quarta-feira, 1 de abril de 2020

Carlos A. Baccelli - Livro Chico Xavier Mediunidade e Ação - Carlos A. Baccelli - Pág. 25/29 - Chico Xavier e Dna. Anna de Campos Véras





Carlos A. Baccelli - Livro Chico Xavier Mediunidade e Ação - Carlos A. Baccelli - Pág. 25/29


Chico Xavier e Dna. Anna de Campos Véras




“Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é interprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocupavam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos – sente-se, ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do sr. Francisco Cândido Xavier para escrever à la manière de... ou traduzir o que aqueles altos espíritos sopraram ao seu.”
Humberto de Campos,

“Diário Carioca” – 10 de julho de 1932

Logo que o médium Chico Xavier, nos idos de 1935, começou a psicografar mensagens de Humberto de Campos, desencarnado em 5 de dezembro de 1934, estabeleceu-se entre ele e D. Anna de Campos Véras, a mãezinha do célebre escritor, uma afetuosa amizade.

Enquanto os incrédulos discutiam pela imprensa, e até mesmo nos tribunais, a autenticidade das referidas páginas, o coração materno pressentia nelas a presença do filho querido, a lhe dizer da Outra Vida:

“Hoje, mamãe, eu não te escrevo daquele gabinete cheio de livros sábios, onde o teu filho, pobre enfermo, via passar os espectros dos enigmas humanos, junto da lâmpada que, aos poucos, lhe devorara os olhos, no silêncio da noite.

A mão que me serve de porta-caneta é a mão cansada de um homem paupérrimo, que trabalhou o dia inteiro buscando pão amargo e cotidiano dos que lutam e sofrem. A minha secretária é uma tripeça tosca à guisa de mesa e as paredes que me rodeiam são nuas e tristes, como aquelas da nossa casa desconfortável em Pedra do Sal. O telhado sem forro deixa passar a ventania lamentosa da noite e desse remanso humilde, onde a pobreza se esconde exausta e desalentada, eu te escrevo sem insônias e sem fadigas para contar-te que ainda estou vivendo para amar e querer a mais nobre das mães.”

D. Anna sabia que era, de fato, o seu filho a escrever, redivivo, através do médium de Pedro Leopoldo, então, um jovem de apenas 25 anos, sem qualquer cultura acadêmica. E, questionada, ela respondeu ao jornal “O Globo”, edição de 19 de julho de 1944:

“Realmente – disse D. Anna Campos – li emocionada as “Crônicas de Além-Túmulo”, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho.”

D. Anna, embora de formação católica, não poderia negar as palavras que somente um filho qual o seu Humberto poderia escrever, alcançando a sua sensibilidade materna:
“Se Deus me perguntasse, mamãe, sobre os imperativos da minha emancipação espiritual, eu teria preferido ficar, não obstante a claridade apagada e triste dos meus olhos e a hipertrofia que me transformava num monstro, para levar-te o meu carinho e a minha afeição, até que pudéssemos partir juntos, desse mundo onde tudo sonhamos para nada alcançar.

Mas, se a Morte parte os grilhões frágeis do corpo, é impotente para dissolver as algemas inquebrantáveis do espírito.

Deixa que o teu coração prossiga, oficiando no altar da saudade e da oração; cântaro divino e santificado, Deus colocará dentro dele o mel abençoado da esperança e da crença e, um dia, no portal ignorado do mundo das Sombras, eu virei, de mãos entrelaçadas com a Midoca, retrocedendo no tempo, para nos transformar em tuas crianças bem-amadas. Seremos agasalhados, então, nos teus braços cariciosos, como dois passarinhos minúsculos, ansiosos da doçura quente e suave das asas maternas, e guardaremos as nossas lágrimas nos cofres de Deus, onde elas se cristalizam como as moedas fulgurantes e eternas do erário de todos os infelizes e desafortunados do mundo.

Tuas mãos segurarão ainda o “terço” das preces inesquecidas e nos ensinarás, de joelhos, a implorar, de mãos postas, as bênçãos prestigiosas do Céu. E, enquanto os teus lábios sussurrarem de mansinho – “Salve Rainha... mãe de misericórdia...” começaremos juntos a viagem ditosa do Infinito, sob o dossel luminoso das nuvens claras, tênues e alegres, do Amor.”

Chico e D. Anna, na medida do possível, se correspondiam. Diríamos que, entre ambos, passou a existir uma ligação de mãe e filho.

Em seguida, transcrevemos uma carta que D. Anna enviou ao médium ainda no ano de 1938.

“Parnaíba 5/10/38
Senhor. Francisco Xavier,
Cordiais saudações.

Primeiro que tudo, peço desculpar-me a grande falta em que tenho incorrido não havendo respondido logo a sua prezada carta datada de 8 de Agosto. Não foi por descuido que o fiz e sim por grave enfermidade em uma pessoa muito querida de minha família, que muito cuidado me deu, privando- me de cumprir esse dever, o que agora faço agradecendo lhe, muito. penhorada as carinhosas palavras que me dispensa as quais grande conforto me proporcionou a alma ainda muito abatida. Li e reli com muita atenção as páginas do precioso livro que a sua bondade e caridade me enviou, e grandemente comovida lhe agradeço.

Essa dádiva representa para mim uma honrosa homenagem a memoria do meu saudoso filho e grande consolo para meu coração amargurado. Deus lhe recompense por todos esses cuidados e atenção que me dispensa. Fico ciente de tudo que me diz e sobretudo com referencia as castanhas. Já estou juntando algumas para lhe enviar o mais breve possível, de cujas já experimentei algumas, que com um mês mais ou menos nasceram e estão crescidas.

Espero pois que o bom amigo tenha igual resultado com as que vou enviar lhe pelo correio no primeiro vapor que passar para o Sul.

Queira pois despor da criada e amiga muito grata que maternalmente lhe abençoa,
Anna Véras”

Dez dias depois, 24 castanhas do famoso cajueiro plantado pelas mãos de Humberto de Campos, eram enviadas ao Chico, com o bilhete anexo:

“Ao prezado amigo Sr. Francisco Xavier e suas dignas irmãs, ofereço como lembrança estas castanhas do cajueiro de “Humberto de Campos”. Peço desculpas pela insignificância do mimo. Da velhinha muito amiga que os abençoa,
Anna Campos Véras,

Desejamos terminar estas nossas considerações, dizendo ainda que, enquanto a família de Humberto de Campos, por parte de sua esposa, movia, em 1944, um processo contra o médium Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira, reclamando os direitos autorais de suas obras escritas do Além, a sua mãezinha, D. Anna de Campos Véras, sem que nunca sequer, em toda a vida, tivesse estado pessoalmente com o Chico, toma-lhe a defesa e aceita, de alma e coração, a autenticidade das mensagens do filho querido.



Carlos A. Baccelli




Nota: Quem desejar se inteirar sobre o processo referido acima, deve ler o excelente livro “A Psicografia Ante os Tribunais”, do Dr. Miguel Timponi, editado pela FEB.
Fonte: Julio Miyamoto 

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