sábado, 30 de julho de 2022

Joanna de Ângelis - Livro Rumos Libertadores - Divaldo P. Franco - Cap. 22 - Obediência com resignação



Joanna de Ângelis - Livro Rumos Libertadores - Divaldo P. Franco - Cap. 22

Obediência com resignação


Estudo: Cap. IX – Item 8 – Evangelho Segundo o Espiritismo.


O equilíbrio, a harmonia, resultam da obediência às leis que regem a vida.

Em torno dos Sóis gravitam os demais astros, e, por sua vez, estes se submetem às soberanas diretrizes que mantêm as galáxias.

A sinfonia harmoniosa é o resultado da submissão de notas e instrumentos à pauta e à regência.

O equilíbrio da máquina decorre da perfeita submissão das peças do mecanismo que lhe constitui a engrenagem…

A saúde do corpo e da mente, por sua vez, é consequência da obediência do espírito às conjunturas da evolução inadiável.

A obediência revela-se como elemento essencial para a ordem, fator base do equilíbrio fomentador do progresso.

Medida que revela a sabedoria da criatura, a obediência decorre, naturalmente, de um perfeito conhecimento dos deveres em relação aos objetivos da existência humana.

Somente as almas disciplinadas logram o cometimento da obediência, em consequência da resignação ante os sucessos nem sempre ditosos.

Assevera-se que os fracos são mais fáceis de serem conduzidos, portanto mais maleáveis à obediência. Conveniente, porém, não confundir obediência com receio submisso, nem resignação com indiferença diante da luta, que é sempre um desafio da evolução.

Obediência e resignação constituem termos equivalentes da equação evolutiva, a grande incógnita para o espírito em processo libertador.

Vives num Universo onde vigem as leis de equilíbrio, soberanamente, em nome de Deus.

Qualquer agressão à ordem impõe a necessidade de recuperação como impositivo de dignidade e harmonia.

A rebeldia é processo de luta em faixa primitiva, enquanto que a obediência é conquista da razão esclarecida.

O bruto reage. O sábio age. O primeiro agride, o segundo elucida.

Submete-se, desse modo, aos impositivos da evolução, mesmo quando as circunstâncias te pareçam aziagas ou tormentosas.

A resignação, como conseqüência natural do conhecimento das leis de causa e efeito, ser-te-á o lenitivo e o amparo para o prosseguimento do ministério abraçado, em busca da libertação que almejas.

Não te revoltes, portanto, se as coisas não te saírem conforme o teu desejo. A realidade é consoante como deve ser e não conforme a cada qual apraz.

Aplica-te ao serviço fraternal de auxílio, confiante e resignado, adquirindo experiências iluminativas que se te incorporarão ao patrimônio existente de bênçãos.

Convidado ao revide, empurrado ao desespero, chamado ao remoque, concitado à desordem, silencia e ama, obedecendo às determinações da vida e resignando-te face às suas injunções.

A obediência liberta; a resignação sublima a alma.

Uma deflui do conhecimento e a outra do sentimento.

Não obstante a arbitrária justiça do atormentado representante de César, Jesus não se rebelou, não agrediu, não duvidou da misericórdia nem da sabedoria do Pai. Obedeceu, resignado e amoroso, embora fosse o Senhor da Terra, concitando-nos, desde ali, a coragem para sofrer com equilíbrio e confiança total nas determinações divinas.


Joanna de Ângelis











 

Emmanuel - Livro Encontro Marcado - Chico Xavier - Cap. 53 - Livres, mas responsáveis



Emmanuel - Livro Encontro Marcado - Chico Xavier - Cap. 53


Livres, mas responsáveis


TEMA — Liberdade e responsabilidade.


A quem nos pergunte se a criatura humana é livre, respondamos afirmativamente.

Acrescentemos, porém, que o homem é livre, mas responsável, e pode realizar o que deseje, mas estará ligado inevitavelmente ao fruto de suas próprias ações.

Para esclarecer o assunto, tanto quanto possível, examinemos, em resumo, alguns dos setores de sementeira e colheita ou, melhor, de livre-arbítrio e destino em que o espírito encarnado transita no mundo.

Posse. — O homem é livre para reter quaisquer posses que as legislações terrestres lhe facultem, de acordo com a sua diligência na ação ou seu direito transitório, e será considerado mordomo respeitável pelas forças superiores da vida se as utiliza a benefício de todos, mas, se abusa delas, criando a penúria dos semelhantes, de modo a favorecer os próprios excessos, encontrará nas consequências disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz da abnegação.

Negócio. — O homem é livre para efetuar as transações que lhe apraza e granjeará o título de benfeitor, se procura comerciar com real proveito da clientela que lhe é própria, mas, se arrasa a economia dos outros com o fim de auferir lucros desnecessários, com prejuízo evidente do próximo, encontrará nas consequências disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz da retidão.

Estudo. — O homem é livre para ler e escrever, ensinar ou estudar tudo o que quiser e conquistará a posição de sábio se mobiliza os recursos culturais em auxílio daqueles que lhe partilham a romagem terrestre; mas, se coloca os valores da inteligência em apoio do mal, deteriorando a existência dos companheiros da Humanidade com o objetivo de acentuar o próprio orgulho, encontrará nas consequências disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz do discernimento.

Trabalho. — O homem é livre para abraçar as tarefas a que se afeiçoe e será honorificado por seareiro do progresso se contribui na construção da felicidade geral; mas, se malversa o dom de empreender e de agir, esposando atividades perturbadoras e infelizes para gratificar os seus interesses menos dignos, encontrará nas consequências disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz do serviço aos semelhantes.

Sexo. — O homem é livre para dar às suas energias e impulsos sexuais a direção que prefira e será estimado por veículo de bênçãos quando os emprega na proteção sadia do lar, na formação da família, seja na paternidade ou na maternidade com o dever cumprido, ou, ainda, na sustentação das obras de arte e cultura, benemerência e elevação do Espírito; mas, se para lisonjear os próprios sentidos transforma os recursos genésicos em dor e desequilíbrio, angústia ou desesperação para os semelhantes, pela injúria aos sentimentos alheios ou pela deslealdade e desrespeito nos compromissos e ajustes afetivos, depois de havê-los proposto ou aceitado, encontrará nas consequências disso a fieira de provações com que aprenderá a acender em si mesmo a luz do amor puro.

O homem é livre até mesmo para receber ou recusar a existência, mas recolherá invariavelmente os bens ou os males que decorram de sua atitude, perante as concessões da Bondade Divina.

Todos somos livres para desejar, escolher, fazer e obter, mas todos somos também constrangidos a entrar nos resultados de nossas próprias obras.

Cabe à Doutrina Espírita explicar que os princípios da Justiça Eterna, em todo o Universo, não funcionam simplesmente à base de paraísos e infernos, castigos e privilégios de ordem exterior, mas, acima de tudo, através do instituto da reencarnação, em nós, conosco, junto de nós e por nós. Foi por isso que Jesus, compreendendo que não existe direito sem obrigação e nem equilíbrio sem consciência tranquila, nos afirmou, claramente: “Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.”


Emmanuel











Léon Denis - Livro No Invisível - Cap. V - Pág. 46/47 - Educação e função dos médiuns - A Prece



Léon Denis - Livro No Invisível - Cap. V - Pág. 46/47


Educação e função dos médiuns


Em todo ser humano existem rudimentos de mediunidade, faculdades em gérmen, que se podem desenvolver pelo exercício. Para o maior número, um longo trabalho perseverante é necessário. Em alguns, essas faculdades se revelam desde a infância, e sem esforço vêm a atingir, com os anos, um alto grau de perfeição. Representam, em tal caso, o resultado das aquisições anteriores, o fruto dos labores efetuados na Terra ou no Espaço, fruto que conosco, ao renascer, trazemos.

Entre os sensitivos, muitos têm a intuição de um mundo superior, extraterrestre, em que existem, como em reserva, poderes que lhes é possível adquirir mediante íntima comunhão e elevadas aspirações, para em seguida os manifestarem sob diversas formas, apropriadas à sua natureza: adivinhação, ensinamentos, ação curativa, etc.

Aplicada em tal sentido, a mediunidade torna-se uma faculdade preciosa, por meio da qual podem ser liberalizados imensos benefícios e realizadas grandes obras.

À Humanidade seria facultado um poderoso elemento de renovação, se todos compreendessem que há, acima de nós, um inesgotável manancial de energia, de vida espiritual, que se pode atingir por gradativo adestramento, por constante orientação do pensamento e da vontade no sentido de assimilar as suas ondas e radiações, e com o seu auxílio desenvolver as faculdades que em nós jazem latentes.

A aquisição dessas forças nos bloqueia contra o mal, nos coloca acima dos conflitos materiais e nos torna mais firmes no cumprimento do dever. Nenhum dentre os bens terrenos é comparável à posse desses dons. Sublimados a seu mais alto grau, fazem os grandes missionários, os renovadores, os grandes inspirados.

Como podemos adquirir esses poderes, essas faculdades superiores? Descerrando nossa alma, pela vontade e pela prece, às influências do Alto. Do mesmo modo que abrimos as portas da nossa casa, para que nela penetrem os raios do Sol, assim também por nossos impulsos e aspirações podemos franquear aos eflúvios celestes o nosso ego interior.

É aí que se manifesta a ação benéfica e salutar da prece. Pela prece humilde, breve, fervorosa, a alma se dilata e dá acesso às irradiações do divino foco. A prece, para ser eficaz, não deve ser uma recitação banal, uma fórmula decorada, senão antes uma solicitação do coração, um ato da vontade, que atrai o fluido universal, as vibrações do dinamismo divino. Ou deve ainda a alma projetar-se, exteriorizar-se por um vigoroso surto e, consoante o impulso adquirido, entrar em comunicação com os mundos etéreos.

Assim, a prece rasga uma vereda fluídica pela qual sobem as almas humanas e baixam as almas superiores, de tal modo que uma íntima comunhão se estabeleça entre umas e outras, e o espírito do homem seja iluminado e fortalecido pelas centelhas e energias despedidas das celestiais esferas.


Léon Denis















Emmanuel - Livro Palavras de Vida Eterna - Chico Xavier - Cap. 130 - Na luz da verdade



Emmanuel - Livro Palavras de Vida Eterna - Chico Xavier - Cap. 130


Na luz da verdade


“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” — JESUS (João, 8.32)


Nenhuma espécie de amor humano pode comparar-se ao Divino Amor.

Semelhante apontamento deve ser mencionado, toda vez que nos inclinemos a violentar o pensamento alheio.

A Bondade Suprema, que é sempre a bondade invariável, deixa livres as criaturas para a aquisição do conhecimento.

A vontade do Espírito é acatada pela Providência, em todas as manifestações, incluindo aquelas em que o homem se extravia na criminalidade, esposando obscuros compromissos.

A pessoa converte, pois, a vida naquilo que deseje, sob a égide da Justiça Perfeita que reina em todos os distritos do Universo, determinando seja concedido a cada um por suas obras.

Elegemos os tipos de experiência em que nos propomos estagiar, nessa ou naquela fase da evolução. Discórdia e tranquilidade, ação e preguiça, erro e corrigenda, débito e resgate são frutos de nossa escolha.

Respeitemo-nos, assim, uns aos outros.

Não intentes constranger o próximo a ler a cartilha da realidade por teus olhos, nem a interpretar os ensinamentos do cotidiano com a cabeça que te pertence.

A emancipação íntima surgirá para a consciência, à medida que a consciência se disponha a buscá-la.

Rememoremos as palavras do Cristo: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Note-se que o Mestre não designou lugar, não traçou condições, não estatuiu roteiros, nem especificou tempo. Prometeu simplesmente — “conhecereis a verdade”, e, para o acesso à verdade, cada um tem o seu dia.


Emmanuel










(Reformador, fevereiro 1963, p. 26)
Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 151 - Ninguém se retira



Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 151


Ninguém se retira


“Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” — (JOÃO, 6.68)


À medida que o Mestre revelava novas características de sua doutrina de amor, os seguidores, então numerosos, penetravam mais vastos círculos no domínio da responsabilidade. Muitos deles, em razão disso, receosos do dever que lhes caberia, afastaram-se, discretos, do cenáculo acolhedor de Cafarnaum.

O Cristo, entretanto, consciente das obrigações de ordem divina, longe de violar os princípios da liberdade, reuniu a pequena assembleia que restava e interrogou aos discípulos:

— Também vós quereis retirar-vos?

Foi nessa circunstância que Pedro emitiu a resposta sábia, para sempre gravada no edifício cristão.

Realmente, quem começa o serviço de espiritualidade superior com Jesus jamais sentirá emoções idênticas, a distância d’Ele. A sublime experiência, por vezes, pode ser interrompida, mas nunca aniquilada. Compelido em várias ocasiões por impositivos da zona física, o companheiro do Evangelho sofrerá acidentes espirituais submetendo-se a ligeiro estacionamento, contudo, não perderá definitivamente o caminho.

Quem comunga efetivamente no banquete da revelação cristã, em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe endereçou o convite.

Por este motivo, Simão Pedro perguntou com muita propriedade:

— Senhor, para quem iremos nós?

É que o mundo permanece repleto de filósofos, cientistas e reformadores de toda espécie, sem dúvida respeitáveis pelas concepções humanas avançadas de que se fazem pregoeiros; na maioria das situações, todavia, não passam de meros expositores de palavras transitórias, com reflexos em experiências efêmeras.

Cristo, porém, é o Salvador das almas e o Mestre dos corações e, com Ele, encontramos os roteiros da vida eterna.


Emmanuel













sexta-feira, 29 de julho de 2022

Emmanuel - Livro Astronautas do Além - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 22 - Receio e desânimo - Vencerás



Emmanuel - Livro Astronautas do Além - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 22


Receio e desânimo


As tarefas da noite foram precedidas por muitas alegações de receio e desânimo, frente às lutas da vida na atualidade, por parte de dezenas de amigos que nos visitavam. Muitos episódios tristes, muitos casos de provação.

O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu o item 19 do capítulo XXIV para estudo. E o nosso amigo espiritual, Emmanuel, complementando as lições da noite, escreveu por nosso intermédio a página Vencerás. (Chico Xavier)


VENCERÁS


Não desanimes. Persiste mais um tanto.

Não cultives pessimismo. Centraliza-te no bem a fazer.

Esquece as sugestões do medo destrutivo.

Segue adiante, mesmo varando a sombra dos próprios erros.

Avança ainda que seja por entre lágrimas.

Trabalha constantemente. Edifica sempre.

Não consintas que o gelo do desencanto te entorpeça o coração.

Não te impressiones à dificuldade.

Convence-te de que a vitória espiritual é construção para o dia a dia.

Não desistas da paciência.

Não creias em realização sem esforço.

Silêncio para a injúria.

Olvido para o mal.

Perdão às ofensas.

Recorda que os agressores são doentes.

Não permitas que os irmãos desequilibrados te destruam o trabalho ou te apaguem a esperança.

Não menosprezes o dever que a consciência te impõe.

Se te enganaste em algum trecho do caminho, reajusta a própria visão e procura o rumo certo.

Não contes vantagens nem fracassos.

Estuda buscando aprender.

Não te voltes contra ninguém.

Não dramatizes provações ou problemas.

Conserva o hábito da oração para que se te faca luz na vida íntima.

Resguarda-te em Deus e persevera no trabalho que Deus te confiou.

Ama sempre, fazendo pelos outros o melhor que possas realizar.

Age auxiliando. Serve sem apego.

E assim vencerás.


Emmanuel











Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Emmanuel - Livro Calma - Chico Xavier - Cap. 18 - Acerto de contas



Emmanuel - Livro Calma - Chico Xavier - Cap. 18


Acerto de contas


O companheiro terá tido estranho comportamento, agredindo-te ou prejudicando-te.

Não te dês a reações precipitadas, sob o pretexto de justificar-te.

Imagina-te, antes de tudo, em lugar dele.

Como te desinibirias, se tivesses uma pessoa querida, avizinhando-se da morte?

Que comportamento seria o teu, ante determinada moléstia que te corroesse o corpo, num momento em que alguém te lembrasse o peso de uma dívida?

Se te vês à frente de um louco não podes ignorar que será impossível curá-lo com marteladas na cabeça.

Diante de um prejuízo material, mesmo de grandes proporções, se podes sustentar-te sem que o devedor consiga solvê-lo, mais vale esperar que provocar um rompimento de consequências imprevisíveis.

Pensa nas ocasiões em que corações amigos te haverão desculpado as próprias faltas.

Medita nas pessoas queridas para as quais, muitas vezes, terás de impetrar a benevolência dos outros, algumas vezes, até mesmo desses outros a quem talvez pretendas constranger com desafios e exigências.

Em qualquer acerto de contas, medita na extensão das nossas dívidas para com Deus e asserena-te, na certeza de que, acima de todos os conflitos, a paciência vale mais.


Emmanuel










Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Miramez - Livro Horizontes da Mente - João Nunes Maia - Pág. 93 - Ação do Pensamento



Miramez - Livro Horizontes da Mente - João Nunes Maia - Pág. 93


Ação do Pensamento


O pensamento é quase tudo na vida do espírito. Ele é a manifestação da inteligência, é a razão desentulhando os velhos caminhos dos instintos, para manifestar altamente, e com segurança, o prémio da conquista da alma nas lutas do mundo. Em tudo o que fazemos, a influência do pensamento está visível, pois determina o que devemos ou não fazer. É certo que existem muitas determinações que o bom senso deixa de cumprir, não achando sequência agradável em seus estímulos, coerentes com a caridade e com o amor. Porém, as outras programações aceitáveis nascem do seu majestoso impulso, como ideias vigorosas, a tornarem-se concretas nos atos de cada dia.

Quando o homem começa a analisar o modo pelo qual pensa, está acordando para as realidades espirituais, os seus olhos se abrem por gostar da luz. E essa luz, com certeza, irá beneficiá-lo. O pensamento vibra em duas faixas, cuja influência nos acostumamos a sentir: uma inconsciente e outra consciente. E o corpo físico, tanto quanto o espiritual, é largamente impulsionado por ele. A mente é o centro de transmissão, e os átomos que compõem as moléculas, até o mais volumoso órgão, receptores ligados na dimensão exata de todas as emissões. Somos beneficiados com pensamentos retos, ou torturados com ideias que têm como mãe a pura ignorância. Por falar em ignorância, ela tem uma escala gradativa bem maior do que julgamos. Em certas circunstâncias, pensa-se que estamos de posse da consciência de determinados assuntos, ou munidos de vigilância necessária, e no ponto mais vigiado é que caímos, porque a consciência não era total. Existia ainda um pouco de ignorância que nos fez fraquejar, razão por que as faltas são mais ou menos leves, de acordo com o erro praticado. É uma questão também de justiça.

Se assim pudéssemos dizer, a mente tem muitas camadas sobrepostas, interligadas umas às outras. Todavia, no intervalo de uma para outra, um sentido denuncia, conforme seu despertar, o que vai para a verdadeira formação dos pensamentos. E a alma adestrada no bem desfaz os primeiros traços congênitos das ideias antes que estas tomem as verdadeiras formas. É o que o apóstolo Paulo chamava desta forma: O Cristo em mim é motivo de glória . Achava o seareiro do Evangelho, que nessas horas, o Mestre operava dentro dele, enriquecendo suas qualidades morais, e queimando o joio, para que o trigo pudesse florescer na lavoura da mente.

Demos os nomes que melhor nos apetecer, isso não importa. Importa sim, que vigiemos, estimulando o amor em nossos corações, para que ele não nos deixe sem recursos para combater os pensamentos inferiores que, por vezes, queiram invadir a seara das ideias, conturbando a nossa vida. A ação do pensamento, na faixa inconsciente, é o programa de Deus em nossa defesa. Ele estimula glândulas, sem que notemos, nas linhas mais acertadas que possamos imaginar. É o que ocorre com a suprarrenal, na hora de um perigo iminente. O raciocínio consciente é como se fosse uma carta colocada nos correios, cujo transporte fosse pela estrada de ferro. Como a demora é excessiva, enviamos um recado pelas ondas do rádio, com o assunto mais ou menos sintetizado, até que chegue o velho estafeta. Assim é o caso mencionado. O pensamento inconsciente são as ondas de rádio para a suprarrenal, no sentido de ela preparar a defesa, para que depois, a razão concretize o trabalho de amparo.

O pensamento vibra em duas faixas, que podemos mencionar, por enquanto. Mas na verdade os seus recursos são infinitos. Eis que chegou a hora de entrarmos na escola do pensamento reto, para que as ações dignas nos sejam favoráveis.



Hammed - Livro Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 1 - Tua medida



Hammed - Livro Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 1


Tua medida


“Não julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.” (Capítulo 10, item 11)*


Toda opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos antecedentes. 

Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas. 

Censuras, observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um tipo de “reservatório moral” – coleção de regras e preceitos a ser rigorosamente cumpridos, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más. 

Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo “verdades absolutas”. Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos “valores sagrados”, isto é, nossa aquisições mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação. 

Em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a “forma” e o “material” utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.

Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequados. 

Só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar. 

Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos comportamentos perante os outros não são totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a formas de avaliação, estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma de “autoengano.”

Certas pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no inconsciente. 

Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o “autojulgamento”.

Não obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um “eu individualizado”. 

Devemos reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada das outras tantas consciências. 

Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, “sentindo e pensando com ele”, em vez de “pensar a respeito dele”, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas. 

Segundo Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”.(1) 

O “Apóstolo dos Gentios” manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo comportamento julgador estará, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença, ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos. 

Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa “real medida”: como iremos viver com nós mesmos e com os outros. 

O ser humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar. 

Com freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e, conseqüentemente, atraímos tudo aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acontece de modo automático, ou seja, através de mecanismos não perceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso “arbítrio”, mas, na verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e estabelecido por “arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.

Poder-se-á dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no passado. 

Nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.

Se criaturas afirmarem “idosos não têm direito ao amor”,  limitando o romance só para os jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida de vitalidade. 

Se pessoas declararem “homossexualidade é abominável” e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos. 

Se indivíduos decretarem “jovens não casam com idosos”, estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos. 

Se alguém subestimar e ironizar “o desajuste emocional dos outros”, poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.

Se formos juízes da “moral ideológica” e “sentimental”, sentenciando veementemente o que consideramos como “erros alheios”, estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.

“Não julgueis, a fim de que não sejais julgados”, ou mesmo, “se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”, quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no “auditório da vida” todos somos “atores” e “escritores” e, ao mesmo tempo, “ouvintes” e “espectadores” de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.

Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos, é necessário observarmos e concatenarmos nossos “pesos” e “medidas”, a fim de que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenações diversas.


Hammed






* A  presente  citação  e  todas  as  demais  que  iniciam cada  capítulo  foram extraídas  de  “O  Evangelho  Segundo  o  Espiritismo”,  de Allan  Kardec. (Nota do autor espiritual.)

(1) Romanos, 2:1




Fonte: Renovando Atitudes - pdf

Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - Cap. 5, Pág. 20 - Solidão



Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - Cap. 5, Pág. 20


Solidão


Espectro cruel que se origina nas paisagens do medo, a solidão é , na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam a cultura e o homem.

A necessidade de relacionamento humano, como mecanismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensíveis e em todos quantos enfrentam problemas para um intercâmbio de idéias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.

Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.

A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a benefício de outrem.

O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consideração e respeito ou conceda ao próximo este apoio, que gostaria de fruir.

A mídia exalta os triunfadores de agora, fazendo o panegírico dos grupos vitoriosos e esquecendo com facilidade os heróis de ontem, ao mesmo tempo que sepultam os valores do idealismo, sob a retumbante cobertura da insensatez e do oportunismo.

O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se. O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.

O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das idéias superiores, antes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apóia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.

Quem, portanto, não se vê projetado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentirosa, trabalhada em estúdios artificiais.

Parece muito importante, no comportamento social, receber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a estados de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.

O homem faz questão de ser visto, de estar cercado de bulha, de sorrisos embora sem profundidade afetiva, sem o calor sincero das amizades, nessas áreas, sempre superficiais e interesseiras. O medo de ser deixado em plano secundário, de não ter para onde ir, com quem conversar, significaria ser desconsiderado. atirado à solidão.

Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentado, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictícia.

A conquista desse triunfo e a falta dele produzem solidão.

O irreal, que esconde o caráter legítimo e as lidimas aspirações do ser, conduz à psiconeurose de auto-destruição.

A ausência do aplauso amargura, face ao conceito falso em torno do que se considera, habitualmente como triunfo. Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objeto de prazer, mascarado de afetividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, não se torna amável nem amada realmente.

Campeia, assim, o "medo da solidão", numa demonstração caótica de instabilidade emocional do homem, que parece haver perdido o rumo, o equilíbrio.

O silêncio, o isolamento espontâneo, são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, auto-aprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.

O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, talvez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.

Os campeões de bilheteira, nos shows, nas rádios, televisões e cinemas, os astros invejados, os reis dos esportes, dos negócios, cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.

Suicídios espetaculares, quedas escabrosas nos porões dos vícios e dos tóxicos comprovam quanto eles são tristes e solitários. Eles sabem que o amor, com que os cercam, traz, apenas, apelos de promoção pessoal dos mesmos que os envolvem, e receiam os novos competidores que lhes ameaçam os tronos, impondo-lhes terríveis ansiedades e inseguranças, que procuram esconder no álcool, nos estimulantes e nos derivativos que os mantém sorridentes, quando gostariam de chorar, quão inatingidos, quanto se sentem fracos e humanos.

A neurose da solidão é doença contemporânea, que ameaça o homem distraído pela conquista dos valores de pequena monta, porque transitórios.

Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandecimento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos animais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objetivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.

O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encontrar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.

A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o prazer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.

O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confiança nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.

Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, ao sugerir o "amor ao próximo como a si mesmo" após o "amor a Deus" como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se, de modo a plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocupação de receber resposta equivalente.

O homem solidário, jamais se encontra solitário.

O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz intima - eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.


Joanna de Ângelis









Fonte: O Homem Integral-pdf

Ermance Dufaux - Livro Laços de Afeto - Wanderlei Oliveira - 1ª Parte - A Pedagogia do Afeto na Educação do Espírito - Cap. 2 - Aprender a amar



Ermance Dufaux - Livro Laços de Afeto - Wanderlei Oliveira - 1ª Parte - A Pedagogia do Afeto na Educação do Espírito - Cap. 2


Aprender a amar


Escutamos frequentemente frases que constituem atestados de incompatibilidade ou admiração instantânea em relacionamentos, emitidas rotineiramente nas diversas rodas de convivência, definindo alguns sentimentos que temos pelo outro como se fossem predestinados e definitivos.

Convivemos, comumente, “ao sabor” daquilo que sentimos espontaneamente por alguém.

Consideremos nesse tema que o Amor não é um automatismo do sentir no aprendizado das relações humanas, como se houvessem fatores predisponentes e inderrogáveis para gostar ou não dessa ou daquela criatura.

Amar é uma aprendizagem. Conviver é uma construção.

Não existe Amor ou desamor à primeira vista, e sim simpatia ou antipatia. Amor não pode ser confundido com um sentimento ocasional e especialmente dirigido a alguém. Devemos entendê-lo como O sentimento Divino que alcançamos a partir da conscientização de nossa condição de operários na obra universal, um “estado afetivo de plenitude”, incondicional, imparcial e crescente.  

O Amor é crescente no tempo e uniforme no íntimo, não tem hiatos. Mesmo entre aqueles em que a simpatia brota instantaneamente, Amor e convivência sadia serão obras do tempo, no esforço diário do entendimento e do compartilhamento mútuo do desejo de manter essa simpatia do primeiro contato, amadurecendo-a com o progresso dos elos entre ambos.

Sabendo disso, evitemos frases definitivas que declarem desânimo ou precipitação em razão do que sentimos por alguém. Relações exigem cuidados para serem edificadas no Amor, e esse aprendizado exige os testes de afeições no transcorrer dos tempos.

E se nos guardamos na retaguarda moral e afetiva, esperando que os outros melhorem e se adaptem às nossas expectativas para com eles, a fim de permitirmo-nos amá-los, então, certamente, a noção de gostar que acalentamos é aquela na qual ainda acreditamos que Deus faculta isso como Dom Divino e natural em nossos corações conforme a sua vontade. Encontrando-nos nesse patamar de evolução, nada mais fazemos que transferir para o Pai a responsabilidade pessoal do testemunho sacrificial, na criação de elos de libertação junto a quantos esposam nossos caminhos nas refregas da vida.

Amor não é empréstimo Divino para o homem e sim aquisição de cada dia na aprendizagem intensiva de construir relacionamentos propiciadores de felicidade e paz.

Espíritas que somos temos bons motivos para crer na força do Amor, enquanto a falta de razões convincentes tem induzido multidões de distraídos aos precipícios da dor, porque palmilham em decidida queda para as furnas do desrespeito, da lascividade, da infidelidade, da vingança e da injustiça, em decrépitas formas de desamor.

A terapêutica do Amor é, sem dúvida, a melhor e mais profilática medicação do Pai para seus filhos na criação.

Compete-nos, aos que nos encontramos à míngua de paz, experimentá-la em nossos dias, gerando fatos abundantes de Amor, vibrando em uníssono, com as sábias determinações cósmicas estatuídas para a felicidade do ser na aquisição do glorioso e definitivo título de Filhos de Deus.

E se esse sentimento sublime carece aprendizagem, somente um recurso poderá promover semelhante conquista: a educação.


Ermance Dufaux










Allan Kardec - Revista Espírita - Abril de 1865 - Destruição recíproca dos seres vivos



Allan Kardec - Revista Espírita - Abril de 1865


Destruição recíproca dos seres vivos


728. É lei da Natureza a destruição?

“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar; porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.” (O Livro dos Espíritos)


A destruição dos seres vivos uns pelos outros é uma das leis da Natureza que à primeira vista parece conciliar-se menos com a bondade de Deus. Pergunta-se por que teria ele estabelecido como lei a necessidade se destruírem mutuamente para se alimentarem uns à custa dos outros.

Para aquele que apenas vê a matéria, que limita sua visão à vida presente, isto parece, com efeito, uma imperfeição na obra divina, e daí os incrédulos tiram a conclusão que não sendo Deus perfeito, não há Deus. É que eles julgam a perfeição de Deus a partir de seu ponto de vista. Seu próprio julgamento é a medida de sua sabedoria, e eles pensam que Deus não poderia fazer melhor do que eles próprios fariam. Não lhes permitindo sua curta visão julgar o conjunto, não compreendem que um bem real possa derivar de um mal aparente. Só o conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua verdadeira essência, e da grande lei de unidade que constitui a harmonia da criação, pode dar ao homem a chave desse mistério, e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a harmonia precisamente onde ele não via senão uma anomalia e uma contradição. Dá-se com esta verdade o mesmo que se dá com muitas outras, pois o homem não é apto para sondar certas profundezas senão quando seu Espírito chega a um suficiente grau de maturidade.

A verdadeira vida, tanto do animal quanto do homem, não está mais no envoltório corporal do que na roupa. Ela está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo para se desenvolver pelo trabalho que ele deve realizar sobre a matéria bruta. O corpo se desgasta nesse trabalho, mas o Espírito não; ao contrário, dele sai cada vez mais forte, mais lúcido e mais capaz. Que importa, pois, se o Espírito muda mais vezes ou menos vezes de envoltório? Ele não deixa de ser Espírito por esse motivo. Acontece absolutamente como se um homem renovasse o seu vestuário cem vezes em um ano. Nem por isso ele deixaria de ser o mesmo homem. Pelo espetáculo incessante da destruição, Deus ensina aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material, e neles suscita a ideia da vida espiritual, fazendo-os desejá-la como uma compensação.

Perguntarão se Deus não poderia chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem submeter os seres vivos a se destruírem mutuamente. Bem esperto aquele que pretendesse penetrar os desígnios de Deus! Se tudo é sabedoria em sua obra, devemos supor que essa sabedoria não esteja mais ausente neste ponto do que nos outros. Se não o compreendemos, devemos culpar o nosso pouco adiantamento. Contudo, podemos tentar encontrar a razão disto tomando por bússola este princípio: Deus deve ser infinitamente justo e sábio. Busquemos, pois, em tudo, sua justiça e sua sabedoria.

Uma primeira utilidade que se apresenta dessa destruição, utilidade sem dúvida puramente física, é esta: os corpos orgânicos não se mantêm senão à custa de matérias orgânicas, as únicas que contém os elementos nutritivos necessários à sua transformação. Como os corpos, instrumentos de ação do princípio inteligente, precisam ser incessantemente renovados, a Providência faz com que eles sirvam à sua mútua manutenção. É por isso que os seres se nutrem uns dos outros, isto é, que o corpo se nutre do corpo. No entanto, o Espírito não é aniquilado nem alterado. Ele apenas é despojado de seu envoltório.

Além disso há considerações morais de ordem mais elevada.

A luta é necessária ao desenvolvimento do Espírito, porque é na luta que ele exercita suas faculdades. Aquele que ataca para obter seu alimento e aquele que se defende para conservar sua vida fazem exercícios de astúcia e de inteligência e aumentam, consequentemente, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe. Mas o que foi que, na realidade, o mais forte ou mais apto tirou do mais fraco? Sua vestimenta de carne, e nada mais. O Espírito, que não morreu, mais tarde tomará outra.

Nos seres inferiores da criação, naqueles em que o senso moral não existe, nos quais a inteligência ainda está no estado de instinto, a luta não poderia ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas necessidades materiais é a da alimentação. Assim, eles lutam unicamente para viver, isto é, para apanhar ou defender uma presa, pois não poderiam ser estimulados por um móvel mais elevado. É nesse primeiro período que a alma se elabora e se prepara para a vida. Quando atingiu o grau de maturidade necessário à sua transformação, ela recebe de Deus novas faculdades: o livre-arbítrio e o senso moral, numa palavra, a centelha divina, que dá um novo curso às suas ideias, dotando-a de novas percepções. Mas as novas faculdades morais de que ela é dotada só se desenvolvem gradativamente, pois nada é brusco na Natureza; há um período de transição, no qual o homem mal se distingue do bruto. Nas primeiras idades domina o instinto animal e a luta ainda tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, o instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam; então o homem luta, não mais para se alimentar, mas para satisfazer sua ambição, seu orgulho, a necessidade de dominar. Para isto ainda lhe é necessário destruir. Mas, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade e diminui a necessidade de destruição, acabando mesmo por se tornar odiosa e apagar-se. O homem adquire horror ao sangue. Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito porque, mesmo tendo chegado a esse ponto, que nos parece culminante, ele está longe de ser perfeito; só ao preço de muita atividade ele adquire conhecimentos e experiência, e se despoja dos últimos vestígios da animalidade. A luta, que era sangrenta e brutal, se torna puramente intelectual. O homem, então, luta contra as dificuldades e não mais contra os seus semelhantes.


Allan Kardec