terça-feira, 12 de julho de 2022

Neio Lúcio - Livro Colheita do Bem - Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano / Chico Xavier - Cap. 115 - A vida é imensa



Neio Lúcio - Livro Colheita do Bem - Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano / Chico Xavier - Cap. 115


A vida é imensa


26/03/1952


Meus queridos filhos, Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita paz e bom-ânimo em nossas lutas de cada dia.

Com o Divino Auxílio, vocês venceram no grande páreo da serenidade, da tolerância, do auxílio fraterno e da compreensão.

Felizmente, meu caro Rômulo, sentimos os alicerces de sua boa vontade e sobre eles conseguimos estabelecer a necessária construção mental de resistência e defesa em que você devia movimentar-se nas horas de hoje. Rendamos graças a Deus! Pela manhã, tomei a luta ao seu lado e partilhá-la-ei onde você for. Vejo-me envaidecido pela sua força de autodomínio na aplicação de princípios em cujo estudo e experimento nos achamos juntos há mais de três lustros.

Não nos sintamos na posição de vítimas e sim de lutadores. A vida é imensa e as nossas experiências são infinitas. Desde o primeiro instante de 1952 reconheci que, sob o ponto de vista de nossos desejos humanos, a alteração plasmava-se a largos traços em seu e nosso estabelecimento. Na condição de humano companheiro do seu apostolado, não obstante as minhas condições de amigo espiritual, acompanhei todos os seus passos e, gradativamente, de conversação a conversação, em espírito, nos grandes silêncios de nossa comunhão mais íntima, procurei colaborar com você na preparação para esta hora que, penetrando os mais profundos desejos do seu coração, igualmente não desejei. Entretanto, meu filho, outros poderes interferiram, outras atuações se verificaram no feito, e quando igualmente interrogo aos nossos maiores recebo a invariável informação de que as medidas se reportam ao seu próprio bem-estar.

Posso aduzir que o seu bem-estar é permanecer na paisagem que por tantos e tão abençoados anos lhe reteve a capacidade de criar e servir, mas, ainda assim, esclarecem-me que há ocasiões em que necessitamos não só atender a problemas intrincados, relegados por nós mesmos aos velhos e escuros caminhos do pretérito, mas também aos imperativos de nosso aproveitamento da casa física em que trabalhamos. Por mais se nos estenda no mundo o raio de ação, por mais avancemos na esfera de nosso idealismo onde nosso trabalho surge, invariável e inflexível, um momento há em que necessitamos recolher energias e talentos ao santuário do corpo, a fim de preservá-lo. Poderíamos, por fim, alegar que bastar-nos-ia “uma advertência” e satisfaríamos as instruções recebidas para a regulamentação dos assuntos de nossa saúde, entretanto, conforme o impulso de nossa marcha, e segundo os compromissos que vamos assumindo, por vezes, é indispensável que outros providenciem por nós, em nosso próprio favor.

5 Quanto nos seja possível, atendamos aos imperativos da nova luta com o mesmo entusiasmo do “semeador que saiu a semear” No fundo, somos romeiros da Terra e estatutos de ordem superior nos governam os destinos. A derrota existe simplesmente para os espíritos que lhe aceitam as sombras, porque, em verdade, o que existe para a alma consciente de suas obrigações para com o Divino Poder é modificação ou alteração provisórias, que se ajustam ao programa das renovações imprescindíveis.

Cremos que as suas novas tarefas no Rio exigirão muito interesse e carinho de nossa parte, ainda mesmo considerando-as como experiências, a título precário. Abracemo-las com a boa vontade e dedicação ao bem com que nos compete marcar a senda de nossa passagem pelo mundo. Não nos faltarão recursos para a utilização dos nossos valores criativos. O trabalho será sempre o nosso pão espiritual em toda parte. Pedimos ao Alto para que o clima pacífico continue dominando os aspectos da mudança havida e somos muitos a apreciar-lhe o louvável esforço de bem ajustar a harmonia nos problemas em curso. E fazendo o possível por organizarmos um ninho doméstico na árvore rumorosa do Rio continuemos atentos ao caminho das horas que modificam todos os quadros da luta humana. Perder o estímulo ao sonho de fazer e ajudar é a maior calamidade suscetível de alcançar-nos o espírito. Tenhamos calma e prossigamos, alimentados pela fé.

Não nos cansemos de louvar ao Senhor pelas bênçãos recolhidas e aceitemos corajosos as lutas que a sua divina sabedoria nos impõe. Toda a nossa questão é substituir na mente certos valores que nos parecem inamovíveis. Nosso próprio pensamento segrega forças de renovação e compensação em benefício do nosso equilíbrio quando buscamos movimentá-lo à procura da posição mais própria às situações que vão surgindo. Achamo-nos na Terra à maneira de peixes desarvorados num mar a agitar-se sobre vulcão terrível. Não há estabilidade senão para aqueles que a procuram dentro de si mesmos e nem paz senão para os que a recebem dentro do próprio coração.

O mundo político de todas as nações é uma noite sombria e em nosso campo sabemos que o quadro é estarrecedor, não só pelo hoje, mas também pelo amanhã. Agradeçamos a fortaleza moral em que estamos respirando e aceitemos os superiores desígnios que nos beneficiam sem que a nossa percepção registre, de imediato, a assistência sublime de que somos objetos. A nossa melhor situação é a do lidador que prossegue combatendo, pelos seus mais altos objetivos, com as armas da tenacidade e da compreensão, ocultas na própria alma. Não nos faltará terreno à plantação dos recursos de que carecemos para o futuro. Atendamos aos nossos “adversários cordiais”, honrando a incumbência para a qual nos designam, e esperemos agindo. No trabalho está o apoio do trabalhador.

Fazendo, muitas vezes, aquilo que não nos agrada, encontramos o caminho para a ação que mais nos agradará. Sustentando pedras nos ombros quase sempre conduzimos conosco as preciosidades que nelas se refugiam. Não nos desatente o “agora”. Aproveitemo-lo para buscar o “depois”. Quanto esteja ao alcance de suas forças, evitemos qualquer choque com a situação presente e recordemo-nos constantemente do belo ensinamento do Evangelho de S. João: “Mãe, eis aí teu filho! Filho, eis aí tua mãe!” [1]

No Cristo, encontramos o padrão real do servidor que não desanima, ainda mesmo quando se sente no dever de confiar a própria mãe a corações estranhos ao seu filial coração. Ergamos a cabeça e passemos adiante.

Estou certo de que o problema funcional de Wanda segue muito bem encaminhado e quanto ao Roberto o tratamento médico é imprescindível. O processo infeccioso não é uma hipótese e precisamos combatê-lo com as energias ao nosso alcance quanto antes, a fim de que ele possa entrar em outras responsabilidades.

Acalmemos nosso coração nas águas cristalinas e invisíveis da fé viva e caminhemos. Tudo passa na Terra e esse pensamento não deve ser por nós perdido de visão.

Cumprimentando paternalmente a vocês pelo desassombro e serenidade das horas de hoje, e com minhas particulares felicitações à nossa querida Maria, abraça-os muito afetuosamente o papai e amigo reconhecido de todos os instantes,


Neio Lúcio
(A. Joviano)







[1] Nota da organizadora: João, 19:26,27.

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