terça-feira, 15 de novembro de 2022

Humberto de Campos - Livro Cartas do Coração - Espíritos Diversos / Chico Xavier - 1ª Parte - Cap. 53 - O dom divino



Humberto de Campos - Livro Cartas do Coração - Espíritos Diversos / Chico Xavier - 1ª Parte - Cap. 53


O dom divino


Antigo devoto, extremamente apaixonado pelo Senhor, mantinha consigo o velho desejo de encontrá-lo, afagá-lo e ser-lhe útil.

“Oh! se pudesse viver na intimidade do Mestre!” — pensava em êxtase — “tudo faria por rodeá-lo de cooperação e carinho…”

Por isso mesmo buscava cultivar todas as virtudes e aperfeiçoar todas as qualidades nobres, a fim de oferecer-lhe dons perfeitos.

Entre esperanças e orações, seguia a esteira infinita do tempo, aguardando o instante sublime de identificar-se com Jesus, quando, num sonho prodigioso, viu que o Senhor o visitava, acompanhado de sublime cortejo. 

O carro fulgurante do Rei do Mundo vinha ladeado de Arcanjos e Tronos, ostentando flores e estrelas do Paraíso.

Maravilhado, o crente demandou o interior da casa, procurando as joias com que pretendia mimosear o Divino Amigo.

Não encontrou, porém, o ouro e a prata, as rosas e os perfumes, com os quais esperava render-lhe culto. 

Em lugar deles, no entanto, reparou, espantado, que as suas virtudes se haviam materializado em vasos simbólicos. 

Tentou escolher dentre eles alguma preciosidade com que pudesse atender ao próprio coração, mas notou que o seu amor estava representado por uma candeia sem óleo, que a sua paciência era um prato fendido, que a sua fé exprimia-se numa ânfora enlameada, que a sua caridade era um jarro vistoso e vazio e outras virtudes como, por exemplo, a humildade e o entendimento fraterno, nem chegavam a aparecer…

Desapontado e pesaroso por não haver encontrado algum recurso, de modo a satisfazer-se, o devoto reconheceu que não passava de miserável mendigo, incapaz de uma oferta condigna ao Visitante Celestial.

Quis fugir, escondendo a própria indigência, todavia, surpreendido pelo Mestre que o abraçava, bondoso, clamou em lágrimas:

— Eterno Benfeitor, perdoa-me a pobreza! Nada tenho para expressar-te o meu carinho!… Minhas virtudes não passam de baixelas desprezíveis…

Jesus contemplou as alfaias expostas, sorriu e falou, sereno:

— Realmente, as qualidades edificantes que o Reino do Todo-Poderoso espera de nós revelam-se em construção, no terreno de tua alma. É imprescindível que o tempo te aprimore os talentos imortais. 

Entretanto, trazes contigo o dom divino oculto em todas as criaturas. É por ele que a Obra de Deus se aperfeiçoa na Terra. Usando-o, podes colaborar comigo em toda parte, santificando-te, cada vez mais, para a glória do paraíso.

E por que o discípulo indagasse, entre aflito e jubiloso, o Mestre completou:

— É o dom de servir, indistintamente. Ajuda-me a velar pelos homens, pela vida, pela natureza… Auxilia comigo ao ignorante e ao doente, ao velho e à criancinha, ao animal e à erva tenra. A qualquer criatura ou a qualquer coisa que ofereças o bem é a mim mesmo que o fazes…

O devoto quis falar, traduzindo a imensa ventura que lhe banhava a alma toda, ante a lição recebida, mas, ao murmúrio do vento, que parecia chamá-lo ao trabalho, fora do aconchego doméstico, despertou no leito macio e começou a pensar.


Humberto de Campos
Irmão X










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