quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 32, Pág. 193 - O Ser Translúcido




Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 32, Pág. 193


O Ser Translúcido


"(...) comparemos os médiuns a esses frascos de líquidos coloridos e transparentes que se vêem na vitrine de laboratórios farmacêuticos; pois bem, nós somos como as luzes que clareiam certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que nossos raios luminosos, obrigados a passarem através de vidros mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer, por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos que desejamos iluminar, senão tomando a tinta, ou melhor, a forma própria e particular desses médiuns". (Livro dos Médiuns - 2ª parte - Cap. XIX, item 225.)


Qualquer indivíduo que edifique seus relacionamentos sobre alicerces não assentados na honestidade estará construindo em terreno arenoso. Suas relações — sociais, afetivas, familiares, profissionais, ou mesmo extra-sensoriais - não resistirão à "fragilidade do solo" e às "intempéries do tempo", se não utilizar de clareza e franqueza consigo mesmo e com os outros.

Honestidade será sempre a melhor política em todas as situações da vida. Abandonar o "palco da vida" liberando-se das máscaras requer esforço e coragem.

Confúcio, o mais célebre filósofo chinês, disse: "Vencer-se a si mesmo, controlar suas paixões, devolver a seu coração a honestidade que ele herdou da Natureza, eis a virtude perfeita. Que vossos olhos, vossos ouvidos, vossa língua, tudo em vós seja mantido nas regras da honestidade".

O mecanismo psicológico de rejeitar atitudes, impulsos ou sentimentos e culpar os outros, de forma que a autocondenação se torne uma acusação a outra pessoa, se denomina "projeção". Podemos dizer que o indivíduo tenta apaziguar seu suposto "inimigo interior", projetando-o no mundo exterior.

Atribuímos aos outros a responsabilidade por situações desagradáveis e afirmamos que são eles que sentem ou fazem aquilo do qual nos incriminam.

Na infância, esse disfarce psicológico se verifica claramente quando a criança não gosta de alguém, afirmando que essa pessoa a provoca ou hostiliza. No colégio, quando não consegue boas notas, diz-se tratada injustamente pelos professores, ou mesmo, no surgimento de uma desavença ou discussão, sempre aponta como agressora uma outra criança.

Quando as criaturas usam esse mecanismo de maneira indiscriminada, elas perpetuam a ignorância de si mesmas, ou seja, ficam inabilitadas para reconhecer a causa dos fatos e acontecimentos que ocorrem em sua vida.

Negar os próprios sentimentos e emoções indica autodesonestidade. Ser honestos com nós mesmos implicará, por conseqüência, uma postura interior que dificilmente nos levará a ser falsos com os outros.

Relacionamentos obscuros e mal definidos nos causam fadiga, medo e diversas doenças. Especialistas da medicina psicossomática dizem que, por não querermos admitir nossos sentimentos, deterioramos certas estruturas íntimas, o que nos desorganiza emocional e psicologicamente.

Sentir casualmente ciúme, medo, raiva, insegurança, desejos sexuais, não faz de nós indivíduos melhores ou piores. O que moralmente nos afeta é o que vamos fazer ou não fazer com esses mesmos sentimentos ou emoções. Revelá-los não significa que iremos nos tornar indivíduos instintivos, brutos, libertinos ou malcriados, mas, sim, que somos honestos com nós mesmos e sinceros com os outros. Nossa cruz tem a carga proporcional à ocultação daquilo que atrelamos a ela.

Uma coisa é sentir, outra executar; ainda mais absurdo é projetar nossas falhas nos outros, como se nada tivéssemos a ver com elas. Na parábola contada por Jesus (1) o fariseu projetou a própria sombra no publicano: isso lhe dava um grande bem-estar e lhe trazia, sob muitos aspectos, uma sensação de supremacia.

Precisamos adquirir o hábito sadio de averiguar como se processa em nossa intimidade a forma de perceber, sentir, justificar e argumentar diante da vida. É importante saber o porquê de nossas decisões, ações e reações.

Os sentimentos e pensamentos tem odores distintos. Cada criatura possui cheiro característico, que pode ser identificado, pois é estritamente individual. Não só os sensitivos, mas qualquer um pode distinguir os aromas das auras. Elas emitem vibrações odoríficas, que se desprendem da postura íntima das criaturas.

Nosso sistema nervoso nos dá uma sensibilidade generalizada do cosmo físico e do perispiritual.

Nosso olfato se manifesta através de um complexo de estruturas nervosas — células olfatórias —, o qual nos oferece a capacidade de registrar os odores, não apenas os físicos mas igualmente os astrais, todos emanados das energias que nos rodeiam.

A atmosfera astral da pessoa íntegra e honesta causa um impacto doce, agradável e perfumado, já que é composta de fragrâncias florais e adocicadas, com efeitos salutares e revigorantes. Enquanto que a das criaturas envolvidas em fluidos pesados exala cheiros de natureza acre, repelentes e insuportáveis. 

Interessante notar que é muito comum as pessoas sentirem odores malcheirosos de decomposição — de flores ressequidas, substâncias alcoólicas ou tabaco — em ambientes onde existem entidades de baixo teor vibratório.

"Andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave."(2)

Amor é o mais honesto e digno dos sentimentos. O "odor suave" que se desprende da alma de um ser atesta seu grau de espiritualidade ou a grandiosidade de seu amor. Importante observar que amor e espiritualidade têm características harmônicas e indissociáveis.

"(...) nós somos como as luzes que clareiam certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos (...)"

Sendo o sensitivo intérprete dos mensageiros espirituais, é compreensível que a palavra articulada ou escrita contenha algo deles: "(...) nossos raios luminosos, obrigados a passarem através de vidros mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos que desejamos iluminar senão tomando a tinta, ou melhor, a forma própria e particular desses médiuns." 

Porém, o medianeiro que se "autodesconhece" encontrará muito mais dificuldades para diferenciar o que faz parte de seu mundo interior do que pertence realmente aos espíritos comunicantes. Pode alterar de forma significativa o ponto de vista do Espírito, adulterando profundamente seus conceitos, modificando o teor de suas palavras e distorcendo sua informação.

"O ser translúcido" é aquele que adquiriu a qualidade de deixar passar a luz espiritual de forma nítida, sem permitir que obstáculos maiores prejudiquem a autenticidade das manifestações transcendentais. Ele reconhece perfeitamente os próprios sentimentos e emoções.

Por se conhecer relativamente bem, não transfere o "lado desconhecido" de sua personalidade para coisas, situações ou pessoas que vivem fora ou dentro da matéria densa.


Hammed




(1) Lucas 18:9 a 14
(2) Eclésios 5:2




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