domingo, 19 de abril de 2020

Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 21 - Sabedoria


 
Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 21


Sabedoria


O sábio, por ter plena consciência da impossibilidade de possuir o conhecimento absoluto, reconhece com humildade as muitas coisas que ignora, não incorrendo na presunção de tudo saber ou conhecer. Aliás, o orgulho inibe a compreensão de tudo aquilo que se alcança com humildade.

A pessoa sábia não se opõe à ação da Natureza, mas entra em sintonia e atua juntamente com ela. "Todas as leis da Natureza são leis divinas, porque Deus é o Autor de todas as coisas."(1)

Ter sabedoria  consiste  em  possuir  uma  "leitura  de  mundo"  voltada  para  o  senso íntimo  capacidade  de  receber  informações  sobre  as  mudanças  no  meio  (externo  ou interno) e de a elas interagir, exprimindo atos e atitudes únicos e originais.

Quando desprezamos nossa fonte de sabedoria interior (propriedade inata de todos nós), rejeitamos parte importante de nossa realidade interna, porquanto as leis de Deus estão escritas na consciência.(2) A expressão consciência, aqui utilizada pelos Guias da Humanidade, tem a mesma significação de Espírito, pois, se as leis divinas estivessem simplesmente na área consciencial do ego - sensações, percepções, emoções e motivações -, não teríamos maiores dificuldades de compreendê-las ou aplicá-las. Ao ignorarmos o potencial em nossa intimidade, nosso campo de visão existencial fica obscuro e distorcido e não conseguimos nos firmar perante a existência.

O sábio tem plena certeza de que é soberano e escravo do próprio destino; senhor supremo de seus atos e prisioneiro de seus efeitos compulsórios.

Os grandes educadores da humanidade são considerados homens de sabedoria. São eles que caminham à frente no tempo e no espaço, revelando-nos capacidades e habilidades ocultas, que sempre existiram dentro de nós. À custa de muito trabalho e enormes sacrifícios, os "pioneiros sapienciais" utilizavam como eixo principal de suas lições a importância do reino interior, ensinando-nos com notável propriedade que "o mundo a ser desvendado está no âmago da criatura", que o "divino está no humano", uma vez que tudo que há em nós é sagrado. Por essa razão, hoje entendemos perfeitamente as palavras de Jesus Cristo: "O Reino de Deus está no meio de vós".(3)

A partir disso, compreendemos que o modo de ensinar de todos os grandes mestres baseava-se fundamentalmente na educação como método de percepção e, ao mesmo tempo, de desenvolvimento dos talentos inatos - a vocação peculiar e espontânea existente dentro do próprio homem. O verbo educar vem do latim educare e significa "ação de lançar para fora, colocar à mostra, tirar de dentro".

Educar não é obrigar ou constranger alguém a aprender por meio de força ou pressão moral, mas exprimir e liberar a potencialidade do ser. Também não é imprimir, porém fazer brotar ou emergir os dons subjacentes. Menos ainda seria formar, impondo uma fôrma; ao contrário, seria desentranhar do mais fundo da criatura o seu próprio modo de ser.

A conquista da sabedoria proporciona aos homens flexibilidade suficiente para que não mantenham a mente fechada a novas informações e não vivam dentro de regras e padrões sociais rígidos.

Os sábios entendem que o bom senso, unido a uma consciência reflexiva voltada para o "conhecimento original", deve anteceder a toda decisão, opção ou solução.

Eles não deixam que instruções, classificações e análises acumuladas no decurso dos tempos sufoquem a "sabedoria primitiva" contida na própria alma. A propósito, as regras injustas da sociedade e as religiões fundamentalistas, presas a modelos rigorosos e a severos padrões de pensamento, funcionam como autênticos entraves à sabedoria interior.

Os sábios aprenderam que, muitas vezes, os "procedimentos e hábitos" de uma época repercutem de tal forma sobre as pessoas, que elas passam a vê-los, primeiramente, como "normas ou regras sociais"; depois, ao longo dos séculos, como "valores e condutas morais", chegando, por fim, ao ponto de considerá-los como "leis ou ordens divinas".

O Criador não estabeleceu leis que, em outras épocas, Ele próprio teria proibido. Seria bom lembrarmos que as concepções e idéias sofrem interferência dos fatores tempo e espaço. As pessoas diferem em seus conceitos sobre os costumes - modo de pensar e agir característico de indivíduo, grupo social, povo, nação —, porque eles são constantemente reavaliados e renovados através do tempo e das sociedades humanas.

"Deus não pode se enganar. Os homens é que são obrigados a mudar suas leis, porque são imperfeitas. As leis de Deus são perfeitas. A harmonia que rege o universo material e o universo moral está fundada sobre as leis que Deus estabeleceu para toda a eternidade". (4)

As leis elitistas são transitórias porque foram criadas pelo prestígio de um grupo social ou pelo domínio de um povo ou nação em determinada época. Todavia, são constantes e imutáveis "as leis que Deus estabeleceu para toda a eternidade".

Ter sabedoria consiste em possuir uma "leitura de mundo voltada para o senso íntimo — capacidade de receber informações sobre as mudanças no meio (externo ou interno) e de a elas interagir, exprimindo atos e atitudes únicos e originais.

Cada indivíduo possui um canal sapiencial que pode entrar em sintonia com a fonte abundante da sabedoria universal. sábio tem a capacidade de se autogovernar, uma vez que, a penetrar na essência das coisas, analisa-as e sintetiza-as se prejulgamentos, utilizando somente a própria coerência e a autenticidade provenientes de seu reino interior.

O   saber   implica   a   facilidade   de   elaborar   idéias   simples   para   explicar   coisas aparentemente complexas, utilizando-se os recursos fecundos inspirativos do universo interior.

Há séculos, os grandes pensadores e filósofos vêm-nos ensinando que autoconhecimento é a base primordial para alcançarmos a verdadeira sabedoria. Mas, para  saber  realmente  quem  somos,  precisamos  mergulhar  nas  profundezas  do  ser  e buscar a sabedoria existente em nosso mundo íntimo.

Se  fomos  criados  por  Deus  e  se  Ele  colocou  em  nós  a  sua  marca -a  ideia  de  Deus  é inata  no  homem (5) -,  ao  nascermos,  já  trazemos  como  herança  a  marca  divina.  A onipresença  do  Criador  abrange  todo  o  Universo,  manifestando-se em  todas  as  suas criaturas e criações. Portanto, o passo fundamental para entrarmos em contato com o verdadeiro  saber  é  tomarmos  consciência  de  que Deus  está  em  nós, somos  deuses  em potencial, conforme a expressão evangélica.

Ser  sábio  não  se  fundamenta  apenas no  grau  de  informação  ou  de  conhecimento  que temos  sobre  a  vida  terrena.  Nem  sempre  indivíduos  requintados  e  instruídos  são portadores de senso intimo bem desenvolvido ou de alto nível de discernimento. Não devemos confundir cultura ou instrução com sabedoria. 

Muitas  pessoas  cultas  não  são  sábias,  apesar  de  ostentarem  um  ar  de  superioridade intelectual. Não distinguir instrução de sabedoria é como não diferenciar diamantes de contas de vidro. A Espiritualidade Superior nos estimula a manter contato profundo e significativo  com  nossa  força  interna,  a  fim  de  que  possamos  nos  familiarizar  com  a "voz da consciência".

O   saber   implica   a   facilidade   de   elaborar   idéias   simples   par   explicar   coisas aparentemente   complexas,   utilizando-se   os   recursos   fecundos   e inspirativos do universo interior.

O   conhecimento   do   sábio   provém   do   mundo   silencioso.   É   no   silêncio   que   a introspecção enlaça  o  santuário  da  sabedoria.  Quem  mais  conhece  menos  alarde  faz; quem pouco conhece faz muito estardalhaço.

Precisamos  adquirir  o  hábito  de  dedicar  algum  tempo  ao  silêncio  da  meditação,  uma vez   que   o   "olho   interior"   nos   proporciona   inúmeras   formas   de   percepção (nós próprios, o mundo, a Natureza e Deus); enfim, ver o fundo e não apenas a superfície das coisas.

A  sabedoria  está  igualmente ligada  à  forma  como  notamos  a  sutileza  do  mecanismo cíclico  que  move  o  Universo.  Nele,  tudo  obedece  a  um  ritmo  natural;  a  raiz  de  nossa evolução corporal/espiritual está fincada nas íntimas relações com a Natureza. Se nos observarmos mais atentamente, veremos que somos parte dela.

O  fluxo  da  Vida  faz  com  que  tudo  se  realize  num  reciclar  constante  e  periódico.  Nos pequenos  seres,  ela  repete,  em  menor  escala,  o  magnífico  e  imensurável  movimento cósmico.

Na Terra, como em toda a criação, tudo é submetido a movimentos alternados, desde as  marés,  as  fases  da  lua,  as  interações  entre  os  organismos  dos  ecossistemas,  a diversidade  dos  fenômenos  meteorológicos,  os biorritmos humanos  e  outras  tantas coisas.

Quando  admitimos  o  conjunto  das  forças  que  movem  e  animam a  evolução  da  vida, começamos a perceber o dinâmico e sábio processo da ritmicidade que existe dentro e fora   de   nós.   O   desenvolvimento   evolutivo   nos   mostra   que   tudo   se   encadeia harmonicamente.

Na  questão 540 de O  Livro  dos  Espíritos, obra  básica  do  Espiritismo,  encontramos  a seguinte  exposição: "(...) E  assim  que  tudo  serve,  tudo  se  coordena  na  Natureza,  desde  o átomo primitivo até o arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia da qual vosso espírito limitado não pode ainda entender o conjunto."(6)

A ação do homem desprovido de sabedoria tende normalmente a modificar, de acordo com seus caprichos ou pontos de vista pessoais, a Natureza que o cerca. Desse modo, as  atitudes  dele  resultam  num  desgaste  inútil  de  suas  forças  físicas  e  intelectuais  e numa agitação desnecessária sem qualquer possibilidade de atingir a meta pretendida. Ao  contrário  do  homem  sábio,  que  não  se  opõe  à ação da  Natureza,  mas  entra  em sintonia com ela, realizando e atuando em seu favor.

A  criatura  humana  intelectualizada desenvolve-se no  sentido  horizontal,  enquanto  a verdadeiramente sábia transcende no sentido vertical.

O  sábio  é  aquele  que  desenvolveu  a  capacidade sapiencial de  comparar,  avaliar  e ponderar as ideias com a precisão dos cientistas, com a generosidade dos benfeitores, com a sensibilidade dos poetas, com o bom senso dos filósofos, com a naturalidade das crianças e com o desprendimento dos que amam sem condições.


Hammed 




(1) Questão 617 de "O Livro dos Espíritos"

(2) Questão 621 de "O Livro dos Espíritos"

(3) Lucas, 17:21

(4) Questão 616
Será possível que Deus em certa época haja prescrito aos homens o que noutra época lhes proibiu?

“Deus não se engana. Os homens é que são obrigados a modificar suas leis, por imperfeitas. As de Deus, essas são perfeitas. A harmonia que reina no universo material, como no universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade.”

(5) Questão 6 de "O Livro dos Espíritos' 

(6) Questão 540 
Os Espíritos que exercem uma ação sobre os fenômenos da Natureza agem com conhecimento de causa, em virtude do seu livre-arbítrio ou por um impulso instintivo ou irrefletido?

"Alguns sim, outros não. Eu faço uma comparação: imagina essas miríades de animais que, pouco a pouco,
fazem surgir do mar as ilhas e os arquipélagos; crês que nisso não há um fim providencial e que uma certa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral? Esses não são mais que animais da  última ordem que cumprem essas coisas para proverem suas necessidades e sem desconfiarem que são os instrumentos de Deus. Muito bem! Da mesma forma os Espíritos, os mais atrasados, são úteis ao conjunto.

Enquanto ensaiam para a vida e antes de terem a plena consciência dos seus atos e seu livre-arbítrio, agem sobre certos fenômenos dos quais são agentes inconscientes; eles executam primeiro; mais tarde, quando sua inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material. Mais tarde, ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim que tudo serve, tudo se coordena na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia da qual vosso espírito limitado não pode ainda entender o conjunto. "




Fonte: Os Prazeres da Alma - pdf

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