Cairbar Schutel - Livro O Espírito do Cristianismo - Cap. 45
A Fuga para o Egito
"Depois de haverem partido (os magos), eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, dizendo: Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e fica ali até que eu te chame; pois Herodes há de procurar o menino para o matar. José levantou-se, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito, e ali ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta: Do Egito chamei a meu Filho. " (Mateus, 11, 13-15)
A melhor defesa do homem, quando seus inimigos o perseguem, é fugir deles. Uma fuga preventiva vale mais que um ataque de defesa, porque na fuga o homem deixa Deus ganhar o seu agressor e ganha, ao mesmo tempo, a sua vida e a misericórdia de Deus.
É isto que nos ensina este Evangelho, confirmando os preceitos do Cristo: "Não deis mal por mal; amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos perseguem e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai Celestial, que faz nascer o Sol para bons e maus, e descer as chuvas para justos e injustos".
Se a justiça de Deus não se conformasse com estes preceitos de misericórdia, certamente Ele não mandaria um seu mensageiro ordenar a José, em sonho, que fugisse para o Egito com o seu Filho Amado e lá ficasse até a morte de Herodes.
Senhor da vida de todos nós, nosso Pai Celestial, vendo o risco que corria seu Filho de ser vítima de tão tigrino inimigo, poderia aniquilar de vez esse Herodes que pretendia opor-se aos seus sábios desígnios.
Mas assim não aconteceu; havia o recurso da fuga para Egito, onde o infante ficaria bem guardado, longe das vista do seu adversário. A revelação em sonho representou papel importante neste ato de libertar de um mal destinado a ferir, no próprio coração, essa Doutrina que vem trazer a liberdade ao cativeiro, a saúde ao enfermo, a esperança ao aflito, a verdade aos que tateiam nas trevas da ignorância.
Lição estupenda é a ordenação do Senhor a José, para que tomasse o menino e sua mãe e fugisse para o Egito. Quantas vezes oprimidos, vilipendiados, massacrados em nossas boas intenções, penetra, mesmo acordados, em nossa alma, a ordem da fuga preventiva para algum Egito, onde longe dos olhares dos que nos malquerem e nos maldizem, possamos sentir a segurança de uma vida mais tranquila, mais pura, de mais amor, de mais espiritualidade!
E quantas vezes nos sentimos opressos e fatigados, com ânsias no coração e desvario no cérebro, só porque nós fugimos para um Egito, embora voz íntima nos intimasse, como o anjo intimou a José, a efetuar essa fuga!
Foge para um Egito qualquer, amigo leitor, quando a tua presença causar náusea aos que te rodeiam. Não inquiras as suas razões, porque eles não têm razão; não inquiras do seu sentimento, porque o sentimento que pensas livre neles está ocupado pelos Herodes que lhes envolveram o cérebro e coração!
Foge para o teu Egito, porque melhor estarás no meio dos camelos e elefantes, do que entre os homens que perderam as qualidades de homens.
Lá terás, por sombras, majestosa pirâmides, que os séculos não destruíram; terás pão, com os israelitas que para lá se dirigiram no tempo das vaca magras e das espigas chochas, terás os Josés, que te receberam e auxiliarão, fornecendo-te ainda o que for preciso para tua viagem de volta e certa quantia para passares na tua viagem de volta e certa quantia para passares na tua terra, até que possas novamente plantar, cultivar e colher frutos dessa semente do amor que o Supremo Senhor te confiou.
E se as tuas pernas fraquejarem e tua alma achar-se entre os grilhões, recolhe-te mais ainda, faz da solidão de ti próprio o próprio Egito, porque também o Egito foi solidão para José quando vendido por seus irmãos, e confia nas estrelas que brilham no céu da tua vida, para que, como José, cresças nesse Egito que foi dado para tua própria glorificação.
Cairbar Schutel
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