigorosa de interrompê-lo. O Evangelho fala com clareza que, caindo em si, Simão Pedro percebeu o grande erro de haver negado Jesus. Reabilitou-se entregando-Lhe toda a vida; e caindo em si, Maria de Magdala identificou o abismo em que se encontrava, e ergueu-se, tornando-se a grande mensageira da ressurreição; e caindo em si, Judas não teve resistência, cometendo um crime pior: o suicídio...

A pessoa que caí em si, deve assumir as consequências do seu ato, e não voltar a tombar.

Não se trata de uma teoria; é uma terapia.

Se houver ameaça por parte do explorador, diga-se-lhe: - Muito bem, que a cumpra, e se fique em paz, evitando-se prosseguir na fossa da degradação, pois que, o chantagista, além de venal, é perverso.

A mulher estava enganada e despertou, não mais entrando na sombra.

Nossos erros poderemos resgatá-los hoje, amanhã ou mais tarde. sempre é tempo de fazê-lo. Se o adúltero levar ao conhecimento do esposo, e ele cobrar, que ela tenha a lealdade de dizer: Infelizmente, é verdade até
determinado ponto; agora não é mais. — Tome ele a atitude que lhe convier, porque ela já tomou a sua: mudar de vida para melhor, com o direito de reabilitar-se.

Se o ofendido a abandonar, o problema, agora, será dele.

Porque se esteja sob ameaça, não é justo continuar corrompendo-se mais.

João Neves: Como atender a uma pessoa que esteja no limiar entre a lucidez e o desequilíbrio? Têm acorrido à nossa Casa pessoas nas suas últimas resistências.

Divaldo: — Dizer que, quando queremos, podemos. Estimulá-la a mudar de paisagem mental.

Todo aquele que está fraquejando emocionalmente. fixa em demasia os seus conflitos, gerando uma psicosfera de autocompaixão. A autocompaixão é um drama tão grande, quanto a indiferença de sentimentos, porque, na autocomiseração o indivíduo somente vê a sua desgraça e não a contribuição dos valores que estão ao seu alcance, aguardando-o.

Na área da Psicologia, fala-se que há uma tendência muito maior de conservar a tristeza do que a alegria, a dor ao invés do bem-estar. E um comportamento masoquista.

As nossas alegrias são muito rápidas e as nossas tristezas muito demoradas, porque nós gostamos mais da tristeza. As nossas alegrias parecem que não nos saciam e queremos mais. Determinada coisa de impacto ou de felicidade, algumas horas depois, já não nos preenche tão plenamente. Mas, uma contrariedade, um insucesso, marca-nos tão profundamente que ficamos a reniti-lo mentalmente. o que faz que se imprima cada vez mais em nosso inconsciente profundo.

Quando passarmos a coletar as alegrias e a não dar valor aos desconfortos, às vicissitudes, enfrentaremos os problemas com mais naturalidade. Achamos, porém, que vida feliz é a daquele que tem dinheiro, que vive o prazer. Isto, no entanto, é uma vida sensualista, no sentido de gozo incessante.

Na hora em que compreendermos que gozo não é felicidade, e que prazer é uma questão que diz respeito às sensações, sendo felicidade aquilo que afeta às emoções profundas, encararemos as vicissitudes como acidentes de percurso, porque a nossa meta é a plenitude.

Marcam-nos mais a tragédia, o sofrimento, do que a felicidade e a harmonia.

Observe-se que o indivíduo, portador de uma vida extraordinariamente correta, ao cometer um erro, isso é o que passa a ressaltar nele a partir daí. Um grande cantor, como Pavarotti ou outros, amados no mundo inteiro, se um dia, num concerto, criaturas humanas que são, tiverem qualquer distúrbio de voz, um erro de compasso, a nota não alcançada, perdem todo o valor, como se eles fossem robôs sem direito de se permitirem fragilidades. Assim, também, todos somos medidos, não pelas nossas virtudes, mas pelos nossos erros.

A imprensa, a mídia, vive disso, porque raramente se apoia nas ocorrências felizes, sustentando-se com a divulgação das questões que corrompem o coração.

Temos que dizer à pessoa: — Você está no limiar, o que é bom, porque ainda não caiu. Você se encontra no mínimo das suas reservas, o que é muito bom sinal, ainda tem reservas; considere aquele que já tombou...

Joanna de Ângelis sempre me diz: — Quando vires alguém com os pés sujos de lama, não acuses o descuidado, pois que ele acaba de sair do pântano. Preocupa-te com aqueles que têm os pés limpos, correndo o perigo de se adentrarem nele e enfrentarem dificuldades para sair.

Então, digamos a essa pessoa: — Você está quase entrando no pântano. A prova que você tem força é o desejo de continuar caminhando.

Particularmente, procuro fazer o que me é possível para me desincumbir das tarefas. Chega o momento em que eu digo: — Agora, meu Senhor, é com o Senhor, porque a minha parte já fiz; e tiro da cabeça o problema. Se Ele não o resolver, é porque não deveria ser resolvido. Não vejo motivo para me amargurar.

Lembro-me do Abade Pierre — o que fundou as Comunidades de Emaús — que elegeu o seguinte “slogan”: “Eu sempre pensava, nas horas de perigo e de problemas, que chamando por Deus e Ele ouvindo, ia chegar cinco minutos depois da tragédia. Mas sempre que passava o desafio, me dava conta que Deus chegava, pontualmente, cinco minutos antes”.

Digamos a essa pessoa: — Chame por Deus! Vá para casa, pensando que tudo vai dar certo, e, se não der de imediato, continue pensando que irá acontecer, porque sempre há uma nova oportunidade.

Certa feita, atendi a uma paciente que me disse: “Senhor Divaldo, a pior coisa que me poderia acontecer era morrer, e eu acho que eu vou morrer!”

Respondi-lhe: — Aleluia! Felicidade para você. Imagine se você fosse eterna nesse corpo... Claro que você vai morrer, vai se libertar desse corpo, qual ocorrerá comigo e com todos. É a melhor coisa que lhe vai acontecer. Agora, a pior coisa que nos pode acontecer é matar alguém, porque é crime. Mas, você morrer, é perfeitamente normal.

A pessoa redarguiu: — “Sabe que eu não tinha pensado nisso?”

E conclui: — Está na hora de começar a pensar.

José Ferraz: — Deve-se atender pessoas alcoolizadas, drogadas ou em desequilíbrio mental? Como proceder nesses casos?

Divaldo: — Não se deve atender tais casos nessas circunstâncias. A pessoa não tem como absorver respostas. Dialogar com a família, oferecer ao familiar acompanhante as técnicas de como conduzir o paciente, e, quando o mesmo estiver em condições de ouvir, que venha ao diálogo. Porque, no estado de consciência alterado por drogas, álcool ou por alucinações outras, ele não tem a menor possibilidade de assimilar palavras ou energia, ou alguma proposta terapêutica; mas, o acompanhante, sim.

Normalmente, nesses casos, digo: Gostaria de falar com uma pessoa da família, para que a mesma oriente o enfermo. Porque o contato conosco será breve, mas, no lar, se fará demorado.

Então é necessário instruir o familiar, a fim de que possa ministrar a orientação, assim prolongando-a.

João Neves: — O Atendimento Fraterno é uma relação de ajuda que está presente em todas as atividades da vida. Na família, na rua, no trabalho. Fale-nos alguma coisa que seja do interesse geral para todos nós, e aproveite para concluir este trabalho, porque esta é a última questão.

Divaldo: — Somos modelos, queiramos ou não. Todos somos exemplos uns para os outros. Nossos pensamentos, palavras e atos são mensagens que dirigimos e que são captados por aqueles que se encontram na mesma faixa mental, atraindo-os. “O nosso pensamento — disse-nos Joanna de Ângelis, ontem à noite, em uma mensagem psicográfica — é um dínamo gerador de forças”. De acordo com o teor ou a qualidade da sua mensagem, produz asas que nos alçam ao infinito ou pesos que nos chumbam às paixões.

O Atendimento Fraterno é uma área de semeadura perante a vida. Estamos sempre oferecendo mensagens de alegria ou de tristeza. Essas mensagens podem tornar-se verbais, depois de mentalizadas, e podem ser de movimentos, de postura e de interesses outros.

É necessário compreender que estamos no mundo para nos desincumbir de uma tarefa essencial, que é a construção de uma nova sociedade, que será resultado da edificação de nós próprios no nosso mundo íntimo. É muito comum, àqueles que amam, terem o cuidado de não transmitir suas aflições às pessoas queridas.

No Atendimento Fraterno, nesse intercâmbio amigo, as vibrações irão encharcar ou aliviar aquele que tem facilidade de captá-las. Estamos na Terra para este mister — ajudar — e é por isso que o Centro Espírita, utilizando-se desse inter-relacionamento pessoal, elege pessoas credenciadas, para que, tecnicamente, apliquem o Atendimento Fraterno de maneira edificante.

Somos mensagens vivas, transparentes; estamos sempre emitindo ondas e captando-as, porque somos antenas transceptoras. De acordo com o tipo de mensagem que emitirmos, receberemos resposta idêntica, sendo por essa razão que o Evangelho nos adverte: Vigiar e orar para não cair em tentação; vigiar, é pôr-se numa atitude positiva, dinâmica, de construção do bem dentro de si mesmo. Não se trata de uma conduta mística, alienada, que não seja compatível com o progresso da cultura nem da civilização hodiernas. Orar não é estar a repetir palavras, porém, agir.

Alguém reage contra mim, problema dele; quando eu reajo contra alguém, problema meu. Então teremos a capacidade de agir, porque somos seres que raciocinamos, e toda vez que reagimos, voltamos à faixa do instinto agressivo. Só reagimos porque nos sentimos feridos, magoados, egoisticamente alcançados. Quando agimos, nos realizamos, porque, mesmo diante do malfeitor, daquele que nos agride, assumimos uma postura de paz, sabendo que a nossa mensagem vai fecundar...

— Mulher, ninguém te condenou? Perguntou Jesus àquela que foi surpreendida em adultério e levada à praça pública.

Ela, olhando em derredor, deu-se conta que já não havia ali nenhum dos acusadores, que se afastaram na ordem decrescente de idade, dos mais velhos para os mais jovens, já que o Mestre propusera que aquele que estivesse isento de culpa ou de pecado que atirasse a primeira pedra. Como os mais velhos, por certo, deviam ter mais pecados que os mais novos, eles, os mais idosos, se foram, e ante a sua surpresa, que não mais estava sendo acusada por eles, nem condenada por Jesus, interrogou-O: — “E agora, Senhor?”

— Vai e não tornes a equivocar-te; não voltes a emaranhar-te no cipoal das paixões, porque até há pouco ignoravas a verdade, tinhas pouca responsabilidade, mas, a partir deste momento, sabes, és consciente, e as tuas responsabilidades são muito maiores.

Na proposta de Jesus, diante da mulher surpreendida em adultério, Ele não anuiu com o erro, não reprochou, porque a sua tarefa não era a de perdoar ou de condenar, mas a de orientar, educar. E foi exatamente o que Ele fez, pedindo que ela não voltasse a pecar.

Assim, a Doutrina Espírita nos propõe o despertar da consciência, para que, com a consciência lúcida, não repitamos as nossas insensatezes, os nossos erros, porque a vida real, legítima, é a espiritual.

Informam-nos os Espíritos nobres, sem nenhum masoquismo da parte deles ou da nossa, que vale a pena sofrer um breve período para desfrutar de plenitude por uma larga etapa. As dores da Terra, por mais longas, são sempre muito curtas, no relógio da eternidade. Um corpo vencido por enfermidades desgastantes, dilacerado por processos degenerativos, é uma bênção de Deus, e, mesmo quando ultrajado e vencido, é o instrumento da nossa elevação. Uma vida social de desafios, de dificuldades econômicas, de exílio na comunidade, e até mesmo na solidão, é o caminho reparador, a nossa oportunidade de ascese através de cujo roteiro atingiremos o planalto da sublimação.

Não estamos na Terra por acaso. A nossa vida é programada. O psiquismo Divino está dentro de nós. Ele se desenvolve, ele se agiganta. O Deotropismo nos atrai; a Misericórdia Divina espera por nós, e, à medida que nos vamos conscientizando, cumpre-nos o dever de realizar a transformação íntima, a fim de lograrmos a realização para a qual estamos encarnados.

Bendigamos pois, as dificuldades que nos visitam; aceitemos os desafios do sofrimento que nos chega e procuremos uma maneira dinâmica para mudar a estrutura dos acontecimentos, a fim de que paire, em um momento que não está muito distante e que certamente não será de imediato, a presença do amor que nos alará aos Cimos de onde desfrutaremos paz, onde reconstruiremos a família feliz, e seremos, a nosso turno, igualmente felizes.


- Prece

Divino Benfeitor!

Chegamos ao momento de dizer-Te graças, já que Te louvamos no contexto desta emoção, destas palavras.

E como não sabemos louvar e agradecer sem pedir, suplicamos-Te que nos leves de volta à intimidade doméstica, que nos conduzas de retorno ao lar em clima de harmonia, de esperança, reconfortados, reencorajados para a luta.

Amigo de nossas vidas!

Recebe-nos, como somos, com o que temos interiormente, e abençoa-nos para que o nosso logo depois seja enriquecido de bênçãos libertadoras, diferindo do momento que temos sido até aqui.

Segue conosco no rumo do nosso lar e conduz-nos nos dias do futuro conforme nos guiaste do passado até este presente.

Que a paz de Jesus, generosa e reconfortante, permaneça conosco, meus irmãos, agora e sempre!

Assim seja!


Divaldo Franco



 (*) A presente Entrevista foi proposta e realizada no transcurso de reunião pública do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.



Nenhum comentário:

Postar um comentário