quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda - Divaldo P. Franco - Cap. 13 - Libertação pelo Amor



Joanna de Ângelis - Livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda - Divaldo P. Franco - Cap. 13


Libertação pelo Amor


 "...Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus, 22:39  (ESE - Cap. XI - Item 8)


Toda a essência da vida encontra-se estabelecida no amor, de procedência divina. Alcançar esse clímax do processo da evolução é o cometimento mais audacioso que o ser inteligente encontra pelo caminho ascensional. 

Na perspectiva da psicologia profunda o ser vive para amar e ser amado, iluminar a sombra e fazer prevalecer o Self.

Esse processo encerra toda a saga da autoconquista de cada e deve transformar impulsos em sentimentos, atavismos em atividades lúcidas, heranças dominadoras em aquisições plenas, instintos arraigados em emoções harmônicas, hábitos estratificados em realizações edificantes, tendências inferiores em aspirações elevadas sob os impulsos do amor. Tal é o grande compromisso que deve ser atendido por todas as criaturas que anelam pela tranqüilidade e pelo bem-estar legítimo.

Invariavelmente o amor surge como desejo inicial de compartilhar alegrias e repartir realizações. Expressando-se inconscientemente no zelo pela prole, na defesa pelo clã, no interesse pelo progresso pessoal como daqueles que lhe dizem respeito pela consanguinidade, inicia o seu mister crescendo ascensionalmente de forma a ampliar-se cada vez mais.

Terapia eficiente para superação da sombra, o amor é o medicamento salutar para o ego enfermo, estímulo eficiente para o Self que desabrocha soberano quando irrigado pelo fluxo desse sentimento superior da vida. 

Jesus, o Homem, fez-se o exemplo mais vívido do amor de que o mundo tem notícias.

Submetido às injunções porque passam todas as criaturas a Sua trajetória fez-se assinalada pelas mais vigorosas páginas de compreensão e brandura para com todos, exercendo autoridade e carinho em perfeita harmonia, mesmo nas situações mais chocantes, sem perder o equilíbrio nem a afetividade. Quando austero, educava amorosamente e com energia; quando meigo, orientava com ternura e segurança; ante a hipocrisia insidiosa e perversa, assumia a atitude de enfrentamento sem descer à condição infeliz do seu antagonista, repreendendo-o e desmascarando-o com o objetivo de educá-lo.

A ausência do amor no ser humano e, por consequência, no mundo, demonstra o estágio de primarismo ainda predominante, que dificulta o processo de evolução, gerando conflitos perfeitamente dispensáveis, mas que se demoram perturbadores como ferretes impelindo para a frente e para a conquista desse atributo superior do ser. Amar é abrir o coração sem reservas, encontrar-se desarmado de sentimentos de oposição, sempre favorável ao bem e ao progresso mesmo quando discordando das colocações que são apresentadas.

É também um mecanismo de compaixão e de misericórdia para consigo e principalmente para com o próximo, sua meta e sua necessidade, que passa a constituir-se fundamental no relacionamento e na conquista da autoconfiança. 

O amor é o liame sutil que une o interior ao exterior do ser, profano ao sagrado, o ego ao Self que lhe passa a comandar o comportamento, o material ao espiritual.

O amor nunca se ofende e sempre está lúcido para entender que na sua vibração tudo se harmoniza, mesmo quando as leis os contrários se apresentam, porque não agride nem violenta, do aceitando com equilíbrio e canalizando com sabedoria. 

Não poderia ser outra a diretriz proposta pelo Revolucionário galileu, que colocava balizas novas nas velhas estruturas do Comportamento humano, até então escravo do desamor, das artimanhas da mentira e das arbitrariedades das pessoas e dos governos.

O amor não mente, porque a sua é a estrutura da autenticidade, sempre aberto e claro, possuidor de quase infinita capacidade de paciência e de compreensão. 

Jesus, na condição de peregrino do amor, demonstrou como possível curar as feridas do mundo e dos seres humanos com a exteriorização do amor em forma de compaixão, de bondade, de carinho e de entendimento.

Eram primitivos e cruéis aqueles dias nos quais Ele viveu e por isso mesmo a Sua trajetória impressiona pela superior maneira como Se conduziu, enfrentando largos trajetos a vencer entre vicissitudes e impedimentos que nunca Lhe constituíram empeço para alcançar os objetivos traçados.

Quando a mulher era espólio do homem, que dela podia dispor a bel-prazer, e cujos sentimentos íntimos não eram levados em consideração, caracterizados como fraqueza digna de punição e chalaça, Ele assumiu a anima e enterneceu-se com as suas demonstrações de doçura e de piedade, de amor e de solidariedade, conclamando-a à auto-estima, apesar de todos os impedimentos, à coragem para os enfrentamentos no lar, no convívio social, nas lutas políticas pelo bem geral. Ergueu-a do vale em que se encontrava, na sombra coletiva, ao planalto de luz resplendente de liberdade e dignidade, conseguindo o seu lugar no concerto da Humanidade.

Quando os pobres eram tidos por desprotegidos de Deus e os enfermos graves eram expulsos das cidades, porque se encontravam mortos, tendo os seus nomes cancelados do Livro dos vivos, Ele os exaltou em inesquecível bem-aventurança, principalmente àqueles que o foram de espírito de avareza e de paixões inferiores. Nunca se apartou dos doentes e odiados, visitando os samaritanos detestados e oferecendo-lhes os bens eternos da Sua mensagem confortadora e rica de paz.

Jamais temeu os poderosos, os intrigantes, os fariseus odientos e ingratos, os saduceus materialistas e utilitaristas, sem porém os detestar, lamentando o estado em que se encontravam, longe de Deus e de si mesmos, intoxicados pelo orgulho e vencidos pela avareza, infelicitadores, porque infelizes em si mesmos, sem se permitirem lugar propício ao despertamento para a realidade espiritual.

Invariavelmente as pessoas que ainda não aprenderam com o Homem-Jesus a excelência do amor, pensam que são amadas porque se fazem especiais, esquecendo-se que por amarem tornam-se especiais. 

O amor dinamiza os potenciais internos do ser, contribuindo para que os neurônios e as glândulas do sistema endócrino produzam imunoglobulinas que imunizam o ser em relação a diversas infecções, enquanto vitalizam o emocional e o psíquico, afinal de onde dimana essa energia poderosa...

E graças ao amor que os relacionamentos atingem a sua plenitude, porque o egoísmo cede lugar ao altruísmo e o entendimento de respeito como de confiança alicerça mais os sentimentos que se harmonizam, produzindo bem-estar em quem doa tanto quanto em quem recebe. 

Somente o amor permite que se vejam as pessoas como são. Sem ele, percebem-se os reflexos da personalidade que deseja impressionar e conquistar lugar e afeto, sem a qualidade essencial que é o sentimento profundo de doar para depois receber, ou ofertar sem o escuso interesse de negociar uma recompensa. Por isso, quando não está vitalizado esse desejo pelo hábito do amor real, a frustração e a amargura sempre acompanham os insucessos, que são decorrentes da ausência de pureza do ofertório.

Amando-se, ultrapassa-se a própria humanidade na qual se encontra o ser, para alcançar-se uma forma de angelitude, que o alça do mundo físico ao espiritual mesmo que sem ruptura dos laços materiais. 

Todo esse concerto de afetividade inicia-se no respeito por si mesmo, na educação da vontade e no bom direcionamento dos sentimentos, de forma que a autodescoberta trace conduta saudável que irradie harmonia e alegria de viver, tornando a existência física aprazível seja em que forma se apresente, não sofrendo as alterações dos estados apaixonados e dos gostos atrabiliários.

Esse sentido de auto-amor que se transmuda em alo-amor, alcança a etapa mais elevada que é o amor a Deus acima de todas as coisas e condições, por significar a perfeita identificação da criatura com o seu Criador, haurindo sempre mais força e beleza para o autocrescimento.

Moisés foi o instrumento da Lei severa, necessária para a educação de um povo nômade e pastor, que saindo da escravidão. 0 necessitava construir uma Nação, fixar-se, estabelecendo as disciplinas de conduta para o equilíbrio da coletividade e o bem-estar geral.

Jesus é o amor humanizado que se entrega ao matadouro em holocausto vivo, demonstrando que a existência terrena, embora merecendo o respeito e senão credora de preservação, quando luz o o amor ao próximo, cede lugar pessoal em favor daquele, transferindo-se por abnegação de uma condição existencial efêmera para outra espiritual e eterna.

Sua revolução pelo amor suplantou tudo quanto antes fora apresentado pelo pensamento histórico e pela ética, invertendo as propostas sociais e políticas que primavam pela prevalência do ego dominante, exaltando o EU profundo de caráter eterno e sobranceiro a todas as injunções transitórias do mundo físico.

Iniciando-se esse sentimento como impulso nobre para a renúncia e a dedicação ao próximo, através da esteira das reencarnações amplia-se, enriquece-se, sublima-se até a alcançar as excelsas paragens do Bem Incomum. 

Enfrentando os fariseus, discutidores incuráveis e malfazejos, sempre buscando algo para incriminar seja a quem fosse, respondeu-lhes à indagação melíflua, a respeito de qual o mandamento maior da Lei, explicando que acima de tudo se encontra Deus, que deve ser amado com todo o respeito, a abnegação e a vida, mas impôs: 

— Amarás o teu próximo como a ti mesmo — como reflexo daquele sentimento maior e total. 


Joanna de Ângelis









Fonte: Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda -pdf

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