Henrique - Livro Enxugando Lágrimas - Familiares Diversos / Chico Xavier - Cap. 13
De volta do “Berçário Novo”
Mãe, abençoe seu filho. Sou eu mesmo, de volta.
Prometi pintar por aqui sempre que o pano fosse descoberto para a estrada, e venho desejar ao seu coração querido a paz que vem do Alto. Pano descoberto recorda os meninos de circo de que o pai falava em outros tempos.
O que há, “Veia”, (1) é que não me sinto com matrícula neste colégio das mensagens. Falha o merecimento, mas estou na sua, de irmã dos que sofrem. Não por mim, o acesso a que me refiro, mas pela remuneração à professora que é você. Agradeço por tudo.
Nosso ambiente está mais sereno, como seu Henrique desejava. A princípio, aquele tumulto quase me enlouquecia, porque, por aqui também se perde o equilíbrio. Não seria paúra, mas uma espécie de chuva magnética dos raios mentais que me eram atirados. Foi assim e não foi assim. Henrique estava daquele modo e não estava. Que teria acontecido por trás das portas?
E o negócio era esse aí. Barulho e perturbação. Movimento inútil de ondas que pareciam sempre longe da crista. E a ventania esquisita de forças me envolvia de todo, como se estivesse perdido numa estrada perdida, escutando seus chamados e vendo as suas lágrimas, na condição das pessoas que enxergam outras, quando algum relâmpago rompe as trevas. (2)
Depois… a tranquilidade. A tranquilidade que você me deu e pediu a todos os nossos, para mim. “Veia”, é isso. Não deixe a cabeça esquentar.
Existe um Poder sobre nós que nos socorre sempre mais depressa quanto mais depressa se manifeste a nossa aceitação e a nossa paciência. Afinal de contas, a morte, como pessoa que ninguém deseja na Terra, caminha nas estradas do mundo todos os dias. (3)
Aquilo que me sucedeu, devia suceder. Uns chegam à experiência física para tempo curto; outros dobram as fieiras dos dias e varam um século.
Hoje, compreendo. A idade por si não vale, porque deste lado vale apenas aquilo de bom que colocamos no rio do tempo. Cada dia é momento de se entregar algo de melhor à embarcação das horas. (4)
Por isso mesmo, deixar o corpo cansado ou vigoroso, bonito ou feio é cousa somenos. Estamos juntos. Agora é a ocasião de pegar em seus instrumentos de fé e caridade, e seu filho vem fazendo o possível para atender às novas obrigações. Fazer o bem aos outros é o melhor investimento nas menores atividades do campo empresarial.
A gente por aí lutando com tanto empenho por alguns mangos na poupança, e aqui reconhecemos que se perdeu muito tempo nisso, quando poderíamos acumular outras espécies de benefícios. (5)
Câmbio estranho o câmbio de Deus. De um lado, ele sugere ganhar e de outro indica o servir para ganhar com razão. Mas, toca prá lá. Isso é com a filosofia.
Estou aqui em nosso recado para dizer que temos recebido os seus votos de paz e de encorajamento.
Um neto, “Veia” querida, é um tesouro. A chegada do Luiz Henrique (muito obrigado pela lembrança de meu pobre nome) foi para nós todos, mesmo aqui, uma felicidade muito grande. Pedimos a Deus para que o menino cresça até que se faça um gigante de bondade e compreensão, trabalho e progresso. Isso entre parentes, que garantem o corujíssimo na tradição, não é desejar de mais. (6)
Agora, a fala da gratidão pelas flores do seu aniversário que as suas mãos nos levaram à terra que nos guardou a roupa em desgaste. Luta-se para não se falar em “cemitério”, em nossos papos daqui, mas a pessoa acaba na referência mesmo sem querer. Inventaremos ainda outra palavra para essa imagem inadequada, como, por exemplo, “Berçário Novo”. Estamos gratos. (7)
Aqui estão comigo o Izídio, (8) o Jurandir, (9) o Guimarães (10) e o Oscar, (11) todos muito reconhecidos às suas preces e às suas pétalas perfumadas. E outra notícia, temos recebido — digo eu, seu filho, — muito auxílio nas orações do nosso querido amigo Nicolau, (12) o “São Nicolau” de nossa casa. “Veia”, é isso que digo. Não nos falta proteção.
Trabalho aqui, temos nós na dose que se deseja. E o trabalho no bem gera sempre mais alegria. Aí, tínhamos nós dois dias de que não me esqueço: o 28 de agosto para chorar o papai e o 8 de outubro para a nossa alegria no bolo de seu natal, bolo que você recusava e que, na verdade, não deixávamos para trás. (13)
Agora, mamãe, não deixe que a luz da alegria esmoreça em nosso grupo. As nuvens passaram. Queremos alegria e paz, porque ninguém aí na Terra esteja na ilusão de escapar. O reencontro é fatal porque a morte é certa.
Mas não faço o apontamento por nota de menosprezo a ninguém. É só apelação para que você esteja calma e paciente, aguardando o dia diferente dos outros.
Envio muitas lembranças para Eduardo, Márcia e Angela, Mário Lúcio, Luiz Antônio (14) e um beijão aos sobrinhos.
Dona Lélia, receba o nosso respeito e reconhecimento. Nossos amigos Antenor de Amorim e Alvicto Nogueira (15) estão presentes e rogam-lhe confiança no coração de filha e esposa.
Mamãe, eu queria terminar esta carta com um poema, no entanto, ofereço a você aquele nosso do violão. O “Menino da Porteira” (16) fica sendo a canção de seu Henrique para você. Já varei a porteira da vida espiritual, mas continuo sendo o seu menino de sempre.
Deixe que lhe beije as mãos. Mamãe, você sabe que um beijo de filho saudoso e reconhecido para as mães vem a ser uma estrela. A estrela de seu filho é tão pálida, mas é sua, porque o meu beijo é seu.
“Veia”, fique com Deus e me dê sua bênção. Trouxe flores também, mas com uma diferença — elas são lágrimas de alegria e gratidão a Deus, por ser sempre mais seu. O pai Gastão e o Vovô Manoel (17) estão comigo e deixaram um abraço.
Receba, querida mamãe, o coração inteirinho de seu filho, sempre mais seu por dentro do coração.
Seu sempre
Henrique
FAZER O BEM: O MELHOR INVESTIMENTO
Da segunda carta de Henrique, transmitida através do médium Xavier, a 12 de novembro de 1976, salientemos alguns pontos dos muitos destacáveis que existem ao longo de toda a página.
1 — Dentro da mesma linguagem de que se serviu para a transmissão da primeira mensagem — rica de gírias — e ainda nomeando a genitora por “Veia”, qual o costume que adotava quando encarnado, Henrique nos convida a atenção, de início, para um assunto de suma importância: o do merecimento para se comunicar através da instrumentalidade mediúnica.
No caso, deixa claro, não somente por modéstia de sua parte, mas, talvez, por se tratar da realidade, que o mérito pertence ao coração maternal.
De fato, ao que sabemos, as comunicações são permitidas quando os Benfeitores da Vida Maior verificam que elas reverterão em benefício de várias criaturas, encarnadas ou desencarnadas.
De qualquer modo, Henrique nos alerta para uma questão de muito interesse, dentro das fileiras espíritas, a recordar-nos a recomendação de Allan Kardec: “passar tudo pelo crivo da razão.”
2 — Cessamento de “barulho e perturbação” e chegada da tranquilidade, depois da atitude materna: perdão para o acusado.
3 — “Existe um Poder sobre nós que nos socorre sempre mais depressa quanto mais depressa se manifeste a nossa aceitação e a nossa paciência.”
Afinados com as Forças Superiores da Vida, tudo se nos torna mais fácil para a liquidação justa de todos os problemas. Ou por outras palavras: aceitação e paciência — primeiro passo para que a solução adulta de todos os obstáculos, por mais graves que sejam do ponto de vista humano.
4 — “Aquilo que me sucedeu, devia suceder. Uns chegam à experiência física para tempo curto; outros dobram as fieiras dos dias e varam um século. Hoje, compreendo. A idade por si não vale, porque deste lado vale apenas aquilo de bom que colocamos no rio do tempo. Cada dia é momento de se entregar algo de melhor à embarcação das horas.”
5 — “A gente por aí lutando com tanto empenho por alguns mangos na poupança, e aqui reconhecemos que se perdeu muito tempo nisso, quando poderíamos acumular outras espécies de benefícios.”
Verdade inconcussa, esta que lembra Allan Kardec, no Capítulo XVI de O Evangelho segundo o Espiritismo, e que a maioria de nós outros, os reencarnados, nos recusamos a encarar frente a frente, alegando as conjunturas da sociedade mercantilista, não passando tudo isso de simples racionalização de nossa parte.
6 — “Um neto, “Veia” querida, é um tesouro.”
Refere-se a Luiz Henrique Gregoris Rabelo, nascido a 28 de setembro de 1976.
7 — Novamente a problemática das palavras. Seria bom, sem dúvida, que a expressão “cemitério” fosse substituída pelo sugestivo nome “Berçário Novo”
Tempo virá, com o desenvolvimento da Psicolinguística, que dá seus primeiros passos, em que a Semântica alcançará seu florescimento máximo.
8 — Izídio: Izídio Inácio da Silva, desencarnado a 26 de fevereiro de 1974, com 19 anos de idade, em desastre automobilístico, sobre quem falaremos nos próximos capítulos.
9 — Jurandir: Jurandir Nascimento, desencarnado em acidente, a 23 de maio de 197o, com 20 anos de idade, filho de Gabriel e de D. Santinha Nascimento.
10 — Guimarães: Geraldo Guimarães Rosa, desencarnado a 25 de outubro de 1974, em consequência de acidente, com 23 anos de idade, filho de Geraldo e D. Guilhermina Rosa.
11 — Oscar: Oscar Masaaki Tsuruda, desencarnado em acidente, a 11 de agosto de 1973, com 24 anos de idade, filho de Aiki e Tamiko Tsuruda.
12 — “Nosso querido amigo Nicolau, o “São Nicolau” de nossa casa”: Trata-se de Nicolau Calixto Hezin, desencarnado a 26 de dezembro de 1975.
Fato admirável que demonstra de modo irretorquível a autenticidade da mensagem, é que os quatro primeiros nomes citados são de amigos íntimos de Henrique, companheiros que cresceram junto dele, e que eram assim chamados, inclusive o de origem nipônica.
13 — As datas citadas — 28 de agosto e 8 de outubro coincidem com a realidade.
Mais um detalhe comprobatório. Aparentemente simples, mas muito importante.
14 — Eduardo, Márcia e Ângela; Mário Lúcio e Luiz Antônio: Cf. os itens 4, 10 e 12 do capítulo anterior.
15 — Dona Lélia, Antenor de Amorim e Alvicto Nogueira: Nossos conhecidos de capítulos anteriores e grandes amigos da família de Henrique.
16 — “O ‘Menino da Porteira’ fica sendo a canção de seu Henrique para você.”
O “Menino da Porteira”, de Teddy Vieira e Luisinho (YouTube), com efeito, segundo a genitora do comunicante, era a toada que Henrique e Eduardo tocavam no violão e cantavam acompanhados pelo carinho materno. Detalhe, a nosso ver, igualmente dos mais preciosos também.
17 — Pai Gastão e Vovô Manoel: Nossos conhecidos de capítulos anteriores, Gastão, Henrique Gregoris e Manoel Soares, sendo este último, o avô materno, seguidor da tarefa abençoada de Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento, Minas Gerais, e desencarnado a 19 de janeiro de 1937, como já tivemos ocasião de ver, páginas atrás.
Agradeçamos ao Criador e ao Divino Mestre pela bênção da Mediunidade Espírita-cristã, rogando de igual modo a bênção da saúde e da alegria para o médium Xavier, pelo seu Meio Século de Mediunidade com Jesus e Kardec, marcado em 8 de julho de 1977.
Elias Barbosa
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