sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 8 - Bem-aventurados os que têm coração puro - Instruções dos Espíritos - Bem-aventurados os que têm fechados os olhos - itens 20 e 21





Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 8 - Bem-aventurados os que têm coração puro - Instruções dos Espíritos


Bem-aventurados os que têm fechados os olhos 


20. Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira. Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.” Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação.

Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. Ah! quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão!... Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delícias do Espírito que vive de contemplação e de amor? Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira!

Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.

Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer.

Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção. – Vianney, cura d’Ars. (Paris, 1863.)

21. Nota. Quando uma aflição não é consequência dos atos da vida presente, deve-se-lhe buscar a causa numa vida anterior. Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias, pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta. Se, por sua bondade, lançou um véu sobre os nossos atos passados, por outro lado nos aponta o caminho, dizendo: “Quem matou à espada, pela espada perecerá”, palavras que se podem traduzir assim: “A criatura é sempre punida por aquilo em que pecou.” Se, portanto, alguém sofre o tormento da perda da vista, é que esta lhe foi causa de queda. Talvez tenha sido a de que outro perdesse a vista; de que alguém haja perdido a vista em consequência do excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou de maus-tratos, de falta de cuidados, etc. Nesse caso, passa ele pela pena de talião. É possível que ele próprio, tomado de arrependimento, haja escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: “Se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o.”


Allan Kardec


Sociedade Espírita de Paris, 19 de junho de 1863 - Médium: Sr. Vézy

Observação: Esta comunicação foi dada a propósito de uma senhora cega, presente à sessão.

Perguntamos se esta é a linguagem do demônio e se se ofende ao cura d’Ars atribuindo-lhe tais pensamentos. Uma camponesa sem instrução, sonâmbula natural, que vê os Espíritos muito bem, tinha vindo à sessão e estava em sonambulismo. Ela não conhecia o cura d’Ars, nem mesmo de nome, entretanto o viu ao lado do médium e fez o seu retrato perfeitamente exato. (Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - Julho 1863)





VÍDEO:

Bem aventurados os que têm fechados os olhos

Evangelho na Rede com Yasmim Madeira
RAETV - Rede Amigo Espírita TV






João Maria Vianney - O Cura D'Ars

João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786 em Dardilly, aldeia a dez quilômetros ao norte de Lyon. Foi o quarto filho do casal Mateus e Maria Vianney, que tiveram 7 filhos. 

Desde os quatro anos, ele gostava de frequentar a Igreja. Quando isso se tornou impossível, pelas perseguições que o Estado desencadeou, ele fazia suas orações habituais, todas as tardes, na casa dos pais. 

Quando foi aberta uma escola, Vianney, adolescente a frequentou durante dois invernos, porque ele trabalhava no campo sempre que o tempo permitia. Foi então que aprendeu a ler, escrever, contar e falar francês, pois em sua casa se falava um dialeto regional. 

Foi na escola que se tornou amigo do padre Fournier, e aos poucos foi crescendo nele o desejo de se tornar sacerdote. Foi necessário muita insistência, pois o pai, de forma alguma, desejava dispensar braços fortes de que a terra necessitava. 

Aos 20 anos ele seguiu para Écully, na casa de seu tio Humberto. Sabia ler, mas escrevia e falava francês muito mal. Além de aprimorar a língua pátria, precisou aprender latim, pois na época os estudos para o sacerdócio eram feitos em latim, bem assim toda a celebração litúrgica. 

Em 28 de maio de 1811, com 25 anos de idade, na catedral Saint-Jean tornou-se clérigo de diocese. Por ter fama de ignorante perante os superiores, foi-lhe confiada a paróquia de Ars-en-Dombes, ou talvez porque lhe conhecessem a grandeza de alma. Em Ars, não havia pobres, só miseráveis. 

João Maria Vianney chegou a Ars em uma sexta-feira, 13 de fevereiro de 1818. Veio em uma carroça trazendo alguns móveis e utensílios domésticos, alguns quadros piedosos e seu maior tesouro: sua biblioteca de cerca de trezentos volumes. 

Conta-se que encontrou um pequeno pastor a quem pediu que lhe indicasse o caminho. A conversa foi difícil, pois o menino não falava francês e o dialeto de Ars diferia do de Écully. Mas acabaram por se compreenderem. 

A tradição narra que o novo pároco teria dito ao garoto: "Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu." Um pequeno monumento de bronze à entrada da aldeia lembra esse encontro. 

Ele mesmo preparava suas refeições. Apenas dois pratos: umas vezes, batatas, que punha para secar ao ar livre. Outras vezes, "mata-fomes", grandes bolos de farinha de trigo escura. Um pouco de pão e água. Era o suficiente. Comia pouco. Quando lhe davam pão branco, trocava pelo escuro e distribuía o primeiro aos pobres. 

Dizia: "Tenho um bom físico. Depois de comer não importa o quê e de dormir duas horas, estou pronto para recomeçar." 

O que mais ele valorizava era a caridade e a gentileza. Grandes somas ele dispendia auxiliando os seus paroquianos. Dinheiro que vinha da pequena herança de seu pai, que lhe enviara seu irmão Francisco e de doações de pessoas abastadas, a quem ele sensibilizava pela palavra e dedicação. 

Por volta de 1830, era muito grande o afluxo de pessoas que se dirigia a Ars. Os peregrinos não tinham outro objetivo senão ver o pároco e, acima de tudo, poder confessar-se com ele. Para conseguir, esperavam horas...às vezes, a noite inteira. 

Esse pároco que dormia o mínimo para atender a todos, madrugada a dentro. Que vivia em extrema pobreza e austeridade, vendendo móveis, roupas e calçados seus para dar a outrem. 

Comovia-se com a dor alheia. Quando se punha a ouvir os penitentes que o buscavam, mais de uma vez derramava lágrimas como se estivesse chorando por si próprio. Dizia: "Eu choro o que vocês não choram." 

Tanto trabalho, pouca alimentação e repouso, foram cansando o velho Cura. Ele desejava deixar a paróquia para um pouco de descanso. Mas os homens e mulheres da aldeia fizeram tal coro ao seu redor, que ele resolveu permanecer. 

Ele, que em sua juventude, fora ágil, agora andava arrastando os pés. Nos dias de inverno, sentia muito frio. 

Em 1859, numa quinta feira do mês de agosto, dia 4, às duas da madrugada, ele desencarnou tranquilamente. Dois dias antes, já bastante debilitado fora visto a chorar. Perguntaram-lhe se estava muito cansado. "Oh, não", respondeu. "Choro pensando na grande bondade de Nosso Senhor em vir visitar-nos nos últimos momentos." 

João Maria Vianney comparece na Codificação com uma mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo VIII, item 20, intitulada "Bem-aventurados os que têm fechados os olhos" (acima), onde demonstra a humildade de que se revestia, o conceito que tinha das dores sobre a face da Terra e o profundo amor ao Senhor da Vida.


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