quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Hammed - Livro Um modo de entender: uma nova forma de viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 46 - Auxílios Invisíveis



Hammed - Livro Um modo de entender: uma nova forma de viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 46


Auxílios Invisíveis


“O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: ele dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, a espiga cheia de grãos”. – (Marcos, 4:26 a 28.)

Nem sempre conseguimos perceber com lucidez os auxílios espirituais que recebemos de Mais Alto. No entanto, nossa existência é controlada por uma Fonte Divina, perfeita e harmônica, cuja única intenção é a evolução das almas.

O que nós conhecemos não é a realidade, mas o que a nossa instrumentalidade pode perceber sobre ela. A plenitude da realidade é muito maior do que a ideia ou imagem que concebemos do mundo.

Podemos definir como “míope espiritual” aquele que toma a parte pelo todo e impõe a si e aos outros essa parte como sendo o todo.

Da mesma forma que não podemos calcular com precisão, e de modo consciente, os benefícios da respiração, da água, dos alimentos e das energias da Natureza em nossa vida orgânica, igualmente não nos damos conta dos benefícios da movimentação desencadeada pelos processos transcendentais que nos alcançam a vida íntima.

O Criador, Guardião de tudo o que existe, Artífice da máquina da vida, nos protege de forma contínua, suprindo-nos interna e externamente, quer reconheçamos, ou não, como verdadeira a Vida providencial.

Na vida física, a criatura se desenvolve sem notar precisamente como ocorre esse fenômeno invisível em seu cosmo orgânico. Do mesmo modo, espiritualmente, progredimos e amadurecemos sem perceber como se processam os insights, isto é, a clareza súbita na mente, ou os saltos evolutivos promovidos no interior de todas as coisas e seres viventes.

Jesus de Nazaré se reportou a esse respeito, afirmando: “O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: ele dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, a espiga cheia de grãos”.

Não podemos acreditar que somos “órfãos do Universo”. Podemos chamar Deus de Providência, uma vez que o seu pensamento é que provê o espaço cósmico; podemos também intitulá-lo de Destino, pois ele é a Causalidade Excelsa. Igualmente podemos denominá-lo de Natureza, visto que tudo nasce de seu Psiquismo Criador.

Quando cremos que os auxílios invisíveis fazem parte de nossa existência, desenvolvemos o potencial de religiosidade – encontrar Deus em nós – e saímos das nossas zonas de conforto para níveis de consciência cada vez mais amplos e elevados.

No campo da fisiologia, o termo homeostase foi criado para definir o processo autorregulador pelo qual um organismo se mantém num adequado e constante ponto de equilíbrio.

É um mecanismo de proteção ou de compensação que o corpo físico dispõe para equilibrar as diversas funções e composições químicas internas, a saber: pressão arterial, temperatura corporal, pulsação cardíaca, taxa de açúcar no sangue e outras tantas.

Tomemos como exemplo a temperatura. Uma das funções da pele é ajudar a conter qualquer disposição do corpo de ficar demasiadamente quente ou frio.

O principal regulador da temperatura corporal acha-se localizado no cérebro (no hipotálamo). Ele possui termostatos para registrar a elevação e a queda de temperatura.

Ao menor sinal de excesso de calor, acelera-se a circulação do sangue na pele, e o calor dos órgãos internos se transporta para os pequenos vasos sanguíneos, abaixo da pele, ali se desfazendo.

O mesmo termostato estimula a atividade das glândulas sebáceas localizadas no fundo do tecido subcutâneo. O suor secretado pelas glândulas sudoríparas é destilado pelos poros através da transpiração, evaporando-se ao contato com o ar exterior, e isso proporciona um resfriamento eficaz.

Podemos traçar um paralelo entre o princípio da homeostase existente no organismo humano com o processo autorregulador atuante na estrutura da psique.

No inconsciente, o Self, arquétipo central que tem a função de unificar, reconciliar e reequilibrar todo o governo psíquico, mantém, de modo semelhante, uma sabedoria instintiva que pode corrigir desacertos e excessos da consciência, equilibrando-a e protegendo-a dos perigos da alienação.

Como psicólogo e psiquiatra, Jung foi quem melhor soube entender e respeitar a providencialidade do auxílio invisível que a tudo apoia e equilibra.

Jung colocou no centro de todo processo psicoterápico o princípio do “poder atuante e autônomo do inconsciente”. Em virtude disso, entendemos que a autêntica psicoterapia nada mais é do que “saber escutar e acompanhar” o outro, com ouvido empático, interpretando as manifestações e possibilidades oferecidas pelo poder criativo e atuante do próprio inconsciente.

Fazendo uma analogia da teoria do “poder criativo e autônomo do inconsciente” com os nossos conceitos, poderíamos interpretá-lo como a “onipresença e onipotência de Deus em nós”.

Com muita propriedade disse Cristo Jesus: “Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível”[1].

A fé de que se fala aqui é a entrega incondicional aos desígnios de Deus. Essa fé não se limita à esfera religiosa, não se identifica com estudos teológicos e eclesiásticos e não se deixa restringir a nenhuma igreja ou seita. Ninguém possui o monopólio dessa fé, uma vez que ninguém pode viver sem ela.

O auxílio invisível chega a todos nós com a mesma sutileza com que os raios do sol fazem aparecer o dia. Justos e injustos recebem invariavelmente o suprimento divino, e ele desce imperceptível sobre as criações e as criaturas como um orvalho fecundo fundamental à nossa vida de espíritos imortais.


Hammed









[1] Mateus, 17:20.



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