segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Hammed - Livro Um Modo de Entender - uma nova forma de viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 33 - Passividade dinâmica



Hammed - Livro Um Modo de Entender - uma nova forma de viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 33


Passividade dinâmica


“Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras”. (João, 14:10)


A criatura não é considerada sábia somente pelo que diz ou faz, mas, acima de tudo, pelo que é. Nem sempre a maneira pela qual as pessoas se apresentam condiz com seu aspecto interior. O ato externo não tem valor por si mesmo, mas sim a qualidade e a intenção interna de quem o realizou.

Um indivíduo é considerado benfeitor da humanidade quando está conscientemente integrado à Divindade. Quem se une ao Pai acaba realizando as coisas através dele.

Disse Jesus: “Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras”.

O legítimo tarefeiro da luz possui em si mesmo, de forma consciente, o funcionamento da Harmonia Universal e sabe confiar na nação do Poder Superior, o qual “realiza suas obras”.

Ele reconhece que a intuição nada tem a ver com os métodos analíticos dos indivíduos que supervalorizam o mundo intelectual, e sim com uma forma de deixar escoar a Sabedoria Divina contida em seu íntimo, a exemplo de um bambu oco. Torna-se, assim, um canal sapiencial.

O sábio atua na luz de uma dimensão totalmente desconhecida pelo insipiente, compreendendo que não adianta buscar e fazer as coisas de maneira desesperada e abundante. Age de modo tranquilo, sem desgastes inúteis de energia, e se lança pacificamente nesse fluxo de luz imperceptível aos olhos materiais.

Todo sábio percebe o momento de “agir” e de “não agir” ou “não intervir”, pois reconhece que pode ser desastroso se opor aos processos e mecanismos das leis invisíveis da Vida Excelsa, seja tentando modificá-los pretensiosamente, seja desobedecendo a sua ritmicidade.

Se um indivíduo se candidata à pesca marítima, utilizando uma embarcação movida à vela, terá primeiramente que aprender alguns princípios básicos de náutica e de pesca.

Deverá adquirir conhecimentos a respeito das correntes de ar e dos oceanos, da movimentação dos ventos em determinada direção e, igualmente, da denominada corrente de deriva (fluxo de ar lento em razão dos fracos ventos). Precisará se informar sobre o refluxo ou vazante (corrente de maré que se afasta da costa em direção ao alto-mar).

O pescador que conhece como agem as leis da Natureza na atmosfera e no mar aproveita suas movimentações ou mudanças, nunca interfere no curso dos acontecimentos naturais, mas os acompanha, aceitando-os e integrando-se a eles.

No “mar da existência”, só atingiremos plenamente o sucesso e o triunfo nas realizações existenciais quando soubermos intervir no momento certo, agindo de forma espontânea e intuitiva.

A ação harmoniosa, muitas vezes, consiste em observar atentamente as “correntes marítimas e atmosféricas internas” e em utilizar a ação ou a inação. Em vez de percorrer o caminho dominador e impositivo do ego, devemos utilizar a alma, que é a ação da onipresença divina em tudo e em todas as coisas que existem no Universo. “Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim?”.

Para exemplificar esses fluxos invisíveis, o sábio e o filósofo Lao-Tsé baseou-se nas movimentações contínuas da Natureza e escreveu: “Nada na Terra é mais suave e complacente do que a água, porém nada é mais forte. Quando ela se defronta com uma muralha de pedra, a suavidade supera a dureza; o poder da água prevalece”.

De fato, nada é mais frágil do que a água. No entanto, nada há no mundo que tanto se adapte ao solo. E nada mais forte do que a água para derrotar a mais rígida barreira. Ela é incomparável e invencível.

A água utiliza a “passividade dinâmica”. Desliza obedecendo ao curso natural, da nascente à foz, contorna obstáculos e evita confrontos, não gastando de forma inútil suas energias. No entanto, apesar de frágil e maleável, às vezes é muito forte e resistente.

Aquele que tem o hábito da reflexão se coloca num profundo silêncio interior, sabe encontrar o fluxo divino, quer dizer, o momento de agir e o de não agir. Tem habilidade suficiente para reconhecer a hora certa de se lançar ou não nas ocorrências diárias.

A “passividade dinâmica” é uma forma de restabelecer a harmonia com o poder oculto que organiza e movimenta todo o reino interno e externo, uma maneira de transcender os padrões sociais e intelectuais preestabelecidos pelo egoísmo pretensioso, que constantemente viola a ordem natural que rege o microcosmo e o macrocosmo.

Não devemos nos opor propositadamente às energias à nossa volta, mas fluir com elas, pois é na suavidade e flexibilidade do rodear das águas – na “passividade dinâmica” – que venceremos a “dureza das pedras da existência humana”.


Hammed








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