Vianna de Carvalho - Livro Sementeira da Fraternidade - Espíritos Diversos / Divaldo P. Franco - Cap. 59
À Memória de Allan Kardec
Ante a visão esplêndida dos novos céus que as espaçonaves oferecem ao homem da Terra, a Astronáutica avança a largos passos, rasgando horizontes de infinita amplitude para os que deambulam no caminho carnal.
A Cibernética, na era da Tecnologia, amplia conceitos e fornece dados que transformam e aceleram os programas da civilização moderna, e a Biônica, interpretando as necessidades do homem, parece candidatar-se a substituí-lo nos diversos departamentos da vida, conjugando esforços par.'', o conforto e a comodidade de todos.
Todavia, enquanto os engenhos espaciais vencem, como bólides, o atrito da atmosfera, fugindo à gravitação da Terra, uma inquietante loucura invade os múltiplos departamentos do conhecimento humano, gerando desespero e alucinação que perturbam inteligências e esmagam sentimentos.
O homem de saber parece, nestes dias, dominado por estranha volúpia de desequilíbrio e jornadeia de especulação em especulação, vitimado em si mesmo por tormentos de difícil interpretação.
Há ânsia de poder em toda a parte e há agonia pelos desmandos em todo o lugar.
Os padrões éticos subitamente naufragaram, enquanto as dominações religiosas se esfacelaram de encontro às realidades do pensamento hodierno.
A Filosofia, sem o amparo de mentes vigorosas, deixa-se substituir pela vacuidade de conceitos forjados pela ilusão, em pleno entorpecimento das paixões.
O caos se instala, e, nesse abismo em que os tumultos da guerra e as malversações dos valores humanos triunfam, a Doutrina Espírita é o sol de esperança a brilhar fulgurante, clareando as cogitações da inteligência que sem rumo se perverte.
Evocando a memória de Allan Kardec, no dia do centenário da sua desencarnação, somos convocados a reverenciar a obra ímpar por ele coligida, que vem traçando diretrizes seguras para o espírito aturdido dos últimos tempos, constituindo porto de segurança para os verdadeiros nautas que velejam no oceano da investigação em torno das realidades da vida.
Ontem, no báratro das indagações não contestadas, o Espiritismo se apresentou como a resposta dos Céus às lágrimas da Terra, conduzindo mentes e corações aos planaltos da fé, instaurando o primado do Espírito imortal.
Quando a Ciência, investigando, mergulhou no organismo complexo de pesquisas valiosas, que ensejaram elucidações de incontestável valia para o espírito do homem, o Espiritismo, esclarecendo os enigmas do ser, do destino e da dor, pôs-se a caminhar lado a lado com as disciplinas psicológicas, oferecendo soluções aos inumeráveis enigmas da mente, então perdidos em sombras.
E hoje, quando alguns parapsicólogos pretendem, como apaixonados partidários do materialismo, destruir as consoladoras realidades da vida espiritual o Espiritismo é a única força que põe diques no rio caudaloso das vaidosas especulações desses desvairados apaniguados do Nada.
Nesse particular, o venerando mestre Allan Kardec assoma no pórtico dos séculos atestando a excelência de sua escolha pelo Mundo Espiritual para embaixador condigno, capaz de, entre as criaturas, preparar o advento do mundo melhor para o futuro, com as bases vigorosas da Obra de que se fez portador.
Na época em que os postulados filosóficos eram grafados em latim, reservados às elites intelectuais, Allan Kardec escreveu em linguagem popular a filosofia espírita, de modo que a mensagem de consolação alcançasse todas as mentes e retificasse as inquietações do mundo conturbado, conseguindo êxito expressivo.
Graças a isso, tudo na lição espírita é simples, é belo, é puro como diamante sem jaça que reflete o sol que faz brilhar a verdade.
Desde os pródromos da filosofia ingênuo-ética da Natureza, de Lao-Tsé, aos estoicos, aos pensadores do Renascimento, a Spinoza, a Kant, a Hegel, a Nietzsche, só a ética otimista do Espiritismo se apresenta fiel ao excelente espírito de “respeito à vida” expressa nas lições de Jesus.
Enquanto a Ética comum não possui qualquer princípio básico de- moral, demorando-se no exame e estudo dos conflitos éticos, o Espiritismo estuda pormenorizadamente tudo quanto diz respeito à vida, tomando posição definida em face dos conflitos éticos e solucionando-os.
Com o Espiritismo o homem começa a pensar sinceramente na vida, tornando-se ético, o que equivale dizer, realizando a luta entre a vontade e o conhecimento, para, liberto das algemas que o limitam e aprisionam, viver consentaneamente com o postulado de amor e dignificação da existência física.
Plasmada pelo pensamento divino, a mensagem espírita é como abençoada antemanhã para os trôpegos que se demoram em trevas medievas, apesar das luzes da atualidade.
Nem sofismas nem discordâncias nos postulados, apresentando-se como um todo harmônico, com imensurável campo de estudo e investigação pela frente.
Obedecendo a uma planificação bem delineada,* as indagações formuladas pelo preclaro mestre ensejam respostas sutis e profundas aos Espíritos Superiores, o que traduz a elevada estirpe do interrogante e dos interrogados.
Passado o período de um século, século no qual ocorreram na Humanidade as maiores convulsões ideológicas de todos os tempos, em que as ciências abandonaram os porões e as câmaras de superstição para se tornarem exatas, o Espiritismo, inalterado, sobreviveu incólume a todos os assaltos, fixando-se cada dia e cada hora no espírito humano, em postulados salutares, edificantes.
Considerando as responsabilidades que dizem respeito ao militante das lides espíritas, este se impõe a tarefa de equacionar o problema dele mesmo e esbater as trevas , em derredor, esparzindo a Doutrina da imortalidade entre todos, quanto lhe permitem as possibilidades.
Agora, não mais a cogitação pura e simples do intercâmbio mediúnico entre os “dois mundos”, buscando informes e fatos, já que estes super abundam, mas estudo acendrado e profundo da Revelação Kardequiana, meditação acurada e sistematização do exame das questões para poder enfrentar o diapasão novo do materialismo que vai dominando os diversos departamentos da cultura, solapados que estão pela insensatez dos seus expoentes máximos.
Incorporar, portanto, a lição kardecista ao dia-a-dia da vida, impregnar-se do conhecimento dela, esforçar-se por viver a mensagem espírita, são deveres que nenhum adepto sincero do Espiritismo pode transferir, a fim de que o seu comportamento ateste a qualidade da convicção religiosa esposada.
Allan Kardec! Evocando o dia em que desferiste voo para a Espiritualidade, deixando o todo granítico da Codificação para atravessar inalterada, os tempos, nós, os espíritas desencarnados, reverenciando a grandeza do teu nome e o heroísmo .do teu espírito, tanto quanto a dedicação infatigável da tua vida, te exaltamos a nobreza, vexilário dos séculos/ lídimo representante do Consolador prometido por Jesus, o Mestre Excelente que se fez o teu roteiro inconfundível e que é para todos nós o “caminho, a verdade e a vida” na rota da nossa redenção.
Louvado sejas, Benfeitor, em cujo coração depositamos as nossas modestas dádivas de espíritas que procuramos ser, apesar de estarmos longe das tuas pegadas luminosas!
Vianna de Carvalho
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