sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Lucidez



Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto


Lucidez


Como seguidores de Jesus Cristo, todo nós o buscamos como o Caminho, a Verdade e a Vida. Encontramos nele a palavra de sabedoria, a inspiração e a mensagem renovadora.

Por outro lado, podemos igualmente descobrir outras fontes de conhecimento extraordinárias, através de ensinamentos superiores transmitidos por homens notáveis e líderes espirituais, lições que maravilhosamente reforçam o ensino cristão, ao invés de enfraquecê-lo.

Se observarmos esses “luminares da fé”, veremos que todos compartilhavam da mesma base ou convicção, cujas raízes estavam fundamentadas em Deus e nas leis divina ou naturais. Eles tornaram a mensagem cristã mais forte, mais robusta, mais sólida, com seus exemplos e lições de compaixão, trabalho interior, perseverança, perdão, paciência e paz.

Ao estudarmos as filosofias e religiões orientais, podemos nos certificar de que Buda jamais se declarou um deus ou um salvador, mas afirmava ser uma criatura que atingira a iluminação por meio da autorreflexão; ou um caminhante que encontra o próprio caminho. Buda não induzia as pessoas a adorá-lo, mas seguir suas experiências de vida e seus exercícios espirituais, a fim de que cada um encontrasse a própria iluminação. Ele indicava o caminho da auto realização, todavia jamais se proclamou um caminho a ser seguido.

Consulta Allan Kardec os Obreiros da Vida Maior: “A visão dos Espíritos é circunscrita como nos seres corpóreos?” E eles respondem: “Não, ela reside neles”(1).

A visão dos Espíritos Superiores está estabelecida na sua intimidade, quer dizer, ela não está restrita a algum lugar, mas é uma lucidez que abrange toda a alma.

Quem vê e compreende claramente as coisas possui disposição, vontade, humor e coragem, pois não fica “arrebatado pelo futuro” nem “preso ao passado”. Só quando estamos em contato com nós mesmos é que adquirimos perfeita visão de como diminuir ou aumentar o ritmo das coisas em nossa vida. Viver prazerosamente fundamenta-se em ver com clareza íntima como estão agindo em nós o desejo e o apego.

No desejo, corremos ansiosamente a fim de conquistar a qualquer preço o que não temos. No apego, paralisamos o passo, agarrando-nos a tudo aquilo que já possuímos.

Buda alerta que não devemos permitir que o julgamento dos outros determine quem somos e o que devemos sentir ou fazer. A propósito, não devemos deixar que o ponto de vista dos outros decida a hora de correr, desacelerar o passo ou parar completamente.

Se nós deixarmos que os elogios e as críticas das pessoas afetem nosso senso íntimo, então seremos prisioneiros do juízo alheio e perderemos a alegria de viver.

Estar em contato com nós mesmos é estar ligado inteiramente na própria alma. Nosso mundo íntimo tem como atividade natural uma função denominada “mensageira”, que nos traz, por meio dos sentimentos, os sinais que nos permite proteger e dirigir a própria existência.

Precisamos perceber e valorizar nossos sentimentos e emoções, porque eles são o sal da nossa vida. Disse Jesus: “Vós sois o sal da Terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens”(2). “Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros”(3).

As emoções são as melhores informantes do nosso mundo interior e exterior; elas nos avisam, acima de tudo, sobre aquilo que devemos ou não fazer. É observando-as com atenção e submetendo-as ao nosso bom senso que saberemos como nos conduzir nas relações sociais, afetivas, profissionais e outras tantas.

O desejo e o apego, privados da consciência reflexiva, estreitam nossa visão de felicidade, descartando novas possibilidades de uma vida pacífica e alegre.

Enquanto vivermos de forma mecânica, irrefletida e sem a intervenção consciente da lucidez e do discernimento, nos privaremos de possuir uma mente tranquila e um coração pacificado.

Narra o Antigo Testamento que a divisão atingiu por inteiro a consciência dos dois primeiros seres humanos quando experimentaram o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal'. Eles viviam, segundo a narrativa bíblica, unos com toda a criação: não reconheciam ainda suas diferenças, não viviam na dualidade do certo e do errado, visto que permaneciam num estado de unidade consciencial.

As tradições religiosas hebraicas criaram uma enorme cisão entre a alma (o bem) e o corpo (o mal) quando registraram nos seus textos mitológicos a Queda do Paraíso - o homem abandona o Jardim do Éden (unidade universal) e peca, isto é, atinge a polaridade ou o poder da discriminação, o efeito de separar, segregar, pôr à parte.

No entanto, a igreja cristã primitiva reconhecia que toda criatura traz dentro de si aspectos positivos e negativos. Paulo de Tarso disse: "Não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero"(4).

Essas são palavras de uma criatura que possuía um excelente nível de lucidez mental. 

O Apóstolo dos Gentios procurava manter a sua integridade ou unidade, admitindo as faces desconhecidas de seu mundo interior. Sabia que não se iluminaria se não as aceitasse suplicava fervorosamente ao Criador a orientação necessária sobre esses estados íntimos da alma. 

Negar o lado escuro de nossa personalidade, ou não lhe dar importância, é subestimar a sutileza de seu poder atuante em nossos comportamentos e atitudes. É imprescindível admitir nossa face desconhecida, pois só podemos nos redimir ou transformar até onde conseguimos nos ver. 

Utilizamos o mecanismo da repressão para nos desviar da nossa própria realidade; desprezamos o nosso lado frágil e nos distanciamos das verdadeiras intenções egoísticas que mobilizam nossas condutas diárias. Passamos, a partir daí, a construir uma autoimagem de perfeição que nos torna "falsos realizadores do bem" ou "profissionais do altruísmo". 

Por diversas vezes, educadores intolerantes nos incutiram pontos de vista alicerçados sobre um idealismo moralista, ignorando a unicidade do ser humano e as particularidades e complexidades das situações existenciais. Induziram-nos a negar, de forma determinante, todas as coisas que supostamente fossem contrárias à generosidade, mansuetude, candura e gentileza. Tudo que foi seccionado ou fragmentado em nossa intimidade passa a fazer parte de nossa sombra(5).

Nenhum processo de crescimento é possível até que a sombra seja adequadamente confrontada. Confrontá-la significa examiná-la com atenção e admiti-la plenamente. A denominação junguiana sombra refere-se às partes desconhecidas da personalidade que foram banidas da realidade, pois o homem não quer vê-las em si mesmo. 

A melhor postura para nos renovarmos no bem e colaborarmos verdadeiramente com a transformação espiritual daqueles que nos rodeiam é lembrarmo-nos de nossa condição de almas em aprendizagem e permanecermos alicerçados na realidade daquilo que somos e podemos fazer, e não na ilusão do que deveríamos ser ou fazer. Jesus Cristo nos convida a "amar os inimigos", e Jung, colaborando com os ensinos cristãos, nos conduz a uma reflexão profunda e lúcida a respeito desse tema. Ele nos solicita a perceber e, ao mesmo tempo, a amar os inimigos internos, o que pode não afastar os inimigos externos, mas pode melhorar e transformar nossos atos e atitudes para com eles. É comum pensarmos existir somente a sombra negativa - aspectos inadequados da personalidade que negamos ou não aceitamos em nós. No entanto, há também a sombra positiva - tudo aquilo que desconhecemos sobre nossas conquistas, valores e potenciais inatos e que não somos ainda capazes de identificar ou desenvolver. Por exemplo: em muitas ocasiões, podemos encontrar na sombra de um malfeitor o seu lado humanitário completamente ignorado por ele; e na sombra de um benfeitor inúmeros aspectos negativos da mesma forma desconhecidos dele. A sombra não é por si só desestruturadora; aliás, o que mais nos desorganiza psiquicamente é não vermos as coisas interiores e exteriores como um "conjunto" ou "todo" - os aspectos positivos e negativos que existem em tudo. Os Benfeitores Espirituais nos ensinam que o Espírito "quanto menos puro ele for, mais sua visão é limitada; somente os Espíritos superiores podem ter visão de conjunto." Afirmam ainda que nas Almas Elevadas há "uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, envolve, a uma só vez, o espaço, o tempo e as coisas e para a qual não há trevas nem obstáculos materiais"(6).

Essa "lucidez universal' a que eles se referem tem profunda relação com a integridade, pois equilibra o íntimo numa unicidade harmoniosa. Quem possui lucidez não exalta o talento, nem evidencia a inabilidade; simplesmente analisa os fatos na sua totalidade, utilizando os "olhos da equanimidade", ou seja, do entendimento, da imparcialidade e da moderação. 

Integridade é inteireza, plenitude, estado ou característica daquele que reconhece a totalidade da vida dentro e fora de si mesmo, com toda a sua validade, equilíbrio e proporção harmoniosa. 

A consciência lúcida acerca da sombra impulsiona a criatura a não mais buscar uma vítima: alguém ou alguma coisa para acusar e atacar. Não mais precisando ser impecavelmente correta e bondosa, não fará dos outros alvo de seus infortúnios. Apenas quando nossas fragilidades deixarem de ser demonizadas é que seremos levados a lidar com elas em termos de experiência evolutiva.

A lucidez dá integridade ao homem, mostrando-lhe que deve aceitar a si mesmo. Ao mesmo tempo, faculta-lhe uma visão clara que o impedirá de projetar seus pontos fracos nos outros, o que facilitará ampla compreensão dos que com ele convivem.


Hammed



(1) Questão 245 A visão dos Espíritos é circunscrita como nos seres corpóreos?
"Não, ela reside neles."

(2) Mateus, 5:13 

(3) Marcos, 9:50 

(4) Romanos, 7:19 

(5) Nota da Editora Ver a definição de sombra no capítulo "Afetividade" (pág.57).

(6) Questão 247 Os Espíritos têm necessidade de se transportarem para ver dois lugares diferentes? Podem, por exemplo, ver simultaneamente os dois hemisférios do globo?
"Como  o  Espírito  se  transporta  com a rapidez  do  pensamento,  pode-se  dizer  que  vê  tudo a uma  só  vez;  seu pensamento pode irradiar e se dirigir, ao mesmo tempo, sobre vários pontos diferentes. Esta faculdade depende de sua pureza: quanto menos puro ele for, mais sua visão é limitada; somente os Espíritos superiores podem ter visão de conjunto."

Nota -A faculdade de ver, nos Espíritos, é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser,  como  a  luz  reside  em  todas  as  partes  de  um  corpo  luminoso.  E  uma  espécie  de  lucidez  universal  que  se estende a tudo, envolve, a uma só vez, o espaço, o tempo e as coisas e para a qual não há trevas nem obstáculos materiais.  Compreende-se  que  deve  ser  assim;  no  homem  a  visão  se  realiza  através  do  funcionamento  de  um órgão  impressionado  pela  luz,  e  sem  luz  ele  fica  na obscuridade. No  Espírito  a  faculdade  de  ver  sendo  um atributo próprio, abstração feita de todo agente exterior, a visão é independente da luz.






VÍDEO:

Lucidez, a Luz que Acende na Alma (Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto)
Boa Nova Editora

Francisco do Espírito Santo Neto







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