quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap. 8 - Como se tratar diante das frustrações




Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap. 8


Como se tratar diante das frustrações


"O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá." Santo Agostinho (Paris, 1863). O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5, item 19.


Tomar contato com a falibilidade é uma experiência comparável à dolorosa cirurgia sem o benefício da anestesia.

Sentir-se impotente, arrepender-se de más escolhas, reconhecer honestamente uma falha lamentável, ter a coragem de olhar para os erros do passado são atitudes desafiantes para nós que buscamos o aprendizado espiritual.

Quando todas as resistências do orgulho e da vaidade a respeito de nossos reais limites se quebram, a sensação de frustração costuma ser o espelho no qual enxergamos as tormentas de quem se percebe falível. E a frustração pode transformar-se na porta que se abre para a entrada do desvalor pessoal, que encarcera a mente e o coração na sensação de inutilidade e vazio interior.

Nesse quadro de provas emocionais, experimentamos a amargura da solidão e o clima da falência moral. Tudo parece uma sementeira arrasada por praga destruidora e um mal-estar toma conta da alma.

Todavia, para dimensionar nossa verdadeira estatura espiritual e ajuizar sobre quais são as reais necessidades de aprimoramento, torna-se indispensável a desilusão a respeito do que pensamos que somos. É necessário o contato com nossa falibilidade para examinar com proveito a realidade que nos cerca. A humildade só é possível quando caem todas as escamas enfermiças de nossa autoidolatria sobre supostos valores e qualidades que ainda não possuímos.

É no clima da frustração que brota a verdadeira identidade do nosso ser eterno, individual, exuberante e capaz de refletir a grandeza do criador.

Quem sofre a dor da frustração guarda, no íntimo, muitos anseios nobres que ainda não foram alcançados. Somente quem não se alimenta de boas intenções não se frustra.

Frustração pode ser também indício de que necessitamos rever posturas e reconstruir decisões, não sendo por isso, sinônimo de infelicidade. Frustração é sinal de rota mal orientada, e os infelizes não são aqueles que tentaram e falharam, mas, aqueles que sequer importam-se com os dissabores da existência, optando pela fuga na irresponsabilidade. As pessoas que se frustram o fazem porque tiveram atitude, tentaram, nutriram boas intenções, desejos e expectativas.

0 encontro com nossa falibilidade só é possível porque estamos sensíveis a algo melhor e queremos avançar. Se nos importamos com as decepções da vida vinculadas à nossa responsabilidade é porque almejamos rumos melhores e mais sadios. Por essa razão, consideremo-nos vitoriosos porque tentamos, e errar faz parte da caminhada. E porque errarmos e nos frustrarmos, ainda que repetidamente, não quer dizer que não somos capazes ou que não merecemos o que buscamos. A frustração, em verdade, é um convite ao recomeço de um modo diferente e melhor, é indício de que talvez tenhamos de rever nossas expectativas ou alterar nossa forma de realizar o que desejamos.

Não confundamos frustração com derrota. Frustração é sintoma de que o resultado não foi o esperado, e a derrota só existe para quem desistiu ou nem tentou.

0 fato de nos esforçarmos para alcançar o êxito não significa que o alcançaremos. Isso não basta.

Nos dias atuais, em função do imediatismo, há uma busca desenfreada de sucesso pelos caminhos da facilidade, quando, na verdade, toda conquista legítima, para valer a pena e nos pertencer de fato, solicita o concurso louvável do tempo, da paciência, da disciplina e da persistência.

Na Terra, raramente alguém se encontrará fora das provas da desilusão. Muitos sonhos, planos e revezes nada mais são que vivências para destruir as ilusões egoísticas de conquistas fáceis e apressadas. Necessariamente, elas não indicam incompetência, desvalor ou limitação, mas sim são resultados da pressa, de estratégias inadequadas e de pouca dedicação e cumplicidade.

Muitas vezes o que consideramos perda, erro e má escolha é uma alteração de curso nas lições da vida para nos aproximar ainda mais do desenvolvimento de habilidades e valores que verdadeiramente nos farão felizes e realizados.

Vamos acolher a frustração como um alerta da existência a fim de examinarmos com mais atenção a qual aprendizado estamos sendo chamados.

Lembremo-nos de que os vitoriosos não são os que sempre acertam, e sim os que não desistem. Vitoriosos perdem no mundo das ilusões e ganham no mundo da realidade, distanciam-se de expectativas impossíveis e aproximam-se do que é essencial, libertador e que satisfaz seus corações. Sendo assim, alegremo-nos conosco pelo esforço empreendido e continuemos nos tratando com carinho e aplicando as melhores energias do bem.

Se chegamos até aqui e não desistimos, imagine o quanto ainda poderemos realizar se decidirmos trilhar o terreno fértil da cumplicidade e da coragem de nos autoavaliarmos diante das frustrações da caminhada!

Pode até ser que para muitas pessoas sejamos fracassados. Porém, nas leis de Deus, quando não alcançamos êxito, significa que estamos sendo convocados ao recomeço. Só mesmo no dicionário humano existem palavras que significam derrota e insucesso a respeito das nossas escolhas na vida. Na lei divina, impera a bondade, a misericórdia, o amor e o determinismo de atingirmos a perfeição.

Acreditar nisso significa não aceitar a opinião de quem só enxerga o nosso lado sombrio. De mãos dadas com Deus, retomemos o curso e acreditemos no bem em nós. Deus conta apenas com o nosso melhor, Ele não espera perfeição.

Cada dia é um convite ao recomeço, e o que ontem parecia sem solução hoje se transforma em resposta inesperada para a alegria e para a paz. 0 que ontem era ofuscado pela treva hoje pode se converter em luz para o caminho da realização. 0 que nos parecia fracasso pode ser apenas convite a novos rumos para o melhor em nosso favor. Mudando o ponto de vista, poderemos perceber que aquilo que parecia má-sorte e negativismo é, na verdade, a melhor forma que a vida encontrou de indicar-nos qual direção tomar para nosso crescimento e felicidade.


Ermance Dufaux







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