sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 17 - Renovação



Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 17 


Renovação

Ao se renovar, o homem transformará o mundo. Não devemos voltar nossa atenção para modificar as coisas de fora, mas para aprimorar ou despertar as coisas da nossa intimidade.

Ressonância vem do latim resonantia, aquilo que ressoa, que faz eco, que retumba. É um fenômeno físico que ocorre pela propagação de ondas sonoras em todas as direções. Pode começar por uma alteração mecânica qualquer - uma janela que bate, uma voz aguda, o bater de palmas ou o tocar de uma tecla de piano. Essas ondas em movimento é que são ouvidas. É a ressonância. Entretanto, os sons jamais procedem aleatoriamente, pois obedecem a certas leis imutáveis da Natureza. 

Quando passamos por um extenso vale ou por um penhasco e, por exemplo, emitimos um ruído qualquer, o ricochete da onda sonora faz com que ele seja claramente percebido como um sinal distinto do transmitido originalmente. O ruído das trovoadas nas montanhas é uma sequência de reflexos que ecoam, constituindo o fenômeno denominado reverberação.

A harmonia ou o desequilíbrio no ambiente familiar é, na verdade, uma "ressonância ou reverberação pessoal ou coletiva" resultante das atividades mentais do "eu" individual ou grupai que formam o clima energético da moradia. Os momentos infelizes que vivenciamos com nossos familiares são aprendizagens que necessitam ser assimiladas em nosso universo interior. Segundo o exímio escritor francês Voltaire, "o acaso nada mais é do que a causa ignorada de um efeito desconhecido".

"Os pais transmitem, frequentemente, aos filhos uma semelhança física. Transmitem também uma semelhança moral?'

"Não, uma vez que têm alma ou Espírito diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças não há senão consanguinidade."

Da mesma forma que não podemos protestar ou lutar contra os ecos que ressoam pelo efeito de nossos próprios ruídos ou palavras, igualmente não devemos ralhar com as pessoas ou fatos da vida doméstica, pois são somente reflexos da realidade interior, atraídos e materializados pelo nosso estado de consciência. Enorme é a aflição daqueles que não sabem que criam aquilo que vivem, já que se sentem impotentes nas mãos de uma força que não compreendem. 

No entanto, quase todos nós fazemos exatamente isso em nosso cotidiano. Lutamos e discutimos contra as ocorrências, os comportamentos e atos externos em nosso ambiente social ou domiciliar, sem nunca nos voltarmos para dentro de nós mesmos, perguntando-nos onde está a verdadeira raiz do conflito. O sábio observa os acontecimentos como quem olha para o espelho; nossa realidade reflete aquilo que somos.

Ninguém em sã consciência brigaria com o próprio "eco", pois estaria, na realidade, lutando contra si mesmo. Ao fazermos esse jogo imaturo, tomamos para nós uma luta inglória, em que não há vencedores, apenas vencidos. Quem deveríamos derrotar numa batalha em que escutamos apenas a própria voz ecoando? 

Indivíduos de uma mesma família precisam perceber seu poder de ação na atmosfera energética familiar, analisando os atos e atitudes vivenciados no dia-a-dia, como se estivessem expostos numa "vitrina". A partir dessa observação, cabe-lhes alterar comportamentos inadequados e rever posturas de inflexibilidade. 

A Providência Divina nos ensina autorresponsabilidade aliada à renovação. Ela tem seus próprios critérios e age dentro das leis imutáveis da vida, não se ajustando aos caprichosos padrões impostos pela sociedade. Nossos atos e atitudes escrevem nosso destino. Nós somos responsáveis pela parentela que temos e pela forma como convivemos com ela. 

Ao se renovar, o homem transformará o mundo. Não devemos voltar nossa atenção para modificar as coisas de fora, mas para aprimorar ou despertar as coisas da nossa intimidade. 

É antigo o hábito que desenvolvemos de procurar no mundo exterior uma desculpa para tudo o que ocorre de negativo em nossa existência. Culpar os outros pelo que nos acontece é cultivar a ilusão de que não somos nós que atraímos nossos conflitos e dificuldades. É preciso entender que as energias mentais que irradiamos são responsáveis por tudo o que atraímos em nossa vida. Devemos assumir essa responsabilidade perante a própria existência. 

A aprendizagem é nossa e ninguém poderá fazê-la por nós, assim como nós não poderemos fazê-la pelos outros. Quanto mais depressa aprendermos isso, menos sofreremos e mais rápido encontraremos harmonia no lar. 

Criamos uma lista enorme de culpados aos quais atribuímos a responsabilidade pelo nosso destino infeliz - desajustes da família atual, erros das vidas passadas, ações doentias de Espíritos perturbadores. Acreditamos, enfim, que somos vítimas indefesa se impotentes de tudo e de todos. A teoria da culpa encontrou uma imensa massa de adeptos nos dias atuais.

"De onde provêm as semelhanças morais que existem, algumas vezes, entre pais e filhos? São Espíritos simpáticos, atraídos pela semelhança de suas tendências? (1)

No processo reencarnatório, os Espíritos são "atraídos pela semelhança de suas tendências"; portanto, é nosso reino interior que atrai aqueles que serão nossos familiares, criaturas com específica estrutura íntima e valores ajustados a um determinado padrão evolutivo. Nelas encontraremos apoio para aprimorar nossas capacidades e estímulo para despertar nossas habilidades e possibilidades inatas. 

"As semelhanças morais que existem, algumas vezes, entre pais e filhos" são "tipos de mentalidade" que se identificam por suas conquistas ou carências, a fim de se reorganizarem interiormente ou continuarem o despertar dos potenciais adormecidos da alma. Em muitos casos, nunca se conheceram em outras existências, mas se unem por possuírem as mesmas inclinações, os mesmos conflitos, hábitos, vocações, valore se desajustes psicológicos. Todavia, seja qual for o tipo de união, a relação que se estabelece entre eles é para que vençam a si mesmos, reajustem as dificuldades mentais, emocionais e sentimentais e prossigam efetuando a renovação da própria alma.

O progresso chega à humanidade gradativamente, com a mesma sutileza com que o dia jaz desaparecer a noite-, ele desce quase que imperceptível sobre as criações e as criaturas como um orvalho fecundo e fundamental à nossa vida de Espírito imortal.

O doutor Carl Gustav Jung definiu sincronicidade como coincidência significativa de um estado psíquico com um ou vários fatos externos correspondentes; ocorrência entre eventos psíquicos e físicos. São acontecimentos coincidentes, no tempo e no espaço, que, embora aparentemente inexplicáveis, estabelecem relações conexas do ponto de vista psicológico.

A noção dada por Jung de sincronicidade pode ser em parte reconhecida como a "dinâmica interligação" entre a alma e o mundo material. A vida assemelha-se a um fluxo multidimensional pelo qual as criações e as criaturas estão passando no Universo. Vivemos interagindo, de forma invisível, com muitas outras realidades ainda desconhecidas e ignoradas no mundo moderno.

Determinados fenômenos sincronísticos escapam da observação do princípio de causalidade, ou seja, eles ainda não podem ser analisados e ponderados materialmente. A ciência atual ainda não chegou a entender como a lei de causa e efeito funciona em determinados eventos e circunstâncias transcendentais. Entretanto, fenômenos sincronísticos não podem ser considerados acasos. "[...] o acaso é cego e não pode produzir os efeitos da inteligência. Um acaso inteligente não seria mais o acaso." (2).

Podemos dizer, de modo figurado, que o acaso é o pseudônimo do Criador, quando não quer deixar transparecer a assinatura de sua obra.

Encontros inesperados com pessoas que nos mostram "casualmente" caminhos que há anos procurávamos e não sabíamos onde e como encontrar; auxílios financeiros que apareceram no "momento exato" em que a tribulação mais se agravava; sugestões ou opiniões que recebemos em uma conversa "aparentemente" informal e que muito contribuíram para nosso autoconhecimento; livros que escolhemos "de modo aleatório" e que trouxeram significativo auxílio para a solução de problemas que estávamos atravessando. Deparamos "subitamente" com artigos numa revista cujo tema ainda há pouco comentávamos com um amigo ou familiar, e outros tantos exemplos.

Essa suposta "sucessão de acasos", vivida por inúmeras criaturas, revela a existência de leis espirituais desconhecidas que regem e guiam o progresso de todos os seres humanos.

As inexplicáveis "coincidências" que acontecem em nossa vida geralmente colaboram para nossa renovação espiritual ou crescimento interior. Se utilizarmos uma visão superficial, essas "casualidades" se apresentarão como acontecimentos misteriosos e obscuros, mas, se nos aprofundarmos, veremos que precisamos muito aprender sobre o poder onisciente de Deus em nós, e que seus domínios ainda nos permanecem insondáveis.

As leis divinas ou naturais são o "cordão umbilical" que liga tudo e todos com a Fonte Criadora. Por isso, Jesus exortou a nossa ligação espiritual, dizendo: "Eu sou a videira e vós os ramos” (3).

Os Espíritos Superiores asseveram a Allan Kardec que "[...] o homem deve progredir sem cessar e não pode retornar ao estado de infância. Se ele progride é porque Deus quer assim”. (4)

As leis que nos regem contêm a onipresença, a onisciência e a onipotência divinas. São as mesmas para todos os membros do Universo, mas ajustadas ao grau evolutivo de cada um deles. "[...] o homem deve progredir sem cessar [...]", uma vez que a renovação espiritual não é produto de um ensinamento, mas está em germe em todos os seres. Querendo ou não, progrediremos, já que "Deus quer assim".

O progresso chega à humanidade gradativamente, com a mesma sutileza com que o dia faz desaparecer a noite; ele desce quase que imperceptível sobre as criações e as criaturas como um orvalho fecundo e fundamental à nossa vida de Espírito imortal. Nada vem do nada. Os caminhos renovadores quase sempre aparecem em nossa jornada evolutiva como possíveis "coincidências", ou mesmo como acontecimentos ilógicos e enigmáticos; na realidade, são experiências imprescindíveis que atraímos e que se encaixam perfeitamente nas nossas necessidades de renovação interior.

O despertar vem de um modo que nem imaginamos. Nesses momentos perguntamo-nos: O que será que Deus quer de mim?

A psicologia junguiana chama as "coincidências" que ocorrem em nossas vidas de "fenômenos sincronísticos", mas, ajustando esses conceitos aos postulados da fé espírita, poderemos nomeá-las de "intervenção divina" ou "desígnios de Deus". No entanto, seja qual for a denominação que utilizarmos, tenhamos a certeza de que tudo aquilo que nos acontece tem como objetivo profundo a renovação da alma e como propósito o bem comum.

O progresso que atingimos hoje é compatível com o crescimento que tivemos ontem. Cada passo dado a caminho da maturidade é proporcional à etapa percorrida anteriormente.

Avançamos pelo Universo em conjunto harmônico com os outros seres humanos. A orquestra cósmica da qual compartilhamos é muito mais ampla do que podemos imaginar, e cada um precisa dar sua cota de participação na sinfonia do mundo. Somos parte do Universo e ele é parte de nós.


Hammed







(1) Questão 207: Os pais transmitem, frequentemente, aos filhos uma semelhança física. Transmitem também uma semelhança moral?

"Não, uma vez que têm alma ou Espírito diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças não há senão consanguinidade. "De onde provêm as semelhanças morais que existem, algumas vezes, entre pais e filhos? "São Espíritos simpáticos, atraídos pela semelhança de suas tendências."

(2) Questão 8 de "O Livro dos Espíritos"

(3) João 15:5

(4) Questão 778: O homem pode retrogradar até o estado natural?

"Não, o homem deve progredir sem cessar e não pode retornar ao estado de infância. Se ele progride é porque Deus quer assim. Pensar que ele pode retroceder à sua condição primitiva, seria negar a lei do progresso. "




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