segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley S. Oliveira - Cap. 6 - Efeitos energéticos da carência afetiva e da solidão



Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley S. Oliveira - Cap. 6


Efeitos energéticos da carência afetiva e da solidão


"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés." Santo Agostinho (Paris, 1862). O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 14, item 9.


À luz do dicionário emocional, carência significa falta de nutrição afetiva básica, constituindo-se em mais um dos efeitos nocivos da conduta egoísta ao longo de vidas sucessivas.

Agravada pela educação infantil deficiente, a baixa autoestima ou a autoaversão é um dos traços psíquicos e emocionais da maioria dos habitantes da Terra. Considerada na medicina do mundo astral como uma doença matriz, a baixa autoestima é o alicerce de uma enorme variedade de sofrimentos humanos.

A carência de afeto pode ser definida como um processo de "anorexia emocional" ou de desnutrição de alimento essencial para a saúde integral.

Essa desnutrição pode impulsionar o coração humano ao padecimento de algumas doenças, como rejeição, descrença, insatisfação crônica, pânico, depressão, dependência, sensação de incompetência e outros graves quadros agudos que configuram o dilacerante estado interior de insegurança emocional e solidão. Na raiz dessa dor, o ser humano encontra-se angustiado e desesperado por ser amado.

A insegurança e a solidão desvitalizam progressivamente o sistema energético de defesa, abrindo os chacras às mais diversas agressões predatórias astrais de bactérias, vírus e micro-organismos capazes de adoecer o corpo físico. A energia emanada pela insegurança é uma poderosa usina de forças catalisadoras, isto é, ela atrai as chamadas forças invasoras ambientais, fragilizando a saúde física e energética.

Essa usina funciona como um ímã puxando, sugando e rastreando sem interrupção o que pode preencher a carência, a falta de nutrição. É como uma perturbação nos corpos sutis da criatura estabelecendo condições favoráveis aos mais diversos quadros, incluindo a vampirizarão energética de encarnados.

Quando nos sentimos carentes, é comum embarcarmos em relacionamentos confusos, pois buscaremos no outro o amor que não conseguimos desenvolver para sustento pessoal. Quanto mais carentes, menos gostamos de nós e mais desesperada será a busca pelo outro para preencher a nossa vida. 0 clima astral de quem vive assim é vulnerável e agrega um alimento emocional de baixa qualidade nos ambientes e nas pessoas de sua convivência.

A carência afetiva é uma doença que solicita tratamento, apoio e orientação. Essa insatisfação com nós mesmos, que chega até os limites da aversão, tem um poder extraordinário de camuflagem e, por essa razão, impede-nos de verificar com exatidão qual a raiz de muitos de nossos comportamentos perante a vida.

Condutas nascidas da raiva, do medo, do orgulho, da tristeza e da culpa costumam esconder esse desgosto de nós mesmos.

A parábola do filho pródigo(1) narrada no Evangelho é a história de nossa evolução. Depois de cansados de esbanjar a herança divina com nossas escolhas infelizes, estamos fazendo o caminho de volta para Deus, resgatando o divino dentro de nós. Retornamos cansados, pobres e infelizes. Deus, porém, como narra o texto evangélico, nos acolhe com bondade, oferecendo-nos o melhor.(2) A bondade do Criador, no entanto, não nos dispensa de colher o fruto de nossa plantação. Carência é resultado de egoísmo milenar. E' efeito de quem não entrou em comunhão com a vida, com o próximo e com as leis superiores do bem e do amor.

A nenhum de nós faltarão as condições de superação e reeducação. Se desejarmos sinceramente retomar nosso caminho em direção a uma vida farta, preenchedora e sob a presença da alegria, compete-nos o aprendizado de transformar os impulsos personalistas em valores morais. Parece um paradoxo: o que nos falta para superar o estado de carência é saber nos cuidar não mais com egoísmo centralizador, não mais com caprichos pessoais atendidos, mas com aceitação, amor, acolhimento, coragem e humildade.

Uma das mais velhas feridas evolutivas da alma é a sensação de abandono, sendo a carência afetiva e a solidão suas máscaras. Idealizar um mundo perfeito com pessoas irreais e ignorar a fé em forças maiores são caminhos diretos para a prisão do autodesamparo.

Reeducar nossa carência e solidão significa ajustar nossa vida mental e emocional à realidade. Quem espera mais do que aquilo que o outro pode dar vive escravo da mágoa. Quem descrê que existem forças capazes de acolher seus esforços no bem estaciona nos pátios da acomodação e do pessimismo.

O carente espera demais. 0 solitário descrê.

0 carente magoa-se. 0 solitário desanima.

Quem espera muito ou desanima com facilidade está na contramão do fluxo da vida, que é dar, realizar e continuar sem cessar.

Carência e solidão são resolvidas quando fazemos o movimento contrário. Ao invés de exigir e esperar, fazer e escolher.

Os outros não têm o poder de travar nossas vidas, a menos que lhes confiramos essa capacidade. A vida não está contra nossos anseios de luz, a menos que acreditemos nessa ilusão.

De fato, todos precisamos ser amados, pois essa é uma necessidade básica. Mas em muitas ocasiões, no canteiro da vida, haveremos de primeiramente colher os frutos indesejáveis de nossa plantação, posteriormente plantar as novas sementes do bem, e mais adiante colher o amor que desejamos.

Plante sem temor. Quem se lança ao trabalho de semear, ainda que necessitando do alimento, terá gratas e louváveis surpresas no caminho.

Qualquer ato de amor, por menor que seja, é devolvido com bênçãos que nem imaginamos. Mesmo precisando ser amados, amemos e confiemos na misericórdia das leis celestes, recordando a fala sábia de Santo Agostinho: "Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés."


Ermance Dufaux




(1) Lucas 15:11 a 32.
(2) Lucas 15:22


Fonte: Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação

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