O ser emocional
Joanna de Ângelis
O homem e a mulher, pela sua estrutura evolutiva, são, essencialmente, seres emocionais.
Recém saídos do instinto, em processo de conscientização, demoram-se no trânsito entre o primarismo – a sensação – e a razão, passando pela emoção.
Mesmo quando adquirem o senso do discernimento após se intelectualizarem, acreditando possuir um grande controle da emoção, dela não se libertam como a princípio gostariam.
A emoção bem direcionada torna-se um dínamo gerador de estímulos e forças para realizações expressivas, promovendo aqueles que a comandam, como pode fazer-se instrumento de desgraça, caso lhes fuja ao controle.
Nos relacionamentos interpessoais a emoção exerce um papel relevante, essencial para o êxito, contribuindo para a afetividade, a convivência feliz.
No entanto, antes de se exteriorizar como seria ideal, exige todo um curso disciplinante, uma análise profunda, a fim de converter-se em equipamento adequado do Eu superior, expressando-se na conduta e na vivência.
Inicialmente, cada indivíduo deve realizar uma avaliação a respeito da própria emotividade, para identificar-se a mesma se encontra embotada, exaltada, indiferente, apaixonada ou sob estímulos enobrecedores.
Quando está embotada, não registra as manifestações da afetividade, conforme se expresse, buscando apenas a fonte das sensações rudes, em cujo desbordar se compraz; se se apresenta exaltada, perde a diretriz do comportamento, deturpando quaisquer manifestações de carinho e perturbando o discernimento; quando indiferente, ignora o rumo das exteriorizações, morrendo por efeito de satisfações não saciadas e de prazeres não fruídos; se apaixonada, manifesta- se a um passo da alucinação, porque mantendo os remanescentes dos instintos fisiológicos, deixando que predominem os desejos hedonistas, em egocentrismo infeliz; somente quando estimulada pelos objetivos enobrecedores, estabelece paradigmas e patamares de autorrealização e integração nos mecanismos da Vida.
Nessa natural escalada para os níveis da consciência lúcida ou de transcendência do ego, a caminho da conquista cósmica através das suas diferentes etapas, é justo examinar-se:
a) como se reage diante de si próprio;
b) qual a conduta em referência ao próximo;
c) de que forma desenvolver os valores íntimos em relação a si e aos demais.
No primeiro caso, torna-se essencial a análise cuidadosa a respeito das reações emocionais diante dos desafios: cólera, ciúme, mágoa, revide, ódio, inveja, que decorrem do primitivismo moral do ser, ainda aferrado a complexos de inferioridade, de superioridade e aturdido por conflitos que remanescem da consciência de culpa.
O trabalho por libertar-se desses verdadeiros verdugos do Eu superior torna-se imprescindível ao desenvolvimento da emoção, ao seu engrandecimento, para estabelecer e seguir as linhas de manifestação equilibrada.
No segundo caso, as reações diante do próximo serão resultado do hábito de como enfrentar situações inesperadas, fenômenos novos, jogos psicológicos desconhecidos, para que os conflitos não se expressem em forma de retraimento, suspeita, narcisismo, aparência de conhecedor de toda a verdade, medo, loquacidade, presunção instigante…
A insegurança pessoal responde pelo descontrole da emoção na conduta do relacionamento com outras pessoas.
O indivíduo tranquilo, porque portador de confiança em si mesmo, não se atormenta quando enfrenta situações novas e desafiadoras, agindo com serenidade, sem a preocupação exagerada de parecer bem, de fazer-se detestado, de eliminar o outro ou de sobrepor-se a ele…
É natural e espontâneo, aberto aos relacionamentos interpessoais, respeitador das ideias e condutas do outro, embora não abdicando das suas próprias nem as mascarando para agradar, ou exibindo-as para impô-las…
Dialoga com suave emotividade, assinalando aquele que o ouve com algo agradável e duradouro que brinda no contato estabelecido.
Por sua vez, recebe também alguma dádiva, que irá contribuir para o seu crescimento íntimo.
Do inter-relacionamento nascem experiências proveitosas para o amadurecimento psicológico constante do ser.
No terceiro caso, faz-se doador, livre de exigências, sem paixões dissolventes, vinculando-se e amando, ou liberando- se sem ressentimentos, constatando, porém, que em todo relacionamento há sempre uma bela aquisição de vida pela empatia que provoca, pelas expectativas que desperta, pela convivência enriquecedora.
Avançando no equilíbrio da emoção, o encantamento da existência física libera-o da queixa, das frustrações, dos tormentos, que são resquícios do período egoístico ultrapassado, para viver as excelências de cada momento novo e de todas as horas porvindouras, sem angústias pelo ontem, nem ansiedades pelo amanhã.
Cada ser humano é uma incógnita a ser equacionada por ele próprio.
Quando se inicia a operação solucionadora, o primeiro quesito é dedicado à afetividade, ao desvelamento interior, à auto revelação, ao diálogo franco e jovial.
Nem sempre, porém, aqueles a quem se dirige estão em condições de entendê-lo, de intercambiar emoções.
Não raro, o interlocutor se alegra ao conhecer as dificuldades do seu confidente, desrespeita-lhe a confiança, divulgando as informações que lhe foram reveladas, ou nele provoca, por imaturidade como por insânia, conflitos desnecessários, perturbadores.
Nem por isso, deve o ser asfixiar a sua emoção, temeroso dos relacionamentos, isolando-se, assumindo posturas alienadas.
Quem se afasta do meio social, por se acreditar perseguido, não compreendido em crise paranoide, deixa de realizar-se emocionalmente.
Não são as circunstâncias que se fazem responsáveis pelo bom ou mau humor do indivíduo, mas a forma pessoal como ele as encara.
O desenvolvimento da emoção é imperativo da reencarnação do Espírito, que se aprimora, etapa a etapa, no processo da evolução, passando pelas sucessivas experiências carnais.
Cumpre, desse modo, ao homem e à mulher, seres essencialmente emocionais, a canalização dessa força dinâmica para a auto superação, constatando que ninguém, em fase normal do desenvolvimento, passa sem vivenciar o alto potencial da emoção.
Joanna de Ângelis
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