sábado, 19 de novembro de 2022

Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 19 - Mediunidade e religião



Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 19


Mediunidade e religião


"Toda pessoa que sente, em um grau qualquer, a influência dos Espíritos, por isso mesmo, é médium. Esta faculdade é inerente ao homem e, por conseqüência, não é privilégio exclusivo; também são poucos nos quais não se encontrem alguns rudimentos dela". (O Livro dos Médiuns - Allan Kardec - 2a Parte - Cap. XIV, item 159.)


A religiosidade é fruto do sentimento inato da existência de Deus, que o Espírito conserva ao encarnar. Justamente na infância, entre seus familiares e amigos, é que as crianças assimilam suas mais profundas convicções religiosas, somando-se a essas crenças as das outras existências corpóreas. Todos nós trazemos certo grau de maturidade espiritual; são significativos conhecimentos a respeito de nós mesmos e de nossa filiação divina, adquiridos no decorrer das vidas pretéritas.

O que principalmente chama a atenção de muitos de nós, na fase infantil, é o desejo ardente de adquirir conhecimentos – uma espécie de energia motora, sempre em movimentação, que nos anima, estimula, encoraja e impulsiona ao aprendizado constante.

Tudo que fazemos na infância tem um objetivo importante na formação de nossa personalidade psicossocial e espiritual; portanto, devemos valorizar os esforços e a sede de informações na idade dos “porquês”. As crianças querem saber sobre as coisas mais profundas, como Deus, elas mesmas, a religião, até as mais triviais, como “por que está chovendo?” ou “por que a pedra é dura?”.

Adultos que incutiram nas crianças conceitos de que Deus dá prêmios e castigos, que se zanga com suas travessuras e fica profundamente desgostoso quando não se conduzem bem, estão na realidade, criando nelas sentimentos de culpa. Utilizam-se da onisciência(que tudo sabe) e onipotência(poder absoluto) de Deus para manipular, através do medo, o bom comportamento delas.

Não somente pais, professores e parentes lançam mão da culpa e do medo; também as próprias religiões do passado usavam esses sentimentos para garantir a submissão dos seus seguidores ou fiéis, intimidando-os com o fogo do inferno, caso não fossem “suficientemente bons”.

Certas religiões criaram situações nas quais o homem não pode sentir-se à vontade. Estabeleceram dogmas (coisa inquestionável), mitificaram personalidade, fizeram cultos irracionais a médiuns, escritores, oradores, chamando-os de “homens santos”. Essas personagens passaram, a partir daí, a ocupar o lugar de nossa própria consciência e de nosso senso de moralidade. Segui-los transformou-se em exigência; caso contrário, começaríamos a nos sentir heréticos, culpados ou doentes espirituais.

O Espiritismo possui o antídoto contra essa crença milenar. Suprimiu o personalismo e ensinou-nos a ligação direta da criatura com Deus, dispensando intermediações e restituindo ao homem a visão de que o Criador deseja que sejamos co-criadores, não aduladores ou escravos.

A deturpação da ideia da Divindade e da constituição do homem se deve às exigências antinaturais de uma educação religiosa medieval, ministrada ainda às crianças do hoje – os adultos do amanhã.

Todos esses velhos e supersticiosos conceitos e essas crenças que distorcem a natureza humana nos têm aprisionado a uma antiga problemática existencial: a “hipocrisia”, ou seja, o “vício de apresentar uma virtude ou um sentimento que não se tem”. Os hipócritas foram condenados energicamente por Jesus Cristo, conforme noticia o Evangelho. Na atualidade, muitas religiões se transformaram em verdadeiras convenções de regras e etiquetas sociais.

“Então lhes disse: O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado.” (Mateus, 2:27.)

Certamente as convenções são úteis ao interesse coletivo, mas as religiões não devem utilizá-las com o objetivo de tiranizar condutas ou encarcerar consciências. A finalidade da religião é levar as pessoas ao verdadeiro significado transcendental da existência, desenvolvendo nas pessoas o sentimento de religiosidade.

Essas arbitrárias regras “moralizadoras” têm feito prisões, destruindo a alegria de viver de muitas criaturas, induzindo-as a fantasias e a alucinações a respeito do Criador e das criaturas.

A atitude idólatra pressupõe que certas pessoas são seres divinos, outras não. Algumas estão acima das contingências humanas, providas de uma perfeição inatingível, mensageiras do Alto, privilegiadas e infalíveis, enquanto que outras são subestimadas, incapazes e, aparentemente, desprovidas de valores inatos. Ao convertermos as criaturas em mito, supervalorizamos os outros e, em virtude disso, desvalorizamos nosso poder interior. Declaramo-nos impotentes para evoluir, ficando dependentes da boa vontade dos supostos eleitos.

Por isso, o Espiritismo afirma que todas as criaturas são expressões divinas, vestindo temporariamente um corpo carnal. Que “esta faculdade (mediunidade) é inerente inseparável ao homem e, por consequência, não é privilégio” de ninguém.

E ainda nos orienta, de forma lúcida, no Livro dos Médiuns sobre essa aptidão comum a todos: "(...) O que se
deve fazer, quando uma faculdade dessa espécie se desenvolve espontaneamente numa pessoa, é deixar que os fenômenos sigam seu curso natural: a Natureza é mais prudente do que os homens. A Providência, aliás, tem seus planos e a mais humilde criatura pode servir de instrumento aos seus mais amplos desígnios (...)". ( 2ª Parte – Cap. XIV, item 162.)

Jesus Cristo é idolatrado, sendo considerado Deus pelas religiões dogmáticas. Ao equipararem o Mestre com a Divindade, colocaram-No fora de nosso horizonte existencial, tornando impossível seguir-Lhe os ensinos e as atitudes iluminadas. Essas religiões acreditavam que a mediunidade era privilégio de santos, um título concedido pela generosidade celestial ou favoritismo da Criação Universal.

Apoiadas no velho modelo antropocêntrico – filosofia que coloca o homem como centro do Universo -, elas nos alimentaram continuamente com a equivocada ideia de separação entre as pessoas e entre a natureza.

Essa visão dualista não é somente destrutiva, mas também elitista – sistema que favorece as elites em prejuízo da maioria -, transformando nosso relacionamento num “jogo de poder” ou “luta de domínio”, responsável que é por todo tipo de sectarismo – intransigente -, hegemonia – supremacia - , racismo, conflitos de castas e de sexo(houve época em que a mulher era considerada sem alma) e outras tantas formas de isolamentos, alienação e preconceito.

Cristo tinha uma sensibilidade unificada, quer dizer, possuía uma visão cósmica de que todos estamos intrinsecamente ou particularmente ligados na teia dinâmica da Vida Providencial, quando afirmou: “Nesse dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós”. (João, 14:20)

Jesus sabia que, em germe, todos somos frutos iguais da Paternidade Divina, razão pela qual assegurou que poderíamos fazer as obras que Ele fez, e até maiores do que elas. (João, 14:12)

A autentica religiosidade não quer restringir nossa liberdade, mas, sim, apresenta-la a nós. Religiosidade nos inspira a naturalidade da vida, o espírito crítico, a pesquisa filosófica, a racionalidade, levando-nos a entender a perfeita harmonia do Universo. Igualmente nos incentiva a viver a religião natural, em cuja ambiência não se realiza nenhum culto exterior ou místico, nem existem privilégios ou concessões celestiais.

A mediunidade é dom inato, um dos sentidos inerentes ao homem. Recurso que o Pai nos concede para que possamos participar dos poderes sagrados da Divina Criação


Hammed












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