sexta-feira, 12 de março de 2021

Manoel Philomeno de Miranda - Livro Transição Planetária - Divaldo P. Franco - Cap. 5 - Novas Experiências




Manoel Philomeno de Miranda - Livro Transição Planetária - Divaldo P. Franco - Cap. 5


Novas Experiências


“Estes são os dias graves do Senhor! É necessário que as criaturas humanas abramo-nos ao Evangelho Restaurado e nos permitamos ser instrumentos do Condutor de Vidas, para que possamos aplainar os caminhos que a sua misericórdia vem percorrer. Espíritas! Assumistes um compromisso antes do berço...” Bezerra de Menezes

Após algum tempo de repouso e de meditação, deixei-me inspirar pela oração, entregando-me ao Senhor da Vida para o ministério que deveria exercer com os nobres Espíritos que logo mais visitaríamos a Terra.

Um balsâmico bem-estar inundou-me os sentimentos e não pude conter as lágrimas de alegria e de gratidão aos Céus, por permitir-me aprender no trabalho e com o exemplo dos mais abnegados.

Às 18h, encontramo-nos, e após uma oração pronunciada pelo Dr. Charles White, tomamos o veículo especial que nos conduziu à cidade de Sumatra, na Indonésia, considerado o quarto país mais populoso da Terra, que fora assolada entre outras cidades dos muitos países atingidos, onde deveríamos instalar-nos com os demais grupos que nos anteciparam. A cidade tivera mais de dois terços da sua área afetada pela inundação e pela destruição... Igualmente considerada o país mais populoso dentre os muçulmanos, seu povo, espalhado pelas inúmeras ilhas, não podia imaginar a grandeza da calamitosa ocorrência, por falta de comunicação entre aquelas de origem vulcânica e as outras de formação calcária...

Alguns Espíritos nobres acercaram-se da região no começo de dezembro (2004), a fim de organizarem as comunidades transitórias para receberem os que desencarnariam em aflição, no terrível futuro evento sísmico.

Transcorrido algum tempo de viagem, chegamos à comunidade espiritual situada sobre a área tristemente atingida.

Embora houvéssemos acompanhado alguns lances da tragédia em nossa Colônia, podíamos agora ver diretamente os danos causados pela onda imensa e as que a sucederam, destruindo tudo com a velocidade e a força ciclópica do terremoto nas águas profundas do oceano Indico, e logo depois, as contínuas vibrações e seguidos choques destruidores.

A força tempestuosa espalhara-se pelas costas da índia, do Sri Lanka, da Tailândia, das Ilhas Phi Phi, das Maldivas, de Bangladesh, de parte da África e de outros países, embora com efeitos menores que alcançaram o Atlântico...

Como resultado lastimável ocorreram alterações na massa terrestre, no seu movimento, na inclinação do eixo, que embora não registradas com facilidade pelos seus habitantes, foram detectadas por instrumentos sensíveis.

A primeira onda avassaladora ceifara mais de 150.000 vidas, enquanto as sucessivas carregadas de destroços de casas, barcos e construções de todo tipo, de árvores arrancadas e pedras, semearam o horror, arrasando as comunidades litorâneas...

A psicosfera ambiental era densa, denotando todos os sinais inequívocos das tragédias de grande porte.

Ouvíamos o clamor das multidões desvairadas, enlouquecidas pelo sofrimento decorrente da morte dos seres queridos, assim como em relação aos desaparecidos, à perda de tudo, vagando como ondas humanas sem destino.

De imediato, começaram a chegar as contribuições internacionais, porém, os instintos agressivos dominavam grupos de exploradores, de vadios e criminosos que se aproveitavam da oportunidade para ampliar a rapina e o terror.

Tempestades vibratórias descarregavam energias densas sobre o rescaldo humano e geográfico, confrangendo-nos sobremaneira.

Logo após encontrarmos o lugar que nos deveria servir de suporte para as incursões ao planeta, onde igualmente se alojavam outros grupos espirituais socorristas, o nosso gentil condutor explicou-nos qual a tarefa que deveríamos desempenhar naqueles primeiros minutos e, orientando-nos, mergulhamos na densa noite que se abatia sobre a região devastada.

Os corpos em decomposição amontoavam-se em toda parte, após ligeira identificação de familiares e a remoção de alguns para outros lugares, chamando-nos a atenção as fortes ligações espirituais mantidas pelos recém-desencarnados, que nem sequer se haviam dado conta da ocorrência grave. Imantados aos despojos, estorcegavam, experimentando a angústia do afogamento, as dores das pancadas produzidas pelos destroços, o desespero defluente da ignorância... De quando em quando escutavam-se preces e súplicas dirigidas a Allah, logo seguidas de blasfêmias e imprecações tormentosas.

Movimentavam-se muitos encarnados em atividades de auxílio, apesar da noite densa, demonstrando a solidariedade humana, inúmeros dos quais haviam chegado de outros países, especialistas nesse tipo de socorro, que se misturavam aos caravaneiros do Além, igualmente dedicados ao amor ao próximo.

O Dr. White caminhou entre os muitos destroços e cadáveres na direção de um grupo de desencarnados, que me fazia recordar uma alcateia de lobos famintos, ou chacais disputando os despojos das presas mortas... A balbúrdia era expressiva, e o pugilato entre alguns Espíritos era igualmente vergonhoso...

- Disputam as energias dos recém-desencarnados - elucidou o respeitável médico.

"Com essa atitude, agridem os Espíritos em desespero, que mais se apavoram e tentam absorver-lhes as energias animais de que se nutrem, iniciando o infeliz processo de vampirização. Identificando-se com aqueles cujas existências foram de irresponsabilidade, o que lhes permite a sintonia vibratória, buscam exauri-los, o que apressará a decomposição cadavérica, arrastando-os para regiões de desdita onde os submeterão a sevícias e exploração mental de longo curso.

"E como são profundamente infelizes, disputam as vítimas como fariam os animais ferozes com os despojos das caças que acreditam pertencer-lhes...

"Nosso compromisso de momento é afastá-los do local e tentar despertá-los para a sua realidade espiritual."

Aproximamo-nos, e a um sinal do médico, Abdul, que se encontrava com a indumentária muçulmana convencional, levantou a voz e recitou um ayat (versículo) de uma das Suras (capítulos) do Corão, em tonalidade ritmada, qual faria um muzlim no seu recitativo na torre da mesquita...

Com vibração especial e profunda, o amigo continuou emitindo o som que envolvia as palavras, e, subitamente, houve um silêncio aterrador, com os bandoleiros espirituais como que despertando da alucinação. Nesse momento, Ana aproximou-se carregando um archote que clareava o ambiente, erguido com o braço direito acima da cabeça e, tomados de espanto, os vampiros e exploradores pararam a agressividade.

Um deles destacou-se com o semblante fescenino e cruel, gritando que nada tinha a temer, e que todos se voltassem contra os invasores e os submetessem.

Abdul, porém, manteve-se irretocável, continuando a recitar o Livro, com respeito e seriedade, o que produzia impacto muito grande na massa alucinada.

Foi então, que o Dr. White explicou-lhes a ocorrência que tivera lugar pouco tempo antes, naquele dia 26 - era ainda dezembro - a partir das 8h da manhã, e todos eles, colhidos pela morte, necessitavam de justo repouso, assim como os seus despojos deveriam ser cremados coletivamente, a fim de serem evitadas as epidemias que sucedem após esses infaustos acontecimentos, recordando que já se anunciavam algumas...

Ante o espanto natural que tomou conta dos desordeiros espirituais, o padre Marcos tomou das mãos que pareciam garras de um deles, o Espírito que se debatia entre os fluidos materiais como resultado das ligações do perispírito ainda não totalmente interrompidas, o que lhe proporcionava angústias inenarráveis e o pavor pelo que experimentava decorrente do rude verdugo, que não resistiu ao gesto bondoso.

Observando os vínculos que se alongavam até um dos cadáveres em deplorável estado de decomposição, o religioso, com movimentos circulares, no sentido oposto aos ponteiros do relógio, trabalhou o chacra coronário, deslindando o Espírito que gemia e retorcia-se em agonias inenarráveis, até que as cargas densas e pútridas que eram eliminadas, a pouco e pouco foram diminuindo de volume e esgarçando-se até diluir-se totalmente. Vi, então, o desencarnado cambalear e desfalecer...

Ajudado por Ivon, o benfeitor retirou-o do magote, colocando-o a regular distância, em sono agitado, dando prosseguimento com outro infeliz.

O agitador que ameaçava Abdul, disparou em velocidade abandonando o grupo, enquanto o servidor do Bem continuava conclamando-os à paz, ao respeito pelas vítimas, à compaixão e misericórdia preconizados pelo seu livro sagrado.

Ato contínuo, embora prosseguisse a agressão de alguns mais rebeldes, seguimos a atitude do padre Marcos e procuramos atender alguns sofredores em comovedora aflição, que se libertavam das mãos perversas que os exploravam, trabalhando-lhes as fixações perispirituais, de modo a atenuar­l-hes os sofrimentos acerbos... À medida que eram diminuídas as ligações com os cadáveres a que se encontravam imantados, experimentavam o torpor da desencarnação, entrando em sono agitado, típico das últimas imagens captadas antes da morte física...

Colocados um pouco distante da zona infectada pelos fluidos densos e danosos, grupos de padioleiros que se dedicavam a transferi-los para nossa comunidade espiritual temporária, conduziam-nos silenciosamente.

Enquanto ocorria essa atividade, Abdul falava diretamente com alguns obsessores e zombeteiros que se encontravam presentes, explicando-lhes o sentido da vida e as Leis que regem o Universo, naturalmente incluindo o sombrio mundo em que se agitavam tentando manter o mesmo comportamento vivenciado na Terra.

Tratava-se da necessidade de transformação moral para melhor, a fim de poderem viver realmente, libertando-se da névoa que lhes entorpecia a inteligência e alucinava os sentimentos.

Conhecedor da alma humana, o hábil esclarecedor não se intimidava ante as ameaças de alguns seres hediondos que dele escarneciam, assim como de todos nós, gritando epítetos vulgares e aberrantes, ameaçando-nos de combate em defesa dos seus interesses.

Sem enfrentamento verbal ou mental, continuávamos cuidadosamente em nosso mister, diminuindo o número daqueles que se mantinham fixados nos corpos danificados, desejando reerguê-los, retomá-los, para prosseguirem na caminhada humana... Dando-se conta da impossibilidade, caindo na realidade que não desejavam aceitar, perdiam completamente a lucidez e atiravam-se de encontro ao solo ou uns contra os outros, revoltados e em pranto de agonia, impedindo qualquer ajuda de nossa parte. Era natural, portanto, que houvesse um ponto de contato que nos facilitasse a execução do mister a que nos dedicávamos.

Não existem violências nas Leis de amor, sendo necessário qualquer forma de identificação entre aqueles que necessitam e quem se predispõe a ajudá-los.

Eis por que, não poucas vezes, o sofrimento ainda é a melhor psicoterapia de que a vida se utiliza para despertar os dementados pelo prazer e os aficionados da crueldade.

O labor era exaustivo e de grande significado, porque o auxílio liberador a cada Espírito que se beneficiava com a dádiva do sono e a imediata transferência para um dos setores de auxílio em nossa Esfera, assinalava-lhe o novo caminho a percorrer, após despertar do letargo que passariam experimentando por algum tempo.

Momentos houve de agitação, porque alguns dos exploradores de energia recusavam-se ceder as suas vítimas ao nosso apoio, altercando e apresentando-se em condições próprias para um pugilato físico, distante de qualquer método de equilíbrio.

O Dr. White, porém, comunicava-se mentalmente conosco, estimulando-nos ao prosseguimento, aproveitando-se da indecisão de alguns verdugos, vinculando-nos a Jesus no Seu ministério de amor junto aos obsidiados a quem socorrera, usando da Sua autoridade, e, desse modo, continuamos.

A patética da gritaria infrene e da desolação em volta comovia-nos, no entanto, não podíamos deslocar-nos mentalmente da atividade que nos dizia respeito naquele reduto de putrefação e loucura.

Atendendo a uma mulher desvairada que segurava uma criança também lacrimosa e inconsolável, percebi-lhe a alucinação defluente do momento em que se desejou salvar com a filhinha de poucos anos de idade, buscando a parte superior da casa em que viviam, e a onda arrancou-a dos alicerces despedaçando-a e esmagando contra os destroços ambos os corpos. Podia-se ver-lhe os registros na mente alucinada... Não parava de gritar suplicando socorro, acreditando-se, como realmente se encontrava, perseguida por seres demoníacos que a desejavam submeter...

Tocando-lhe a fronte espiritual e emitindo sucessivas ondas de amor e de paz, percebi que me captava o pensamento e, porque estivesse estimulada à fé religiosa, pôde perceber-me em seu e no auxílio à filhinha, deixando-se conduzir para fora do círculo em que se encontrava aprisionada, embora ainda vinculada ao corpo reduzido a frangalhos. A pequenina encontrava-se livre da injunção perispiritual da matéria, e logo asserenou-se ao receber as vibrações que se exteriorizavam deste servidor em sua direção.

Ivon veio em meu socorro e começamos a concentrar a nossa atenção nos laços que a mantinham presa ao veículo carnal sem qualquer utilidade naquele momento. Algum tempo depois, após conseguirmos esgarçar as ataduras energéticas entre o Espírito e a matéria, por fim, acalmou-se, deixando-se conduzir, enquanto chorava comovedoramente, lamentando o acontecimento da desencarnação de que se dava conta.

Buscamos falar-lhe de imortalidade através do pensamento que ela cap­tava, apresentando-lhe a filhinha que deveria cuidar, prosseguindo como se estivesse na Terra e preparando-se para auxiliar aos demais familiares que, se não estivessem conduzidos pelo carro da morte, muito necessitariam da sua cooperação, para poderem continuar no processo de recuperação nos dias porvindouros.

Convidada à reflexão da família, o instinto maternal apresentou-se-lhe mais forte e ela acedeu em acalmar-se. Conseguiu locomover-se, embora com alguma dificuldade, abraçando a criancinha que adormecera no seu regaço, e a conduzimos a um grupo de auxiliares especiais que, a partir daquele momento, se encarregariam das providências compatíveis ao seu estado.

Ainda não víramos tudo de que a natureza humana é capaz enquanto lhe predominam as forças brutais do primarismo.

Estávamos absortos no atendimento daquela mole sofrida, quando alguns indivíduos ainda reencarnados, começaram a remover os corpos sem qualquer consideração, aproveitando-se das sombras terríveis da noite.

- Trata-se de assaltantes de cadáveres - informou-nos Dr. White - que os estão vasculhando em busca de qualquer coisa de valor, considerando-se que a morte os surpreendeu num momento de atividade normal, sem aviso prévio.

Embora as autoridades estejam tentando pôr ordem no caos, os infelizes aproveitadores recorrem a todos os expedientes possíveis, objetivando lucrar com a desdita dos outros. Removendo os cadáveres em putrefação, não receiam contaminação da alguma natureza e suportam os odores terríveis dominados pelo álcool que antes ingerem e pela ambição desmedida de amealhar algo para os prazeres degradantes.

"Continuemos sem prestar-lhes atenção, desde que estamos em campos vibratórios muito diferentes."


Manoel Philomeno de Miranda








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