André Luiz - Livro Opinião Espírita - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier / Waldo Vieira - Cap. 51
Privações do corpo e provações da alma
O Evangelho segundo o Espiritismo— Cap. XVII — Item 11
O homem, não raro, nas horas difíceis, lança mão de recursos extremos e, por vezes, ilógicos, para diminuir o sofrimento próprio ou alheio, qual acontece nas provas desesperadoras, no sentido de suprimir agonias morais ou curar doenças insidiosas.
Daí nasce o contrassenso dos ofícios religiosos remunerados de que se alastram antigos e piedosos enganos, como sejam:
a recitação mecânica de fórmulas cabalísticas;
os sacrifícios inúteis visando prioridade e concessões;
as promessas esdrúxulas;
os votos inoportunos;
as penitências estranhas;
os autocastigos em que a vaidade leva o rótulo da fé;
os jejuns e as mortificações a expressarem suicídios parciais;
o uso de amuletos;
o apego a talismãs;
o culto improdutivo do remorso sem qualquer esforço de corrigenda na restauração do caminho errado…
Contudo, ao espírita-cristão compete despojar-se de semelhantes conceitos acerca do Criador e da Criação, cristalizados na mente humana através de numerosas reencarnações.
Para nós, não mais existe a crença cega.
Em razão disso, não mais nos acomodamos à ideia do milagre como sendo prerrogativa em favor de alguém sem merecimento qualquer.
De igual modo, urge compreender os mecanismos das Leis Divinas, dispensando-se, ante os lances atormentados da existência terrestre, toda a atitude ilusória ou espetacular.
Omissão não resolve. E em matéria de comportamento moral na renovação da vida, abstenção do serviço no bem de todos, é deserção vestida de alegações simplesmente acomodatícias, dentro da qual o crente não apenas foge das responsabilidades que lhe cabem, como também ainda exige presunçosamente que Deus se transforme em escravo de suas extravagâncias.
Situa-nos a Doutrina Espírita diante de nós mesmos.
Estamos espiritualmente hoje onde nos colocamos ontem. Respiraremos amanhã no lugar para onde nos dirigimos.
Usemos a oração para compreender as nossas necessidades, solucionando-as à luz do trabalho sem o propósito de ilaquear os poderes divinos.
A Lei é equânime, justa, insubornável.
A criatura — gota igual às demais no oceano imenso da Humanidade Universal — não é cliente de privilégios.
Eis porque, ao invés de procurar, espontaneamente, penitências improdutivas para nós, é imperioso buscar voluntariamente o auxílio eficiente aos semelhantes.
Espiritismo é sublime manancial de energia espiritual.
Haurindo forças, acatemos sem revolta aquilo que a Vida nos oferece, trazendo paz na consciência e entendimento no coração.
O mundo atual prescinde de quantos se transformam em ascetas e eremitas de qualquer condição.
Até a penalogia moderna procura imprimir utilidade às horas dos presidiários, valorizando-lhes a reeducação em colônias agrícolas e em outras organizações coletivas, à busca de regeneração moral e social.
E a própria psiquiatria, presentemente, institui a laborterapia para que os enfermos da alma se recuperem, pela atividade edificante.
Para o espírita, portanto, a Vida e o Universo surgem ajustados à lógica e esclarecidos na verdade.
Apelemos para os recursos da prece, a fim de que sejamos sustentados em nossos próprios deveres, reconhecendo, porém, que Deus não é vendedor de graças ou doador de obséquios, em regime de exceção, e sim o Criador Incriado, perfeito em todos os seu atributos de justiça e de amor.
André Luiz
(Psicografia de Waldo Vieira)
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