quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Momentos de Consciência - Divaldo P. Franco - Cap. 9 - Morte e Consciência




Joanna de Ângelis - Livro Momentos de Consciência - Divaldo P. Franco - Cap. 9


Morte e Consciência


A perfeita identificação da transitoriedade do corpo físico expressa o superior estágio de consciência do homem. Esse discernimento lúcido, a respeito da fragilidade orgânica, é de alto significado no processo da evolução, constituindo patamar superior de conquista que promove o ser do instinto à razão, e desta à intuição espiritual.

Repugna ao homem-instinto a lembrança da morte, bem como da sua convivência no cotidiano. Para ele, o estágio corporal tem o sentido de permanência, entorpecendo-lhe o conhecimento da realidade, que se recusa aceitar, embora o fenômeno biológico das transformações celulares e moleculares dê-se a cada instante.

A segurança do edifício orgânico apoia-se na fragilidade da sua própria constituição.

Engrenagens delicadas são susceptíveis de se desorganizarem, seja por acidentes da sua estrutura, ou por invasões microbianas, ou traumatismos físicos e emocionais, ou, ainda, por desgaste natural que decorre do uso na sucessão do tempo.

Agrada, ao homem inconsciente, pensar apenas no imediatismo do aparelho físico e no desfrutar dos aparentes benefícios que propicia, na área dos prazeres e das sensações mais agressivas, que frui com sofreguidão insaciável.

Esse engano leva-o ao apego das formas que se diluem e alteram; dos objetos de que se apropria e passam de mãos; das aspirações que transforma em metas de vida e às quais se entrega, expressando-as em poder, destaque, abastança, que não pode deter por tempo indefinido. 

Como efeito dessa ação sem apoio na realidade da vida, surgem os quadros da ansiedade, do medo, da insegurança, da irritabilidade, degenerando em mecanismos de infelicidade, porque a vida física torna-se-lhe a razão única pela qual luta e se empenha em preservar.

Experimentando o desgaste da enfermidade, a velhice, sente-se próximo do fim e desequilibra-se.

Ignorando ou teimando por desconhecer a inevitável transformação que encerra um ciclo, para dar lugar ao surgimento de um outro, do qual procede, rebela-se e envenena-se com a ira, apressando aquilo que pretende postergar.

A consciência libera a realidade do ser em profundidade, quem compreende as naturais alterações dos fenômenos biológicos, que são instrumentos para o seu progresso espiritual.

Desentorpecida dos anestésicos atávicos do instinto de conservação, que remanescem do primarismo animal, penetra na estrutura da vida, descobrindo a causalidade existencial que é o espírito, independente dos mecanismos orgânicos, que usa com finalidade específica e abandona quando encerrada a atividade que se lhe faz necessária.

Graças a tal entendimento, desenvolve recursos preciosos e desvela atributos que lhe dormem nos refolhos, abrindo-se a valores imperecíveis que o fascinam, em detrimento daqueloutros que são necessários ao trânsito carnal e devem permanecer no teatro terrestre onde se originam.

A consciência da morte, com as consequentes ações preparatórias para o traspasse, favorece o ser com harmonia interior e segurança pessoal.

A lucidez em torno dos deveres propele a criatura ao burilamento íntimo e, ao fazê-lo descobre que o amor é a fonte inexaurível de recursos para facultar-lhe o tentame. 

O amor que se expande liberta-o das paixões escravizadoras que perturbam e infelicitam.

Se já podes conscientizar-te da proximidade do fenômeno da morte, que é transformação em tua existência, estás em condições de crescer e planar acima das vicissitudes.

Vive então o périplo orgânico, conscientemente, usando o corpo com finalidade elevada, porquanto ao chegar o momento da tua morte deixarás a massa material como borboleta ditosa que, após a histogênese, voa feliz nos rios suaves do infinito.

Na questão 155 de “O Livro dos Espíritos” pode-se ler:

– Como se opera a separação da alma e do corpo?

– Rotos os laços que a retinham, ela se desprende. Com a consciência da realidade, a vida esplende no corpo e fora dele. 


Joanna de Ângelis







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