quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Paulo, Apóstolo - O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - 4ª Parte - Das esperanças e consolações - Cap. II - Duração das penas futuras - Questão 1009 (Miramez)




Paulo, Apóstolo - O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - 4ª Parte - Das esperanças e consolações - Cap. II


Duração das penas futuras


1009. Assim, as penas impostas jamais o são por toda a eternidade?

“Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Para atingi-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência. Três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. Pois bem: digo-vos, em verdade, que mentis a esses princípios fundamentais, comprometendo a ideia de Deus, com o Lhe exagerardes a severidade. Duplamente a comprometeis, deixando que no Espírito da criatura penetre a suposição de que há nela mais clemência, mais mansuetude, amor e verdadeira justiça, do que atribuis ao Ser Infinito. Destruís mesmo a idéia do inferno, tornando-o ridículo e inadmissível às vossas crenças, como o é aos vossos corações o horrendo espetáculo das execuções, das fogueiras e das torturas da Idade Média! Pois quê! Quando banida se acha para sempre das legislações humanas a era das cegas represálias, é que esperais mantê-la no ideal? Oh! Crede-me, crede-me, irmãos em Deus e em Jesus-Cristo, crede-me: ou vos resignais a deixar que pereçam nas vossas mãos todos os vossos dogmas, de preferência a que se modifiquem, ou, então, revivificai-os, abrindo-os aos benfazejos eflúvios que os Bons, neste momento, derramam neles. A idéia do inferno, com as suas fornalhas ardentes, com as suas caldeiras a ferver, pôde ser tolerada, quer dizer, era perdoável num século de ferro; porém no século dezenove não passa de vão fantasma, próprio, quando muito, para amedrontar criancinhas; e mesmo estas, crescendo um pouco, logo deixam de crer nela. Se persistirdes nessa mitologia aterradora, engendrareis a incredulidade, mãe de toda a desorganização social. Tremo, entrevendo toda uma ordem social abalada e a ruir sobre os seus fundamentos, por falta de sanção penal. Homens de fé ardente e viva, vanguardeiros do dia da luz, mãos à obra, não para manter fábulas que envelheceram e se desacreditaram, mas para reavivar, revivificar a verdadeira sanção penal, sob formas condizentes com os vossos costumes, os vossos sentimentos e as luzes da vossa época.

“Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus-Cristo.

“Que é o castigo? A conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.

“Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr em paralelo, na sua eternidade, o Bem, essência do Criador, com o Mal, essência da criatura. Seria criar uma penalidade injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e das penas pelas transmigrações e consagrareis a unidade divina,  por meio da razão unida ao sentimento.”

Paulo, Apóstolo.


Com o atrativo de recompensas e temor de castigos, procura-se estimular o homem para o bem e desviá-lo do mal. Se esses castigos, porém, lhe são apresentados de forma que a sua razão se recuse a admiti-los, nenhuma influência terão sobre ele. Longe disso; rejeitará tudo: a forma e o fundo. Se, ao contrário, lhe apresentarem o futuro de maneira lógica, ele não o repelirá. O Espiritismo lhe dá essa explicação.

A doutrina da eternidade das penas, em sentido absoluto, faz do Ente Supremo um Deus implacável. Seria lógico dizer-se, de um soberano, que ele é muito bom, muito magnânimo, muito indulgente, que só quer a felicidade dos que o cercam, mas que ao mesmo tempo é cioso, vingativo, de inflexível rigor e que pune com o castigo extremo as três quartas partes dos seus súditos, por uma ofensa, ou uma infração de suas leis, mesmo quando praticada pelos que não as conheciam? Não haveria aí contradição? Ora, pode Deus ser menos bom do que o seria um homem?

Mais uma contradição se apresenta aqui: pois que Deus tudo sabe, sabia, ao criar uma alma, que ela viria a falir. Teria, pois, desde a sua formação, sido destinada à desgraça eterna. Será isto possível, racional? Com a doutrina das penas relativas, tudo se justifica. Deus sabia, sem dúvida, que ela faliria, mas lhe deu meios de se instruir pela sua própria experiência, mediante suas próprias faltas. É necessário que expie seus erros, para melhor se firmar no bem, mas a porta da esperança não se lhe fecha para sempre e Deus faz que, dos esforços que ela empregue para o conseguir, dependa a sua redenção. Isto toda gente pode compreender e a mais meticulosa lógica pode admitir. Menos céticos haveria, se deste ponto de vista fossem apresentadas as penas futuras.

Na linguagem vulgar, a palavra eterno é muitas vezes empregada figuradamente, para designar uma coisa de longa duração, cujo termo não se prevê, embora se saiba muito bem que esse termo existe. Dizemos, por exemplo, os gelos eternos das altas montanhas, ou dos pólos, embora saibamos, de um lado, que o mundo físico pode ter fim e, de outro lado, que o estado dessas regiões pode mudar pelo deslocamento natural do eixo da Terra, ou por um cataclismo. Assim, nesse caso, o vocábulo eterno não quer dizer perpétuo ao infinito. Quando sofremos de uma enfermidade duradoura, dizemos que o nosso mal é eterno. Que há, pois, de admirar em que Espíritos que sofrem há anos, há séculos, há milênios mesmo, assim também se exprimam? Não esqueçamos, principalmente, que, não lhes permitindo a sua inferioridade divisar o ponto extremo do caminho, crêem que terão de sofrer sempre, o que lhes é uma punição.

Ademais, a doutrina do fogo material, das fornalhas e das torturas, tomadas ao Tártaro do paganismo, está hoje completamente abandonada pela alta teologia e só nas escolas esses aterradores quadros alegóricos ainda são apresentados como verdades positivas, por alguns homens mais zelosos do que esclarecidos, que assim cometem grave erro, porquanto as imaginações juvenis, libertando-se dos terrores, poderão ir aumentar o número dos incrédulos. A teologia reconhece hoje que a palavra fogo é usada figuradamente e que se deve entender como significando fogo moral (974). Os que têm acompanhado, como nós, as peripécias da vida e dos sofrimentos de além-túmulo, através das comunicações espíritas, puderam convencer-se de que, por nada terem de material, eles não são menos pungentes. Mesmo relativamente à duração, alguns teólogos começam a admiti-la no sentido restritivo acima indicado e pensam que, com efeito, a palavra eterno se pode referir às penas em si mesmas, como conseqüência de uma lei imutável, e não à sua aplicação a cada indivíduo. No dia em que a religião admitir esta interpretação, assim como algumas outras também decorrentes do progresso das luzes, muitas ovelhas desgarradas reunirá.


Allan Kardec



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 1009 comentada


Já falamos e tornamos a dizer: não existe esse tipo de corrigenda, que nunca se acaba. O que seria, se assim fosse, o nosso Deus? Sendo Ele todo bondade, amor e caridade, Seus filhos são filhos do Seu mais profundo amor, e não iriam sofrer penas sem remissão.

Isso se passa como corriges um filho, colocando-o no castigo, por vezes por alguns minutos que, para ele, parecem uma eternidade. E isto tu fazes por amor, para educá-lo, e o carinho dos pais fa-lo-á entender que eles somente desejam o seu bem e o seu aprendizado para o amanhã. Da parte de Deus, é perfeita essa correção.

Como atribuir à bondade infinita a vingança infinita? Não podes pensar assim. Nós outros estamos nos submetendo às leis eternas do Criador, processos de despertamento espiritual para que acordemos os valores existentes dentro de nós, entretanto, essa libertação não pode ser total, pois sempre somos dependentes de Deus. Para isso fomos feitos; Ele é a vida.

Certamente que ainda há muitas coisas que não compreendemos e que se encontram em segredo, porém, quando surgir o desejo de aprender, busquemos ao Senhor em oração. Disse Paulo aos Coríntios:

Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus. (l Coríntios, 14:28)

Eis aí o conselho mais acertado; quando não compreendes certas leis ou certos acontecimentos em teu caminho, fica calado, recolhe-te ao templo interno do teu coração e pelas preces fala a Deus, esperando com confiança, que Ele, a Bondade Divina, te dirá o que precisas, na faixa que te é própria.

As penas são temporárias, Elas duram pouco por estarem em desarmonia com a vida. Nós, como Espíritos desencarnados que já passamos por muitas delas, te exortamos com amor a suportares as duras penas, principalmente as impostas, pois no fundo delas se encontra a luz para a tua consciência.

Jesus disse: "Aquele que perseverar até o fim, será salvo." Vamos bater na tecla do amor até sair a nota da verdade e da alegria. A música universal se encontra ligada à caridade, esse gênio divino e humano que sempre procura salvar as almas.

Penas perpétuas devem cair no esquecimento. O tempo já passou, e o progresso teológico trouxe outras maneiras de pensar e sentir a vida em outros aspectos. O carro da evolução é portador de luzes da esperança para todas as criaturas de Deus. Eis a tua hora de meditar e aproveitar a viagem eterna para a eternidade do bem, que mostra para todos o ambiente para se ver e sentir os princípios da felicidade.

Em tempos idos, somente se falava nos templos religiosos sobre sofrimentos depois do túmulo, torturas etc. Tanto se falou nesses tormentos que eles acabaram por se materializarem na Terra, como as Cruzadas, a Inquisição, a escravidão e outras diferentes disposições impostas para os sofrimentos humanos. Tanto foram pedidas que vieram no correr dos ares.

Devemos esquecer do mal, para que ele desapareça do mundo e das criaturas. Jesus é o ponto de irradiação do bem e do amor. Firmando-nos n'Ele, limparemos nosso carma e passaremos a viver na luz, que fala somente das coisas agradáveis e felizes.


Miramez



Filosofia Espírita - Volume XX - João Nunes Maia
Cap. 40 - Penas perpétuas






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