Allan Kardec - Viagem Espírita em 1862 - Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux
Discurso III
Quando se considera o estado atual da sociedade, é-se tentado a olhar sua transformação como um milagre. Pois bem! Este é o milagre que o Espiritismo pode e deve realizar, porque ele está nos desígnios de Deus, e com o auxílio de sua palavra de ordem: Fora da caridade não há salvação. Que a sociedade tome esta máxima por divisa e a ela conforme a sua conduta, em vez desta que está na ordem do dia: A caridade bem ordenada começa por ele, e tudo muda. Tudo está em fazer essa máxima aceita.
A palavra caridade, vós o sabeis, Senhores, tem uma acepção muito extensa. Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; ela não é tão somente a esmola. O homem é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo. A caridade em forma de palavra nada diz que possa prejudicar seu próximo. A caridade em ações assiste seu próximo na medida de suas forças. O pobre que partilha seu pedaço de pão com um mais pobre do que ele, é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do seu supérfluo sem de nada se privar. Àquele que alimenta contra seu próximo sentimentos de ódio, de animosidade, de ciúme, de rancor, falta caridade. A caridade é a contrapartida do egoísmo; ela é a abnegação da personalidade, o egoísmo é a exaltação da personalidade. A caridade diz: Para vós, primeiro, para mim, depois; o egoísmo diz: Para mim primeiro, para vós, se sobrar. A primeira está toda inteira nesta frase de Cristo: "Fazei pelos outros o que quiserdes que vos façam". Em uma palavra, ela se aplica, sem exceção, a todas as relações pessoais. Concebei que, se todos os membros de uma sociedade agissem segundo este princípio, haveria menos decepções na vida. Desde que dois indivíduos estejam juntos, contratam, por isso mesmo, deveres recíprocos; se querem viver em paz, são obrigados a se fazerem mútuas concessões. Esses deveres aumentam com o número dos indivíduos; as aglomerações constituem-se em todos-coletivos que têm também suas obrigações respectivas. Tendes, além disso, as relações de indivíduo a indivíduo, de cidade a cidade, de Estado a Estado, de país a país. Essas relações podem ter dois móveis que são a negação um do outro: o egoísmo e a caridade, pois há também o egoísmo nacional. Com o egoísmo, o interesse pessoal prevalece acima de tudo. Cada um tira para si, cada um vê no seu semelhante apenas um antagonista, um rival que pode pisar em seu jardim, que pode nos explorar ou que podemos explorar; a vitória é do mais sagaz, daquele que colocar sob os pés o jardim de seu vizinho, e a sociedade, coisa triste de dizer, muitas vezes consagra essa vitória, o que faz que ela se divida em duas classes principais: os exploradores e os explorados. Disso resulta um antagonismo perpétuo, que faz da vida um tormento, um verdadeiro inferno. Substitua-se o egoísmo pela caridade e tudo será diferente. Ninguém procurará fazer mal ao seu vizinho, os ódios e os ciúmes se extinguirão por falta de alimento, e os homens viverão em paz ajudando-se mutuamente ao invés de se estraçalharem. A caridade substituindo o egoísmo, todas as instituições sociais serão fundadas sobre o princípio da solidariedade e da reciprocidade; o forte protegerá o fraco em vez de explorá-lo.
É um belo sonho, dirão alguns; infelizmente é apenas um sonho; o homem é egoísta por natureza, por necessidade, e o será sempre. Se assim fosse, seria muito triste, e então precisaríamos perguntar com que finalidade o Cristo veio pregar a caridade aos homens; tanto teria valido pregar aos animais. Todavia, examinemos a questão.
Há progresso do selvagem ao homem civilizado? Não se procura, diariamente, em colônias, pelo devotamento de missionários, abrandar os costumes dos selvagens? Com que objetivo, se o homem é incorrigível? Estranho capricho! Esperais corrigir os selvagens e pensais que o homem civilizado não pode melhorar-se. Se o homem civilizado tivesse a pretensão de ter atingido o último limite do progresso acessível à espécie humana, bastaria comparar os costumes, o caráter, a legislação, as instituições sociais de hoje com as de outrora. E, entretanto, os homens de outrora, também eles supunham ter alcançado o último degrau. O que teria respondido um grã senhor ao tempo de Luís XIV se lhe tivessem dito que poderia haver uma ordem de coisas melhor, mais equitativa, mais humana do que a vigente então? Que esse regime mais equitativo seria a abolição dos privilégios de castas, e a igualdade do grande e do pequeno diante da Lei? O audacioso que houvesse dito isso talvez pagasse caro sua temeridade.
Disso concluímos que o homem é eminentemente perfectível e que os mais avançados de hoje poderão parecer tão atrasados, dentro de alguns séculos, quanto os da Idade Média o são com relação a nós. Negar o fato seria negar o progresso que é uma lei da natureza.
Embora o homem tenha progredido do ponto de vista moral, é preciso, entretanto, convir que esse progresso se realizou, mais acentuadamente, no sentido intelectual. Por que isso? Eis aqui um outro problema que foi dado ao Espiritismo explicar, mostrando que o moral e a inteligência são duas vias que raramente seguem juntas; enquanto o homem dá alguns passos em um, se retarda no outro. Todavia, mais tarde, torna a ganhar o terreno que havia perdido, e as duas forças acabam por se equilibrar nas encarnações sucessivas. O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite até hoje desconhecido; se os gozos que delas tira satisfazem a vida material, deixam um vazio na alma; o homem aspira qualquer coisa de melhor; sonha com melhores instituições, quer a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos; porém, como aí chegar com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo? O homem sente, pois, a necessidade do bem para ser feliz; compreende que só o reino do bem pode lhe dar a felicidade pela qual aspira; esse reino, ele o pressente, porque instintivamente tem fé na justiça de Deus, e uma voz secreta lhe diz que uma nova era vai se abrir.
Como ocorrerá isso? Uma vez que o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso a destruição do egoísmo; ora, o que pode destruí-lo? A predominância do sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como inimigos. A caridade é a base, a pedra angular de todo edifício social; sem ela o homem construirá sobre a areia. Que os esforços e, sobretudo os exemplos de todos os homens de bem, tendam então a propagá-la; que não se desencorajem se virem uma recrudescência nas más paixões; elas são os inimigos do bem e, vendo-o ganhar terreno, lançam-se contra ele; mas Deus permitiu que, por seus próprios excessos mesmos, elas se destruam. O paroxismo de um mal é sempre o sinal de que chega ao seu fim.
Acabo de dizer que sem a caridade o homem constrói sobre a areia; um exemplo fará compreender melhor.
Alguns homens bem intencionados, tocados pelos sofrimentos de uma parte de seus semelhantes, supuseram encontrar o remédio para o mal em certos sistemas de reforma social. Com pequenas diferenças, o princípio é quase o mesmo em todos, qualquer que seja o nome que se Ihes dê. Vida comunitária, por ser a menos onerosa; comunidade de bens para que cada um tenha alguma coisa; participação de todos na obra comum; nada de grandes riquezas, mas também nada de miséria. Tudo isso é muito sedutor para aquele que, não tendo nada, desde logo veria a bolsa do rico entrar no fundo comum, sem calcular que a totalidade das riquezas postas em comum criaria uma miséria geral ao invés de uma miséria parcial; que a igualdade estabelecida hoje, seria rompida amanhã pela mobilidade da população e a diferença das aptidões; que a igualdade permanente dos bens supõe a igualdade das capacidades e do trabalho. Mas esta não é a questão; não está em minhas intenções examinar o lado forte e o fraco desses sistemas; faço abstração das impossibilidades que acabo de citar e proponho olhá-los de um outro ponto de vista que, parece-me, ainda não preocupou a ninguém, e que se liga ao nosso assunto.
Os autores, fundadores ou promotores de todos esses sistemas, sem exceção, não se propuseram senão à organização da vida material de uma maneira proveitosa para todos. O objetivo é louvável, indiscutivelmente. Resta saber se, nesse edifício, não falta a base, única que poderia consolidá-lo, admitindo-se que fosse praticável.
A comunidade é a abnegação mais completa da personalidade; ela requer o devotamento mais absoluto, pois cada pessoa deve pagar de sua pessoa. Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. Entretanto, nós reconhecemos que a base da caridade é a crença; que a falta de crença conduz ao materialismo, e o materialismo ao egoísmo. Num sistema que, por sua natureza, requer para sua estabilidade as virtudes morais em supremo grau, precisaria tomar seu ponto de partida no elemento espiritual. Pois bem, não somente este não é levado em conta, já que o lado material é seu objetivo único, e muitos são fundados em uma doutrina materialista nitidamente confessada, ou sobre um panteísmo, espécie de materialismo disfarçado; em outras palavras, portam em si o elemento destruidor por excelência. Decoram-nos com o belo nome da fraternidade; mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta; é preciso que esteja no coração; e não será um sistema que a fará nascer se ela aí já não estiver, enquanto o defeito que lhe é contrário arruinará o sistema e o fará cair na anarquia, porque cada um quererá tirar para si. A experiência aí está para provar que ele não abafa nem as ambições nem a cupidez. Antes de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os homens para a coisa, como se formam obreiros antes de Ihes confiar um trabalho; antes de construir, é preciso assegurar-se da solidez dos materiais. Para tanto, os materiais sólidos são os homens de coração, de devotamento e abnegação. Com o egoísmo, o amor e a fraternidade são, como já dissemos, palavras vazias; como então, sob o império do egoísmo, fundar um sistema que requer a abnegação num grau tão grande, que tenha por princípio essencial a solidariedade de todos para cada um e de cada um por todos? Alguns homens deixaram o solo natal para ir fundar, ao longe, colônias sob o regime da fraternidade; quiseram fugir ao egoísmo que os esmagava, mas o egoísmo os seguiu, e lá ainda se acham exploradores e explorados, porque falta a caridade. Acreditaram que bastasse levar o maior número de braços possível, sem imaginar que, ao mesmo tempo, levavam os vermes roedores de sua instituição, arruinada tão mais rapidamente quanto eles não tinham em si nem a força moral, nem a força material suficientes.
O que lhes faltava não eram braços numerosos mas sólidos corações; infelizmente muitos os seguiram apenas porque, não sabendo fazer nada alhures, acreditaram libertar-se de certas obrigações pessoais. Viram apenas um objetivo sedutor, sem perceber a rota espinhosa para atingi-lo. Decepcionados em suas esperanças, reconhecendo que antes de gozar era preciso muito trabalhar, muito sacrificar, muito sofrer, tiveram por perspectiva o desencorajamento e o desespero; sabeis o que aconteceu com a maioria. Seu erro foi terem querido construir um edifício começando pela cumeeira, antes de ter assentado sólidos fundamentos. Estudai a história e a causa da queda dos Estados mais florescentes, e por toda a parte encontrareis a mão do egoísmo, da cupidez, da ambição.
Sem a caridade, não há instituição humana estável. E não pode haver caridade nem fraternidade, na verdadeira acepção do termo, sem a crença. Aplicai-vos, pois, a desenvolver esses sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o egoísmo que vos destrói. Quando a caridade tiver penetrado as massas, quando se tiver transformado em fé, a religião da maioria, então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma das coisas. Os abusos, nascidos do sentimento da personalidade, desaparecerão. Ensinai, pois, a caridade, e, sobretudo pregai pelo exemplo: é a âncora da salvação da sociedade; somente ela pode realizar o reino do bem na Terra, que é o reino de Deus. Sem ela, por mais que façais, não criareis senão utopias das quais só vos restarão decepções. Se o Espiritismo é uma verdade, se ele deve regenerar o mundo, é porque tem por base a caridade. Ele não vem derrubar o culto nem estabelecer um novo; ele proclama e prova verdades comuns a todos os cultos, bases de todas as religiões, sem se preocupar com detalhes. Não vêm destruir senão uma coisa: o materialismo, que é a negação de toda religião; não vem derrubar senão um templo: o do egoísmo e do orgulho, e vem dar uma sanção prática a estas palavras de Cristo, que são toda a sua lei: Amai o vosso próximo como a vós mesmos. Não vos espanteis, pois, que ele tenha por adversários os adoradores do bezerro de ouro, cujos altares veio lançar por terra. Há, naturalmente, contra ele, aqueles que julgam sua moral incômoda, aqueles que teriam, de boa vontade, pactuado com os Espíritos e suas manifestações, se os Espíritos se contentassem em diverti-Ios; se não tivessem vindo para lhes rebaixar o orgulho, pregar-Ihes a abnegação, o desinteresse e a humildade. Deixai-os dizer e fazer o que quiserem; as coisas não seguirão menos a marcha que está nos desígnios de Deus.
O Espiritismo, por sua poderosa revelação, vem, pois, acelerar a reforma social. Seus adversários, sem dúvida, rirão desta pretensão e, todavia, ela nada tem de presunçosa. Demonstramos que a incredulidade, a simples dúvida em relação ao futuro leva o homem a se concentrar sobre a vida presente, o que, muito naturalmente, desenvolve o sentimento de egoísmo. O único remédio para o mal é concentrar sua atenção sobre um outro ponto e desenraizá-lo, por assim dizer, a fim de fazê-lo perder seus hábitos. O Espiritismo, provando de maneira patente a existência do mundo invisível, leva, forçosamente, a uma ordem de ideias bem diversa, pois dilata o horizonte moral limitado à Terra. A importância da vida corporal diminui à medida que cresce a da vida espiritual; muito naturalmente nos colocamos em um outro ponto de vista, e o que nos parecia uma montanha não nos parece mais que um grão de areia. As vaidades, as ambições aqui da Terra tornam-se puerilidades, brinquedos infantis em presença do futuro grandioso que nos espera. Atendo-nos menos às coisas terrestres, buscamos menos satisfazer-nos às expensas dos outros, daí uma diminuição no sentimento de egoísmo.
O Espiritismo não se limita a provar o mundo invisível. Pelos exemplos que desenrola aos nossos olhos, ele no-lo mostra em sua realidade, e não tal como a imaginação o havia feito conceber. Ele no-lo mostra povoado de seres felizes ou infelizes, mas prova que somente a caridade, a soberana lei do Cristo, pode aí assegurar a felicidade. Por outro lado assistimos a sociedade terrestre se entre-estraçalhar sob o império do egoísmo, enquanto viveria feliz e pacifica sob o da caridade. Com a caridade tudo é, pois, benefício para o homem: felicidade neste mundo e felicidade no outro. Não se trata mais, conforme a expressão de um materialista, do sacrifício de pessoas enganadas, mas segundo a expressão do Cristo, do investimento que será centuplicado. Com o Espiritismo o homem compreende que tem tudo a ganhar fazendo o bem e tudo a perder fazendo pelo mal. Ora, entre a certeza, não direi a sorte, mas a certeza de perder ou de ganhar, a escolha não poderia ser duvidosa. A propagação da ideia espírita tende, necessariamente, a tornar os homens melhores uns para os outros. O que ele faz hoje sobre os indivíduos, fará amanhã sobre as massas quando estiver difundido de maneira geral. Tratemos, pois, de torná-lo conhecido no interesse de todos.
Prevejo uma objeção que pode ser levantada, isto é, a de que, de acordo com estas ideias, a prática do bem seria um cálculo interessado. A isso respondo dizendo que a igreja, prometendo as alegrias do céu ou ameaçando com as chamas do inferno, conduz, ela própria, os homens pela esperança e o temor; que o próprio Cristo disse que o que se dá neste mundo renderá centuplicado. Sem dúvida há maior mérito em fazer-se o bem espontaneamente, sem pensar nas consequências, mas nem todos os homens chegaram a isso, e vale mais fazer o bem com esse estimulante do que não fazê-lo.
Ouve-se por vezes falar de pessoas que fazem o bem sem desígnio premeditado, e por assim dizer, sem duvidar, que elas não têm mérito porque para isso não fazem nenhum esforço; é um erro. O homem não chega a nada sem esforço; aquele que não precisou fazê-lo nesta existência, deve ter lutado em uma precedente, e o bem acabou por se identificar com ele, e é por isso que o bem lhe parece tão natural. O bem está nele como em outros indivíduos estão ideias inatas que, também elas, tiveram sua fonte em um trabalho anterior. Este é ainda um dos problemas que o Espiritismo vem resolver. Os homens de bem têm pois, também eles, o mérito da luta. Para eles a vitória já está alcançada. Os outros têm ainda que lutar para obtê-la. Eis porque, como as crianças, precisam de um estímulo, isto é, de um objetivo a ser atingido, ou, se o quiserdes, de um prêmio a ganhar.
Uma outra objeção mais séria é esta: Se o Espiritismo produz todos estes resultados, os espíritas devem ser os primeiros a deles se aproveitarem. A abnegação, o devotamento desinteressado, a indulgência para com o próximo, a abstenção absoluta de toda palavra ou de todo ato que possam ferir o próximo, em uma palavra, a caridade em sua mais pura acepção, devem ser a regra invariável de sua conduta; não devem conhecer nem o orgulho, nem o ciúme, nem a inveja, nem o rancor, nem as tolas vaidades, nem as pueris susceptibilidades do amor próprio. Devem fazer o bem pelo bem, com modéstia e sem ostentação, praticando esta máxima do Cristo: "Que vossa mão esquerda não saiba o que dá a vossa mão direita"; nenhum espírita merecerá que se lhe aplique estes versos de Racine:
Um benefício lançado em rosto vale sempre por uma ofensa.
Enfim, a mais perfeita harmonia deve reinar entre eles. Por que, então, citam-se exemplos que parecem contradizer a eficácia dessas belas máximas?
No início das manifestações espíritas, muitos as aceitaram sem prever suas consequências. A maioria viu nelas apenas efeitos mais ou menos curiosos; mas quando delas saiu uma moral severa, deveres rigorosos a cumprir, muitos não sentiram a força para praticá-las e a elas se conformar; não tiveram coragem, nem devotamento, nem abnegação, nem humildade. Nessas pessoas a natureza corporal prevaleceu sobre a natureza espiritual; puderam crer, mas recuaram ante a execução. Havia, pois, na origem, apenas espíritas, isto é, crentes; a filosofia e a moral abriram a essa ciência um horizonte novo e criou os Espíritas praticantes; uns ficaram na retaguarda, outros foram à frente. Quanto mais a moral se sublimou, mais fez ressaltar as imperfeições daqueles que não quiseram segui-la, assim como uma intensa luz faz ressaltar as sombras. Era como um espelho: alguns não quiseram nele se olhar, ou, crendo nele se reconhecerem, preferiram jogar pedras naqueles que lho mostravam. Tal é, ainda hoje, a causa de certas animosidades. Todavia posso, por felicidade, dizer: estas são exceções, algumas pequenas sombras sobre o vasto panorama, e que não lhe podem alterar a luminosidade. Neste grupo encontram-se, em grande parte, os que poderíamos chamar: espíritas de primeira formação. Quanto àqueles que se formaram depois e se formam a cada dia, em grande maioria aceitaram a doutrina precisamente por causa de sua moral e de sua filosofia. Eis porque esforçam-se em praticá-la. Pretender que deveriam todos se terem tornado perfeitos, é desconhecer a natureza da humanidade. Mas, terem-se despojado de resquícios do homem velho é sempre um progresso que, por força, se deve levar em conta. São indesculpáveis aos olhos de Deus apenas aqueles que, estando bem e devidamente esclarecidos, não tiraram desse esclarecimento o proveito que poderiam tirar. A estes, certamente, será pedida uma conta severa, da qual sofrerão, conforme temos visto em numerosos exemplos, as consequências aqui na Terra. Mas, ao lado destes, há também o grande número no qual operou-se uma verdadeira metamorfose. Encontraram na crença espírita a força para vencer pendores desde há muito tempo enraizados, de romper com velhas atitudes, de ignorar os ressentimentos e as inimizades, de tornar menores as distâncias sociais. Pede-se ao Espiritismo, milagres: eis os que ele produz.
Assim, pela força mesma das coisas, o Espiritismo levará, por inevitável consequência, à melhoria moral. Essa melhoria conduzirá à prática da caridade, e da caridade nascerá o sentimento da fraternidade. Quando os homens estiverem imbuídos dessas ideias, conformarão a elas suas instituições e será assim que realizarão, naturalmente e sem agitações, as reformas desejáveis; é a base sobre a qual assentarão o edifício social futuro.
Essa transformação é inevitável, pois é conforme à lei do progresso; todavia, se seguir apenas a marcha natural das coisas, sua realização poderá ser demorada. Se acreditarmos na revelação dos Espíritos, está nos desígnios de Deus ativá-Ia, e nós estamos nos tempos preditos para isso; a concordância das comunicações a este respeito é um fato digno de nota. Em toda parte diz-se que nós tocamos na era nova e que grandes coisas vão cumprir-se. Seria, entretanto, um erro supor que o mundo está ameaçado por um cataclismo material; examinando as palavras do Cristo, torna-se evidente que nesta, como em outras muitas circunstâncias, Ele falou de maneira alegórica. A renovação da humanidade, o reino do bem sucedendo ao reino do mal, são grandes coisas que podem se realizar sem que haja necessidade de um naufrágio universal, nem de fazer aparecer fenômenos extraordinários, ou derrogar as leis naturais. É sempre neste sentido que os Espíritos se têm exprimido.
Tendo a Terra alcançado o tempo marcado para se transformar em morada feliz, elevando-se assim na hierarquia dos mundos, basta a Deus não permitir aos Espíritos imperfeitos aqui se reencarnarem, dela afastando aqueles que, por orgulho, incredulidade, maus instintos, possam tornar-se obstáculo ao progresso, perturbando a boa harmonia, como, aliás, procedeis vós mesmos, em uma assembleia em que necessitais ter paz e tranquilidade e da qual afastais aqueles que a ela possam trazer a desordem, ou como se expulsam de um país os malfeitores, que são exilados em países longínquos. Isso porque nas raças, ou melhor - para nos servir das palavras do Cristo - nas gerações de Espíritos enviados em expiação à Terra, aqueles que se mantiverem incorrigíveis serão substituídos por uma geração de Espíritos mais adiantados e, para isso, bastará uma geração de homens e a vontade de Deus que pode, por acontecimentos inesperados, embora naturais, apressar-Ihes a partida da Terra. Se, pois, a maior parte das crianças que hoje nascem pertencem à nova geração de Espíritos melhores, se os demais, que partem a cada dia, não mais regressarão, disso resultará uma renovação completa. E o que será feito dos Espíritos exilados? Serão encaminhados para mundos inferiores, expiar seu endurecimento por longos séculos de provas terríveis, pois também eles são anjos rebeldes, porque desprezaram o poder de Deus e se revoltaram contra a lei que Cristo veio Ihes recordar.[1]
Como quer que seja, nada se faz bruscamente na natureza. A velha levedura deixará ainda, durante algum tempo, traços que só de pouco em pouco se apagarão. Quando os Espíritos nos dizem - e isso eles o fazem por toda a parte - que nos abeiramos desse momento, não creais que sejamos testemunhas de uma transformação exposta à vista. Querem significar que estamos no momento da transição, assistimos à partida dos velhos e à chegada dos novos, que virão fundar uma nova ordem de coisas, isto é, o reino da justiça e da caridade que é o verdadeiro reino de Deus, predito pelos profetas e do qual o Espiritismo vem preparar os caminhos.
Vede, senhores, estamos já bem distantes das mesas girantes e, entretanto, apenas alguns anos nos separam do berço do Espiritismo! Quem quer que tivesse sido bastante audacioso para predizer o que hoje se passa, seria levado à conta de insensato aos olhos dos seus próprios correligionários. Observando a pequenina semente, quem poderia compreender, se dantes não tivesse assistido ao fenômeno, que dali sairia a árvore poderosa? Vendo a criança nascida no estábulo de uma pobre aldeia na Judéia, quem poderia supor que, sem o fausto e o poder material, sua voz singela abalaria o mundo, reforçada apenas por alguns pescadores ignorantes e tão pobres quanto ela mesma? Outro tanto ocorre com o Espiritismo que, saindo de um humilde e vulgar fenômeno, já aprofundou suas raízes em todas as direções, e cuja ramalhada bem cedo, abrigará a Terra inteira. As coisas progridem celeremente quando Deus assim quer. E considerando que nada ocorre fora de Sua vontade, quem não veria aí o dedo de Deus?
Assistindo à marcha irresistível das coisas, poderíeis dizer como outrora os Cruzados marchando para a conquista da Terra Santa: Deus o quer! mas, com a diferença que eles marchavam levando nas mãos ferro e fogo enquanto que vós apenas tendes por arma a caridade que, ao invés de ocasionar ferimentos morais, derrama um bálsamo salutar sobre os corações doloridos. E, com esta arma pacífica, que cintila aos olhos como um raio divino e não como o metal assassino, que semeia a esperança e não o temor, tereis, dentro de alguns anos levado ao aprisco da fé mais ovelhas desgarradas do que o teriam podido fazer séculos de violência e de prepotência. É com a caridade por guia que o Espiritismo caminha para a conquista do mundo.
Será fantasioso e quimérico o quadro que esbocei diante de vós? Não! A razão, a lógica, a experiência, tudo diz que esta é uma realidade.
Espíritas, sois os pioneiros dessa grande obra. Tornai-vos dignos da gloriosa missão, cujos primeiros frutos já recolheis. Pregai por palavras, mas, sobretudo, pregai por exemplos. Comportai-vos de modo a que, em vos vendo, não possam dizer que as máximas que ensinais são palavras vãs em vossos lábios. A exemplo dos apóstolos, fazei milagres, pois, para isso, Deus concedeu-vos o dom! Não milagres que chocam os sentidos, porém milagres de caridade e de amor. Sede bons para com vossos irmãos, sede bons para com o mundo inteiro, sede bons para com vossos inimigos! A exemplo dos apóstolos, expulsai os demônios. Para isso tendes o poder, e eles pululam em torno de vós, os demônios do orgulho, da ambição, da inveja, do ciúme, da cupidez, da sensualidade, que alimentam todas as más paixões e semeiam por entre vós os pomos da discórdia. Expulsai-os de vossos corações, a fim de que tenhais a força necessária para expulsá-los dos corações alheios. Fazei esses milagres e Deus vos abençoará, as gerações futuras vos abençoarão como as de agora abençoam os primeiros cristãos, dentre os quais, muitos revivem entre vós para assistir e concorrer para o coroamento da obra do Cristo. Fazei esses milagres e vossos nomes serão inscritos gloriosamente nos anais do Espiritismo. Não empanai esse clarão por sentimentos e atos indignos do verdadeiro espírita, do espírita cristão. Libertai-vos, o quanto antes possível, de tudo quanto possa ainda restar em vós do velho levedo. Cuidai que de um momento para o outro, amanhã talvez, o anjo da morte pode vir bater à vossa porta e dizer: Deus vos chama para prestardes conta do que fizestes de sua palavra, da palavra de Seu Filho, que Ele fez repetir pelos bons Espíritos. Estai, pois, sempre prontos a partir e não façais como o viajor imprudente que é surpreendido desprevenido. Fazei vossas provisões com antecipação, provisões de boas obras e de bons sentimentos, pois infeliz é aquele que o momento fatal surpreende com a ira, a inveja ou o ciúme no coração. Terão por escolta os maus Espíritos, jubilosos das desgraças que o esperam, uma vez que essas desgraças serão a sua obra. E vós sabeis, Espíritas, quais são essas desgraças: os que as sofrem chegam até nós, eles próprios, para descrever seus sofrimentos. Àqueles, pelo contrário, que se apresentarem puros, os bons Espíritos virão estender a mão, dizendo-Ihes: Irmãos, sede bem-vindos às celestes moradas onde, vos esperam cantos de alegria!
Vossos adversários rirão de vossa crença nos Espíritos e em suas manifestações, mas não poderão rir das virtudes que resultam dessa crença. Não se rirão quando virem os inimigos perdoar-se ao invés de ferir-se, a paz renascer entre aqueles que se dividiram pela dissídia, o incrédulo de ontem concentrado hoje em prece fervorosa, o homem violento e colérico modificado em ser doce e pacífico, o debochado transfigurado no homem cumpridor de seus deveres e perfeito pai de família, o orgulhoso que se tornou humilde, o egoísta oferecendo provas do mais alto espírito de caridade. Não rirão quando constatarem que já não têm a temer a vingança de seus inimigos, transformados em espíritas. O rico não se rirá quando verificar que o pobre não inveja sua fortuna e o pobre, ao invés de alimentar sentimentos de ciúmes, abençoará o rico que se fez humano e generoso. Os chefes não rirão de seus subordinados e não os molestarão quando constatarem que se fizeram escrupulosos e conscienciosos na realização de seus deveres. Finalmente os patrões encorajarão seus servidores e subalternos quando os virem, sob o império da fé espírita, mais fiéis, mais devotados e mais sinceros. Eles verificarão que o Espiritismo é bom para tudo e para todos e não apenas para salvaguardar-Ihes os interesses materiais. E tanto pior será para aqueles que não quiserem ver um pouco mais além. Sob o império dessa mesma fé, o militar será mais disciplinado, mais humano, mais fácil de ser conduzido. Terá sentimentos e obedecerá não pelo temor mas pela razão. É o que constatam os dirigentes imbuídos desses princípios e eles são numerosos. E, por tal motivo, sinceramente desejam que nenhum entrave se oponha à propagação das ideias espíritas entre aqueles que se encontram sob sua direção.
Eis, senhores, que rides, o que produz o Espiritismo, essa utopia do século dezenove, - parcialmente ainda, é verdade, - mas cuja influência já se reconhece e cuja propagação em breve se compreenderá ser do maior benefício, em favor de todos. Sua influência é uma garantia de segurança para as relações sociais, pois que constitui o mais poderoso freio às más paixões, às efervescências desordenadas, mostrando o laço de amor e de fraternidade que deve unir o grande ao pequeno e o pequeno ao grande. Fazei, pois que, por vosso exemplo, logo se possa dizer: Praza a Deus que todos os homens sejam espíritas de coração!
Caros irmãos espíritas, venho vos indicar o caminho, fazer-vos ver o objetivo. Possam minhas palavras, por mais impotentes que elas sejam, ter-vos feito compreender a sua grandeza! Todavia, outros virão, depois de mim, que vo-la mostrarão também, e cuja voz, mais poderosa do que a minha, terá para as nações o brilho vivaz da trombeta. Sim meus irmãos, Espíritos mensageiros de Deus, encarregados de estabelecer o Seu reino na Terra, logo surgirão entre vós e os reconheceríeis por sua sabedoria e a autoridade de sua linguagem. À sua voz, os incrédulos e os ímpios se encherão de espanto e de estupor, e curvarão a cabeça, pois não ousarão chama-los loucos. Eu não poderia, irmãos, revelar-vos tudo quanto vos prepara o futuro. Mas o tempo está próximo em que todos os mistérios serão revelados, para a confusão dos mentirosos e a glorificação dos bons.
Enquanto a oportunidade se apresenta, revesti-vos do manto branco, abafai as discórdias, pois que as discórdias pertencem ao reino do mal que vai ter fim. Seja-vos possível fundir-vos em uma única e mesma família e dar-vos mutuamente, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos. Se entre vós há dissidências, causas de antagonismos, se os grupos que devem todos marchar para um objetivo comum estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem hesitar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre errado, assistido embora por qualquer espécie de razão, pois Deus maldiz quem diz a seu irmão: racca.
Os grupos são indivíduos coletivos que devem viver em paz, como os indivíduos, se, realmente, são espíritas. Eles são os batalhões da grande falange. Ora, o que será feito de uma falange cujos batalhões se dividirem? Aqueles que veem o próximo com olhos ciumentos, provam, só por isso, que estão sob uma ruim influência, pois que o Espírito do bem não pode produzir o mal. Vós o sabeis: a árvore reconhece-se pelos frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto envenenado que mata quem dele se nutre.
O que digo das dissidências entre grupos vale, igualmente, para as que possam haver entre os indivíduos. Em semelhante circunstância, a opinião das pessoas imparciais é sempre favorável àquele que dá provas de maior grandeza e de generosidade. Aqui na Terra, onde ninguém é infalível, a indulgência recíproca é uma consequência do princípio da caridade que nos leva a agir para com os outros como quereríamos que os outros agissem para conosco. Ora, sem indulgência não há caridade, sem caridade não há verdadeiro Espírita. A moderação é um dos sinais característicos desse sentimento, como a acrimônia e o rancor são sinais da negação. Com acrimônia e espírito vingativo deterioram-se as mais dignas causas, mas com a moderação fortalecemo-las, se estamos de seu lado, ou delas passamos a participar, se não o fizemos ainda. Se, pois, eu tivesse de opinar em uma divergência, eu me preocuparia menos com as causas e mais com as consequências. As causas, em querelas ocasionadas sobretudo por palavras, podem ser o resultado de questões das quais nem sempre somos senhores; a conduta ulterior de dois adversários é o resultado da reflexão; eles agem de sangue frio e é então que o verdadeiro caráter de cada uma das partes se define. Uma ruim cabeça e um mau coração caminham muitas vezes juntos, porém rancor e bom coração são incompatíveis. Minha medida de apreciação seria, então, a caridade, isto é, eu observaria aquele que menos mal diz de seu adversário, aquele que é o mais moderado em suas recriminações. É segundo esta medida que Deus nos julgará, pois Ele será indulgente para quem tiver sido indulgente e será inflexível para quem tiver sido inflexível.
A rota traçada pela caridade é clara, infalível e sem equívocos. Poderíamos defini-Ia assim: "Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência relativamente ao próximo, baseado no que quereríamos que o próximo nos fizesse". Tomando-a por guia, podemos estar certos de não nos afastar do caminho reto que conduz a Deus. Quem deseja, de maneira sincera e séria trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a caridade em seus mínimos detalhes e por ela conformar sua conduta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, tanto às mais simples, quanto às mais complexas. De cada vez que estivermos incertos quanto ao partido a tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e ela responderá, sempre de maneira justa. Infelizmente escuta-se mais frequentemente a voz do egoísmo.
Sondai, pois, os refolhos de vossa alma, para dela arrancardes os últimos vestígios das ruins paixões, se delas algo restar ainda. E se experimentais algum ressentimento contra alguém, cuidai de abafá-lo e dizei: "Irmão, esqueçamos o passado. Os maus Espíritos nos haviam separado, que os bons nos reúnam!" Se ele recusar a mão que lhe estendeis, oh! então, Iamentai-o, pois Deus, por sua vez, lhe dirá: "Por que pedes perdão, tu que não perdoastes?"
Apressai-vos, pois, para que se não vos aplique esta frase fatal: É tarde demais!
Tais são, queridos irmãos espíritas, os conselhos que tenho a vos dar. A confiança que vindes em mim depositar é uma garantia de que eles trarão bons frutos. Os Bons Espíritos, que vos assistem, dizem-vos a cada dia a mesma coisa, porém julguei um dever apresentar-vos essas advertências em um conjunto, de modo a que suas consequências melhor se destaquem. Venho, pois, em nome deles, lembrar-vos a prática da grande lei do amor e da fraternidade que deverá, em breve, reger o mundo e nele fazer reinar a paz e a concórdia, sob o estandarte dá caridade para com todos, sem exceções de seitas, de castas e nem de cores.
Com este estandarte, o Espiritismo será o traço de união que reunirá os homens divididos pelas crenças e os preconceitos mundanos. Ele fará ruir a mais poderosa barreira que separa os povos: o antagonismo nacional. À sombra dessa bandeira, que será o seu ponto de reunião, os homens se habituarão a ver irmãos naqueles que viam como inimigos. Daqui até lá haverá muitas lutas, pois o mal não liberta facilmente sua presa, e os interesses materiais são tenazes. Sem dúvida não vereis com os olhos do corpo a realização dessa obra, para a qual concorreis, e isso embora esse momento não esteja remoto. Os anos iniciais do século próximo deverão prenunciar essa era nova que se prepara ao crepúsculo desta em que vivemos. Mas fruireis, com os olhos do Espírito, o bem que tiverdes feito, como os mártires do Cristianismo rejubilaram-se contemplando os frutos de seu sangue derramado. Coragem, pois, e perseverança. Não recueis ante os obstáculos. O campo não se torna fértil sem a dádiva do suor. Assim como o pai, mesmo no ocaso da vida, constrói o lar que irá abrigar seus filhos, crede que construís para as gerações futuras, um templo à fraternidade universal e no qual as únicas vitimas imoladas serão o egoísmo, o orgulho e todas as más paixões que ensanguentaram a humanidade.
Allan Kardec
[1] Ver a Revista Espírita, Janeiro de 1862, Ensaio sobre a interpretação da doutrina dos Anjos decaídos.
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