sexta-feira, 24 de abril de 2020

Chico Xavier - Livro Chico Xavier, À Sombra do Abacateiro - Carlos A. Baccelli / Chico Xavier - Pág. 31/33 - 13 de março de 1982




Chico Xavier - Livro Chico Xavier, À Sombra do Abacateiro - Carlos A. Baccelli / Chico Xavier - Pág. 31/33


13 de março de 1982




Havia muita gente na reunião do dia 13 de março, do ano passado. Vários ônibus e carros promoviam grande movimento nas ruas estreitas e esburacadas da pequena vila.

Chico abre o Evangelho e escolhe  uma  lição do Cap. V —  item  12, “Motivos de Resignação”.

Após a prece inicial, Márcia é convidada a proceder aos comentários. A seguir, D. Maria Eunice  de  Souza  Meirelles  Luchesi, amiga de Chico há mais de trinta anos, oferta-nos a sua palavra na interpretação do texto.

Muitos companheiros presentes comentam com brilhantismo o assunto, no entanto, vamos nos deter na palavra do confrade Djalvo, da cidade de Franca, Estado de São Paulo. O seu depoimento nos impressionou bastante, comovendo a todos os presentes:

“Foi em Pedro Leopoldo, em 1955, que o Chico me convidou a falar pela primeira vez. O tema era Bem-aventurados os Aflitos. Há coisa de dois meses, em Franca, uma família amiga me  solicitou  que  falasse  no  sepultamento  do  filho.  Repeti,  então,  no  velório,  as  palavras  de Lavoisier. Na Natureza nada se cria, nada se perde; tudo se transforma. Disse que nós, os espíritas, acreditamos nisto, referi-me às aflições do mundo... Pois bem, na 5ª feira passada, dia 5 de março, fui levado a dar o  mesmo testemunho, só que agora o velório era de minha própria filha, a caçula de casa... Com lágrimas nos olhos, embora, repeti que a vida continua e que eu como pai ali estava diante do corpo de minha filha, mas que o Espírito não perece... E terminei: Minha filha, até amanhã.”

Olhando fixamente para o Chico, disse-lhe: “Deus que te pague, Chico!”

Estávamos  todos  profundamente  emocionados, sobretudo pela espontaneidade da fé naquele coração sofredor de pai, mas radiante de esperança.

Depois que mais alguns amigos falaram, Chico pede a palavra: “O nosso Emmanuel, aqui presente, nos pede para observar quando a mensagem evangélica fala de que devemos considerar-nos felizes quando sofremos, porquanto o sofrimento de agora nos poupa séculos de padecimentos futuros...”

Não é uma expressão exagerada, muitas vezes recapitulamos as mesmas falhas em muitas existências. No caso do suicídio, quando instalamos em nós o propósito, voltamos à Vida Espiritual com as conseqüências de nossos atos nesse sentido, carregando, naturalmente, no corpo espiritual as marcas, porque não ferimos a Deus, ferimos a nós mesmos... Passamos  tempos  no  Além  amparados,  mas  sentindo  a  necessidade  de  voltar a  Terra  e experimentar a  mesma prova, a tentação de arrasarmos com o  nosso corpo, e com isto repetimos, às vezes, os mesmos gestos.

A paciência, o espírito de aceitação, pode evitar-nos muitas dores. Por que adotarmos o espírito de rebeldia? Por que Deus nos  experimenta?! As dádivas de Deus são gratuitas. Não pagamos o aluguel da Terra — pagamos o aluguel das casas em que  moramos;  mas o  mundo em  si  é  uma  dádiva  de  Deus. Um  Céu  maravilhoso  nos  cobre,  nenhum de nós precisa fazer minas de  oxigênio  para  respirar...  Temos os nossos auxiliares  que são as plantas, os animais, os minerais, tudo vem até nós gratuitamente para que exercitemos o Amor Supremo...

De um modo geral, estamos sempre reclamando, reclamando; quando temos tantas oportunidades para bendizer aquilo que já temos, os dias felizes que tivemos, as afeições, esse mundo de beleza espiritual que temos à nossa disposição...

Precisamos tolerar mais um pouco, tolerar mais um tanto, compreender de algum modo mais um tanto e criar em torno de nós a simpatia de que precisamos para viver.

Passamos anos a fio em inércia espiritual, fugindo ao trabalho, seja à responsabilidade, ao espírito de serviço...

Vivemos como criaturas que se suicidam pouco a pouco, todo o dia um suicidiozinho... Um ato de rebeldia, uma reclamação indébita, um ponto de vista infeliz... Atraímos vibrações negativas e operamos sobre nós esse suicídio lento, indireto...

Todo gesto de amor recebe a gratidão daquele que é contemplado com essa bênção de proteção e carinho.

As plantas agradecem, os animais agradecem, um cão abana a cauda.

Carecemos de aumentar os nossos tesouros de fraternidade. 

Mas enveredamos pela aflição não bem-aventurada, porque a pessoa pode estar aflita, mas não bem-aventurada.

Precisamos ajudar-nos a nós mesmos, mas deixando essa história do ‘eu’ ferido... Eu não tolero beltrano, eu não posso, eu não aguento... Nos todos somos uns para os outros. Alcançar o  coração daqueles que estão ao nosso  derredor, precisamos também coloca o nosso coração naquele ponto de compreensão, de paciência.

Para sermos tolerados, precisamos tolerar. Dar algo de bom de nosso coração, nossas palavras, nossos pensamentos, estendendo, à  pessoa que está no estado de angústia, a esperança... 

Alguém é instrumento de nossa prova, mas  nós  também somos instrumentos para alguém. Aquela pessoa é um problema para mim... nós também somos um problema para aquela pessoa, porque tudo é recíproco.

Não podemos chegar à porta dos nossos inimigos e pedir perdão, não é assim porque es-taremos  humilhando a pessoa, colocando-nos na posição de bons. Devemos começar orando para que Deus nos dê humildade e paciência, e aquela criatura nos veja por um ângulo diferente.

Muitas de nossas doenças são, unicamente, o produto de nossos pensamentos desequilibrados.

“A violência se alastra pelo mundo, mas ela começa em cada um de nós”.

Após interpretar o pensamento de Emmanuel, Chico se posta de pé no atendimento à fila dos irmãos carentes que não sabemos estar mais interessados no óbolo humilde ou em beijar aquelas abençoadas mãos.





Chico Xavier

Carlos A. Baccelli







Nota - À noite, no “Grupo Espírita da Prece” Chico recebeu uma mensagem de José Russo, companheiro de lides doutrinárias, na cidade de Franca recentemente desencarnado, dando ao amigo Djalvo notícias da filhinha querida, confortando-o com palavras de indescritível beleza.

Fonte: Chico Xavier, À Sombra do Abacateiro - pdf

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